Material de apoio projetado durante a palestra:
SWU NO MUSIMID
Gravação em vídeo da palestra:
1.
SWU
1.1.
Primeira parte
do evento: Fórum Global de Sustentabilidade
1.1. Segunda
parte do evento: Music and Arts Festival
2.
ECO publicidade.
3.
Descumprimento
do Plano de Ações de Sustentabilidade de 13 de setembro de 2010
4.
Considerações
finais
SWU NO MUSIMID
Gravação em vídeo da palestra:
Artigo a ser impresso nos anais do evento:
O
FESTIVAL SWU: ENTRE A PROPOSTA
SOCIOAMBIENTAL E A PRÁTICA DO ECO-MARKETING
Resumo:
As
apresentações musicais em eventos coletivos como os festivais de música podem
gerar um ambiente privilegiado para intervenções de forma a despertar e
promover a postura ecológica dos participantes. Pela memória musical,
experiências sonoras podem ser vinculadas a determinadas atitudes e assim
promover ações e compromissos ecológicos. Um exemplo é o SWU (sigla de Starts With You ou Começa Com Você) que tinha como objetivo articular a educomunicação
ambiental à imersibilidade sonora nos três dias de festival realizado em
Itú/SP, na Fazenda Maeda nos dias 9, 10
e 11 de novembro de 2010. O presente artigo, contudo, identifica que a sustentabilidade
foi usada meramente para promover o consumo durante o SWU. Conclui que,
contrariando as expectativas, não houve a defesa efetiva da sustentabilidade ou
a informação pelo ambiente musical. E
analisa o evento sob a perspectiva da vinculação, da comunicação orquestral, da
(in)comunicação, da verticalidade, da cultura do ouvir, dos diálogos e dos
discursos. O artigo parte de uma análise de caso, segue a metodologia
etnográfica e tem como referencial teórico autores como Winkin (1998), Flusser
(2007), Pross (1980), Baitello (2005), Menezes (2010) dentre outros.
Palavras-chave:
Música, Sustentabilidade, Educação, Comunicação e Incomunicação.
Abstract:
Musical
performances at public events as music festivals can lead to a privileged
environment to interventions willing to develop or promote ecological attitudes
into the participants. By musical memory, sound experiences can be linked to
certain attitudes and therefore promote action and ecological compromises. An
example is the festival SWU (Starts With You) which aimed to
articulate environment education to the sound experience during the three days
the festival went on in Itú/SP, in the Fazenda Maeda, on the November 9th,
10th and 11 from 2010. This article, though, identifies that the sustainability
was used merely to promote consumerism during the SWU. It concludes that, Concludes,
against expectations, that there was no effective defense of sustainability or
information through the musical environment. It analyses the event under the
perspective of linkage, orchestral communication, (in)communication,
verticality, culture of listening, dialogues and discourses. This article
analyses a case, follows the ethnographic methodology and has its theoretical
references on authors such as Winkin (1998), Flusser (2007), Pross (1980),
Baitello (2005), Menezes (2010).
Key words : Music,
Sustainability, Education, Communication and Incommunication
1.
SWU
O SWU (sigla em inglês para
Começa Com Você) era para ser uma mega campanha publicitária de comunicação de
massa em defesa da sustentabilidade, traduzida em uma plataforma de informação
e entretenimento. Em seu site o SWU pretende ser um movimento de
conscientização em prol da sustentabilidade. Sob os valores de paz, amor,
consciência e atitude, teria o intuito de mobilizar o maior número possível de
pessoas para a causa da sustentabilidade. Sua finalidade seria mostrar que, por
meio de pequenas ações individuais praticadas no dia a dia, as pessoas podem
ajudar a construir um mundo melhor para se viver.
O idealizador do movimento foi
Eduardo Fischer, presidente do Grupo Totalcom, holding de agências
publicitárias com atuação no Brasil, na Argentina e em Portugal e cujo capital
social é 100% brasileiro. Contou com a parceria da produtora de shows The Groove
Concept e da Consultoria Visão Sustentável. Os principais patrocinadores foram
Nestlé, Heineken e OI.
A premissa do movimento seria que
pequenas atitudes podem gerar grandes mudanças.
A manifestação empírica desse
movimento se deu durante os dias 9, 10 e 11 de outubro de 2010, na fazenda
Maeda, em Itu (SP) com a realização do Fórum Global de Sustentabilidade e do
Music and Arts Festival, para um público de 164,5 mil pessoas.
1.1.
Primeira parte
do evento: Fórum Global de Sustentabilidade
O Fórum funcionou entre 12h e
14h40, com apresentações de palestrantes e debates sobre os temas Negócios
Sustentáveis, Inclusão de Minorias e Jovens e Meio Ambiente. A participação do
público, contudo, ficou muito reduzida. Apenas 3 mil pessoas compareceram às 29
palestras de convidados nacionais e internacionais. Algumas das razões que
podem ser apontadas para esse insucesso são, primeiro, o horário exíguo e
desvinculado dos eventos do festival de música e, segundo, problemas práticos,
como o comprometimento de boa parte do público alvo dessas palestras com as
filas dos banhos ou para alimentação.
O fórum deveria ficar aberto
durante todo o evento. Suas palestras deveriam ter sido gravadas e
disponibilizadas para o público que chegasse fora do horário. E depois na
internet para o público em geral.
Deveria haver ações inclusivas
que envolvessem as pessoas que já estivessem no evento no horário das palestra.
Mas nem a programação o público recebia. As pessoas do camping estavam presas
às filas do banho ou às do restaurante, não podendo comparecer. E não havia
estímulos para a participação. As ONGs poderiam ter sido acionadas para isso.
Atividades lúdicas e inclusivas poderiam ter sido implementadas para despertar
o interesse do público e consequentemente aumentado a audiência dessas
palestras.
Todo o material produzido pelos
24 speakers e outros 20 convidados entre especialistas, pensadores, empresários
e representantes de entidades não-governamentais, foi perdido. Se estivesse
disponível de forma mais abrangente durante o evento e depois na internet, poderia
estar repercutindo até o momento.
1.1. Segunda
parte do evento: Music and Arts Festival
O festival de música teve 74
atrações musicais, 700 músicos nos palcos e mais de 50 horas de música. Começava
por volta das 15h e terminava depois das 2h, com shows de diversas bandas
distribuídos por 4 palcos. Essa parte foi um sucesso, com exceção de alguns
atrasos, como por exemplo do show do Pixies e falhas técnicas, como a falta de
som e de imagem durante a apresentação do Rage Against the Machine.
No dia 9 de outubro, no Palco
Água, se apresentaram: 15h45 - Brothers of Brazil, 16h50 - Macaco Bong, 18h40 –
Mutantes, 20h55 - The Mars Volta. No
Palco Ar: 16h15 - Black Drawing Chalks, 17h35 - Infectious Grooves, 19h50 - Los
Hermanos, 22h05 - Rage Against the Machine. Na Tenda Heineken Greenspace: 15h –
Glocal, 16h - Killer on the Dance Floor, 17h - The Twelves, 18h – Switch, 19h15
– MSTRKRFT, 20h45 - The Crystal Method, 23h59 - DJ Marky, 01h15 - Steve Angelo.
No Palco Oi Novo Som:
14h40 - Banda Batalha das Bandas, 15h20 - Letuce + qinhO, 16h10 - Sobrado 112, 17h
– Superguidis, 17h50 - Curumin & The Aipins, 18h45 - Mallu Magalhães, 19h45
- Cidadão Instigado, 20h50 - The Apples in stereo.
No dia 10 de outubro, no Palco
Água: 14h - Ilo Ferreira, 15h40 - Jota Quest, 17h45 - Sublime with Rome, 19h55
- Joss Stone, 22h55 - Kings of Leon. No Palco Ar: 14h50 - Teatro Mágico, 16h40
- Capital Inicial, 18h45 - Regina Spektor, 21h - Dave Matthews Band. Na Tenda
Heineken Greenspace: 16h30 - Mario Fischetti, 17h45 - Nike Warren, 19h - Life
is a Loop, 20h15 - Sander Kleinenberg, 21h30 - Roger Sanchez, 22h45 – Sharam, 00h15
- Markus Schulz. No Palco Oi Novo Som: 14h40 - Banda Batalha das Bandas, 15h20
- Luisa Maita, 16h20 – Volver, 17h20 - Lucas Santtana, 18h30 - Tulipa Ruiz, 19h40
- Rubinho e a Força Bruta, 20h50 - Bomba Estéreo, 22h10 – Otto.
No dia 11 de outubro, no Palco
Água: 15h05 – Gloria, 16h10 – Rahzel, 17h45 - Cavalera Conspiracy, 19h55 –
Incubus, 22h20 – Pixies, 01h35 – Tiesto. No Palco Ar: 14h30 - Alan Johanes, 15h35 – Crashdiet, 17h
- Yo La Tengo, 18h50 - Avenged Sevenfold, 20h55 - Queens of the Stone Age, 23h25
- Linkin Park. Na Tenda Heineken Greenspace: 15h30 - Anderson Noise, 16h45 -
Anthony Rother, 18h – Aeroplane, 19h15 - Mix Hell, 20h30 - Gui Boratto, 21h45 -
Erol Alkan. No Palco
Oi Novo Som: 14h40 - Banda Batalha das Bandas, 15h30 – Tono, 16h30 - Fino
Coletivo, 17h30 – Mombojó, 18h35 – Autoramas, 19h40 - BNegão & Seletores de
Frequência, 20h50 - Josh Rouse, 22h10 - CSS (Cansei de Ser Sexy)
O festival de arte recebeu
instalações de Eduardo Srur, Urban Trash Art, Bijari, Oficina Jamac, Flávia
Vivacqua, Cooperaacs. Além disso, promoveu a exposição “Brasil em Chamas” em
homenagem a Frans Krajcberg, sob curadoria de Sergio Caribe, com 7 esculturas e
8 fotos do artista. Apesar de ser permanente, ou seja, podia ser experimentado
durante o festival de música, as obras eram poucas e muito dispersas pelo
grande espaço do evento (233 mil m2) o que desestimulava o acesso e
o interesse do público.
Para quem tinha a expectativa de
encontrar obras impactantes, que causassem estranhamento e envolvessem o
público, como normalmente são as instalações do curador do festival, Eduardo
Srur, a mostra foi frustrante. Esse artista é conhecido por instalar garrafas
pet gigantes e iluminadas nas bordas do rio Tietê e por prender barracas de
camping coloridas nos prédios monocromáticos de São Paulo.
2.
ECO publicidade.
A tendência na publicidade
mundial tem sido buscar equilíbrio e modernidade, segundo Ethel Shiraishi
Pereira. Sob essa perspectiva a eco publicidade faz comunicação com
responsabilidade ambiental. As campanhas eco publicitárias vão muito além da
simples utilização de materiais reciclados, incentivam o uso de mídias menos
agressivas, mais atraentes e econômicas, mitigam a quantidade de dejetos
produzidos pela campanha, utilizam materiais e processos de baixo impacto
ambiental.
Os exemplos mais comuns são os
usos de mídias digitais, de tintas à base de água ou de base vegetal, nas quais
o petróleo é substituído pelo óleo de soja, e de papéis reciclados e de
reflorestamento, sem adição de cloro. A proposta de sustentabilidade começa a
ser incorporada no dia a dia das empresas realizadoras de eventos. Está
aumentando o uso de materiais reciclados e reutilizáveis; a coleta e destinação
correta dos resíduos gerados por um evento; a respectiva neutralização das
emissões de gás carbônico, por exemplo com a posterior compensação por meio do
plantio de árvores; aumentando a acessibilidade ao local em que se realiza o
evento; a racionalização do uso da água e de energia elétrica; utilização de
alimentos orgânicos; utilização de “brindes verdes” ou produzidos por
comunidades carentes; incentivo ao comércio justo; promoção de ações sociais,
culturais e de campanhas educativas, de incentivo à preservação ambiental.
Dessa forma, a eco publicidade
busca associar o marketing do produto e a imagem da empresa às boas práticas
ambientais. Para tanto, precisa utilizar parceiros e fornecedores que também
sejam comprometidos com a produção de baixo impacto ambiental, de preferência
certificados o que, via de regra, aumenta o preço de produção.
Segundo bem ressalta Ethel Shiraishi Pereira:
os eventos considerados sustentáveis estão contribuindo para a
legitimação dos discursos organizacionais que, cada vez mais, se apropriam do
termo “sustentabilidade” para, diante da
impossibilidade de ocultar o quanto suas ações estão prejudicando o meio
ambiente, demonstrar aos seus públicos de interesse que estão preocupadas com
as questões ambientais (...) Como mecanismo de legitimação de seus discursos
organizacionais, as empresas fazem uso intenso do conceito de desenvolvimento
sustentável e passam a promover ações muitas vezes calcadas em estratégias de
marketing e de relações públicas apenas visando à promoção de sua imagem junto
à sociedade, cada vez mais exigente de seus direitos como consumidores e
cidadãos. (PEREIRA,
2010: 91-107)
O SWU pode bem ser enquadrado
nesse exemplo de Ethel Shiraishi Pereira. Apesar de propor a reciclagem do lixo
produzido, o evento não utilizou produtos com materiais recicláveis ou
reutilizáveis, que tivessem sido produzidos sem agredir o meio ambiente.
A atuação das ONGS foi muito
limitada. As “ações ambientalistas” na comunidade vizinha limitaram-se ao uso
de cooperativas para reciclagem de lixo. Um grande número de pessoas de Itú
poderia ter sido mobilizada para prestar serviços ou fornecer produtos para o
evento. Poderia haver uma tenda de frutas e legumes produzidos na região, por
exemplo.
Os preços altos, as demoras e as
filas para os produtos e serviços disponíveis no SWU eram justificados apenas
de forma abstrata como ecológicos. Não havia uma explicação detalhada sobre o porquê da diferença. Pelo
contrário, a diferenciação de preço e tempo pelo plus da ecologia foi percebida
pelo público como engodo, para justificar lucros maiores.
Além disso, a camisa da
sustentabilidade não foi vestida por todos os trabalhadores do evento. Lixo e
bitucas eram jogados no chão pela equipe uniformizada do evento. Houve mal
tratamento dos prestadores de serviço de limpeza que foram deixados esperando,
sem almoço, sentados no chão do lado de fora do evento. E portadores de
necessidades especiais foram protelados em detrimento das equipes de cobertura
jornalística, por exemplo
O eco capitalismo é uma
modalidade ainda mais insustentável que o capitalismo tradicional. Pois na
ótica do menor preço com maior benefício, pelo menos a água e a comida,
condições para sobrevivência tendem a ser garantidas pelo sistema. Sob o eco
capitalismo, contudo, a exploração vai mais além, sob a desculpa de se promover
a sustentabilidade praticam-se preços abusivos, limitando o acesso das pessoas até
aos bens de sobrevivência.
Os preços da comida e da água no
SWU eram exorbitantes. Não se promovia a agricultura local, nem o uso
consciente de recursos, pelo contrário. A luz ficava acesa 24horas no camping
mas nos toilletes não havia luz. A água do chuveiro era potável e trazida por
carros pipa a diesel, sem ser reutilizada. No banho, uma vez aberta a torneira,
não havia meio de fechá-la para ensaboar-se, por exemplo, o fluxo de água
corria ininterruptamente por 7 minutos. Não havia pias, as pessoas tinham de
usar água mineral (R$4 cada 250ml) para escovar os dentes e lavar as mãos, por
exemplo.
Além disso, sob a bandeira da
sustentabilidade muita gente trabalhou de graça e foram conseguidos incentivos
fiscais e parcerias com secretarias do Meio Ambiente. Bandas que não viriam se
fosse um concerto comum ou patrocinado por uma empresa de cervejas, por exemplo,
vieram só por ter essa vinculação ética.
3.
Descumprimento
do Plano de Ações de Sustentabilidade de 13 de setembro de 2010
Em contraste com o compromisso de
respeito aos direitos humanos e trabalhistas, foi possível presenciar protesto
de funcionários terceirizados da empresa T e J que foram deixados horas
esperando sem comer e em pé. “Ninguém aqui e bicho! Tem gente desmaiando de
fome!” Essas eram algumas das frases gritadas pelos terceirizados.
Não havia cadeiras ou bancos onde
gestantes e idosos pudessem sentar e os portadores de necessidades especiais
tinham de disputar lugar com as equipes de televisão que usavam o espaço
reservado aos PNEs para conseguir uma visão melhor do palco. Os PNEs eram,
inclusive, algumas vezes, impedidos de entrar na plataforma com vista
privilegiada dos palcos em tese reservada para eles em virtude da movimentação
no acesso e das equipes televisivas. Esses fatos violam a cláusula de
não-discriminação.
A autora não recebeu assistência
nem notou a presença de voluntários, que segundo o Plano de Ações de
Sustentabilidade, estariam disponíveis para qualquer ajuda, ou disponíveis para
passar informações e dicas de sustentabilidade.
A presença das ONGs no festival,
foi muito restrita. Não puderam levar número suficiente de voluntários para
implementar ações proativas e ficaram confinadas a um espaço exclusivo,
longínquo, que não despertava o interesse do público em geral.
Da mesma forma o Fórum Global de
Sustentabilidade, ficou limitado a horário específico e distante do grande
público. Ficou perdido o material produzido pelos especialistas, pensadores,
empresários, representantes de entidades não-governamentais e de outras
iniciativas para discutir com o público alguns dos principais temas da sustentabilidade.
Não houve disponibilização desse material nem durante o evento nem depois
online.
Violou-se ainda o compromisso de
inclusão social, uma vez que todos os alimentos e bebidas eram provenientes de
grandes redes. Não houve contratação de mão-de-obra local e pequenos
fornecedores a não ser para lidar com o lixo.
Também foi desrespeitada a
cláusula Saúde e Segurança pois o público não teve um canal direto para
reportar qualquer abuso, conforme estava previsto. Durante os três dias a
autora tentou, sem sucesso entrar em contato com alguém da produção que se
responsabilizasse pelas falhas. Todos os contatados disseram não saber com quem
entrar em contato. A
única saída seria, segundo todos, mandar um email. Ocorre que aos emails a
produção também não respondia (nem antes do evento, nem durante, nem depois).
Somente no dia 20 e outubro, depois de diversas tentativas, a autora conseguiu
estabelecer contato com a equipe do SWU por email, no endereço: info@swu.com.br, do qual retirou a maior
parte dos números trazidos por este trabalho.
Com relação ao estímulo ao uso de
transporte público, houve o contrário, um desestímulo ao transporte público e o
uso insustentável dos meios de transporte. O ônibus de São Paulo passava pela
frente da fazenda Maeda, mas ia até Itu, para depois outro ônibus ser tomado
para a Fazenda, o que origina gasto extra de combustível por pelo menos 40
minutos. Além disso, o ônibus não estava informado sobre onde deveria deixar os
diferentes públicos, assim, os campistas foram deixados em outro lugar, quando
deveriam ter sido deixados no setor de triagem, perdendo o show e se
arrependendo por não terem vindo de carro.
Com relação ao descarte de
resíduos a falha foi a mais evidente. Ao invés de serem implantadas ações para
a redução da quantidade de resíduos sólidos, sempre que possível, conforme
previa o Plano de Ações de Sustentabilidade, cada pessoa que consumia cerveja
por exemplo usava não só a latinha como um copo descartável.
4.
Considerações
finais
A comunicação pode ser entendida
como a constituição de vínculos, de interação, de interiorização no espaço do
outro, sendo a vida social a somatória desses vínculos dinâmicos, submetidos às
condições de tempo e espaço. Na atualidade, principalmente nos espaços
virtuais, estamos submetidos a uma quantidade enorme de informações que
consomem nosso tempo mas não necessariamente estabelecem ou despertam vínculos.
A maioria dessas informações não
conseguem entrar no espaço (físico e simbólico) do outro porque não admitem o
diálogo. Comunicar a mensagem é sempre estar na passagem, no meio, entre o si
mesmo e o outro, na zona de perigo, na área da sedução, no crepúsculo de si
mesmo e na zona obscura do outro (BAITELLO in Menezes 2005). Portanto não se
estabelece comunicação com a mera informação.
O SWU seria uma ótima oportunidade de se estabelecer esses diálogos para
promover uma eficaz comunicação sobre sustentabilidade.
Os eventos tipo o SWU têm um
potencial enorme para estimular o diálogo de maneira simétrica e abrangente,
colaborando, assim, para a melhor comunicação de uma mensagem. É possível
atingir os objetivos de negócios dos patrocinadores e organizadores, ao mesmo
tempo atendendo aos preceitos éticos da sustentabilidade. Para tanto os eventos
devem ser utilizados como canais de mão
dupla, para harmonizar os interesses das organizações e do público, por meio do
estabelecimento de canais de diálogo que promovam o encontro público de
interessados em uma determinada temática, favorecendo a compreensão mútua e a
busca por soluções de problemas comuns. Por meio de discursos e diálogos
convergentes em direção a práticas sustentáveis será viável uma transformação
em larga escala dos valores e comportamentos humanos.
Contudo, quanto mais avança a
capacidade dos seres humanos de se comunicarem, mais aumentam as dificuldades,
os entraves, as distorções. Assim, a comunicação concorre com a incomunicação
em todas as oportunidades de se manifestarem. Especificamente com relação à
comunicação ecológica, segundo José S. García e Maria S. Santiso, ela está
sujeita a um duplo condicionamento: econômico e social. O primeiro faz com que
a empresa busque o equilíbrio entre as necessidades de lucro, a satisfação do
cliente e o menor impacto possível no meio ambiente. Pela perspectiva social,
busca estimular e facilitar a aceitação de ideias, atitudes ou comportamentos
sociais benéficos à sociedade em geral ou que buscam reprimir atitudes
prejudiciais. Se enquadram nessa perspectiva as ações educativas e informacionais
bem como a atuação da empresa no seu entorno natural promovendo a defesa do
meio ambiente.
Podem fazer parte dessa
perspectiva social ações de descomunicação ou de desmarketing para desestimular
a compra de produtos que se usam uma única vez (GARCÍA e SANTISO 2010), como as
campanhas para diminuição do uso de copos descartáveis, estimulando o uso de
produtos duradouros ou reutilizáveis. No SWU essa descomunicação não estava
evidente, mas sim a incomunicação.
Ao chegar ao evento, o público
não recebia a programação, mas um termo de responsabilidade (que inclusive era
impresso em papel grosso e com tinta forte, nada econômica). A pessoa sem a
programação fica desinteressada e sujeita ao comportamento de matilha. Não
participa das atividades do Fórum por exemplo, ou porque não está sabendo quais
serão os temas a serem discutidos ou porque ninguém está indo para lá.
O comportamento sustentável
deveria ser promovido por ações mais diretas e participativas. A comunicação
falhou não só na versão impressa (divulgação da programação) como na
oportunidade de estabelecer vínculos e promover a disseminação do conhecimento
por meio de interações lúdicas e participativas.
Além disso, as proibições eram
tantas que só causavam irritação no público. Não eram permitidas cadeiras ou
comidas perecíveis no camping. Quem já acampou alguma vez sabe o quanto um
lugar para sentar ou uma fruta fazem falta. O excesso de regras só dificulta o
cumprimento, desautoriza as autoridades do evento e irrita o público. Esse mal
estar, cumulado com os preços altos de tudo e com as falhas técnicas
contribuíram para manifestações espontâneas de descontentamento, como a
insistência em jogar lixo no chão ou o grito: “SWU, vai tomar no ...”, audível
a cada silêncio da banda, ou falha nos telões.
A comunicação do SWU se deu por
diálogo e discurso. Ambos se complementam, o primeiro pressupõe a troca a
interatividade e o segundo caracteriza-se pela linearidade própria de
comunicações oficiais. Contudo o evento poderia ter contato mais com a
contribuição do público, engajando-o em atividades mais interativas. As
características do SWU ainda seguiram a lógica de broadcast, muio pouco foi
feito no sentido de inovar a linguagem adaptando ao tempo de
hiperconectividade, abundância de informações e escassez de tempo.
Além disso, o ser humano coordena
suas representações e experiências, desde as mais primárias, seguindo a lógica
do inferior ou superior. Quem ou o quê está acima é melhor. Para Harry Pross, a
cultura supõe comunicações ritualizadas e institucionalizadas, possibilitada
pelos meios, seguindo a hierarquia vertical de valores.
Na contemporaneidade há uma
obsessão ainda maior pelo verticalismo. Com o aumento da virtualidade perdem-se
os vínculos com os sujeitos corpóreos e tridimensionais que estão próximos. As
pessoas se tornam mais individualistas e são cobradas por seus resultados,
qualidades, diferenciais e muito raramente se consideram e são consideradas
como iguais.
No SWU isso se demonstrava no
cotidiano dos campistas. Normalmente quem acampa, compartilha, ajuda, conversa,
se coloca no âmbito do horizontal, em que todos são iguais. Esses valores
remontam à revolução cultural da década de 1970, aos valores hippies. O camping
do SWU não seguiu essa lógica. O público não era formado por pessoas que
normalmente acampam o que era evidenciado pela quase maioria de barracas novas.
E a maioria das pessoas eram jovens. Assim, a lógica da verticalidade foi a
mais preponderante. Casais e grupos interagiam entre si, sem agregar os
vizinhos de barraca. Havia um desinteresse pelo próximo. E inclusive situações
de completa alienação: um grupo não saber que o grupo ao lado é do mesmo
estado.
Dentro do contexto de um mundo
marcado quer pela inflação de imagens e sons, como pela dificuldade em se ver e
ouvir em profundidade (Menezes 2007), a comunicação do SWU deveria ser
interativa e orquestral. Perdeu-se uma importante oportunidade para usar o ouvir
como disposição para sermos tocados pelas idéias da sustentabilidade.
As iniciativas comunicacionais do SWU foram estruturadas de acordo com a
lógica do eco marketing e do eco capitalismo suas ações não foram
verdadeiramente sustentáveis. Ao SWU, portanto, faltou ação política, foi
apenas um mega evento de entretenimento (por sinal muito bom, com excelentes
bandas em um lugar agradável).
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JÖHR, Hans. O verde é negócio. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1994.
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SRUR, Eduardo. Fotos das intervenções mais conhecidas do
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WULF, Christoph. O ouvido. Disponível em: http://revista.cisc.org.br/ghrebh9/artigo.php?dir=artigos&id=WulfPort
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[1] Mestranda em Comunicação pela Cásper Líbero, Linha de Pesquisa Processos
Midiáticos: Tecnologia e Mercado, Grupo de Pesquisa Comunicação e Cultura do
Ouvir. E-mail danielle.denny@gmail.com.
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