28/04/2010

RESUMO DO LIVRO: FUNÇÕES DA LINGUAGEM, SAMIRA CHALHUB

RESUMO DO LIVRO: FUNÇÕES DA LINGUAGEM
DE SAMIRA CHALHUB

Referência: CHALHUB, Samira. Funções da linguagem. 11. ed. São Paulo: Ática, 2003. 63 p. (Princípios ;119) ISBN 8508018665

Uma obra sobre funções da linguagem precisa, antes de abordar o tema, explicar a tipolologia do processo de comunicação que será adotada. Chalhub adota como fatores que sustentam o modelo de comunicação: emissor, receptor, canal, código, referente e mensagem. Ressalta, contudo, que essa tipologia nem sempre foi a mesma. Exemplifica isso com dois autores: Karl Bühler, cujo modelo triádico contém “o destinador (mensagens de caráter expressivo), o destinatário (mensagens de caráter apelativo) e o contexto (mensagens de caráter comunicativo)”; e Roman Jakobson, que amplia para seis os fatores da comunicação.

Esse último autor também é citado por enfocar a mudança de sentido (Einstellung) conforme a ênfase em determinado fator da comunicação. Chalhub coaduna com esse entendimento e ressalta que as possibilidades de interpretação de uma mensagem identificam-se “na própria direção intencional do fator da comunicação, o qual determina o perfil da mensagem, determina sua função, a função de linguagem que marca aquela informação”. Assim, ênfase no fator referente determina função referencial; no emissor, função emotiva; no receptor, função conativa; no canal, função fática; na mensagem, função poética; no código, função metalinguística. Essa correlação não se limita à linguagem verbal, o exemplo dado foi o da publicidade, que independentemente de ser em “televisão, revista, outdoor, rádio”, imporá sempre um perfil conativo à linguagem.

Chalhub ressalta, ainda, que pode haver várias funções numa mensagem, contudo, sempre uma função prevalecerá. O código estabelece a forma da mensagem, ou seja, hierarquiza as funções da linguagem metalinguísticamente. A função predominante marca a qualidade da mensagem e as outras são os contrapontos, “para desenharem o diagrama relacional da mensagem”.
Função referencial é centralizada no referente, o emissor oferece informações sobre a realidade, por isso é objetiva, direta, denotativa, prevalecendo a 3ª pessoa do singular. Mesmo reconhecendo a arbitrariedade dos signos em relação à realidade e a decorrente impossibilidade de representação absoluta dessa realidade, para fins didáticos, foram adotados os dois níveis de linguagem: conotativa e denotativa. Na linguagem conotativa um signo empresta sua significação para campos semânticos diversos simultaneamente. Na denotativa, há uma aproximação mais direta entre o termo e o objeto, produzindo informações “claras, transparentes e sem ambiguidades”.

Um exemplo de uso da função referencial são os editoriais dos jornais. Escritos de forma linear, com sintaxe clara, apresentam tese, desenvolvimento e conclusão da maneira mais impessoal possível. Outro exemplo analisado por Chalhub foi um poema de Cecília Meireles que, com “registro descritivo-referencial”, objetiva fazer o receptor imaginar uma determinada paisagem. Nesse poema, junto com a função referencial, há também as funções poética e emotiva.

Função emotiva, ou expressiva, é centralizada no emissor, revela as opiniões ou sentimentos do emissor. Predomina, portanto o uso da 1ª pessoa, de interjeições, de adjetivos, de advérbios e de signos de pontuaçãom como exclamações e reticências. Essa figura é tipica em canções populares, novelas, pinturas. O senso comum identifica arte à função emotiva, pois o artista expressaria sempre suas sensações, seus pensamentos, “tomado de inspiração”. Contudo, a arte pode também ser entendida como construção. Nesse caso a surpresa, o estranhamento, identificaria o que é arte. Assim, a função mais relacionada seria a poética, não a emotiva. O artista não seria um inspirado a expressar o indizível pelos homens normais, mas sim um competente organizador do código, capaz de produzir uma linguagem inédita. Chalhub ressalta que mesmo na poesia romântica a predominância é da função poética, não da emotiva.

Função conativa, ou apelativa, é centralizada no receptor; o emissor procura influenciar o comportamento do receptor, por meio de “ordem, exortação, chamamento ou invocação, saudação ou súplica”. Predomina o uso da 2ª. Pessoa, do vocativo e do imperativo. A persuasão da mensagem pode ser reforçada pela função estética, como exemplo foi citada a bula de remédio criada por Décio Pignatari, em que a função estética foi usada como suporte para persuadir o receptor.

Função Fática é centralizada no canal, no contato, no suporte físico. Testa o canal sem informar significados. São certos tiques, cacoetes, interjeições que mantêm os interlocutores em contato, dando a ilusão de que emissor e receptor se comunicam. No livro “Understanding media”, McLuhan defende que o meio é a mensagem, observando que no meio reside a mensagem, porque sua compreensão pelo receptor depende das características do canal. A mesma notícia na televisão tem um efeito, no rádio outro. A arte de vanguarda desautomatizou os meios, como por exemplo a folha branca, usando para tanto função fática, metalinguística e estética.

Função poética caracteriza-se pela mensagem centrada em si mesma, contruída de forma nova para desautomatizar a sensibilidade do leitor. O objetivo é causar estranhamento. Essa função é a essência da poesia. Mas também pode ser encontrada na psicanálise, como apontaram Freud e Lacan, o inconsciente estruturado em linguagem se expressa com a função poética, como por exemplo no chiste, no lapso e no sonho.

Função metalinguística é centralizada no código, “no sistema de símbolos com significação fixada”, usa a linguagem para falar dela mesma. A poesia que fala de poesia utiliza a função metalinguística. A moda também utiliza a função metalinguística, as roupas compõe uma mensagem, um sintagma, mesmo quando as peças do código são escolhidas ao acaso elas comunicam, nesse caso displicência. A moda mostra como o código está sendo usado naquela estação, o que está na moda, como as escolhas do passado estão sendo reinterpretadas, “se alimenta, metalinguisticamente de seu próprio material”. As críticas, as traduções e os dicionários são outros exemplos de metalinguagem. Para concluir Chalhub citou a releitura feita por Omar Khouri do poema de Oswald de Andrade, como forma de coordenar as funções metalinguística, poética, fática e conativa.

Um comentário:

Unknown disse...

O livro de Samira Chalhub é um livro que fala de outro livro.Portanto,um livro metalinguístico. É melhor ler livro referente:Roman Jakobson.