SEMINÁRIOS: TENDÊNCIAS E DEBATES SOBRE A PRODUÇÃO AUDIOVISUAL
Ética e temas jurídicos
Por Danielle Denny
www.danielledenny.blogspot.com
danielledenny@hotmail.com
EMENTA
Seminário: Tendências e Debates sobre a Produção Audiovisual
- 36 h/a A produção audiovisual e seu conteúdo; liberdade de expressão, direito
autoral, informação e entretenimento, ética profissional e privacidade.
OBJETIVO DA DISCIPLINA
Ao final do curso o aluno deverá ser capaz de: compreender a
importância e responsabilidade de sua profissão; Indentificar valores éticos na
produção audiovisual; Refletir e anlisar sobre dilemas morais atuais; conhecer
a legislação atual e suas implicações no mercado audiovisual.
METODOLOGIA
Aulas expositivo-teóricas com a participação esporadica de
convidados do mercado. Leitura de textos e debates. Trabalhos em grupos
relizados em sala de aula.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
A importancia da Televisão na formação da identidade
nacional. A regulamentação de concessões dos meios de comunicação. A lei de
direito autoral. Principios constitucionais: privacidade Principios
constitucionais: liberdade de expressão principios constitucionais: direito a
informação Relações entre a qualidade do conteúdo e o mercado Ética
profissional Legislação de TV a cabo Leis de incentivo
PLANO DE AULAS
1.
Apresentação do curso, bibliografia, avaliação e
faltas
2.
Ética profissional: os meios de comunicação e a
importância da produção audiovisual
3.
A legislação nacional e o seu funcionamento
4.
A constituição federal de 1988: conflitos de
direito
5.
Direitos da Personalidade: privacidade e
intimidade
6.
Direito da imprensa: liberdade de expressão e
direito à informação
7.
Propriedade Intelectual: Diretos autorais, os
meios de comunicação e a execução pública
8.
A legislação de TV à cabo
BIBLIOGRAFIA
TARIN, Bruno. Copyfight pirataria e cultura livre. São
Paulo: Azougue Editorial, 2013.
LIMA, Venício A. de. Política de Comunicações: um balanço
dos governos Lula (2003-2010). São Paulo: Publisher, 2012.
ULIN, Jeffrey C.. The Business of Media Distribution:
monetizing film, video and tv content in an online world. : Elsevier Science,
2009.
LESSIG, Lawrence. Cultura Livre: como a mídia usa a
tecnologia e a lei para barrar a criação cultural. São Paulo: Francis, .
BOLÃNO, César Ricardo Siqueira. Mercado Brasileiro
Televisivo. São Paulo/ Aracajú: , 2004.
PARANAGUÁ, Pedro. Direitos Autorais. Rio de Janeiro: FGV,
2009.
BUCCI, Eugenio. A imprensa e o dever da liberdade. São
Paulo: Contexto, 2009.
ASCENSÃO, José de Oliveira. Direitos da Internet e da
Sociedade da Informação. : Forense, 2002.
Ética profissional
Material de apoio exibido em aula:
A importância da ética tem crescido constantemente, em
virtude do “efeito iceberg” comum na contabilidade empresarial, a partir do
séc. XX, em que aspectos tangíveis são contabilizados e o que é realmente
valioso não é calculado no balanço patrimonial nem na demonstração dos
resultados, contudo são o que mais agrega valor ao bem ou serviço e decorrem direta
ou indiretamente, em pequena ou grande medida das atitudes éticas adotadas
pelas empresas.
São esses valores intangíveis: goodwill, marca, reputação,
qualidade da governança, qualidade da gestão, histórico de respeito aos
direitos humanos, aspectos sociais e trabalhistas e a consideração dos
ecossistemas na comunidade onde a empresa opera, entre muitos outros. Assim,
não se pode mais planejar estrategicamente sem levar em conta os temas éticos
e, principalmente de sustentabilidade.
No Brasil o desafio é ainda maior, pois o tecido social está
impregnado pela corrupção, mas cabe aos jovens de hoje não comungar com essa
bandalheira, de que tudo é na base do jeitinho. É preciso romper com o
conformismo de que as coisas maléficas são imutáveis, um pouco de coragem pode
ajudar. O ilícito não pode ser parte integrante da profissão. Quando os
profissionais chegam a ter vergonha de serem honestos, os maus gestores
públicos e privados se propagam.
O discurso de que "no Brasil não é bem assim, aqui, na
prática a teoria é outra”, só nos leva para um caminho pior
Ética, moral e valores
Ética é um termo que vem do grego e moral vem do latim, mas
ambos significam comportamento, costume. Portanto, etimologicamente,
"moral" e "ética" tem o mesmo significado. Contudo, a
partir de Hegel (1770 - 1831) moral passou a significar o conjunto de valores
individuais e a ética, de valores sociais. Assim, ética é a teoria ou ciência
do comportamento moral dos homens em sociedade
Com relação à moral, o indivíduo é exatamente aquilo que
quer, a consciência é o seu único juiz, pode estar de acordo com a ética de uma
dada sociedade ou contrário a ela. Ou o indivíduo é ético ou antiético, não
existe pessoa sem ética. E só são amorais aqueles incapazes de distinguir entre
o certo e o errado: as crianças e aqueles que não estão em pleno gozo de suas
faculdades mentais.
Ético
|
Não ético
| |
Legal
|
ético/legal
|
antiético/legal
ex. ideia alheia
|
Ilegal
|
ético/ilegal
ex. maconha
|
antiético/ilegal
ex. propina
|
Fichamento do livro Ética de Adolfo S. Vázquez:
VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2000.
“Assim
como os problemas teóricos morais não se identificam com os problemas práticos,
embora estejam estritamente relacionados, também não se podem confundir a ética
e a moral. A ética não cria a moral. Conquanto seja certo que toda moral supõe
determinados princípios, normas ou regras de comportamento, não é a ética que
os estabelece numa determinada comunidade (...) A ética é a teoria ou ciência
do comportamento moral dos homens em sociedade. Ou seja, é ciência de uma forma
específica de comportamento humano. (...) A ética é a ciência da moral, isto é,
de uma esfera do comportamento humano. Não se deve confundir aqui a teoria com
o seu objeto: o mundo da moral. As proposições da ética devem ter o mesmo rigor
a mesma coerência e fundamentação das proposições científicas (...) A ética não
é a moral e, portanto, não pode ser reduzida a um conjunto de normas e
prescrições; sua missão é explicar a moral efetiva e, neste sentido, pode
influir na própria moral.” (VÁZQUEZ, 2000, 22-24)
“A
moral efetiva compreende, portanto, não somente normas ou regras de ação, mas
também – como comportamento que deve ser- os fatos com ela conformes. Ou seja,
tanto o conjunto dos princípios, valores
e prescrições que os homens, numa dada comunidade, consideram válidos como os atos
reais em que aqueles se concretizam ou encarnam. A necessidade de ter sempre
presente esta distinção entre o plano puramente normativo, ou ideal, e o
fatual, real ou pratico, levou alguns autores a propor dois termos para
designar respectivamente cada plano: moral e moralidade. A moral designaria o
conjunto dos princípios, normas, imperativos ou ideias morais de uma época ou
de uma sociedade determinadas, ao passo que a moralidade se referiria ao
conjunto das relações efetivas ou atos concretos que adquirem um significado
moral com respeito à moral vigente. A moral estaria no plano ideal; a
moralidade no plano real. A moralidade seria um componente efetivo das relações
humanas concretas.(...) A distinção entre moral e moralidade corresponde assim
àquela que indicamos entre o normativo e o fatual e, como esta, não pode ser
negligenciada. A moral tende a transformar-se em moralidade devido à exigência
de realização que está na essência do próprio normativo; a moralidade é a moral
em ação, a moral prática e praticada. Por isso, lembrando que não é possível
levantar um muro intransponível ente as duas esferas, cremos que é melhor
empregar um termo só – o de moral, como se costuma fazer tradicionalmente – e
não dois.” (VÁZQUEZ, 2000, 65-66)
“De
toda a exposição anterior podemos deduzir uma séri de traços essenciais da
moral, os quais permitem precisar o que coincide com outras formas de conduta
humana e, ao mesmo tempo, o que delas a distingue. 1) A moral é uma forma de
comportamento humano que compreende tanto um aspecto normativo (regras de ação)
quanto um aspecto fatual (atos que se conformam num sentido ou no outro com as
normas mencionadas). 2) A moral é um fato social. Verifica-se somente na
sociedade, em correspondência com necessidades sociais e cumprindo uma função
social. 3 ) Ainda que a moral possua um caráter social, o indivíduo nela
desempenha um papel essencial, porque exige a interiorização das normas e
deveres de cada homem individual, sua adesão intima ou reconhecimento interior
das normas estabelecidas e sancionadas pela comunidade. 4) o ato moral, como
manifestação concreta do comportamento moral dos indivíduos reais, é unidade
indissolúvel dos aspectos ou elementos que o integram: motivo, intenção,
decisão, meios e resultados, e, por isso, o seu significado nào se pode
encontrar num só deles com exclusão dos demais. 5) o ato moral concreto faz
parte de um contexto normativo (código moral) que vigora numa determinada
comunidade, o qual lhe confere sentido. 6) o ato moral, como ato consciente e
voluntário, supõe uma participação livre do sujeito em sua realização, que,
embora incompatível com a imposição forçada das normas, não é com a necessidade
histórico-social que o condiciona. Baseados nestes traços essenciais, podemos
afinal formular a definição seguinte: A moral é um sistema de normas,
princípios e valores, segundo o qual são regulamentadas as relações mútuas
entre os indivíduos ou entre estes e a comunidade, de tal maneira que estas
normas, dotadas de um caráter histórico e social, sejam acatadas livre e
conscientemente, por uma convicção intima, e não de uma maneira mecânica,
externa ou impessoal. “ (VÁZQUEZ, 2000, 83-84)
“Como
liberdade de escolha, decisão e ação, a livre vontade acarreta, em primeiro
lugar, uma consciência das possibilidades de agir numa ou noutra direção. Contem também uma consciência dos fins ou das
consequências do ato que se pretende realizar. Em ambos os casos, é necessário
um conhecimento da necessidade que escapa à vontade: a situação em que o ato
moral se efetua, as condições e os meios de sua realização etc. acarreta também
certa consciência dos motivos que impelem a agir, pois de outro modo se
agiria-como faz, por exemplo, o cleptomaníaco – de uma maneira imediata e
irrefletida. (...) Liberdade da vontade não significa, de modo algum, algo
incausado ou um tipo de causa que influiria na conexão causal sem ser, por sua
vez causada. Livre não é compatível – como já sublinhamos – com coação – quando
esta se apresenta como uma força externa ou interna que anula a vontade. O
homem é livre para decidir e agir, sem que a sua decisão e a sua ação deixem de
ser causadas. Mas o grau de liberdade está, por sua vez, determinado histórica
e socialmente, pois sse decide e se age numa determinada sociedade, que oferece
aos indivíduos determinadas pautas de comportamento e de possibilidades de
ação. Em conclusão, vemos que a responsabilidade moral pressupõe
necessariamente certo grau de liberdade, mas esta, por sua vez implica também
inevitavelmente a necessidade causal. Responsabilidade moral, liberdade e
necessidade estão, portanto, entrelaçadas indissoluvelmente no ato moral. “
(VÁZQUEZ, 2000, 131-132)
Valores
morais e não morais “o uso do termo bom não pode levar a confundir o bom em
sentido geral, relatvo a qualquer valor (bom livro, boa estrutura, bom relógio
etc) e bom em sentido estrito, com significado moral. Podemos falar da bondade
de uma faca enquanto cumpre positivamente a função de cortar para a qual foi
fabricada. Mas a faca – e a função relativa – pode estar a serviço de
diferentes fins; pode ser utilidade, por exemplo, para realizar um ato mau sob
o ângulo moral, como é o assassinato de uma pessoa. Desde o ponto de vista de
sua utilidade ou funcionalidade, a faca não deixará de ser boa por ter servido
para realizar um ato repreensível. Pelo contrário, continua sendo boa e tanto
mais quanto mais eficiente tiver servido ao assassino, mas esta bondade
instrumental ou funcional está alheia a qualquer qualificação moral, apesar de
ter servido de meio ou instrumento para realizar um ato moralmente mau. A
qualificação moral recai aqui no ato de assassinar, para o qual a faca serviu.
Não é a faca – eticamente neutra, como o são usualmente os instrumentos, as
máquinas ou a técnica em geral – que pode ser qualificada de um ponto de vista
moral, mas o seu uso; isto é, os atos humanos de utilização a serviço de
determinados fins, interesses ou necessidade. (...) Ao estabelecer a distinção
entre os primeiros e os segundos, é preciso lembrar que os valores morais se
encarnam somente em atos ou produtos humanos e, entre estes, naqueles
realizados livremente, isto é, de um modo consciente e voluntário. “ (VÁZQUEZ,
2000, 149-150)
Sugestão de vídeos:
Um episódio do programa Aprendiz 4, em que Roberto Justus
mostra que a ética tem de prevalecer! Suborno é tão grave quanto roubo. Ética
não tem grau, ou tem ou não tem. Desculpa de que o Brasil é assim, é a maior
tragédia deste país! Somos os primeiros que têm de agir de forma diferente.
Pisa na bola uma vez e põe em xeque 26 anos de carreira exemplar! Dupla
demissão!
http://www.youtube.com/watch?v=Wrc07Om2iUo
Leonardo Boff fala sobre as raízes da Ética na religião e na
razão e sobre os princípios da Ética: cuidado com as coisas, respeito com as
pessoas, responsabilidade ilimitada, solidariedade,
http://youtu.be/ETve9WC7hXc
A cantora de MPB, Ana Carolina, declama poema "Só de
Sacanagem" de Elisa Lucinda. “Meu coração está aos pulos malas e cuecas
viajam com o nosso dinheiro que era para pagar a saúde e a educação dos mais
pobres. Desde Cabral que todo mundo rouba. Eu sei que não dá para mudar o começo,
mas se a gente quiser dá para mudar o final"
http://www.youtube.com/watch?v=03qln0920mk
O filme O Informante, baseado em história real de 1994, um
ex-executivo da indústria do tabaco (Russell Crowe) é convencido por um
jornalista (Al Pacino) a falar em público sobre a ética corporativa da
indústria tabagista e sobre a moral dos empresários de alto escalão que mentem
em público e colocam produtos ainda mais nocivos nos cigarros para aumentar o
potencial viciante deles, priorizando os lucros privados em detrimento do
interesse público.
https://www.youtube.com/watch?v=qcoLd2v8GB8
Mario Sergio Cortella, em Programa do Jô, explica a
diferença entre ética e moral. “Moral é a prática de uma ética. O princípio
ético se transforma em uma moral que se pratica. A moral é relativa. Ética tem
uma tentativa de ser universal.”
http://youtu.be/XNpfJwuh0Es
A legislação nacional
e o seu funcionamento
Introdução aos diversos ramos do Direito (Constituição,
Código Penal, Código Civil e Código do Consumidor) e às principais instituições
que formam a ordem jurídica brasileira.
CONSTITUIÇÃO
Atividade sobre as principais disposições constitucionais
atinentes à Comunicação.
A turma correlacionará a coluna alfabética com a numérica. Em
seguida, cada aluno explicará, com suas próprias palavras, o tópico que lhe for
mais relevante e formulará uma pergunta, um pedido de exemplo ou de comentário
Coluna alfabética
A)
CONSTITUIÇÃO
DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988
TÍTULO II
Dos Direitos
e Garantias Fundamentais
CAPÍTULO I
DOS DIREITOS
E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS
Art. 5º
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: (...)
IV - é livre
a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
V - é assegurado
o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano
material, moral ou à imagem; (...)
IX - é livre
a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou licença;
X - são
invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de
sua violação;
|
B)
CONSTITUIÇÃO
DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988
Art. 5º
(...)
XII - é
inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de
dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem
judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de
investigação criminal ou instrução processual penal;
|
C)
CONSTITUIÇÃO
DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988
Art. 5º
(...)
XIV - é
assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte,
quando necessário ao exercício profissional;
|
D)
CONSTITUIÇÃO
DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988
Art. 5º
(...)
XXVII - aos
autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução
de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;
XXVIII - são
assegurados, nos termos da lei:
a) a
proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da
imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas;
b) o direito
de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou de que
participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas representações
sindicais e associativas;
XXIX - a lei
assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua
utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das
marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o
interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País;
|
E)
CONSTITUIÇÃO
DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988
Art. 5º
(...)
XXXIII -
todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse
particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo
da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado
|
F)
CONSTITUIÇÃO
DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988
TÍTULO III
Da
Organização do Estado
CAPÍTULO II
DA UNIÃO
Art. 21.
Compete à União: (...)
XI -
explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os
serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização
dos serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos
institucionais; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 8, de 15/08/95:)
XII -
explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:
a) os
serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens;(Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 8, de 15/08/95:) (...)
XVI -
exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões públicas e de
programas de rádio e televisão;
|
G)
CONSTITUIÇÃO
DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988
TÍTULO III
Da
Organização do Estado
CAPÍTULO II
DA UNIÃO
Art. 22.
Compete privativamente à União legislar sobre: (...)
IV - águas,
energia, informática, telecomunicações e radiodifusão; (...)
XXIX -
propaganda comercial.
Parágrafo
único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões
específicas das matérias relacionadas neste artigo.
TÍTULO IV
Da
Organização dos Poderes
CAPÍTULO I
DO PODER
LEGISLATIVO
Seção II
DAS
ATRIBUIÇÕES DO CONGRESSO NACIONAL
Art. 48.
Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, não
exigida esta para o especificado nos arts. 49, 51 e 52, dispor sobre todas as
matérias de competência da União, especialmente sobre: (...)
XII -
telecomunicações e radiodifusão;
Art. 49. É
da competência exclusiva do Congresso Nacional: (...)
XII -
apreciar os atos de concessão e renovação de concessão de emissoras de rádio
e televisão;
|
H)
CONSTITUIÇÃO
DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988
TÍTULO V
Da Defesa do
Estado e Das Instituições Democráticas
CAPÍTULO I
DO ESTADO DE
DEFESA E DO ESTADO DE SÍTIO
Seção I
DO ESTADO DE
DEFESA
Art. 136. O
Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de
Defesa Nacional, decretar estado de defesa para preservar ou prontamente restabelecer,
em locais restritos e determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas
por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades
de grandes proporções na natureza.
§ 1º - O
decreto que instituir o estado de defesa determinará o tempo de sua duração,
especificará as áreas a serem abrangidas e indicará, nos termos e limites da
lei, as medidas coercitivas a vigorarem, dentre as seguintes:
I -
restrições aos direitos de:
a) reunião,
ainda que exercida no seio das associações;
b) sigilo de
correspondência;
c) sigilo de
comunicação telegráfica e telefônica;
II -
ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na hipótese de
calamidade pública, respondendo a União pelos danos e custos decorrentes.
§ 2º - O
tempo de duração do estado de defesa não será superior a trinta dias, podendo
ser prorrogado uma vez, por igual período, se persistirem as razões que
justificaram a sua decretação.
§ 4º -
Decretado o estado de defesa ou sua prorrogação, o Presidente da República,
dentro de vinte e quatro horas, submeterá o ato com a respectiva justificação
ao Congresso Nacional, que decidirá por maioria absoluta.(...)
Seção II
DO ESTADO DE
SÍTIO
Art. 137. O
Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de
Defesa Nacional, solicitar ao Congresso Nacional autorização para decretar o
estado de sítio nos casos de:
I - comoção
grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem a
ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa;
II -
declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira
§ 1º - O
estado de sítio, no caso do art. 137, I, não poderá ser decretado por mais de
trinta dias, nem prorrogado, de cada vez, por prazo superior; no do inciso
II, poderá ser decretado por todo o tempo que perdurar a guerra ou a agressão
armada estrangeira. (...)
Art. 139. Na
vigência do estado de sítio decretado com fundamento no art. 137, I, só
poderão ser tomadas contra as pessoas as seguintes medidas: (...)
III -
restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das
comunicações, à prestação de informações e à liberdade de imprensa,
radiodifusão e televisão, na forma da lei;
|
I )
CONSTITUIÇÃO
DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988
TÍTULO VI
Da
Tributação e do Orçamento
CAPÍTULO I
DO SISTEMA
TRIBUTÁRIO NACIONAL
Seção II
DAS
LIMITAÇÕES DO PODER DE TRIBUTAR
Art. 150.
Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à
União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...)
VI -
instituir impostos sobre: (...)
d) livros,
jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão.
|
J )
CONSTITUIÇÃO
DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988
TÍTULO VIII
Da Ordem
Social
CAPÍTULO V
DA
COMUNICAÇÃO SOCIAL
Art. 220. A
manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob
qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição,
observado o disposto nesta Constituição.
§ 1º -
Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena
liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação
social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV.
§ 2º - É
vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.
§ 3º -
Compete à lei federal:
I - regular
as diversões e espetáculos públicos, cabendo ao Poder Público informar sobre
a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e
horários em que sua apresentação se mostre inadequada;
II -
estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade
de se defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que
contrariem o disposto no art. 221, bem como da propaganda de produtos,
práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente.
§ 4º - A
propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos
e terapias estará sujeita a restrições legais, nos termos do inciso II do
parágrafo anterior, e conterá, sempre que necessário, advertência sobre os
malefícios decorrentes de seu uso.
§ 5º - Os
meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de
monopólio ou oligopólio.
§ 6º - A
publicação de veículo impresso de comunicação independe de licença de
autoridade.
Art. 221. A
produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos
seguintes princípios:
I -
preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;
II -
promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente
que objetive sua divulgação;
III -
regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme
percentuais estabelecidos em lei;
IV -
respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.
|
K )
CONSTITUIÇÃO
DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988
TÍTULO VIII
Da Ordem
Social
CAPÍTULO V
DA
COMUNICAÇÃO SOCIAL
Art. 222. A
propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e
imagens é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez
anos, ou de pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que
tenham sede no País. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 36, de 2002)
§ 1º Em
qualquer caso, pelo menos setenta por cento do capital total e do capital
votante das empresas jornalísticas e de radiodifusão sonora e de sons e
imagens deverá pertencer, direta ou indiretamente, a brasileiros natos ou
naturalizados há mais de dez anos, que exercerão obrigatoriamente a gestão
das atividades e estabelecerão o conteúdo da programação. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 36, de 2002)
§ 2º A
responsabilidade editorial e as atividades de seleção e direção da
programação veiculada são privativas de brasileiros natos ou naturalizados há
mais de dez anos, em qualquer meio de comunicação social. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 36, de 2002)
§ 3º Os
meios de comunicação social eletrônica, independentemente da tecnologia
utilizada para a prestação do serviço, deverão observar os princípios
enunciados no art. 221, na forma de lei específica, que também garantirá a
prioridade de profissionais brasileiros na execução de produções nacionais.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 36, de 2002)
§ 4º Lei
disciplinará a participação de capital estrangeiro nas empresas de que trata
o § 1º. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 36, de 2002)
§ 5º As
alterações de controle societário das empresas de que trata o § 1º serão
comunicadas ao Congresso Nacional. (Incluído pela Emenda Constitucional nº
36, de 2002)
Art. 223.
Compete ao Poder Executivo outorgar e renovar concessão, permissão e
autorização para o serviço de radiodifusão sonora e de sons e imagens,
observado o princípio da complementaridade dos sistemas privado, público e
estatal.
§ 1º - O
Congresso Nacional apreciará o ato no prazo do art. 64, § 2º e § 4º, a contar
do recebimento da mensagem.
§ 2º - A não
renovação da concessão ou permissão dependerá de aprovação de, no mínimo,
dois quintos do Congresso Nacional, em votação nominal.
§ 3º - O ato
de outorga ou renovação somente produzirá efeitos legais após deliberação do
Congresso Nacional, na forma dos parágrafos anteriores.
§ 4º - O
cancelamento da concessão ou permissão, antes de vencido o prazo, depende de
decisão judicial.
§ 5º - O
prazo da concessão ou permissão será de dez anos para as emissoras de rádio e
de quinze para as de televisão.
Art. 224.
Para os efeitos do disposto neste capítulo, o Congresso Nacional instituirá,
como seu órgão auxiliar, o Conselho de Comunicação Social, na forma da lei.
|
Coluna numérica
1) Direito
de receber informação de ser informado, caudatário da liberdade de expressão
do pensamento e do sigilo da fonte, pois sem eles os comunicadores temeriam
produzir notícias e os informantes teriam receio de serem identificados e
sofrerem represaria.
|
2) A União
que tem competência para legislar sobre telecomunicações, assim, será o
Congresso Nacional que elaborará leis federais específicas da área de
comunicação. Concessões de emissoras de radiodifusão, renovação de concessões
e outros temas relacionados a telecomunicações também ficam a critério de
órgãos da União, não podem ser delegados aos Estados, aos Municípios ou ao
Distrito Federal.
|
3) Pedra
fundamental de todo o Direito da comunicação: a liberdade de manifestação do
pensamento. Toda liberdade implica em responsabilidade.
|
4) O poder
público tem muito mais ingerência nas telecomunicações que nas publicações
impressas. Essa regulamentação mais estrita justifica-se, inclusive, por
critérios técnicos como por exemplo o espectro eletromagnético das ondas que
admite um número limitado de usuários, caso contrário, ocorre o caos
ininteligível de vários dados serem transmitidos simultaneamente.
Em
constituições passadas a União podia exercer censura, na atual a censura é
proibida, a União pode apenas fazer uma classificação para orientar o público
sobre o conteúdo de uma determinada obra.
|
5) Em momento
de crises, a Constituição admite suspensão temporária e controlada de alguns
direitos e garantias fundamentais, inclusive os relativos à comunicação
|
6) Para
proteger o risco de inviabilidade econômica da liberdade de imprensa, os
veículos de comunicação impressa gozam de isenção tributária.
|
7)
Propriedade Intelectual abrange direitos autorais, marcas, patentes, modelos
de utilidade, trade dress ... Dois pontos fulcrais para os direitos autorais:
a necessidade de a obra ter sido exteriorizada e minimização da importância
do meio em que a obra foi expressa (exceto para se produzir prova de criação
ou de anterioridade). Requisitos para ser considerado direito autoral:
- pertencer
ao domínio das letras, das artes ou das ciências,
- ter
originalidade, “novidade” absoluta (independente do valor ou mérito da obra),
- ser
exteriorizada, por qualquer meio e
- achar-se a
obra no período de proteção fixado pela lei (durante a vida do autor, mais 70
anos contados a partir de sua morte).
|
8) Qualquer
cidadão pode solicitar informações de interesse geral aos órgãos públicos dos
governos federal, estadual e municipal. E eles são obrigados a responder em
virtude da Constituição e da Lei de Acesso à Informação (LAI – Lei no
12.527/2011). “Mais do que um instrumento de obtenção de informações, a LAI
pode ser uma oportunidade para que os governos se aproximem dos cidadãos,
conheçam as demandas deles, criem novos canais de comunicação virtual e
presencial, e promovam maior interação entre as ações governamentais e o interesse
público”, explica o gestor do banco de dados de monitoramento da regulação do
Idec, Marcelo Daniliauskas. A informação sob a guarda do Estado é sempre
pública, devendo o acesso a ela ser restringido apenas em casos específicos e
por período de tempo determinado. Conforme a Lei de Acesso a Informações, a
informação pública pode ser classificada como: Ultrassecreta prazo de
segredo: 25 anos (renovável uma única vez). Secreta prazo de segredo: 15
anos. Reservada prazo de segredo: 5 anos. As informações pessoais não são
públicas e terão seu acesso restrito, independentemente de classificação de
sigilo, pelo prazo máximo de 100 (cem) anos a contar da sua data de produção.
Elas sempre podem ser acessadas pelos próprios indivíduos e, por terceiros,
apenas em casos excepcionais previstos na Lei. Manual de como utilizar a LAI
http://www.acessoainformacao.gov.br/acessoainformacaogov/
|
9) A pessoa
que tem o direito de expressar o que pensa, pode preferir não tornar públicos
seus pensamentos.
|
10) A
Constituição limita restrições à concorrência nos meios de comunicação social
tanto direta como indiretamente
|
11) Para
exercer responsabilidade editorial, em qualquer meio de comunicação social e
atividades de seleção e direção da programação o profissional tem de ser
brasileiro nato ou naturalizado há mais de dez anos.
|
Gabarito
A 3
B 9
C 1
D 7
E 8
F 4
G 2
H 5
I 6
J 10
K 11
Das sete exigências constitucionais de leis regulamentadoras do
capítulo da comunicação social. apenas três foram editadas:
1. A Lei 9.294/96, que regula o Artigo 220, Parágrafo 4º (a propaganda
comercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e terapias
estarão sujeita a restrições legais, nos termos do Inciso 2 do parágrafo
anterior, e conterá, sempre que necessário, advertência sobre os malefícios
decorrentes de seu uso);
2. A Lei 10.610/2002, que trata
da participação de capital estrangeiro em empresas de comunicação;
3. A Lei 8.389/91, que criou o Conselho de Comunicação Social.
CÓDIGO PENAL
Crime é fato típico, não aceito e culpável. Ou seja, tem de
estar descrito nas leis penais, não existe crime sem lei anterior que o defina
como tal. E além de estar descrito como não aceito na lei penal, tem de ser
culpável, não pode ter ocorrido uma das exceções de putabilidade que são a
legítima defesa, o estado de necessidade o estrito cumprimento de um dever
legal e o exercício regular de um direito. Assim, matar alguém é um fato típico
mas se o ato foi praticado em legítima defesa não será punível. Estado de
necessidade seria furtar pão para matar fome, estrito cumprimento de um dever
legal seria o caso de um policial que mata em uma perseguição policial e
exercício regular de direito seria o caso do boxeador que fere o concorrente no
ringue.
O crime pode ser doloso quando há intensão de praticá-lo e
culposo quando há imprudência imperícia e negligência.
Há situações em que a culpa é afastada são elas menoridade,
loucura, a coação irresistível, obediência hierárquica e embriaguez completa e
involuntária.
“CAPÍTULO V DOS CRIMES CONTRA A HONRA
Calúnia
Pena - detenção, de seis meses a
dois anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem,
sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga.
§ 2º - É punível a calúnia contra
os mortos.
Exceção da verdade
§ 3º - Admite-se a prova da
verdade, salvo:
I - se, constituindo o fato
imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença
irrecorrível;
II - se o fato é imputado a
qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141;
III - se do crime imputado, embora
de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.”
Dessa forma, os elementos que constituem o crime calúnia são
imputação de fato definido como crime a alguém e falsidade da imputação.
Precisa ser um fato definido como crime, não pode ser um mero adjetivo. Tem de
constar as circunstâncias, tempo, lugar, modo. Exemplo o CEO da empresa X
autorizou uma obra Y superfaturada e recebeu comissão da empresa contratada,
isso é crime de apropriação indébita conforme 168 CP .
E além do fato ser definido como crime tem de ser falso. Se
a imputação de crime não for falsa não haverá calúnia. Pelo contrário, será
denúncia importantíssima para o bem público, podendo servir de base para investigação
da polícia e processo movido pelo Ministério Público..
Assim, se o tal CEO do exemplo anterior processar o
comunicador por calúnia, ao comunicador será possível fazer prova de o que
alega é verdade, caso em que será absolvido da ação de calúnia.
Só não cabe fazer prova do crime se já houver sentença
transitada em julgado (da qual não cabe recurso) inocentando o CEO daquele
crime. Assim, se o judiciário já decidiu ninguém mais pode remexer o assunto.
“ Difamação
Pena - detenção, de três meses a um
ano, e multa.
Exceção da verdade
Parágrafo único - A exceção da
verdade somente se admite se o ofendido é funcionário público e a ofensa é
relativa ao exercício de suas funções.”
Dessa forma, os elementos que constituem o crime difamação
são imputação de fato ofensivo à reputação de alguém. Também precisa ser um
fato, não pode ser um mero adjetivo, mas não pode ser crime. Tem de constar as
circunstâncias, tempo, lugar, modo. Exemplo o CEO da empresa X não paga as
mensalidades da escola de seus filhos desde o começo do ano .Esse tipo de
dívida não é crime, é um fato que gera responsabilidade civil, não penal. Mas o
fato de ser devedor não é bom para a reputação desse CEO, pois é mal visto
socialmente.
Como o fato não é crime, não interessa por si só à
coletividade, porque não atinge bem público, assim, a menos que o difamado seja
funcionário público no exercício de suas funções, será incabível a exceção de
verdade. Ou seja, o comunicador será processado por difamação, mesmo que os
fatos alegados sejam verdadeiros.
“Injúria
Pena - detenção, de um a seis
meses, ou multa.
§ 1º - O juiz pode deixar de
aplicar a pena:
I - quando o ofendido, de forma
reprovável, provocou diretamente a injúria;
II - no caso de retorsão imediata,
que consista em outra injúria.
§ 2º - Se a injúria consiste em
violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se
considerem aviltantes:
Pena - detenção, de três meses a um
ano, e multa, além da pena correspondente à violência.
§ 3o Se a injúria consiste na utilização de
elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de
pessoa idosa ou portadora de deficiência: (Redação
dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
Pena - reclusão de um a três anos e
multa. (Incluído
pela Lei nº 9.459, de 1997)”
Dessa forma, os elementos que constituem o crime injúria são
haver ofensas à dignidade ou ao decoro . Não precisa ser um fato, pode ser um
mero adjetivo. Qualquer expressão ultrajante ou palavra de desprezo pode ser
considerada injúria. Exemplo o CEO da empresa X é um corrupto, ou um mal
pagador. A doutrina diferencia a calúnia e a difamação como ofenças ao aspecto
exterior, objetivo, da honra: a reputação, ao passo que a injuria atinge a
honra subjetiva, pessoal o sentimento de honorabilidade pessoal, a dignidade.
Não cabe condenação se não houver dolo, intensão de
caluniar, difamar ou injuriar. Mas o dolo é presumido até que o comunicador
consiga provar sua boa fé.
Cuidado que a potencial defesa da honra pode justificar
censura, como no caso do Estadão contra o filho de Sarney.
Disposições comuns
Art. 141 - As
penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes
é cometido:
I - contra o Presidente da
República, ou contra chefe de governo estrangeiro;
II - contra funcionário público, em
razão de suas funções;
III - na presença de várias
pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da
injúria.
IV - contra
pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no caso
de injúria. (Incluído
pela Lei nº 10.741, de 2003)
Parágrafo único - Se o crime é
cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena em dobro.
Exclusão do crime
I - a ofensa irrogada em juízo, na
discussão da causa, pela parte ou por seu procurador;
II - a opinião desfavorável da
crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção
de injuriar ou difamar;
III - o conceito desfavorável
emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste no
cumprimento de dever do ofício.
Parágrafo único - Nos casos dos ns.
I e III, responde pela injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade.
Retratação
Art. 143 - O
querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da
difamação, fica isento de pena.
Art. 144 - Se,
de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou injúria,
quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a
dá-las ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela ofensa.
Art. 145 - Nos
crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo
quando, no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.
Parágrafo
único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do
inciso I do caput do art. 141 deste Código, e mediante
representação do ofendido, no caso do inciso II do mesmo artigo, bem como no
caso do § 3o do
art. 140 deste Código. (Redação
dada pela Lei nº 12.033. de 2009)
Cuidado que a potencial defesa da honra pode justificar
censura, como no caso do Estadão contra o filho de Sarney.
TÍTULO IX DOS CRIMES
CONTRA A PAZ PÚBLICA
Incitação ao crime
Pena - detenção, de três a seis
meses, ou multa.
Apologia de crime ou criminoso
Pena - detenção, de três a seis
meses, ou multa.
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
Oferta,
Publicidade Enganosa e Abusiva.
Oferta no CDC é diferente do Direito Civil clássico (convite
não vinculante) no CDC a oferta vincula. O fornecedor tem obrigação de entregar
o produto ou serviço de acordo com o que constava na oferta. Marketing técnicas
e práticas que visam aproximar o consumidor de um produto ou serviço colocado
no mercado. Oferta não é só publicidade mas qualquer tipo de informação
suficientemente precisa.
Art. 30. Toda informação ou
publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de
comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados,
obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o
contrato que vier a ser celebrado.
Se houver erro crasso na oferta não precisa cumpri-la
(exemplo um carro sai anunciado por R$5) Boa fé objetiva, informação,
cooperação e compreensão são exigidas também do consumidor.
Oferta integra o contrato de consumo.
Publicidade conteúdo comercial. Propaganda conteúdo político
ou religioso.
Princípio da identificação imediata da publicidade deve ser
óbvia para o consumidor que se trata de publicidade. Não pode ser dissimulada,
subliminar ou clandestina. Se for merchandising (protagonista bebe cerveja de
uma determinada marca) tem de ter aviso de uso dessa técnica.
Princípio da vinculação contratual para vincular fornecedor
ao que foi objeto de publicidade.
Princípio da inversão obrigatória do ônus da prova para o
caso da publicidade. Normalmente a inversão fica a critério do juiz se houver
hipossuficiência e nexo de causalidade. Quando o tema for publicidade a
inversão do ônus da prova é obrigatória decorre do CDC.
Art. 38. O ônus da prova da
veracidade e correção da informação ou comunicação publicitária cabe a quem as
patrocina.
Tem de ter respaldo fático ou técnico que fundamente a
mensagem publicitária. (provar que carro tem um determinado rendimento, por
exemplo)
Contrapropaganda visa minimizar danos causados pela
propaganda enganosa ou abusiva. No mesmo formato, proporções, no mesmo horário,
no mesmo tempo.
Publicidade enganosa pode ser por comissão (afirma algo que
não é real) e por omissão (deixa de informar dado essencial do produto ou
serviço). Está relacionada com produto ou serviço.
Publicidade abusiva é a antiética que fere os valores morais
do consumidor. Está relacionada com a repercussão da publicidade nos valores da
sociedade. Explora a deficiência de julgamento das pessoas (voltada para crianças).
Desrespeita valores ambientais fala que é sustentável sem provar.
Art. 37. É proibida toda
publicidade enganosa ou abusiva.
§ 1° É enganosa qualquer modalidade de
informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa,
ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o
consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade,
propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.
§ 2° É abusiva, dentre outras a
publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência,
explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e
experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de
induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua
saúde ou segurança.
§ 3° Para os efeitos deste código, a
publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar sobre dado
essencial do produto ou serviço.
Conselho Nacional de Autoregulamentação Publicitária julga
diversos casos de publicidade abusiva e enganosa
http://www.youtube.com/watch?v=_mvsspBDB-c
(Paris Hilton fazendo charme e poses lascivas com lata de cerveja = propaganda
abusiva pois atenta contra o pudor da audiência)
http://www.youtube.com/watch?v=_mvsspBDB-c
(vamos tirar o planeta do sufoco deixando de usar sacolinhas plásticas =
afirmação enganosa pois não prova como isso pode ser feito)
LEGISLAÇÃO
ESPECÍFICA DE RÁDIO E TELEVISÃO
De
acordo com o Código Brasileiro de Telecomunicações (CBT), a radiodifusão é um
serviço “destinado a ser recebido direta e livremente pelo público em geral,
compreendendo a radiodifusão sonora – popularmente conhecido como ‘rádio’ – e a
televisão.
A
definição indica que os serviços de radiodifusão – rádio e televisão – estão
disponíveis a qualquer pessoa do povo, livre e gratuitamente, bastando, para
recebê-los, que o interessado adquira, em lojas especializadas, os aparelhos
próprios à sua recepção, para utilização em residências, carros ou mesmo à mão,
sem ter que pagar pelo acesso à programação.
Os
serviços de radiodifusão, como definidos na Constituição, têm por fundamento a
finalidade educativa e cultural, a promoção da cultura nacional e regional e o
estímulo à produção independente que objetive sua divulgação, a regionalização
da produção cultural, artística e jornalística e o respeito aos valores éticos e
sociais da pessoa e da família, sendo permitida a exploração comercial desses
serviços, na medida em que não prejudique esse interesse e aquela finalidade.
No
Brasil, o padre gaúcho Roberto Landell de Moura, em 1893, foi o pioneiro na
transmissão de rádio (sinais sonoros). Já em 1899 e 1990 jornais citam esse
fato dando fé a essa experiência. Contudo, somente em 1922 foi que a
radiodifusão sonora foi apresentada ao público, tendo como primeiro contato uma
estação transmissora de rádio localizada no Rio de Janeiro.
Hoje,
segundo Lei nº 9.472, de 16 de julho de 1997, Lei Geral de Telecomunicações do
Brasil, Radiodifusão é o serviço de telecomunicações que permite a transmissão
de sons (radiodifusão sonora) ou a transmissão de sons e imagens (televisão),
destinados ao recebimento direto e livre pelo público.
Os
serviços de radiodifusão são:
serviço
de radiodifusão de sons em ondas médias (OM);
serviço
de radiodifusão de sons em ondas curtas (OC);
serviço
de radiodifusão de sons em ondas tropicais (OT);
serviço
de radiodifusão de sons em frequência modulada (FM);
serviço
de radiodifusão de sons e imagens (TV) e
serviço
de radiodifusão comunitária (Radcom).
Os
serviços ancilares e auxiliares de radiodifusão são:
serviço
de retransmissão de TV (RTV);
serviço
de repetição de TV (Rptv); e
serviço auxiliar (SARC).
Direitos da Personalidade: privacidade e intimidade
Direito da imprensa: liberdade de expressão e direito à
informação
Propriedade Intelectual: Diretos autorais, os meios de
comunicação e a execução pública
Apresentação sobre o tema em:
http://prezi.com/olybefqkrlcz/?utm_campaign=share&utm_medium=copy
Especificamente sobre Direitos Autorais no Youtube
apresentação em:
http://prezi.com/olybefqkrlcz/?utm_campaign=share&utm_medium=copy
Legislação do Audiovisual
De
acordo com o Código Brasileiro de Telecomunicações (CBT), a radiodifusão é um
serviço “destinado a ser recebido direta e livremente pelo público em geral,
compreendendo a radiodifusão sonora – popularmente conhecido como ‘rádio’ – e a
televisão.
A
definição indica que os serviços de radiodifusão – rádio e televisão – estão
disponíveis a qualquer pessoa do povo, livre e gratuitamente, bastando, para
recebê-los, que o interessado adquira, em lojas especializadas, os aparelhos
próprios à sua recepção, para utilização em residências, carros ou mesmo à mão,
sem ter que pagar pelo acesso à programação.
Os
serviços de radiodifusão, como definidos na Constituição, têm por fundamento a
finalidade educativa e cultural, a promoção da cultura nacional e regional e o
estímulo à produção independente que objetive sua divulgação, a regionalização
da produção cultural, artística e jornalística e o respeito aos valores éticos
e sociais da pessoa e da família, sendo permitida a exploração comercial desses
serviços, na medida em que não prejudique esse interesse e aquela finalidade.
No
Brasil, o padre gaúcho Roberto Landell de Moura, em 1893, foi o pioneiro na
transmissão de rádio (sinais sonoros). Já em 1899 e 1990 jornais citam esse
fato dando fé a essa experiência. Contudo, somente em 1922 foi que a
radiodifusão sonora foi apresentada ao público, tendo como primeiro contato uma
estação transmissora de rádio localizada no Rio de Janeiro.
Hoje,
segundo Lei nº 9.472, de 16 de julho de 1997, Lei Geral de Telecomunicações do
Brasil, Radiodifusão é o serviço de telecomunicações que permite a transmissão
de sons (radiodifusão sonora) ou a transmissão de sons e imagens (televisão),
destinados ao recebimento direto e livre pelo público.
Os
serviços de radiodifusão são:
serviço
de radiodifusão de sons em ondas médias (OM);
serviço
de radiodifusão de sons em ondas curtas (OC);
serviço
de radiodifusão de sons em ondas tropicais (OT);
serviço
de radiodifusão de sons em frequência modulada (FM);
serviço
de radiodifusão de sons e imagens (TV) e
serviço
de radiodifusão comunitária (Radcom).
Os
serviços ancilares e auxiliares de radiodifusão são:
serviço
de retransmissão de TV (RTV);
serviço
de repetição de TV (Rptv); e
serviço
auxiliar (SARC).
CÓDIGO
BRASILEIRO DE TELECOMUNICAÇÕES
LEI Nº
4117 DE 1962.
Definição
ampla de telecomunicação:
Art. 4º
Para os efeitos desta lei, constituem serviços de telecomunicações a
transmissão, emissão ou recepção de símbolos, caracteres, sinais, escritos,
imagens, sons ou informações de qualquer natureza, por fio, rádio,
eletricidade, meios óticos ou qualquer outro processo
eletromagnético.Telegrafia é o processo de telecomunicação destinado à
transmissão de escritos, pelo uso de um código de sinais.Telefonia é o processo
de telecomunicação destinado à transmissão da palavra falada ou de sons.
Contratos
administrativos para a delegação do serviço público :
Art.
100. A execução de qualquer serviço de telecomunicações, por meio de concessão,
autorização ou permissão, está sujeita ao pagamento de taxas cujo valor será
fixado em lei.
CONCESSÃO
X PERMISSÃO X AUTORIZAÇÃO
Concessão
– contrato administrativo para delegação
da execução do serviço, na forma autorizada e regulamentada pelo poder
executivo. Trata-se de um contrato bilateral, oneroso, cumulativo e realizado
intuito personae. Sujeito a procedimento licitatório (concorrência pública).
Exemplo concessão de emissoras de rádio e TV
Permissão
– ato unilateral, discricionário, precário, intuito personae, gratuito ou
oneroso. Por não ser bilateral o contrato de permissão é na verdade um
instrumento de delegação.
Tanto a
Concessão como a Permissão precisam de lei autorizativa.
A
Autorização – ato unilateral, gratuito ou oneroso, discricionário, de título
precário, podendo ser revogado a qualquer tempo e que serve para auxiliar em
casos ocasionais ou temporários (ex. serviço de taxi). Independe de licitação e
de lei autorizadora
REGULAMENTO
DOS SERVIÇOS DE RADIODIFUSÃO
DECRETO
No 52.795/63
Necessidade
de procedimento licitatório
Art. 10.
A outorga para execução dos serviços de radiodifusão será precedida de
procedimento licitatório, observadas as disposições legais e regulamentares
Apresentação
em:
LEI
SEAC = lei da produção audiovisual
(Lei nº
12.485/2011 + Instruções Normativas da ANCINE n. 100 e 101)
Regulamenta
a TV por assinatura. Cria o termo mais abrangente “serviço de acesso
condicionado”. Permitiu a entrada das Teles no mercado de TV por assinatura.
Teles passam a pagar CONDECINE inclusive.
ANATEL
cuida da distribuição (regulamentação da infraestrutura) e ANCINE cuida da
produção, empacotamento (montagem dos pacotes que são vendidos) e programação
COTA DE
TELA = 3 horas e meia semanais para conteúdo nacional metade feito por produtor
independente e regional (30% norte nordeste e centroeste e 10% universitários).
Cota será aplicada por 12 anos.
Cada canal
deverá veicular, em horário nobre, ao menos 3 horas e 30 minutos semanais de
conteúdos brasileiros de “espaço qualificado”, dos quais metade deverá ser
produzido por produtora independente.
Definição
do que é espaço qualificado e está sujeito a política de cotas portanto.
Art. 2o XII da Lei nº 12.485/2011- Espaço Qualificado:
espaço total do canal de programação, excluindo-se conteúdos religiosos ou
políticos, manifestações e eventos esportivos, concursos, publicidade,
televendas, infomerciais, jogos eletrônicos, propaganda política obrigatória,
conteúdo audiovisual veiculado em horário eleitoral gratuito, conteúdos
jornalísticos e programas de auditório ancorados por apresentador;
HORÁRIO
NOBRE, na IN 100, é definido como o período de 6 horas diárias (das 18 e 24
horas), para a maioria dos canais (exceto canais de programação infantil)
CONTEÚDO
BRASILEIRO
1-
produzido por empresa brasileira registrada perante a ANCINE, dirigida por
diretor brasileiro e que conte com ao menos 2/3 de artistas e técnicos
brasileiros;
2-
produzido em coprodução entre empresa brasileira e empresas de países com os
quais o Brasil possua acordo de coprodução, nos termos e limites do referido
tratado;
3-
produzidos em regime de coprodução entre empresa brasileira e empresas de
países com os quais o Brasil não possua acordo internacional de coprodução,
neste caso observada titularidade mínima da produtora brasileira de 40% dos
direitos patrimoniais (copyright) sobre a obra, além de pelo menos 2/3 de
artistas e técnicos brasileiros.
XVIII - Produtora Brasileira: empresa que produza
conteúdo audiovisual que atenda as seguintes condições, cumulativamente:
a) ser constituída sob as leis brasileiras;
b) ter sede e administração no País;
c) 70% (setenta por cento) do capital total e votante
devem ser de titularidade, direta ou indireta, de brasileiros natos ou
naturalizados há mais de 10 (dez) anos;
d) a gestão das atividades da empresa e a
responsabilidade editorial sobre os conteúdos produzidos devem ser privativas
de brasileiros natos ou naturalizados há mais de 10 (dez) anos;
PRODUTORA
INDEPENDENTE
Com
pelo menos 70% de capital brasileiro e que não seja coligada ou controlada por
uma programadora, distribuidora ou emissora de televisão aberta, nem possua com
estas qualquer acordo que lhes confira direitos especiais ou de exclusividade
sobre as obras por ela produzidas.
Possui
“direitos dirigentes” sobre a obra audiovisual, ou seja tem um conjunto de
direitos sobre a obra que qualifiquem a
produtora como proprietária da obra audiovisual: maioria dos direitos
patrimoniais sobre a obra; participação equivalente ou proporcional nas
receitas obtidas a partir de sua exploração comercial e o direito de realizar
(ou decidir quanto à realização) de novas temporadas, sequências, subprodutos,
etc.
XIX - Produtora Brasileira Independente: produtora
brasileira que atenda os seguintes requisitos, cumulativamente:
a) não ser controladora, controlada ou coligada a
programadoras, empacotadoras, distribuidoras ou concessionárias de serviço de
radiodifusão de sons e imagens;
b) não estar vinculada a instrumento que, direta ou
indiretamente, confira ou objetive conferir a sócios minoritários, quando estes
forem programadoras, empacotadoras, distribuidoras ou concessionárias de
serviços de radiodifusão de sons e imagens, direito de veto comercial ou
qualquer tipo de interferência comercial sobre os conteúdos produzidos;
c) não manter vínculo de exclusividade que a impeça de
produzir ou comercializar para terceiros os conteúdos audiovisuais por ela
produzidos;
Problemática:
pela a regulamentação expedida pela ANCINE, até mesmo que “reality shows” sem
ser concurso podem ser veiculados em cumprimento das cotas de programação -
exigindo-se, neste caso, que não apenas sejam produzidos por empresa brasileira
(e independente, conforme o caso), como também que o formato ou bíblia em que
se basear o programa pertença à empresa brasileira (ou, no mínimo, que esta
detenha direitos de comercialização deste formato em quaisquer territórios).
POLÍTICA
NACIONAL DO CINEMA
Medida
Provisória no 2.219/2001.
CONSELHO
SUPERIOR DO CINEMA
Art. 3o Fica criado o Conselho Superior do Cinema, órgão
colegiado integrante da estrutura da Casa Civil da Presidência da República, a
que compete:
I - definir a política nacional do cinema;
II - aprovar políticas e diretrizes gerais para o desenvolvimento da
indústria cinematográfica nacional, com vistas a promover sua
auto-sustentabilidade;
III - estimular a presença do conteúdo brasileiro nos diversos
segmentos de mercado;
IV - acompanhar a execução das políticas referidas nos incisos I, II
e III;
V - estabelecer a distribuição da Contribuição para o Desenvolvimento
da Indústria Cinematográfica - CONDECINE para cada destinação prevista em
lei.
Art. 4o O Conselho Superior do Cinema será integrado:
I - pelos Ministros de Estado:
a) da
Justiça;
b) das
Relações Exteriores;
c) da
Fazenda;
d) da
Cultura;
e) do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior;
f) das
Comunicações; e
g) Chefe da Casa Civil da Presidência da República, que o presidirá.
II - por cinco representantes da indústria cinematográfica e
videofonográfica nacional, que gozem de elevado conceito no seu campo de
especialidade, a serem designados por resolução, para mandato de dois anos,
permitida uma recondução.
ANCINE
Art. 18. As empresas de exibição deverão emitir relatório
enumerando as obras cinematográficas brasileiras e estrangeiras exibidas no
período pelos cinemas de sua rede de exibição, número de dias de exibição,
número de espectadores e renda de bilheteria, conforme definido em regulamento,
devendo estas informações ser remetidas à ANCINE.
Art. 19. As empresa distribuidoras e locadoras de obras
cinematográficas para vídeo, doméstico ou para venda direta ao consumidor, em
qualquer suporte, deverão emitir semestralmente relatório enumerando as obras
cinematográficas brasileiras distribuídas no período, número de obras
estrangeiras e sua relação, número de cópias distribuídas por título, conforme
definido em regulamento, devendo estas informações serem remetidas à ANCINE.
Art. 22. É obrigatório o registro das empresas de produção,
distribuição, exibição de obras cinematográficas e videofonográficas nacionais
ou estrangeiras na ANCINE, conforme disposto em regulamento.
Parágrafo
único. Para se beneficiar de recursos públicos ou incentivos fiscais
destinados à atividade cinematográfica ou videofonográfica a empresa deve estar
registrada na ANCINE.
Art. 26. A empresa produtora de obra cinematográfica ou
videofonográfica com recursos públicos ou provenientes de renúncia fiscal
deverá depositar na Cinemateca Brasileira ou entidade credenciada pela ANCINE
uma cópia de baixo contraste, interpositivo ou matriz digital da obra, para sua
devida preservação.
Art. 28. Toda obra cinematográfica e videofonográfica
brasileira deverá, antes de sua exibição ou comercialização, requerer à ANCINE
o Certificado de Produto Brasileiro - CPB.
Art. 29. É obrigatório o registro dos contratos de co-produção,
cessão de direitos de exploração comercial, exibição, licenciamento,
distribuição, comercialização e exportação de obras cinematográficas e obras videofonográficas
em qualquer suporte ou veículo na ANCINE e a comprovação, no ato de seu
registro, do pagamento da CONDECINE, para cada segmento de mercado a que o
contrato se referir, conforme regulamento.
FUNCINES
Art. 41. Os Fundos de Financiamento da Indústria
Cinematográfica Nacional - FUNCINES serão constituídos sob a forma de
condomínio fechado, sem personalidade jurídica, e administrados por instituição
financeira autorizada a funcionar pelo Banco Central do Brasil.
§ 1o O patrimônio dos FUNCINES será representado por quotas
emitidas sob a forma escritural, alienadas ao público com a intermediação da
instituição administradora do Fundo.
§ 2o A administradora será responsável por todas as obrigações
do Fundo, inclusive as de caráter tributário.
Art. 42. Compete à Comissão de Valores Mobiliários autorizar,
disciplinar e fiscalizar a constituição, o funcionamento e a administração dos
FUNCINES, observadas as disposições desta Medida Provisória e as normas
aplicáveis aos fundos de investimento.
Parágrafo único. A Comissão de Valores Mobiliários comunicará a
constituição dos FUNCINES, bem como as respectivas administradoras à ANCINE.
PRODECINE
Art. 47. Fica instituído o Programa de Apoio ao Desenvolvimento
do Cinema Nacional - PRODECINE, destinado a captar e aplicar recursos
necessários ao fomento de projetos de produção, distribuição, comercialização e
exibição de obras cinematográficas e videofonográficas brasileiras de produção
independente, bem assim de projetos de infra-estrutura técnica para a atividade
cinematográfica, inclusive pagamento do Prêmio Adicional de Renda de que trata
o art. 54, na forma do regulamento.
§ 1o Os recursos do PRODECINE poderão ser objeto de aplicação a
fundo perdido, nos casos específicos previstos no regulamento.
COPRODUÇÃO
INTERNACIONAL
A
principal vantagem de realizar um filme em regime de coprodução é que ele é
tratado como obra nacional por todos os países coprodutores, podendo usufruir
de políticas locais de apoio à produção e mecanismos de financiamento nos dois
(ou mais) países. Além disso, uma vez prontas, as obras reconhecidas como
nacionais por mais de um país têm acesso aos diferentes mecanismos de cotas de
tela (em cinema ou em televisão) aplicados nos diferentes territórios.Além
disso, estimula as trocas entre empresas produtoras brasileiras e estrangeiras.
Coproduções
internacionais podem ser realizadas entre países com os quais o Brasil tenha
assinado um acordo de coprodução cinematográfica, mas também com os que ele não
possua esse documento assinado. Os acordos podem ser multilaterais, assinado
entre blocos de países, ou bilaterais, e têm o objetivo de criar condições mais
favoráveis de colaboração entre os signatários.
No caso
de coproduções com países com os quais o Brasil não possua acordo, é necessário
que a produção tenha, no mínimo, 2/3 de artistas e técnicos brasileiros ou
residentes no Brasil há mais de 3 (três) anos, e que o contrato assinado entre
os produtores garanta a titularidade de, no mínimo, 40% (quarenta por cento)
dos direitos patrimoniais da obra à parte brasileira.
Mais
informações em http://www.ancine.gov.br/sala-imprensa/noticias/coprodu-o-internacional-o-que-e-como-fazer
Palestra
do Diretor Presidente da ANCINE, Glauber Piva, no Anima Forum 2012: http://youtu.be/uJNrNwvLJQM
“Mais
jeito que força” Meu Amigãozão começou com um edital de 1 minuto para curtas
específico para animação no total de R$10.000. Meu Amigãozão é uma série
brasileira e canadense criada por Claudia Koogan Breitman e Andrés Lieban,
coproduzida pelo estúdio brasileiro 2D Lab e a empresa canadense Breakthrough
Animation. Primeiro episódio: 9 de agosto de 2010. Idioma: Língua inglesa.
Gênero: Animação
Historietas
Assombradas também nasceu no Curtas Crianças. Historietas Assombradas (para
Crianças Malcriadas) é uma série de animação brasileira baseada no curta-metragem
homônimo criado por Victor-Hugo Borges.
Guilherme
Fontes terá de restituir verba arrecadada para produção de Chatô, o Rei do
Brasil: R$ 1,1 milhão à Petrobras
Distribuidora e em mais de R$ 1,4 milhão à Petrobras S/A, com a devida correção
monetária e juros. Guilherme Fontes assinou dois contratos e não honrou os
compromissos firmados. No primeiro, ele obteve R$ 1,3 milhão, mas como não
concluiu o projeto lhe foi concedido novo prazo. No curso do novo prazo, foi
feito o segundo contrato de patrocínio, com o mesmo objeto, no valor de R$ 2
milhões, que seriam liberados em sete parcelas.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Questões de concurso
CESPE - CL (SEN)/Comunicações e Ciência da Informação/2002
Tramitam pela Câmara e pelo Senado cerca de 300 projetos de lei
versando sobre os mais variados temas - da Lei de Imprensa à regulamentação
do comércio eletrônico, passando por todos os tipos de mídia e, é claro, pela
propaganda - que afetam, em maior ou menor grau, agências, anunciantes e
veículos. Essa fúria legislativa não é nova, garante quem acompanha há mais
tempo o trabalho dos parlamentares em Brasília, mas tem aumentado nos últimos
anos, a partir da redemocratização do País e do aumento do número de
deputados e senadores.
Eliane Pereira e Robert Galbraith. Enxurrada de propostas. In: Meio e
Mensagem on line, n.º 991, 14/1/2002 (com adaptações).
Considerando o texto acima e as mudanças que atingem todo o setor de
comunicação no Brasil, julgue o item seguinte.
A reformulação completa do setor cinematográfico no Brasil foi
proposta por meio de uma única Medida Provisória, a de n.o 2.228-1, de
setembro de 2001, que estabeleceu a Política Nacional do Cinema, criou o
Conselho Superior do Cinema e a Agência Nacional do Cinema (ANCINE),
instituiu o Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Cinema Nacional
(PRODECINE), autorizou a criação de Fundos de Financiamento da Indústria
Cinematográfica Nacional (FUNCINES) e alterou a legislação acerca da
Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional.
Resposta Certa
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CESPE - TA (ANCINE)/2012
Acerca da comunicação de acesso condicionado, julgue o item que se
segue.
Com a aprovação da Lei n.º 12.485/2011, ficou proibida a outorga de
novas concessões para a prestação de serviço de TV a cabo.
Resposta Errada
A Lei n.º 12.485/2011 veda expressamente a prática de preços
discriminatórios para atividades de empacotamento, entretanto, permite o uso
de subsídios cruzados em situações que envolvam a produção de vídeos.
Resposta Errada
Constitui canal brasileiro de espaço qualificado aquele que,
cumulativamente, tenha a programação feita por programadora brasileira;
veicule, no horário nobre, conteúdo audiovisual brasileiro; não tenha acordo
de exclusividade que impeça a comercialização de direitos de exibição por
empacotadora interessada.
Resposta Errada
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CESPE - TRACA (ANCINE)/2012
Tendo em vista que a atividade cinematográfica no Brasil se serve de
uma série de mecanismos para financiar produções ou coproduções realizadas
por empresas produtoras brasileiras, julgue o item a seguir.
A Lei do Audiovisual (Lei n.º 8.685/1993) é uma lei estadual que se
caracteriza como um mecanismo de investimento, coprodução ou patrocínio de
obras audiovisuais cinematográficas e videofonográficas brasileiras de
produção independente de curtas, médias e longas-metragens, telefilmes e
minisséries.
Resposta Errada
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CESPE - TA (ANCINE)/2012
A respeito da Política Nacional do Cinema, julgue o item a seguir.
As modificações no Regimento Interno do Conselho Superior de Cinema
devem ser realizadas por legislação federal, nos moldes de um processo
legislativo no Congresso Nacional.
Resposta Errada
O Conselho Superior do Cinema, presidido pelo chefe da Casa Civil da
Presidência da República, tem em sua constituição os ministros de Estado da
Justiça, das Relações Exteriores, da Fazenda, da Cultura, do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior e das Comunicações.
Resposta Errada
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CESPE - CL (SEN)/Comunicações e Ciência da Informação/2002
Em relação à política de radiodifusão, julgue o item que se segue.
As atividades das emissoras educativas no Brasil estão reguladas no
Decreto-lei n.o 2.367/1967, que estabelece a diferença entre televisão
educativa pública, independente do governo, e a televisão educativa estatal,
dependente do governo.
Resposta Errada
CESPE - OTI (ABIN)/Comunicação Social - Publicidade e Propaganda/2010
Julgue o item subsequente, acerca de direitos autorais sobre a
produção audiovisual.
As trilhas sonoras utilizadas em produções audiovisuais devem ser
originais, encomendadas diretamente aos músicos, visto que as produtoras de
áudio não fornecem banco de trilhas aos clientes.
Resposta Errada
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CESPE - TRACA (ANCINE)/2012
Tendo em vista que a atividade cinematográfica no Brasil se serve de
uma série de mecanismos para financiar produções ou coproduções realizadas
por empresas produtoras brasileiras, julgue o item a seguir.
A Lei n.º 8.313/1991 (Lei Rouanet) é um mecanismo de investimento
cujos financiadores são pessoas físicas e empresas brasileiras tributadas em
seu lucro real.
Resposta Errada
A Lei do Audiovisual e a Lei Rouanet são modalidades de fomento
indireto, enquanto o Prêmio Adicional de Renda e o Programa de Incentivo à
Qualidade do Cinema Brasileiro são mecanismos de fomento direto pelo poder
público.
Resposta Certa
O modelo brasileiro de financiamento de obras cinematográficas e
videofonográficas baseia-se prioritariamente na participação direta do
governo por meio das leis de incentivo fiscal e do Fundo Nacional de Cinema.
Resposta Errada
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CESPE - TRACA (ANCINE)/2012
Considerando que uma produtora brasileira independente deseje realizar
um filme longa-metragem e que, para tanto, opte por mecanismos de
financiamento de investimento ou coprodução, julgue o item.
Caso queira se servir da Lei do Audiovisual para produzir um
longa-metragem, a empresa produtora deverá inscrever seu projeto na
Secretaria do Audiovisual.
Resposta Errada
Na situação em apreço, é vedado o uso de diferentes mecanismos de
utilização de créditos tributários para financiar uma mesma obra
cinematográfica.
Resposta Errada
O valor do investimento efetuado pelas empresas financiadoras na forma
do primeiro artigo da Lei do Audiovisual poderá ser lançado como despesa
operacional dedutível do imposto de renda.
Resposta Certa
Os mecanismos de investimento ou coprodução destinam-se a empresas
financiadoras que busquem recuperar parte do capital investido no filme.
Resposta Certa
Na situação descrita, empresas estrangeiras não poderão se beneficiar
dos mecanismos de incentivo fiscal para o abatimento de impostos devidos
pagos no Brasil.
Resposta Errada
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CESPE - TRACA (ANCINE)/2012
Julgue o item seguinte de acordo com a Medida Provisória n.º
2.228-1/2001, que, entre outros aspectos, estabelece princípios da Política
Nacional do Cinema (PNC) e cria o Conselho Superior do Cinema (CSC) e a
Agência Nacional do Cinema (ANCINE).
O respeito ao direito autoral sobre obras audiovisuais nacionais e
estrangeiras é um dos princípios da PNC.
Resposta Certa
A ANCINE é um órgão de fomento, regulação e fiscalização da indústria
cinematográfica e videofonográfica, dotada de autonomia administrativa e
financeira.
Resposta Certa
Definir e executar a política nacional de fomento ao cinema é
competência do CSC.
Resposta Errada
O CSC é integrado por representantes da indústria cinematográfica e
videofonográfica nacional e por ministros de Estado.
Resposta Certa
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CESPE - TRACA (ANCINE)/2012
De acordo com o que dispõe a Lei n.º 9.610/1998, que atualiza e
consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências,
julgue o item abaixo.
Para os efeitos dessa lei, considera-se distribuição a colocação do
original ou cópia de obras literárias, artísticas ou científicas à disposição
do público, mediante a venda, locação ou qualquer outra forma de
transferência de propriedade ou posse.
Resposta Certa
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CESPE - TRACA (ANCINE)/2012
Com referência às disposições da Lei n.° 12.485/2011, julgue o item
subsequente.
A fim de estimular os negócios da cadeia produtiva do audiovisual,
estabeleceu-se que pelo menos 50% da faixa reservada a obras brasileiras nos
canais de espaço qualificado deve ser preenchida por trabalhos produzidos por
empresas independentes.
Resposta Errada
A maior parte da programação dos canais de TV por assinatura no Brasil
deve ser composta de conteúdos nacionais e internacionais independentes,
respeitadas a diversificação de produção e articulação das empresas
brasileiras que atuam nos diversos setores da cadeia produtiva do
audiovisual.
Resposta Errada
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CESPE - TRACA (ANCINE)/2012
Com base na Lei n.º 12.599/2012, que instituiu o Programa Cinema Perto
de Você, julgue o item seguinte.
Deve o beneficiário do Regime Especial de Tributação para
Desenvolvimento da Atividade de Exibição Cinematográfica (RECINE) exercer
atividades relativas à implantação ou operação de complexos cinematográficos,
ou à locação de equipamentos para salas de exibição.
Resposta Certa
No âmbito do projeto Cinema da Cidade, instituído pelo Programa Cinema
Perto de Você, exige-se dos municípios e governos estaduais a assunção de
determinados compromissos, como a redução dos tributos incidentes sobre a
operação de salas de exibição cinematográfica, com exceção do ISS, nos
municípios.
Resposta Errada
A construção e a implantação de complexos de exibição cinematográfica,
nas condições, cidades e zonas urbanas estabelecidas pelo regulamento do
referido programa, serão viabilizadas por recursos concedidos pelo BNDES.
Resposta Certa
Um dos objetivos do programa em apreço é ampliar o estrato social dos
frequentadores de salas de cinema, em especial por meio de políticas de
redução de preços dos ingressos.
Resposta Certa
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CESPE - TRACA (ANCINE)/2012
Podem ser inscritos no Programa Cinema Perto de Você projetos que
visem à
implantação de cursos de capacitação para atualização dos
profissionais da área de exibição.
Resposta Errada
construção ou implantação de novas salas de exibição cinematográfica.
Resposta Certa
ampliação dos complexos em operação com a implantação de novas salas
de cinema.
Resposta Certa
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CESPE - TRACA (ANCINE)/2012
Em 1997, a TV Globo criou um departamento dedicado à coprodução
longas-metragens para o cinema, a Globo Filmes (GF), ampliando sua influência
sobre o cinema brasileiro. Com relação aos filmes coproduzidos pela GF,
julgue o item.
A GF oferece aos filmes que coproduz um amplo espaço em mídia
televisiva na ocasião do lançamento, nos formatos tradicionais (anúncios e
spots de TV) ou na chamada cross media (citação e promoção nos programas da
emissora).
Resposta Certa
A GF opera somente como coprodutora de filmes inéditos, que têm origem
em programas de sua grade (como Casseta e Planeta ou Os Normais), mas são
sempre realizados por empresas produtoras independentes, com supervisão da
GF.
Resposta Errada
Normalmente, ao coproduzir um filme, a GF participa com financiamento
direto.
Resposta Errada
Os filmes coproduzidos pela GF demonstram competitividade no mercado,
mesmo frente aos produtos norte-americanos, devido aos altos investimentos em
marketing realizados em seus lançamentos.
Resposta Certa
Entre os trinta longas-metragens nacionais lançados em 2003,
Carandiru, Lisbela e o Prisioneiro e Central do Brasil, coproduções da GF,
ficaram entre os dez filmes mais vistos do ano, ao lado de sucessos
hollywoodianos.
Resposta Errada
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CESPE - TRACA (ANCINE)/2012
A cadeia produtiva do audiovisual é constituída pelas relações entre
produtores, distribuidores e exibidores. A distribuição é o elo entre a
exibição e a produção. Com relação a esse assunto, julgue o item a seguir.
As atividades de exibição e de distribuição têm interesses
divergentes. Enquanto o exibidor deseja variedade e novidade, o que significa
rotatividade de filmes novos, o distribuidor, por sua vez, almeja explorar
seu filme até o último espectador, lutando para que os títulos que
comercializa fiquem em cartaz o maior tempo possível.
Resposta Certa
O sistema de exibição multíplex, com suas várias salas, facilita a
maior permanência dos filmes em cartaz e também proporciona espaço para a
estreia de pelo menos um filme novo a cada semana, conciliando, dessa forma,
interesses de distribuidores e exibidores.
Resposta Certa
O trailer não constitui instrumento promocional para convencer o
espectador a assistir a um filme e aumentar sua expectativa pela estreia.
Resposta Errada
O conjunto composto pelas vinte maiores bilheterias nas salas de
cinema, os chamados blockbusters, representa até 65% das arrecadações totais
da indústria cinematográfica.
Resposta Certa
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CESPE - TRACA (ANCINE)/2012
A chamada retomada do cinema brasileiro apresenta um elemento que o
diferencia dos períodos anteriores. Uma transformação profunda ocorreu no
país, alterando a posição do cinema na cadeia do audiovisual. Esse novo
elemento é a consolidação da televisão, mais especificamente a constituição
de uma rede nacional como hegemônica no mercado nacional e potência
audiovisual mundial. O cinema nacional, objetivando uma melhor comunicação
com o público, incorporou elementos da estética televisiva difundidos por
meio do padrão Globo de produção. A influência da estética televisiva fica
bastante evidente no gênero de maior sucesso de bilheteria, as comédias
românticas.
A respeito do assunto abordado no texto acima, julgue o item
subsequente.
São características da estética televisiva: construção de personagens
baseados em estereótipos; larga utilização de planos fechados; fotografia e
interpretações naturalistas e utilização de um maior número de cortes e
cenas, imprimindo rapidez e agilidade à edição.
Resposta Certa
Enquanto alguns filmes incorporaram a estética televisiva à sua
linguagem, a televisão aproximou-se do cinema brasileiro por meio de
produções “híbridas”, como, por exemplo, Caramuru — A invenção do Brasil
(Guel Arraes), produzido em formato digital e depois passado para película.
Esse filme estreou primeiro como microssérie na televisão para depois chegar
ao circuito exibidor cinematográfico.
Resposta Certa
A estética televisiva contribuiu para a melhor aceitação do cinema
brasileiro e ampliou o desempenho deste nas bilheterias, mas gerou críticas
quanto à homogeneização do cinema nacional devido à adoção da linguagem da
televisão como a única capaz de conquistar o interesse do público.
Resposta Certa
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CESPE - TRACA (ANCINE)/2012
Considerando que, no mercado audiovisual, o termo janela significa o
período de tempo observado pelas distribuidoras no lançamento dos filmes nos
diversos segmentos de mercado, julgue o item subsecutivo.
O filme O Auto da Compadecida subverteu a ordem convencional das
janelas de comercialização e foi lançado nas salas de cinema como uma versão
compacta de série previamente exibida em televisão aberta. Essa estratégia
confirmou a importância do ineditismo, e o filme teve bilheteria baixa,
inferior a um milhão de espectadores.
Resposta Errada
Inicialmente fixada em seis meses, a janela entre o lançamento de
filmes nas salas de cinema e a chegada dos filmes nos formatos de
entretenimento doméstico (DVD e outros) foi aos poucos reduzida, chegando a
aproximadamente três meses nos Estados Unidos da América e a quatro meses nos
principais mercados europeus.
Resposta Certa
No Brasil, a janela de lançamento dos filmes nas salas de cinema e nos
formatos de entretenimento doméstico (DVD e outros) continua fixada em seis
meses.
Resposta Errada
O aumento da pirataria e a mudança no hábito do consumidor são as principais
causas da queda nas receitas do mercado de entretenimento doméstico. Essa
queda tem motivado a indústria audiovisual a reduzir as janelas de lançamento
dos filmes.
Resposta Certa
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CESPE - TRACA (ANCINE)/2012
Julgue o item a seguir, acerca de coprodução internacional.
O acordo internacional de coprodução consiste em um ato internacional
formal, no qual as partes acordantes são necessariamente pessoas jurídicas de
direito internacional público, com o objetivo de estimular e promover a
coprodução cinematográfica ou audiovisual.
Resposta Certa
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Artigo sobre ética, moral e valores:
Por Ercílio Denny
Moral
Toda moral é relativa, no sentido que corresponde a uma
posição livremente assumida. Há relatividade completa no significado em que
nenhuma regra absoluta limita a liberdade do homem.
O dever é o mesmo para todos os seres humanos e diferente
para cada um, na acepção de que cada pessoa deve orientar a sua vida, não para
realizar a perfeição abstrata e genérica, mas a do pleno desenvolvimento de
suas potencialidades, nas circunstâncias em que, concretamente, se encontra.
Isso faz recordar a parábola evangélica dos talentos, em que o Mestre exige
mais daquele a quem mais foi dado.
Por isso, apresenta-se a obrigação ética, de certo modo, com
menos precisão do que muitos a imaginam. A maior parte gostaria que se lhe
apresentasse um dever já feito, no qual não fosse preciso refletir, e que
resolvesse, de antemão, todos os problemas que a vida passa a apresentar.
Ora, isto é precisamente impossível. Grande parte das
pessoas gosta de "cumprir ordens". A vida só é meritória quando se
aplica os princípios no dia a dia. O dever fundamental, o primeiro, o que
domina todos os outros, é fazer, exatamente, o que muita gente quer, evitar:
pensar nela, preocupar-se com ela, refletir, formar-se para encarar a vida sob
o ponto de vista do aperfeiçoamento e do desenvolvimento, que se deve realizar.
A pessoa não está em ordem consigo mesmo se não fizer tudo o
que puder para se desenvolver, pois, enquanto não for perfeita cometerá erros
por ação ou omissão. Consentir em desenvolver as potencialidades em menos do
que se pode, é anuir em cometer muitos erros, pelos quais a pessoa tem de
responder.
Encontram-se três etapas no dever humano: um absoluto
absoluto, um absoluto relativo e um relativo absoluto. O dever, que corresponde
às exigências específicas da espécie humana, é absolutamente absoluto, ou
incondicionalmente incondicionado. O dever, que corresponde à natureza
individual, é relativamente absoluto, visto ser absoluto num sentido e relativo
no outro. Por último, o dever, que se realiza por uma livre escolha, é
absolutamente relativo, pois só se realiza pela atuação da livre escolha.
O dever absolutamente absoluto é constituído de preceito
universal (ex: amar a si e o outro). O dever relativamente absoluto é formado
de preceito geral, aplicável a todo o ato e representa a intenção em cada ação
(ex: prudência, justiça, fortaleza e temperança). O dever absolutamente
relativo visa a concretude de uma ação (ex: quanto tempo devo estudar hoje).
Deve-se evitar o método de isolar cada ato, e de o submeter
a um exame sistemático em si mesmo, tratando cada ação como se pudesse agir
sobre ela com toda a liberdade, sem relacioná-la com o conjunto da própria
vida. Este método cria problemas insolúveis, pois quer reduzir o dever ao
problema de fazer o bem sem amá-lo, ou, pelo menos, abstraindo disto. É a
atitude do perfeccionista, que se preocupa com os mínimos detalhes. O dever, ao
contrário, consiste em, antes de tudo, em ter boa-vontade, em amar o bem, em
fazer o que se pode... Tudo, então, torna-se mais simples, pois centraliza-se
na atitude fundamental do espírito, na "optio fundamentalis".
Este dever é, ao mesmo tempo, mais severo e mais indulgente
do que o dever limitado à casuística de normas. Mais severo porque se opõe à
satisfação farisáica de quem cumpre, facilmente, o que se costuma chamar de
hábito dos deveres. Ensina que a sua obrigação vai muito mais longe, e que ele
ainda nada fez, estando apenas no início de seu desenvolvimento. Mais
indulgente com relação ao infeliz, vítima das circunstâncias, de um meio
inadequado, de uma educação defeituosa e de um temperamento difícil. Ele ensina
a esta pessoa a não desesperar, pois a única coisa que depende dela é a sua
boa-vontade; que ela está realizando a sua perfeição, desde que coloque os
recursos de sua ação livre a serviço da busca da perfeição.
Esta moral é profundamente humana, pois leva em conta as
circunstâncias próprias de cada um, mas exige de cada pessoa, que aproveite os
recursos de que dispõe. É só e tudo isto que exige.
Reina bastante confusão na maioria dos espíritos a respeito
do sentido da vida. Não se leva em conta, nem a unidade da vida, e nem a
relação dos atos entre si. Confunde-se o bem geral com os bens particulares.
Não se percebe que o bem em si não existe, para cada um, senão como seu bem
próprio.
Concluindo, toda moral é relativa e absoluta ao mesmo tempo.
Inteligência e liberdade são condição para a moral
Quem diz dignidade, diz valor, acrescentando, ainda, alguma
coisa. É um valor especial e superior, dado ao homem por sua natureza
inteligente e livre. Consiste no fato de que o ser humano, por sua inteligência
e sua vontade, é o árbitro de seus atos, e pode ele mesmo se dirigir para um
ideal de vida, concebido com reflexão e realizado com liberdade.
Esta dignidade da pessoa e da natureza humana repousa,
essencialmente, sobre uma escala de valores percebida intuitivamente por toda a
pessoa e que coloca, em primeiro lugar, na ordem dos bens o que se relaciona ao
elemento espiritual. Desta dignidade, que constitui a pessoa árbitro do seu
destino, decorre que ela jamais deve ser tratada como um meio. A razão é um
elemento respeitável de cada ser humano, que lhe consagra e lhe confere uma
imunidade.
Por seus dois constitutivos essenciais, inteligência e
liberdade, pode-se dizer que a dignidade humana é a condição primeira de toda a
vida moral. Sem ela não há apreensão do bem, da verdadeira obrigação, da
responsabilidade e do mérito. Tudo o que diminui um ou outro destes dois
elementos, leva à uma atenuação ou à um atentado à ética do indivíduo.
Dignidade humana é fundamento da moral
Pode-se ver na dignidade da pessoa o fundamento da moral.
Esta tem por fim a preparação do indivíduo à condição de homem. O fim humano
sob certo aspecto, é a perfeição da natureza, da cultura e o pleno
desenvolvimento de todas as potencialidades e faculdades, sob a direção da
razão e da vontade.
A moral visa o desenvolvimento do próprio valor e da própria
dignidade. Deve trabalhar para manter a supremacia da razão na orientação da
própria vida e da própria atividade. Portanto, será bem moral tudo o que
respeitar e afirmar a dignidade humana em si e nos outros. Será mal tudo aquilo
que atentar ou tender a enfraquecer.
Moral pessoal e social
A moral pessoal pode ser construída assim: a) -- Tomar
consciência da própria dignidade, estimar a si mesmo, ter uma alta idéia da
perfeição à qual deve tender a personalidade; b) -- Respeitar a si mesmo, não
tolerando nenhuma submissão da razão e da vontade a outros elementos, e
conseguir um desenvolvimento harmonioso de si; c) -- Fazer-se respeitar pelos
outros, resistindo a todos os atentados cometidos por indivíduos e
coletividades.
A moral social pode ser feita da seguinte forma: a) -- A
justiça nada mais é do que o respeito da dignidade humana no outro, que é a
mesma em todos, e constitui a base de todos os direitos. É em virtude desta
dignidade que não se deve causar dano ao próximo com relação à sua vida, á sua
liberdade, á sua reputação, á sua liberdade, ...; b) -- a caridade é o amor e a
estima desta dignidade no outro, que leva a fazer por ele tudo o que é possível
ao desenvolvimento de nobreza e grandeza que estão nele.
Alguns pensadores exageraram e deformaram este conceito.
Kant (1724-1804), por exemplo, e seus seguidores fizeram consistir esta
dignidade numa autonomia total, que levaria o indivíduo a ser senhor absoluto
dos seus atos. E isto foi levado a tal ponto que o dever, para ser dever, não
deve ser imposto por nenhuma autoridade superior à razão individual. Para eles,
o princípio da dignidade humana não admite que nenhum ser que pense, seja
constrangido a receber de fora os modos de pensar e de agir.
Se tratar de uma coação física, a afirmação é exata.
Entretanto, se referir à imposição do dever por obrigação moral de origem
exterior ao indivíduo, ela não procede.
A dignidade está ligada à perfectibilidade. Supõe que o
homem não pode encontrar nele mesmo sua própria perfeição, que ele não é o seu próprio
fim, mas que sua dignidade consiste em se dirigir a um fim superior a ele
mesmo. Só a verdade, o bem e o ser podem satisfazer as tendências do seu
espírito.
Este fim não é facultativo. Ele se impõe. Daí a necessidade
de uma autoridade exterior e superior ao indivíduo. A dignidade humana
consistirá em aceitar conscientemente, e a seguir voluntariamente esta
obrigação imposta pela natureza das coisas, em conformar a razão e a vontade á
inteligência e à vontade do ser das coisas.
Em suma, a dignidade humana deve ser compreendida
corretamente, e não pode ser confundida com a autonomia absoluta. Deve ser o
sentimento do próprio valor: um ente inteligente e livre que tende para o ser
das coisas, mas ente imperfeito que depende deste ser.
A sociedade dura mais do que o homem, individualmente
considerado. A pessoa nasce numa sociedade, que existe antes dela, e continuará
a existir, quando ela vier a falecer. Ela tem, em primeiro lugar, a impressão
de que algo a ultrapassa, e de que ela recebe sem ter dado. De outro lado, o
homem está apegado a si mesmo e convencido da sua importância. Este duplo
sentimento reflete-se naquilo que está ligado à sua pessoa: ama a sua região, a
casa onde cresceu, as idéias, os hábitos e os costumes de seu meio social. Quer
bem tudo isso, porque é algo seu. Adota as crenças e os sentimentos do meio
ambiente. É assim que é formado o sentimento patriótico, feito de afeição e de
orgulho.
Em seu estado espontâneo, este sentimento não é bom nem
ruim, podendo chegar a ser uma coisa ou outra. Em nome do patriotismo, são
praticados as maiores virtudes e os maiores crimes. O homem tem a impressão de
que a pátria é uma grande entidade, que ultrapassa a sua pessoa. Em razão
disso, seu conceito tem, amiúde, um conteúdo sacral.
A pátria pode tornar-se um ídolo, cujo bem constitui uma
entidade em si, diferente do bem dos cidadãos. Estes devem sacrificar-se à
grandeza dela. Dentro desta perspectiva, não é à pátria que compete fazer a
felicidade dos homens, mas a estes fazer a grandeza daquela. Entretanto,
variadas vezes, alegando o bem da pátria, o que é visado, de fato, é o poderio,
o bem-estar e a satisfação dos governantes. O absolutismo absorve os recursos
do país em proveito próprio, tentando convencer o povo de que a grandeza da
pátria é o maior dos bens.
Procura-se persuadir os povos de que se tem em vista apenas
o seu bem, despojando-os de seus recursos, principalmente de educação e de
saúde, para uma política de conquista e armamentismo.
Em princípio, todos os povos aspiram pela paz. Na prática,
cada um deles julga-se mais virtuoso do que o outro, identificando a virtude
com o seu próprio interesse. Beneficiar-se das vantagens um dos outros é, para
cada povo, beneficiar-se dos favores dos outros sem sacrificar os seus
interesses. Nenhum povo tem preocupação com a verdade e a justiça, quando as
suas pretensões se opõem às do vizinho.
Neste ponto, os governantes não se mostram superiores aos
governados. Eles participam, habitualmente, dos preconceitos e das paixões do
povo. Não existe classe dirigente que tenha espontaneamente, se reformada a si
mesma, ou que tenha renunciado a vantagens injustificadas, como não há povo que
tenha renunciado às conquistas, sem ser obrigado a isso.
O problema social constitui, também, um problema moral. As
questões técnicas tem por origem das suas principais dificuldades a imoralidade
e a corrupção.
Deve-se distinguir uma moral individual e uma moral
coletiva. Na prática, a moralidade coletiva é, geralmente, inferior à ética
individual. As classes sociais ou as nações são, entre si, menos honestas que
os indivíduos, o que deriva, em parte, do fato de que a imoralidade coletiva é
acobertada pela moralidade individual. O que mente, porque considera esta
falsidade vantajosa para a sua pátria ou para a sua classe social, julga fazer
um ato de virtude. Deste modo, quando uma nação renega a sua palavra,
recusando-se a pagar as suas dívidas, ou violando acordos internacionais, os
membros da nação, e os governantes, em primeiro lugar, persuadem-se de que
fazem um ato de virtude, porque o interesse superior da nação o exige.
É falso dizer que não há nenhuma moralidade coletiva. Existe
alguma, mas ela é inferior à individual. Esta inferioridade acentua-se pelo
fato de que a imoralidade coletiva pode, mais facilmente, cobrir-se de um véu
de moralidade aparente, e ser de mais difícil sanção. O receio de castigo não
deixa de ser um fator importante de moralidade para muitos indivíduos.
A moralidade coletiva é suscetível de desenvolvimento e de
retrocesso; ela pode progredir e regredir, dependendo, bastante, da mudança de
valores aceitos pela coletividade, como também, das circunstâncias e fatos, que
influenciam a vida social. Há condições que influenciam a moralidade coletiva,
como há as que inspiram a ética individual.
Ética e moral
Ética é um termo que vem do grego (éthos) e que significa
comportamento, costume. A palavra "moral" vem do latim (mos) e,
também, significa comportamento, costume. Portanto, etimologicamente,
"moral" e "ética" tem o mesmo significado. Foi
principalmente com Hegel (1770 - 1831) que a moral passou a significar a
moralidade individual, e a ética a moralidade social.
Hoje, um termo mais em moda, que não tem ainda conotação
pejorativa, é o da "deontologia", termo grego (déon), que significa o
"dever ser".
Profissão ou ofício em grego é "kathékon", que é
traduzido para o latim por "officium", "munus",
"ministerium". Todas estas palavras envolvem o conceito de dever e de
serviço. Uma característica fundamental, que parece impor-se cada vem mais, é
que toda a profissão deve ser considerada numa perspectiva de serviço. Isto não
significa que não sejam legítimas outras finalidades pessoais, como o lucro.
Entretanto, todas devem estar subordinadas ao seu caráter social.
Ser um bom profissional é, antes de tudo, apreender as
necessidades do grupo humano em que realiza o seu trabalho, comunicando
esperança e partilhando alegria de viver. O exercício profissional é muito
diferente de ostentar um título ou de exigir respeito de seus interlocutores.
Ele supõe extrema atividade, doação permanente, preocupação com realizações,
gosto de responsabilidades, sincero e profundo amor pelos homens, perfeita
dignidade de vida.
Todo mundo se julga moralista, e pensa que pode falar sobre
o bem e sobre o mal, a vida e os seus valores, como se fala sobre a chuva e o
bom tempo, a doença e a saúde. Isto constitui um sinal de vulgaridade
intelectual, dizia Nietzsche (1844 - 1900) e, também, de decadência social. O
sentimento moral não consiste no que se sabe ou no que se pode, mas no que se quer.
"Tanto queres, quanto fazes", dizia um antigo. Em moral, o indivíduo
é exatamente aquilo que quer, na medida em que quer e tanto tempo quanto quer.
A consciência é o seu único juiz.
Recusar o dever é repudiar as condições da criação e a parte
que nela cabe ao homem. Agindo com retidão, a pessoa participa da criação,
trabalhando para a fundação de uma sociedade de irmãos e tomando sua parte de
responsabilidade no andamento do mundo. Cada movimento da natureza é uma
procura de equilíbrio entre um ser particular e o todo. Nisso consiste a ordem.
Assim, a ação moral deve estar em equilíbrio com o universo e, para tal, entrar
em suas leis.
Toda circunstância é um apelo ao qual a pessoa deve dar uma
resposta. Os acontecimentos falam: é preciso ouvir a sua linguagem. A profissão
é o conjunto das ocasiões que o indivíduo tem para viver, desenvolver e
enriquecer a sua vida. De estar em seu lugar no acontecimento de cada dia e de
cada instante, desempenhando, desse modo, seu papel no acontecimento universal.
Fazer bem o que se faz é muito mais importante do que fazer
muitas coisas. Quantidade e qualidade estão em desproporção quase infinita. Não
se trata de saber o "quanto", mas "o quê" e "o
como". É vão procurar a quantificação quando se trata da perfeição. Não é o
êxito que prova a legitimidade e o valor do trabalho, mas o testemunho da
própria consciência.
Quem pede à moralidade frutos imediatos, se acorrenta e se
põe na dependência de todas as coisas, porque os acontecimentos não obedecem
aos desejos dos homens. Quem faz o bem sem outra preocupação a não ser sua
própria retidão e a satisfação do amor, este é livre e chega sempre a bom
resultado. Semear sempre, sem esperar pela colheita.
A verdadeira vocação do homem é a de realizar plenamente a
sua personalidade servindo os seus semelhantes. O sentir-se útil através de uma
profissão é o meio particular de realizar esta vocação fundamental. Só numa
perspectiva de disponibilidade permanente em relação a outras tarefas possíveis
será isso possível. A idéia de profissão pode, ainda, ser de utilidade para
ajudar a solucionar o eterno problema da relação entre a pessoa e a sociedade.
Ética é comportamento, uso, costume, hábito
Na base da ética está uma experiência, pois ela significa
comportamento, uso, costume, hábito. O apriorismo ético é a negação da
experiência. A moral é, também um conhecimento, mas que tem, igualmente,
importância prática. É através dela que se recolhem os frutos da experiência da
vida. Ela não pode se limitar a ser uma axiologia, devendo-se ocupar de modo
igual das coisas, dos acontecimentos e do mundo, enquanto poder e força. Assim,
ela também deve ser uma ontologia.
A ética envolve tudo o que está ligado à liberdade humana e
dela decorre. Supõe, deste modo, uma atitude compreensiva e profética diante
dos acontecimentos. O seu fundamento é a hermenêutica ontológica do mundo.
O problema fundamental da ética é o do critério do bem e do
mal. Nietzsche (1844 - 1900) afirma que a vontade do verdadeiro estabelece a
morte da moral. Com efeito, a ética deve não só legitimar a ação humana, mas
também divulgar a mentira que ela comporta. O paradoxo está em que o
"bem" é colocado em dúvida. Nietzsche foi um grande moralista:
"além do bem e do mal" existe para ele uma moral suprema.
As palavras "bem" e "mal", "moral"
e "imoral", "superior" e "inferior" não expressam
o ser real, mas símbolos. Entretanto, estes não são arbitrários nem relativos,
mas podem ser universalmente válidos. A genuinidade do ser e a profundeza da vida
não são "boas" ou "más", "morais" ou "imorais",
mas apenas simbolizadas assim, para serem expressas nas categorias do mundo. E
este não constitui o ser, mas um estado do ser. Os símbolos espaciais de
"superior" e "inferior" podem traduzir verdades de ordem
moral, mas não constituem uma diferenciação ontológica. Se a ética é simbólica, todas estas diferenciações
e avaliações também o são. O problema consiste em saber como passar dos
símbolos à realidade.
A própria existência da vida humana, com suas diferenciações
e apreciações, implica a liberdade. Em razão disso, a ética é a doutrina da
liberdade. A famigerada doutrina do livre arbítrio não corresponde totalmente a
esta e nem consegue atingí-la em sua profundidade. É uma adaptação da ética
normativa e jurídica. O livre arbítrio determina, para o homem, uma escolha
entre o bem e o mal, e a possibilidade de executar uma norma, que lhe é
imposta. O homem será "justo" se, depois de optar pelo bem, cumpre a
lei, e será considerado "injusto" se, depois de ter escolhido o mal,
negligencia a norma. A revolta de Lutero (1483 - 1546) contra a justificação
pelas obras comporta uma indiscutível profundeza. a justiça não vem da lei.
O "livre-arbítrio" pode se tornar uma fonte de
determinismo: o homem se encontra obrigado a escolher entre o que lhe é imposto,
devendo cumprir a lei, sob pena de ser responsabilizado. No entanto, a
liberdade pode ser entendida não só como possibilidade de realização de uma
norma mas, também, como uma força criadora e transformadora do mundo. A
liberdade, condição fundamental da vida humana, não pode existir sem a
possibilidade do bem e do mal.
A vida humana é composta de paradoxos, no qual o
"bem" e o "mal" se entrelaçam
A ética jurídica normativa, para o qual a liberdade é apenas
a condição de fazer o bem, não entende este problema. A vida humana é composta
de paradoxos, no qual o "bem" e o "mal" se entrelaçam e se
transformam um no outro. A tragédia da ética é, antes de tudo, a que seu
problema fundamental não é o da norma e nem o da lei, nem do bem e nem do mal,
mas das relações entre as pessoas e as coisas.
Existe uma interação contínua entre os indivíduos e seu meio
ambiente natural e social. A harmonia social contribui para o equilíbrio
individual. Há uma interdependência entre o bem estar individual e o social. As
necessidades do cosmo são as necessidades da pessoa, os direitos do indivíduo
são os direitos do planeta.
Contrariamente ao que se pensa, a moral não é
"perfumaria" em relação à ciência e à tecnologia, mas constitui a sua
própria base e força propulsora. A transformação para um sistema social e
econômico equilibrado exigirá uma mudança ética: da auto-afirmação e da
competição para a cooperação e a justiça social, da expansão para a
conservação, do ter para o ser.
Ética e moral na sociedade contemporânea e no capitalismo
Na Antiguidade, a característica era a centralidade divina.
A Revelação divina inspirava a razão. Havia produção escravista ou servidão e
autoridade fundada na tradição. Na Modernidade, surge o Humanismo, no qual o
homem passa a ser o centro do universo e a razão ligada à ciência e política
passa a ser a fonte de iluminação (por isso o termo iluminismo). Busca regras
gerais e universais acessíveis pela razão. Na Pós-Modernidade consciência das
limitações e da existência intrínseca de conflitos.
Excertos bibliográficos:
BAUMAN, Zygmunt. Ética pós-moderna. 2. ed. São Paulo:
Paulus, 2003.
(...) o pensamento e a prática morais da modernidade estavam
animados pela crença na possibilidade de um código ético não ambivalente e não
aporético . Talvez ainda não tenha encontrado esse código. Mas com certeza ele
está à espera na virada da esquina. Ou na virada da próxima. É a descrença
nessa possibilidade que é pós-moderna, pós não no sentido “cronológico”(não no
sentido de deslocar e substituir a modernidade, de nascer só no momento em que
a modernidade termina e desaparece, de tornar a visão moderna impossível uma
vez chegada ao que lhe é próprio), mas no sentido de implicar (na forma de
conclusão, ou de mera premonição) que os longos e sérios esforços da modernidade
foram enganosos, foram empreendidos sob falsas pretensões e são destinados a
terminar – mais cedo ou mais tarde – o seu curso; que, em outras palavras é a
própria modernidade que vai demonstrar (se é que ainda não demonstrou), e
demonstrar além de qualquer dúvida, sua impossibilidade, a vaidade de suas
esperanças e o desperdício de seus trabalhos. O código ético a toda prova –
universal e fundado inabalavelmente – nunca vai ser encontrado; tendo outrora
chamuscado muitíssimas vezes nossos dedos, sabemos agora o que não sabíamos
então ao embarcarmos nessa viagem de exploração: que uma moralidade não
aporética e não ambivalente, uma ética que seja universal e “objetivamente
fundamentada”, constitui impossibilidade prática; talvez também um oxímoron,
uma contradição nos termos. (BAUMAN, 2003, 15)
Sugestão de vídeos:
Luiz Felipe Pondé discorre sobre a pós-modernidade ser antes
de tudo um tipo de consciência diante dos fracassos da utopia moderna. A
aceleração do tempo é intrínseca, corremos sobre uma fina camada de gelo se
pararmos afundamos. E não temos garantia de nenhuma relação, elas são líquidas.
Na modernidade se pretendia haver solidez e a característica era a busca dessa
verdade solida que era racionalmente alcançável. O Medieval tinha fé em Deus. O
Moderno acreditava no progresso alcançável pela razão. O pós moderno está
consciente de que há um vazio, pode-se seguir qualquer direção progredir ou
regredir:
http://www.youtube.com/watch?v=58MMs5j3TjA
Luiz Felipe Pondé “O problema humano é moral. Jornalista tem
poder então tem drama ético ainda maior que a maioria das pessoas.
http://youtu.be/lcpdOXKszIc
Entrevista com Zygmunt Bauman
http://youtu.be/1miAVUQhdwM
Ética e moral nas organizações
Na antiguidade, a ética vigente considerava o lucro um
pecado e toda a aquisição de riquezas acima do necessário à sobrevivência era
excesso que pertencia à sociedade e deveria ser entregue à Igreja Católica, para
distribuição em forma de benefícios e serviços aos necessitados Com a reforma
protestante e a ética calvinista, a acumulação de capital e o lucro passaram a
ser vistos como agradáveis a Deus, legitimou-se a riqueza e o fruto do
trabalho, como sinal de eleição por Deus. A partir da consolidação do
capitalismo o lucro passou a ser visto como justa recompensa por serviços
prestados e produtos oferecidos.
Questionamentos sobre a postura das organizações:
Quão morais são os resultados?
Benéficos para quem? Realmente benéficos para o coletivo?
Problemas éticos contemporâneos nas organizações:
Como equacionar interesses individuais e responsabilidade
social?
Como perseguir o lucro sem ferir os interesses dos
stakeholders?
Como agir moralmente se todas as atividades são
mercantilizadas?
Exemplos de ações que são consideradas imorais no mundo
corporativo:
– Desfalques
– Dívidas
fiscais fraudadas, evasões fiscais
– Propinas
– Tráfico de
informações privilegiadas e espionagem industrial
– Pirataria
– Ataques de
hackers
– Contratação
de executivos concorrentes para obtenção de informações confidenciais
– Fraudes
produtos (peso, medida)
– Subornos,
extorsões, doações ilícitas a políticos
– Lavagem
dinheiro
– Furtos
– Fraudes em
balanços
Para muitos: para ganhar dinheiro é preciso ser pragmático.
Preceitos filosóficos e religiosos só atrapalham.
Mas no ambiente das organizações: Stakeholders e
contrapartes são vulneráveis a produtos, ações e mensagens das organizações. As
decisões organizacionais não são neutras. As organizações, ao decidir, fazem
escolhas entre diferentes cursos de ação e consequências. Cidadania disposta a
retaliar as empresas, mídia papel ativo e capitalismo social se consolida.
Organizações tem Imagem a resguardar, patrimônio essencial para a continuidade
do negócio. Se produtos deixam de ser confiáveis, deixam de ser consumidos. Não
se consegue desvincular moral e interesses empresariais / moral e pressões
sociedade civil.
Organizações tem de fazer mais do que manda a lei, pois
transcendem as responsabilidades legais por 3 razões:
– Degradação
do meio ambiente pelo esforço produtivo
– Assimetria
de informações que as empresas possuem a respeito dessa degradação
– Incapacidade
do Estado de dar conta de suas obrigações
Excertos bibliográficos:
SROUR, Robert Henry. Poder, Cultura e Ética nas
Organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005
(...) a natureza das empresas não é amoral, pois suas
atividades não pairam acima do bem e do mal. Se assim fosse, as operações
econômicas das máfias seriam legítimas (...) queiram, ou não, as empresas
convivem com os padrões morais que suas contrapartes partilham. (...) as
empresas têm uma imagem a resguardar, patrimônio essencial para a continuidade
do próprio negócio. A imagem da empresa não pode ser vilipendiada impunemente,
nem pode ser reduzida à mera moeda publicitária, porque ela representa um ativo
econômico sensível à credibilidade que inspira (...) Em primeiro lugar, não há
como desvincular moral e interesses empresariais, ou moral e pressões operadas
pela sociedade civil. Assim, o importante não é saber se a empresa dispõe de
uma “essência moral”, mas se as consequências de suas decisões são ou não
benéficas para a maioria de suas contrapartes (...) Em segundo lugar, vale a
pena não confundir moralidade e legalidade (...) Por exemplo, no Brasil de
hoje, é: legal e moral fabricar detergentes biodegradáveis; legal, porém
imoral, produzir certos pesticidas ou projetar filmes pornográficos; ilegal e
moral jogar no jogo do bicho ou comprar algum gadget contrabandeado; ilegal e
imoral praticar o tráfico de drogas (...) Em terceiro lugar, se as empresas
permitirem que se formem moralidades alternativas em seu seio, moralidades que
estejam em desacordo com sua própria cultura organizacional, correm o risco de
ficar sem identidade (...) como as contrapartes da empresa dispõem de certa
soma de poder, elas podem se mobilizar e retaliar a empresa que desrespeitar
normas básicas do trato com o público. (SROUR, 1998: 292)
BETIOL Luciana S. (e outros). Compra sustentável: a força do
consumo público e empresarial para uma economia verde e inclusiva, FGV, São
Paulo, 2012. Disponível em:
http://www.gvces.com.br/arquivos/130/CompraSust_web_dupla.pdf:
O poder do consumo dos setores empresarial e governamental é
estratégico para a conquista de um novo patamar ecosocioeconômico. Apesar das
barreiras, naturais quando se mexe em hábitos já arraigados na gestão, aos
poucos a sociedade compreende as conexões existentes entre aquilo que compramos
e a conservação dos recursos do planeta para o suprimento das necessidades
atuais e futuras, dentro de padrões justos e equitativos. Nesse cenário
multiplica-se o conceito de “compras sustentáveis”: aquelas que consideram
fatores sociais e ambientais juntamente com fatores financeiros nas tomadas de
decisão de compras. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(Pnud), trata-se de olhar para além dos tradicionais parâmetros econômicos
(preço, prazo e qualidade) ao tomar decisões com base em avaliação do ciclo de
vida dos produtos, os riscos a ele associados, as medidas de sucesso e
implicações para o ambiente e para a sociedade, podendo incluir aspectos como
uso de água e energia, geração de resíduos e emissões de GEE, diversidade
étnica e de gênero, segurança no trabalho e no transporte de cargas, direitos
humanos, compras locais e de pequenas empresas (BETIOL, 2012, 22)
Todos os atores envolvidos nas relações de consumo e
produção impactam e são impactados mutuamente. Cada ator deve repensar as suas
formas de consumir e de produzir, utilizando os meios disponíveis para fomento
de um sistema com mais atributos de sustentabilidade. (...) Ao se engajar em
uma proposta de desenvolvimento sustentável, o
poder público deve interceder para transformar padrões produtivos e as
formas de se comprar e consumir. Para isso, pode promover estilos de vida e
comportamentos mais sustentáveis, remodelar sua própria infraestrutura,
elaborar normas e criar incentivos econômicos favoráveis à conservação dos
recursos naturais e à felicidade humana. Isso significa, entre outras ações,
abolir ou revisar políticas que dificultam o consumo e a produção sustentável,
criar políticas que promovam e proporcionem padrões de vida fundados em
bem-estar, e melhorar o desempenho e os procedimentos das contratações públicas.
Visando induzir a transformação e adaptação do mercado, o poder público pode
instituir subsídios e incentivos fiscais a atividades mais sustentáveis – como
a produção agroecológica, por exemplo – e, por outro lado, eliminar os
incentivos e aumentar a tributação de atividades que geram impactos negativos
aos ecossistemas e à sociedade, como as indústrias altamente dependentes de
petróleo. Ainda que todas essas ações sejam realizadas, é essencial que a
administração pública faça suas compras e contratações de forma sustentável,
sendo exemplo para a sociedade e para as empresas, fomentando um mercado mais
equitativo e ético (BETIOL, 2012, 24)
(...) há espaço para evoluir no sentido de um tratamento
mais integrado de atividades hoje pontuais e no ingresso em temas que não
constavam na agenda das instituições:
• Estabelecer
padrões mínimos para a gestão de compras, considerando atributos de
sustentabilidade.
• Trabalhar
com sistemas de medição de desempenho, reportá-los e submetê-los à verificação
por terceira parte a fim de dar transparência e demonstrar evolução nas
atividades de produção e consumo sustentáveis.
•
Disponibilizar informações ao comprador por meio de banco de dados online com
indicação de itens, produtos e serviços, bem como critérios específicos que
facilitem a prática da compra sustentável.
• Investir em
sistemas de capacitação e formação de colaboradores.
• Criar um
órgão de controle e certificação nacional, o que pode popularizar e reduzir o
custo de produtos e serviços com atributos de sustentabilidade.
• Cooperar:
há ganhos potenciais que podem emergir da parceria entre grandes e pequenas
empresas, governos, órgãos de controle e outros setores públicos, ONGs,
institutos de tecnologia e centros de estudos e pesquisas.
• Trabalhar
com atributos de sustentabilidade ligados à precaução e não somente à prevenção
de danos previstos.
• Aderir a
sistemas de autorregulação, com padrões de desempenho mínimos, tanto para
produção quanto para consumo sustentável, indo além das determinações legais.
• Trabalhar
junto ao Poder Público na transformação dos avanços advindos de sistemas de
autorregulação em normas de aplicação em todas as empresas, fomentando um
círculo virtuoso de evolução.
• Trabalhar a
formulação pública de instrumentos econômicos para produção e consumo
sustentáveis, de modo a assegurar e ampliar mercados com essa característica.
• Dar
transparência a processos produtivos, à origem e à qualidade de insumos
utilizados.. (BETIOL, 2012, 130)
QUESTÕES:
É ou não ético roubar um remédio cujo preço é inacessível, a
fim de salvar alguém, que, sem ele, morreria? Seria um erro pensar que, desde
sempre, os homens têm as mesmas respostas para questões desse tipo. Com o
passar do tempo, as sociedades mudam e também mudam os homens que as compõem.
Na Grécia Antiga, por exemplo, a existência de escravos era perfeitamente
legítima: as pessoas não eram consideradas iguais entre si, e o fato de umas
não terem liberdade era considerado normal. Hoje em dia, ainda que nem sempre
respeitados, os Direitos Humanos impedem que alguém ouse defender,
explicitamente, a escravidão como algo legítimo. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO.
Secretaria de Educação Fundamental. Ética. Brasília, 2012. Disponível em:
. Acesso em: 16 jul. 2012 (adaptado).
Com relação a ética e cidadania, avalie as afirmações
seguintes.
I. Toda pessoa tem direito ao respeito de seus semelhantes,
a uma vida digna, a oportunidades de realizar seus projetos, mesmo que esteja
cumprindo pena de privação de liberdade, por ter cometido delito criminal, com
trâmite transitado e julgado.
II. Sem o estabelecimento de regras de conduta, não se
constrói uma sociedade democrática, pluralista por definição, e não se conta
com referenciais para se instaurar a cidadania como valor.
III. Segundo o princípio da dignidade humana, que é
contrário ao preconceito, toda e qualquer pessoa é digna e merecedora de
respeito, não importando, portanto, sexo, idade, cultura, raça, religião,
classe social, grau de instrução e orientação sexual.
É correto o que se afirma em
A I, apenas.
B III, apenas.
C I e II, apenas.
D II e III, apenas.
E I, II e III.
Resposta E
Quanto às regras gerais de conduta, os participantes de um
negócio na BM&F deverão observar:
a) A legislação e a regulamentação em vigor, os princípios
de probidade e boa-fé e os estatutos sociais, as regras e os procedimentos da
BM&F
b) Seus próprios valores, inexistindo um procedimento padrão
para a tomada de decisão de acordo com as regras seguidas pela BM&F
c) As regras morais e cívicas que vigoram na sociedade, onde
inexistem regras a serem seguidas
d) As regras apresentadas a cada área, que devem ser
seguidas somente em casos específicos
Resposta A
Os princípios constantes do Código de Ética da BM&F
devem:
a) Impor normas rígidas aos participantes e aos sistemas de
negociação e/ou aos sistemas de registro. As normas devem ser abrangentes o
suficiente de tal forma que, associado a cada desvio de conduta, existir uma
norma que pode ser aplicada
b) Fornecer uma noção breve e intuitiva das normas
intrínsecas seguidas na sociedade, de tal forma que o esperado é que os
participantes nos mercados sejam educados e tenham bons tratos
c) Nortear a conduta dos participantes nos mercados e
sistemas de negociação e/ou ainda dos sistemas de registro, incumbindo ao
Comitê de Ética decidir quanto da sua aplicação e propor sua modificação a
qualquer tempo
d) Ser seguidos pelo Comitê de Ética de maneira informal,
uma vez que inexiste um sistema de penalidades
Resposta C
Manifestações públicas em nome da BM&F:
a) Podem ser feitas por qualquer um de seus funcionários,
pois cuidados a respeito desse assunto são desnecessários, já que é impossível
que se forme distorções a partir dessas manifestações
b) Devem ser feitas com muito cuidado, com o objetivo de
evitar distorções no processo de formação de preços nos mercados administrados
pela BM&F
c) Podem ser feitas pelos detentores de cargos
administrativos elevados e manifestações realizadas em nome próprio se
desvinculam das manifestações feitas em nome da BM&F
d) Estão proibidas a qualquer membro e, uma vez feitas, os
responsáveis responderão de acordo com o Código de Ética
Resposta B
Ética é:
a) um conjunto de valores morais e princípios que norteiam a
conduta humana na sociedade.
b) um conjunto de comportamento correto e relacionado à
conduta humana dentro de uma sociedade organizada.
c) a maneira como os seres humanos se comportam uns com os
outros.
d) o princípio fundamental para que o ser humano possa viver
em família.
e) um comportamento que se deve ter apenas quando se estiver
trabalhando.
Resposta A
A ética serve para que se possa existir certo equilíbrio e
funcionamento social de qualidade, fazendo com que ninguém saia prejudicado.
Neste ponto de vista, a ética, embora não possa ser confundida com as leis,
está diretamente voltada com:
a) a educação das pessoas
b) o sentimento de justiça social
c) o medo da sociedade de errar
d) a educação dada na infância
e) o pensamento de pessoas que possuem conhecimentos
profundos
Resposta B
A ética é construída por uma sociedade com base:
a) na genética que se passa por geração
b) na educação que é dada nas escolas
c) nos ensinamentos oferecidos nas faculdades
d) nos meios de comunicação como TV e rádio.
e) nos valores históricos e culturais.
Resposta E
Um ser humano que não segue a ética da sociedade a qual faz
parte é denominado de:
a) antiético
b) antissocial
c) imoral
d) excluso ou excluído
e) moralista
Resposta A
A ética na área de pesquisas biológicas é denominada:
a) bioética
b) ética na saúde
c) ética na ciência
d) ética social
e) ética profissional
Resposta A
Sobre a proposta de lei de iniciativa da Câmara dos
Deputados que visa a criminalizar a publicação pela mídia de informações
sigilosas relacionadas a processos criminais julgue verdadeiro ou falso.
( ) Trata-se de um
cerceamento à liberdade de expressão e uma tentativa de coibir a boa prática do
jornalismo investigativo.
( ) Está de acordo
com a constituição que visa a criminalizar jornalistas pela publicação de
qualquer tipo de documento público sigiloso.
( ) Um documento
reservado ou secreto da Justiça, da polícia ou do Ministério Público deve ter a
sua confidencialidade mantida pelo agente responsável no âmbito do Estado. Já o
jornalista que recebe uma informação de interesse público, sigilosa ou não, tem
o dever de publicá-la.
( ) Ao propor que
jornalistas passem também a ser responsáveis criminalmente pelo vazamento de um
documento sigiloso – ao publicar o seu conteúdo – a Câmara estará criando uma
lei da mordaça incompatível com o livre exercício da imprensa no país.
Resposta V, V, F, V
Sobre o caso Burson-Marsteller Facebook e Google julgue
verdadeiro ou falso.
( ) A
Burson-Marsteller agiu dentro de suas atribuições regulamentares de agência de
relações públicas.
( ) Para favorecer
o Facebook, a Burson-Masterller recrutou jornalistas e blogueiros para
prejudicar a imagem do Google.
( ) Para denegrir o
Facebook, a Google usou a assessoria Burson-Masterller.
( ) O Facebook
contratou a Burson-Marsteller, do grupo WPP, para influenciar jornalistas e
técnicos em segurança a elaborar matérias que questionassem a prática do Google
de reunir informações de certas contas de usuários do Facebook e de outras
redes sociais a fim de montar uma lista de "relações sociais" de cada
usuário na Internet. O Facebook informou previamente que estava por trás da
campanha.
Resposta F, V, F, F
Sobre o caso da Escola Base julgue verdadeiro ou falso.
( ) As acusações
tidas como verdadeiras e publicadas na imprensa foram: abuso sexual, uso de
substância entorpecente e transmissão de doenças sexualmente transmissíveis.
( ) O direito à
informação contém o direito de ser informado e o dever de informar. Os
jornalistas agiram de acordo com esse dever, pois divulgaram o que declarava o
servidor público estadual, Delegado de Polícia, presidente do inquérito
policial, de modo imparcial e verídico.
( ) Nada foi
encontrado nas diligências de busca e apreensão realizadas na Escola Base e nas
residências dos acusados.
( ) A liberdade de
imprensa é um direito constitucional (art. 139, III e 220, § 1º). Mas nenhum
direito é absoluto. Os seus limites também constam da constituição: a dignidade
da pessoa humana (art. 1º, III); a intimidade, a vida privada, a honra e a
imagem das pessoas (art. 5º, X); a presunção de inocência (art. 5º, LII); o
devido processo legal (art. 5º, LIV); a ampla defesa (art. 5º, LV).
Resposta V, F, V, V
Sobre os conselhos na área de relações públicas julgue
verdadeiro ou falso.
( ) Compete ao
CONFERP: criar resoluções e outros atos que disciplinem a atuação das regionais
e dos profissionais. Com isto, é estabelecida uma unidade de procedimentos que
caracterizam a profissão em todo território nacional. Compete aos Conselhos
Regionais cumprir e fazer cumprir as normas que regem a profissão e realizar as
atividades de fiscalização e orientação ético-profissional em suas respectivas
jurisdições.
( ) Uma empresa
cujo objeto seja prestação de serviços de Relações Públicas para obter registro
no Conselho Regional não precisa ter profissional técnico responsável formado
em Relações Públicas. .
( ) O Conselho
Federal e os Regionais de profissionais de Relações Públicas mantêm Comissão de
Ética para: assessorar na aplicação do Código de Ética e julgar as infrações.
( ) Uma empresa
cujo objeto seja prestação de serviços de Relações Públicas para iniciar suas
atividades precisa ser obrigatoriamente registrada no Conselho Regional.
Resposta: V, F, V, V
Julgue verdadeiro ou falso.
( ) A decisão do
Supremo Tribunal Federal (em 2009) que derrubou a Lei de Imprensa, lei que,
desde 1967, regulou e puniu as atividades jornalísticas, foi um marco histórico
a favor do jornalismo e impediu que novos casos de censura continuassem a
surgir no Brasil.
( ) Sem a Lei de
Imprensa, tornou-se comum o uso dos Código Civil para evitar publicações. Três
artigos desse Código se tornaram os novos inimigos da imprensa. O de número 17
diz que o nome da pessoa não pode ser utilizado em publicações para expô-la ao
"desprezo público". O artigo 20 diz que o uso da imagem da pessoa
pode ser proibido, "a seu requerimento", para proteger sua fama,
honra e respeitabilidade. Por fim, o artigo 21 diz que a vida privada é
"inviolável".
( ) No Brasil são
bastante comuns as liminares, decisões provisórias, nas quais, na dúvida, o
juiz impede temporariamente a publicação de uma reportagem.
( ) Mesmo que as
liminares sejam logo derrubadas pelos tribunais de Justiça, podem causar
prejuízo irreparável à imprensa, pois, para o jornalista, é imediato o
interesse de divulgar fatos do dia ou da semana. Se o jornal não puder publicar
determinada matéria no dia, ela pode simplesmente perder interesse no futuro.
Resposta: F, V, V, V
Ética nas palavras de Ercílio A. Denny
Artigos publicados no Jornal de Piracicaba em diversas datas
ETICA
A ética da lei não existe apenas enquanto ética social. Ela
se torna, também, uma ética filosófica, que vai buscar o seu fundamento sobre a
liberdade e a autonomia, isto é, sobre a faculdade de se reger por leis
próprias ou ainda, de escolher as leis que regem a sua conduta. Tornando-se
filosófica, esta ética é normativa e idealista. Ela não é autoritária e
heterônoma, ou seja, não recebe do exterior a lei a que deve se submeter.
O caráter autônomo deste tipo de ética revela o seu caráter
jurídico, porque a autonomia é, apesar de tudo, uma “nomia”, ou seja, uma lei,
uma norma. A máxima moral kantiana, segundo a qual o homem deve ser tratado não
como um meio, mas como um fim em si mesmo, é comprometido pelo fundamento
legalista da ética, porque todo homem se torna um instrumento de realização de
uma norma abstrata, impessoal, universalmente válida.
Desta maneira, a ética é livre, pois ela comporta uma lei em
si mesma, mas o homem não, pois não pode dispor de si e nem é autônomo, estando
subordinado integralmente ao preceito e à norma. É em razão disso que Kant
(1724 - 1804) rejeita a parte emocional da vida. Para ele, a pessoa não é um
valor, mas apenas um princípio formal, universal e legalista. Ele não dá espaço
à individualidade, ao problema ético em sua unicidade, que exige solução única
e criativa. A ética legalista de Kant se opõe ao eudemonismo, isto é, da
felicidade enquanto fim da vida, e aceita o princípio abstrato e normativo do
bem, negligenciando a situação da pessoa humana. O fato concreto e individual
escapa sempre do pensamento legalista. Ele sempre valoriza o bem abstrato,
esquecendo-se da concretude da situação humana.
Este tipo de pensamento, que é velho na História, acredita
que a perfeição humana está no “adimplemento” da lei. Afirma que o homem é
essencialmente bom, não precisando de nenhuma ajuda para agir bem. Contra este
moralismo e racionalismo é que se revoltou Lutero (1483 - 1546). Todo moralismo
é um juridismo fingido, que ignora deliberadamente o indivíduo, a pessoa, o ser
vivo. O normativismo ético-jurídico só é aplicável aos casos gerais, mas não se
adapta à concretude, que exige uma solução individual e criadora.
Toda a dificuldade do problema está em que a ética, jurídica
é realizável. Pode-se cumprir a lei até os mínimos detalhes e se tornar “justo”
segundo ela. Esta situação alimenta a soberba humana. O ser humano passa a
acreditar que a perfeição consiste em cumprir as exterioridades da lei. O
fingimento legalista é um elemento tão profundo e persistente da natureza
humana, que ele desfigura todo o sentido da vida: o indivíduo se considera
justo, puro eleito e salvo pelo fato de ser um cumpridor das exteriordades
normativas. A ética legalista é realizável, mas ela é incapaz de lutar contra
os pensamentos, e de transformar o estado interior e psíquico do ser humano. Em
si, ela não implica a “metanoia” (conversão interna).
Em nome da justiça, do amor ou de qualquer outra intenção, a
lei não pode ser abrogada, mas cumprida. As avaliações, segundo a lei são
simples e fáceis. Entretanto, as apreciações exigidas de um homem consciente e
responsável são extremamente difíceis e complexas. “Fazer justiça” não é,
apenas, a dedução de uma solução a partir de uma norma geral. As apreciações
justas devem sempre superar o legalismo, entretanto, sem cair na anomia, que
gera o arbítrio. Deve-se ver, com clareza, que o legal nem sempre é o justo e
nem constitui o direito. Este é uma realidade bem mais ampla que a norma.
A lei, se bem que ignore a pessoa viva, concreta, individual
e única, não conseguindo penetrar em seu íntimo, entretanto, ela a protege dos
atentados e das violências dos outros indivíduos. Mesmo que o homem odeie, ele
não pode roubar, matar ou praticar qualquer violência. Não se pode descumprir a
norma, sob o pretexto de ser autêntico. O que procede da intenção é, sem
dúvida, superior ao que resulta da lei. Entretanto, o superior não abole o
inferior, mas completa-o. As duas ordens coexistem.
O conflito que se segue entre a lei e a inovação, entre a
ética jurídica e da criatividade, se encontra em todos os problemas éticos
concretos. Em certos momentos, é a ética normativa que se mostra hostil à
liberdade, e em outros, ao contrário, é a intenção e a criatividade que atrapalham. Assiste-se, pois, a um duplo
processo: de uma parte, a intromissão de um juridismo na ordem da inovação, e,
de outra parte, a ingerência de um princípio criativo, já desfigurado pelo
juridismo, na ordem da lei. Tanto um como outro destes processos alienam o homem.
Constata-se como a vida é mutilada pela lei, onde ela deveria ser orientada
pela criatividade, e, também, quanto ela é deformada pela inovação misturada
com a violência, onde dever-se-ia deixar à lei a defesa dos direitos
imprescritíveis.
A corrupção em todos os campos da vida pública obedece os
fatores vinculados a um crescente individualismo na vida social e a um abandono
daquelas opções que reconhecem a pessoa humana como a parte mais valiosa e
importante de uma sociedade.
Quando o cidadão se torna indivíduo, o único que importa é o
sujeito mesmo e o que lhe interessa. Neste caso, não há um mundo articulado mas
milhões de pequenos mundos, que definem as suas fronteiras em razão de suas
próprias conveniências. A partir desta perspectiva as leis não são mandados de
cumprimento obrigatório. Seu adimplemento dependerá da conveniência para cada
um. Se bem que, em razão da coerção cada vez maior do direito, o descumprimento
das normas pode causar-lhe maiores prejuízos. só em razão disso é que a
legislação é “aturada”.
Este isolamento do homem parece paradoxal, numa época em que
o mundo está atulhado de informação, que ele não tem tempo nem em pensar em
processar. O sujeito sentado frente ao televisor ou ao seu computador é a quem
ela é dirigida, e é a partir daí que ele vê o mundo. Cada dia aparece mais
claro que a busca exagerada da informação é um afastamento da formação. O mundo
é apresentado através de seus resultados, isto é, os produtos, aos quais só tem
acesso os que tem o dinheiro para a compra destes bens.
Bens, que poderiam ser chamados de incorpóreos passaram a
ser estimados apenas como meios para a consecução de fins tangíveis. A paz
social e a segurança jurídica são apreciadas tão só enquanto benéficas à
aplicação do capital, que permite a ampliação do mercado de consumo. O mercado
parece ser o centro de orientação de toda a construção social contemporânea.
Como não há acordo básico do que é o “ser”, o único ponto
referencial é o “ter”. Esta referência é tangível e percebida por todo o mundo.
Imersa neste mundo é que entra a corrupção. Corromper é o ato pelo qual se
incita uma pessoa a preterir os seus deveres para com os demais, em troca de um
benefício individual para si ou para outrem.
Enquanto a pessoa tem consciência de suas obrigações para
com os demais, e encontra nesse comportamento um reconhecimento social, as
possibilidades de aceitar suborno são bem tênues. Ao contrário, quando as
obrigações sociais não estão definidas, ou o seu cumprimento não é valorizado,
então, não há nenhum critério de comportamento. Neste ambiente, a corrupção
grassa: tem-se vergonha de ser honesto.
A luta contra a corrupção se complica quando a população tem
um duplo critério com relação a ela. De uma parte, ela entende que as pequenas
gratificações que se outorgam a funcionários de baixo escalão constituem uma
espécie de complemento de salário a que eles tem direito De outro lado, ela se
escandaliza com atos de corrupção maiores, quando, com raridade, são alardeados
pelos meios de comunicação. Estes atos ímprobos só são divulgados porque houve
uma colisão de interesses entre as classes dirigentes; caso contrário, não
seriam publicados. Nestes dois casos, o aliciamento é uma questão quantitativa
e não qualitativa, é um problema de conveniência e oportunidade, e não assunto
permanente. Afirma-se, de forma coloquial, que “é preciso saber quando fazer e
como fazer”. Portanto, o problema não é fazer, mas escolher as circunstâncias
adequadas para estas ações, que desagregam uma convivência ordenada.
Neste contexto, o homem passa a desconfiar de todas as
utopias, deixa de crer na História como projeto. Aderindo ao pragmatismo, passa
a desconfiar e a desrespeitar todas as instituições. O futuro deixa de existir
e a memória desaparece. Havendo permissividade plena, ele perde a noção do bem
e do mal, desaparecendo ou relativizando o sentido de culpa. Instalado o
individualismo exacerbado, não há compromisso além daquele que tem para consigo
mesmo. A informação é substituída pelo conhecimento. O esoterismo é
estabelecido como porta de escape para o desconhecido. A lei é vista como um
obstáculo de percurso a ser superado.
Este cidadão não pode ter ética, e em seu redor só há
leviandade e corrupção. Este ser humano de enriquecimento fácil, de consumismo,
da fuga através da droga, é que forma a sociedade e lhe transmite os seus
“valores”. Há, pois, uma cultura de corrupção, com o ser humano cada vez mais
adaptado a ela, que precisa ser superada...
O sistema ecológico do mundo é um complexo que tem caráter
global. Trata-se de um único conjunto de interrelações, de um único todo e de
um todo único, que constitui o espaço vital chamado terra. A consciência
ecológica deve se referir à globalidade, e a proteção ambiental deve se
direcionar para o todo.
Meio ambiente diz respeito a todos, esteja ele doente ou
não. Os homens estão dentro deste planeta para sobreviver ou morrer. O sistema
ecológico terrestre constitui um bem comunitário com o qual todos os homens
escaparão ou perecerão. Todos os habitantes da terra repartem o destino do
ecossistema que os rodeia. Se o meio ambiente pertence a todos, a
responsabilidade por ele também.
Gerações futuras, que acabaram de adentrar o planeta, devem
encontrar aqui um lar habitável. Seres humanos, que ainda não nasceram, também
têm direito a uma casa confiável e ecologicamente suportável.
Proteção ambiental é uma questão de honestidade para com os
descendentes. No âmago da questão, a terra está emprestada a esta geração, para
que a administre e a proteja de forma responsável e cuidadosa. Meio ambiente é herança,
que cada geração deve à seguinte. Ter consciência ecológica é possuir a visão
das diversas gerações. Proteção ambiental significa atender às gerações
futuras, um serviço ecológico à humanidade de amanhã. Poluição ambiental é
descaso frívolo de uma herança, desperdício irresponsável de um capital
ecológico, creditado em mãos supostamente fiéis.
Para o bem da vida no futuro, há necessidade de assumir uma
posição correta sob o ponto de vista ético, e ter em conta que a proteção do
ambiente é uma tarefa comunitária. Todos fazem parte da História ecológica. A
visão egoísta das necessidades ambientais gera o idiota ecológico. Na
etimologia grega, “idiota” (tó ídion) é o que só considera a si próprio e só
conhece o seu ponto de vista. Idiotice ecológica embota a sensibilidade para o
caráter coletivo do ambiente e de seus recursos.
Há necessidade de uma ciência ecológica geral para defender o homem daquela especialização
científica que gera o isolamento total do indivíduo. A virtude da sabedoria
gera a capacidade de estimular a compreensão das relações essenciais.
Raciocinar é o primeiro passo para agir de forma inteligente. Inteligência leva
à capacidade de pensar em escala temporal ampla, e planejar o final ou o
resultado do desenvolvimento com responsabilidade. Desta maneira, proteção
ambiental inteligente é, antes de mais nada, prevenção ambiental, com medidas
preventivas e profiláticas.
Há que se ter capacidade de aprendizado, pois sem ela, sob
condições normais, nenhum ser humano consegue alcançar conhecimentos ecológicos
que o habitem a tomar decisões. É preciso estar aberto para aprender e
disponível para se deixar orientar por outros. Há necessidade de se deixar
ensinar e de escutar informações. Antes de se tomar uma posição, deve-se estar
ciente tanto dos argumentos favoráveis quanto dos contrários.
A inteligência, na proteção ambiental, cabem três trabalhos:
a) colocar o raciocínio a serviço da compreensão das interrelações ecológicas;
b) predispor o indivíduo para a escuta; c) tornar a pessoa capaz de tomar
decisões, de tal modo que a ação é sua consequência.
À natureza cabem direitos na medida em que ela tem
prerrogativa a reconhecimento, existência, dignidade e respeito. Ela constitui
um valor por si só, tem direito vital
devido a seu todo e sua beleza. A riqueza do vivo já é por si só um valor que
deve ser respeitado. É injusto considerar a natureza essencialmente matéria
prima para o desejo construtivo humano e recurso para a sua vontade produtiva.
É contra a eco-justiça quando a natureza é utilizada só como objeto de mercado
e, desta maneira, é despida de sua dignidade.
Os que não são capazes de ver sentido na contemplação
descompromissada se desintegram espiritualmente e reduzem-se moralmente. Num
mundo em que a beleza desaparece, a vida perde o seu sentido e se torna um
absurdo. Quem quiser ver a beleza na natureza não pode avaliá-la friamente,
classificá-la imparcialmente e catalogá-la esquematicamente. Precisa, sim,
olhar com admiração a natureza e respeitá-la.
A distância entre o homem de colarinho branco e o do
uniforme azul, de um tempo, está sendo progressivamente atenuada. O aumento do
período terciário da economia, isto é, o da prestação de serviços, e o
desenvolvimento tecnológico aumentaram a independência, a criatividade e a
capacidade de decisão, que parecem caracterizar a “profissionalidade”. Hoje há
um número grande e variado de atividades laborativas. Isto tem como
conseqüência que a ética profissional tende a distinguir-se sempre menos da
ética do trabalho.
No atual contexto social, com relação à profissão, emergem
posições contraditórias. De um lado a supervalorização e quase sacralização de
algumas profissões, é acompanhado, de outro lado, pela subvalorização de
outras, determinada pela ideologização da vida social em seu conjunto. No plano
da consciência profissional, as posições de “mística da profissão”, com caráter
totalizante, se embatem com concepções tecnocráticas que desembocam na
“neutralidade ética”, a qual exalta a correção técnica, isolada e separada do
contexto social.
As grandes mudanças quantitativas, qualitativas e culturais
acontecidas a partir da década dos anos cinqüenta causaram embaraço na reflexão
sobre a ética profissional. Enquanto até aquela época o universo profissional,
ainda relativamente estável e bem determinado, aceitava a elaboração precisa de
normas éticas comportamentais, hoje tudo se tornou mais difícil e problemático.
A dinamicidade e complexibilidade do social e da atividade humana tornam as
pessoas mais cautelosas na determinação normativa e na própria fundamentação da
ética profissional.
A reflexão ética, antes de se preocupar com os
“comportamentos”, deve refletir sobre os “posicionamentos” para verificar quais
são os valores privilegiados e a sua razão, a nível de escolha da profissão.
Hoje encontram-se teorias e práticas inspiradas em um “decisionismo ético” que,
considerando impossível a justificação da escolha dos valores, preocupam-se
apenas com a coerência categoriais, sucessivas a tal escolha.
Parece, portanto, que a escolha da profissão deva
considerar-se neutra porque de todo afastada e separada do contexto social.
Entretanto, esta neutralidade é contestada quando a profissão é considerada na
sua relação com o social, e nos seus efeitos, que podem ser considerados
positivos ou negativos para o humano.
Atendendo à atual situação cultural parece que a maior parte
dos homens, vivendo sob a espada de Dámocles do desemprego estrutural,
desenvolva a própria atividade com u’a margem sempre mais restrita de livre
escolha e com forte propensão ao ganho, visto como principal se bem que não
única preocupação. Existe uma tendência de viver da profissão e não viver para
a profissão. Esta não é mais vista tanto como meio de realização pessoal e
serviço social.
Muitas profissões no passado, como a medicina e o direito,
elaboraram códigos de comportamento denominados “deontologia profissional”.
Tais códigos almejam dar as regras para uma relação correta entre o
profissional e o cliente. Na complexidade do viver social e frente a novos
problemas emergentes no exercício da atividade profissional, estes códigos
aparecem muito defasados, havendo necessidade de atualização, como aparece no
caso da bioética.
Na ética profissional existe a teoria separatista, que
elabora uma disciplina baseada apenas em princípios válidos apenas dentro de
uma profissão. A teoria oposta afirma que as prescrições baseiam-se em
princípios universais válidos. Na base da teoria separatista existe uma
argumentação que prescinde do conflito de valores, sendo meramente
deontológica. A aceitação dos valores em jogo e do seu conflito, indica uma
argumentação de cunho teleológico.
O problema central da ética profissional não é só a
constituição de um ordenamento jurídico-político, ou a revisão de códigos
deontológicos já superados, mas a pesquisa e a fundamentação de critérios
ético-normativos à altura dos problemas e das interrogações que se põe na
consciência de quem exercita uma profissão.
É comum opor-se a política à moral. Pelo menos no plano
teórico, são considerados estranhos uma à outra, pertencentes a dois domínios
bem diferentes.
Quer se considere sob o plano teórico (ciência política) ou
sob o plano prático (ação política), a política compreende o conjunto de tudo
aquilo que se relaciona ao estado e ao governo. Ora, existe aí uma ordem de
coisas que parece, à primeira vista bem diferente daquela dos valores éticos.
POLÍTICA COMO ESTRANHA À ÉTICA
O “realismo” político sustenta que a política tem os seus
fins próprios: a sociedade não tem outro dever que o de conservar-se, e o papel
do estado e do governo é o desta manter. Se elas se deixassem levar por
escrúpulos éticos, correriam um risco de infidelidade à sua missão específica.
É sobretudo Maquiavel (1496-1527) que ligou seu nome ao
realismo político:
De fato, a maneira como vivemos é tão diferente daquela como
deveríamos viver que quem despreza o que se faz pelo que deveria ser feito
aprenderá a provocar a sua própria ruína, e não a defender-se. Quem quiser
praticar sempre a bondade em tudo o que faz está condenado a penar, entre
tantos que não são bons. É necessário, portanto, que o príncipe que deseja
manter-se aprenda a agir sem bondade, faculdade que usará ou não, em cada caso,
conforme seja necessário.
Não é necessário que um príncipe tenha todas as qualidades,
mas é necessário que as aparente todas.
Ousaria mesmo afirmar que possuí-las todas, e sempre as observar, chega a ser
perigoso, mas a aparência de possuí-las todas é útil...Deve-se entender que um
príncipe não pode observar tudo o que é considerado bom nos outros homens,
sendo muitas vezes obrigado, para preservar o Estado, agir contra a fé, a
caridade, a humanidade e a religião.
É assim que a crueldade é bem empregada quando é ditada pela
necessidade de conseguir o poder, e a má fé é sempre necessária àquela que quer
conseguir um poder maior.
Na conduta dos homens, especialmente dos príncipes, da qual
não há recurso, os fins justificam os meios, Portanto, se um príncipe pretende
conquistar e manter um Estado, os meios que empregue serão sempre tidos como
honrosos, elogiados por todos, pois o vulgo se deixa sempre levar pelas
aparências e resultados; o mundo se compõe só de pessoas vulgares e de umas
poucas que, não sendo vulgares, permanecem isolados quando a multidão se reúne.
Nota-se que esta doutrina é fundada sobre um pessimismo
profundo e um desprezo em relação a um ser humano.
Sendo obrigado a agir como um animal, deve o príncipe imitar
a raposa e o leão, pois o leão não pode se defender das armadilhas, e a raposa
não consegue defender-se dos lobos. Aqueles que desejam ser apenas como o leão
não compreendem que um governante prudente não deverá agir com boa fé quando,
para fazê-lo, precisa trabalhar contra seus interesses...E nunca faltaram
razões legítimas para encobrir a inobservância das promessas...Mas é necessário
disfarçar bem este caráter, e dissimular perfeitamente; os homens são tão pouco
argutos, e se inclinam de tal modo às necessidades imediatas, que quem quiser
enganá-los encontrará sempre quem se deixa enganar.
Podem-se encontrar concepções análogas entre os defensores
da “razão de Estado” e dos regimes autoritários. É assim que para Hobbes
(1588-1679) os homens, por sua natureza, são levados a se suportar que
associar-se. A origem da sociedade não está na simpatia, mas no temor
recíproco. O estado de natureza é o da “bellum omnium contra omnes” (guerra de
todos contra todos) reinando a força bruta. A natureza humana é egoísta e
utilitária. A tendência fundamental do homem, então, é a busca da paz e da
segurança, conseguida através do temor (“terreur”). Daí é que nasce o Estado
absoluto: os indivíduos, ao dar-lhe a vida, renunciam a seus interesses em
favor do soberano. Direito é apenas o mandato de quem tem o poder sobre os
outros. O soberano não está obrigado a observar as leis do estado. Aristóteles
(384-322A.C.) teria cometido um “pernicioso erro” ao afirmar a soberania das
leis e não dos homens. O poder do governante não pode ser abolido pela vontade
daqueles que o instituíram.
Qualquer que seja a inspiração, todas as doutrinas que
repousam sobre o “realismo” só aceitam as chamadas “relações de fato”. Elas
desconhecem que a vida social não é constituída apenas de relações materiais,
de oposição de força, de conflitos de interesse mas, também, de embates
culturais, valorativos e de visões do mundo. Reduzindo o que deve ser ao que se
faz, nega-se o progresso e o aperfeiçoamento do ser humano.
POLÍTICA SUBORDINADA À ÉTICA
Em oposição às doutrinas que negam a ética em benefício da
política, encontram-se aquelas que rejeitam a especificidade própria da
política e querem-na absorver dentro da moral. Pode-se considerar a doutrina de
Platão (429-348 A.C), sobretudo na “República”, como a expressão desta
corrente. Segundo o pensamento platônico, o fim do estado é o de fazer reinar a
virtude e, consequentemente, o governo deve ser entregue aos sábios e
filósofos. Enquanto que na “República”, o pensamento platônico conta quase que
exclusivamente com a educação dada pelo Estado aos indivíduos, na “Leis”, a
virtude é obra do legislador e, definitivamente, o fruto da coação. Pode-se
ligar a essa tendência à maior parte dos utopistas sociais e aos construtores
das cidades ideais.
Esta tendência parte do pressuposto de que a moral é regra
universal da conduta humana e, por conseguinte, a política constitui a aplicação
de regras morais à ação do Estado e do governo. Há, com certeza, nesta posição
um desconhecimento das condições concretas no seio das quais se coloca, sempre,
o problema político. Uma política “a priori” é insuficiente e incompleta: é
mais seguro analisar as potencialidade do povo, os costumes e os meios de que
se dispõem para fazer o bem. Não se parta de uma “tábula rasa”, mas de um dado
preexistente, com qual é necessário contar: o povo a ser orientado, seu
temperamento, sua História, seus costumes, suas tradições...
Montesquieu (1689-1755), no início do “Espírito das Leis”,
afirma que as leis civis e políticas de cada
nação
devem ser tão adequadas ao povo para qual foram feitas que,
somente por um grande acaso, as leis de uma nação podem convir a outra. Cumpre
que se relacionem à natureza e ao princípio do governo estabelecido ou que se
pretende estabelecer, que elas o formem, como as leis políticas, quer elas o
mantenham, como fazem as leis civis. Devem as leis ser relativas ao físico do
país, ao clima frio, quente ou temperado; à qualidade do solo, à sua situação,
ao seu tamanho; ao gênero de vida dos povos, agricultores, caçadores ou
pastores; deve relacionar-se com o grau de liberdade que a constituição pode
permitir; com a religião dos habitantes, suas inclinações riquezas, número,
comércio, costumes, maneiras. Possuem elas, enfim, relações entre si sua
origem, com os desígnios do legislador e com a ordem das coisas, sobre as quais
são elas estabelecidas. É preciso considerá-las em todo esse aspecto.
Existe, portanto, um elemento de determinação que não
pertence à moral.
É muito sedutora a doutrina que estabelece como função do
Estado a implantação de virtude. Entretanto, ela é perigosa em sua aplicação.
Se o fim do Estado é a virtude, ela significa que o cidadão não é muito
virtuoso e, como consequência, a entidade estatal é perfeita. Daí é reclamada a
intervenção estatal na vida familiar, na vida privada e, mesmo, na consciência.
Se os antigos, frequentemente, identificavam a política com a moral, isto
acontecia devido ao fato de não distinguir o domínio do homem privado e o
daquele do cidadão, e não se conhecia a liberdade da vida privada, nem a
liberdade de educação e nem a liberdade religiosa. Com efeito, toda política,
todo o sistema de governo implica uma espécie de sanção. É justamente aqui que
existe a diferenciação entre o domínio e a política, onde reina “direito de
guerra” e a moral, fundada, apenas, sobre a boa vontade e a autonomia pessoal,
que convém apenas “ao estado de paz”.
A POLÍTICA COMO ÉTICA DE GRUPO
Norberto Bobbio afirma que uma das interpretações da
dicotomia entre política e moral mais conveniente é a weberiana, enquanto
distingui entre a ética da convicção e a ética da responsabilidade. Existe uma
diferença fundamental entre agir segundo uma ou outra das morais. Segundo a
primeira, a pessoa deve fazer o possível, deixando o resultado “nas mãos de
Deus”, enquanto pela segunda é preciso responder pelas consequencias
previsíveis das próprias ações.
Segundo Bobbio, o universo da moral e da política move-se no
caso de dois sistemas éticos diferentes e até antagônicos. Mais do que
imoralidade da política e “neutralidade” da moral, dever-se-ia falar de do
universos éticos, movidos por princípios diversos, conforme as diversas situações
em que se encontram e agem. Os atores
destes dois mundos agem seguindo o caminho tão diferente, que raramente se
encontram: de um lado está o homem de fé, o profeta, o pedagogo, o sábio, que
tem os olhos colados na cidade celeste, do outro, o homem de Estado, o condor
de homens, o criador da cidade terrena. O que vale para o primeiro é a pureza
de intenções e a coerência da ação com intenção; para o segundo o que conta é a
certeza e a eficácia dos resultados. A famigerada imoralidade da política está
fundamentada numa moral diferente daquela do dever pelo dever. Segundo a moral
política deve-se fazer tudo o que está ao próprio alcance para realizar o fim
proposto, pois, sabe-se, deste o início, que será julgado com base no sucesso.
Assim, tem-se dois conceitos de virtude: o clássico e o maquiavélico. Para o
primeiro, “virtude” é a disposição para o bem moral, que é contraposto ao útil,
e o maquiavélico para qual a virtude é a capacidade do governo forte e sagaz
que, usando conjuntamente as artes da raposa e do leão, triunfa no intento de
manter e consolidar o próprio poder.
O critério da ética da convicção é, de forma geral, usado
para julgar as ações individuais, enquanto o critério da ética da
responsabilidade é empregada no julgamento das ações de grupo, como povo,
nação, igreja, classe, partido... A diferença entre ética individual e a ética
de grupo é que embasa a diferença entre a moral e a política. O que obrigatório
para o indivíduo pode o não ser para o grupo o qual pertence. Exemplo disto é a
violência, de que forma geral é vedada à pessoa e que, no entanto, é
justificada quanto praticada pelo grupo.
Ainda de conformidade com Bobbio, a oposição entre moral e
política entendida como o contraste entre a ética individual e a de grupo,
mostra e explica o conceito de “razão de Estado”. Esta noção é constituída
pelos princípios e máxima, segundo os quais as ações seriam condenadas se
praticadas pelo indivíduo, mas que, quando praticadas pelo governante ou por
quem exerça o poder em nome do Estado, não só são justificadas, mas também
exaltadas e glorificadas. Assim, outro dos modos de mostrar a diferença entre a
moral e a política é o fato que o Estado tem razões que o indivíduo não tem ou
não pode fazer valer, quando tal diferença se refere aos diversos critérios
segundo os quais se consideram boas ou más as ações desses dois campos. O
acerto de que a política é a razão do Estado encontra correspondência na
afirmação de que a moral é a razão do indivíduo. A história secular do conflito
entre a moral e a política se vale do contraste de que as duas razões quase
nunca se encontram.
É necessário, ainda, deixar claro que a razão de Estado é
apenas um dos aspectos da ética de grupo, se bem que seja o mais evidente, em
razão do Estado ser a coletividade em seu mais elevado grau de expressão e de
potência. Sempre que um grupo social age em própria defesa contra outro grupo,
se apela a uma ética diversa da geralmente válida para os indivíduos, uma ética
que responde à mesma lógica da razão de Estado. Desta forma, ao lado da razão
de Estado, na História, conforme as circunstâncias, aparece uma razão de
partido, ou de classe, ou de nação... possuindo o princípio da autonomia, como
a política com a mesmas circunstâncias. Esta autonomia de princípios e regras
de ação vale para o indivíduo dentro do grupo.
MORAL SOCIAL
Estudando o caráter pessoal da moral, pode-se cair no erro
de tratar o homem como ser isolado. Entretanto, ele é um ser que vive em
sociedade, devendo levar em conta seus semelhante.
A moral, propriamente dita, é social, porque a pessoa vive
em sociedade. É nela que o homem encontra os seus semelhantes. Estes é o espaço
do respeito e da ajuda mútua.
O problema ético e político te como base uma questão
ontológica, como por exemplo, a semelhança dos homens entre si devido à sua
natureza. A regra moral não resulta apenas da consideração do homem individual,
mas também relacionado com o outro. Há necessidade de se questionar, numa
sociedade organizada, até onde o indivíduo deve se sacrificar pelo todo. Assim
é que os problemas da ética social tem, também, um caráter pessoal,
características da moral.
Como exemplo, pode-se examinar a circulação de automóvel.
Coloca-se, assim, o problema moral de saber em que medida o motorista deve respeitar o pedestre. Constitui
um direito arbitrário, observável apenas em algumas circunstância? Constitui
matéria da moral individual ou social? É obrigatório respeitar o regulamento de
trânsito? Deve-se respeitar o sinal vermelho, à noite, com risco de ser
assaltado? Podem-se propor, ainda, outras questões, toda de caráter pessoal.
Todas estas questões são de caráter moral, de atitude pessoal. Não são questões
sociais, se bem que sejam de moral social. A questão social consiste em saber
organizar a sociedade, que é coisa bem diferente. Constitui questão social
saber se deve-se ou não regulamentar a circulação de veículos, como, também, a
maneira como ela deve ser feita. Enquanto faz parte da moral saber se a pessoa
deve ou não observar este regulamento. São dois planos diferentes. O plano
moral é o da autonomia da pessoa. Pelo fato do ser humano ser dotado de razão
e, em consequencia, portador do livre arbítrio, o que a pessoa faz só depende
dela e, tudo o que ela quer se impor acontece porque ela quer. Ela pode
preferir morrer a obedecer.
A questão social consiste em saber como deve se organizada a
sociedade. Todas as questões sociais se ligam de uma forma ou de outra a esta
primeira. Questão social é o estudo do meio de levar os homens a se comportar
de uma determinada maneira. A organização social pode ter por finalidade ajudar
os homens a praticar a virtude, portanto, a moral.
A moral social não deixa de ser moral, tendo, portanto, um
caráter pessoal. É chamada “social” em razão do objeto ao qual ela se aplica.
Neste sentido, podem-se Ter morais especiais, aplicáveis as todas as formas de
atividade humanas: medicina, odontologia, comércio, engenharia, agricultura...
Estas morais que tratam da maneira como deve-se comportar no exercício de
determinada atividade não constituem problemas de regulamentação social destas
atividades e nem constituem problemas técnicos. O problema moral do agricultor
será exercer bem a sua profissão, e o aspecto técnico da agricultura indicará
as condições do bom exercício da profissão. A questão social da agricultura
será saber como determinar o lugar dos agricultores na sociedade, d modo que
eles desempenhem os serviços que eles são chamados a prestar. A moral social do
agricultor colocará questões relativas àquilo que ele deve fazer aos seus
semelhantes, àquilo que eles esperam dele.
A moral social não se liga, portanto, ao que e chama de
“questões sociais”. Estas constituem problema de organização da comunidade,
enquanto as questões morais reportam-se às atitudes pessoais. Sempre que se
emprega o termo “moral”, há a exigência de um julgamento racional: um poder
moral é o que se impõem ao espírito e não só as atitudes externas (implica uma
adesão íntima).
Na organização social, apenas secundariamente preocupa-se
com a moralidade dos atos. O que se tem em vista é um resultado objetivo.
Assim, estabelece-se um regulamento trânsito para evitar acidente. A finalidade
precípua da norma é evitar desastres, sem ter em vista, nos primeiros, a adesão
pessoal. Ao contrário, a preocupação da ética é unicamente com assentimento
pessoal do que dirige o carro.
Conclusões
Em princípio, a moral é a regra geral da conduta humana. Ela
se aplica, pois, à vida privada e a publica, à família e nas relações
internacionais.
Ela deve fornecer diretrizes para a política como o uso boa
fé, o respeito à palavra dada, a fidelidade nos contratos, o respeito à pessoa
humana e seus direitos, o que implica rejeição de procedimentos degradantes
como a tortura, a “lavagem cerebral”, a propaganda enganosa... Há liberdades
naturais que independem da lei civil, mas que reconhecidas e garantidas por
esta norma, constituem as “liberdades civis”. A verdadeira política mantém
estas liberdades essenciais, em razão da dignidade humana.
O Estado não se confunde com a sociedade. Esta tem um
espírito, que é constituído de um conjunto de valores coletivos. O Estado seria
infiel ao seu papel se não respeitasse e promovesse setes valores, que
constituem um ideal coletivo.
Isto não quer dizer que ele tem por missão “fazer reinar a
virtude”. Nem deve, também, querer “corrigir tudo”, mudar o “espírito geral” de
uma nação e nem, sob o pretexto de moralização, mudar este espírito geral. Seu
papel é outro. Ele deve formular claramente e fazer respeitar as regras, que
protegem os valores fundamentais, isto é, o direito. Este, com efeito,
constitui o liame entre a política e a moral. O direito deve ser considerado
sagrado por parte de quem governa. Todas política deve obedecê-lo. Deve-se
diferenciar entre o “moralismo político”, que reduz a política a uma questão de
habilidade e esperteza, e a “política moral”, que tem por fundamento a idéia do
direito. Este, certamente, pode ser considerado como o “mínimo ético”.
Não se quer afirmar que a habilidade nada tenha a ver com
política. É sempre evidente que a conduta do Estado e seu governo exigem sempre
alguns elementos técnicos, algumas competências especiais, que não constituem o
apanágio da moral. Assim é que um sistema tributário não deve ser apenas justo,
mas, também, eficiente, o que supõe do político um mínimo de competência
econômica. Entretanto, esta só não basta: ela deve estar a serviço de uma idéia
diretora, que só pode ser ditada pelo direito.
Em suma, política e
moral não se confundem, pois cada uma delas tem o seu papel próprio.
Entretanto, a política, se bem que
situada num outro plano, tem ligação com a moral: é uma atividade a serviço de
um valor.
Na fenomenologia da experiência humana, na sua estrutura
essencial, há uma correlação necessária, porque a priorística é intuitivamente
evidente, tanto da parte objetiva quanto na subjetiva desta. Não existe uma
realização do valor eticamente significativo, que não seja ao mesmo tempo
atualização da pessoa no ato da resposta.
A experiência ética é uma experiência pessoal em um sentido
singular: apenas a pessoa pode intencionar o valor e torná-lo historicamente
presente na ação e no tempo. O valor ético encontra a sua realização plena na
pessoa. As diversas dimensões da experiência ética convergem na construção da
pessoa como sujeito ético capaz de uma resposta ao valor.
A experiência ética foi descrita, em sua essência, como
experiência de uma resposta ao valor. Os âmbitos concretos nos quais o valor
pode ser realizado são: a) aquele das ações, no qual a vontade realiza um papel
fundamental; b) aquele dos atos imanentes ou das respostas afetivas e, enfim c)
aquele das virtudes, que definem as características permanentes e a qualidade
ética constitutiva da pessoa.
A pessoa é o sujeito de cada uma destas esferas, que definem
aspectos diversos da experiência ética entendida fundamentalmente como resposta
ao valor.
Uma reflexão atenta à experiência, não pode não levar em
consideração, também aquela das respostas e das virtudes. Só assim esta toma
consciência da amplidão do fenômeno ético e da qualidade do valor ético na sua
realização histórica.
Três são os elementos que definem a esfera da ação na sua
essencialidade ôntica: a) antes de mais nada, o conhecimento de um estado de
coisas; b) em segundo lugar, um ato de vontade motivado pelo estado de coisas;
c) e, em terceiro lugar, a fazer existir o estado de coisas procurado. Em cada
ação eticamente boa, a vontade do sujeito deve ser uma resposta ao valor e ao
estado de coisas que é realizado, ou seja, o objeto da ação um bem portador de
um valor eticamente relevante.
Além da esfera da ação, a esfera das respostas oferece à
reflexão ética um segundo âmbito de pesquisa. Este pode ser diferente daquele
das ações porque tem como objeto os atos da vontade ou da afetividade, que
permanecem imanentes ao sujeito. A ética da pessoa não é definida apenas por
suas ações, mas também por suas atitudes interiores.
O nível de profundidade último da liberdade da pessoa se
exprime no ato de aprovação ou de desaprovação das próprias emoções ou dos
próprios sentimentos, daquilo que, em uma palavra, alimenta a esfera emotiva.
Com a sanção ou a desaprovação, a liberdade assinala, por
assim dizer, as reações espontâneas da pessoa, conferindo a estas o caráter de
moralidade ou de imoralidade, da resposta ao valor ou do fechamento a este.
Através deste exercício, a pessoa realiza em nível mais profundo a própria
liberdade.
O último âmbito de realização do valor ético é definido pela
esfera das virtudes. Esta disposição não identifica apenas disposições com
referência ao agir. Com a virtude se refere a uma qualidade do caráter da
pessoa e, mais precisamente, uma resposta ao valor. Em particular, aquela
atitude fundamental que exprime a tomada de posição última da pessoa com
relação ao bem.
O tema da atitude fundamental é essencial para a compreensão
da virtude. Qualquer virtude supõe uma resposta fundamental a uma esfera de
valores, uma resposta que é determinação concreta daquela atitude fundamental.
Uma atitude geral se torna virtude quando forja a personalidade inteira e
assinala essencial e profundamente o caráter.
O caráter habitual da virtude não é aquele da repetição,
porque a virtude não pode ser pensada como um meio em vista da ação. O risco de
interpretar a virtude como uma pura disposição para a ação parece constituir o
ponto fraco da doutrina aristotélica.
A identificação do justo como meio entre dois extremos não
exprime a qualidade específica de toda a atualização da experiência moral
consistente na resposta ao valor. A dialética entre virtude e vício não é
decidida pela equidistância entre os dois extremos, mas pela determinação da
liberdade da pessoa que responde ao apelo do valor ou se fecha na imanência do
próprio interesse.
As ações, as atitudes internas e as virtudes constituem as
três dimensões da experiência ética. Estas circunscrevem os âmbitos concretos
de uma duplice atualização: aquela do valor no seu incarnar-se histórico, e o
da pessoa na sua identidade própria de sujeito ético.
A experiência ética é, na sua essência, a experiência de um
encontro entre o valor e a pessoa no ato de uma resposta, de um ato de
liberdade.
Afirma-se que a ética morreu. Existe gente que pensa que o
que morreu foi a ética kantiana, a ética dos deveres individuais. Em uma ética
assim o que importa é o móbil da ação e não os seus resultados, a boa vontade e
não as consequências boas.
O mundo de hoje não precisa da ética dos heróis, dispostos a
sacrificar-se. Este tipo de moral está afastado porque a boa vontade individual
é impotente para defender os direitos de todos os homens frente às violações
diárias. Além disso, a modernidade supõe a diferenciação funcional de
diferentes esferas sociais, que conta cada uma com uma lógica própria e uma
autonomia relativa. Diante delas o indivíduo se sente cada vez mais impotente.
Por isso precisaria de uma ética que coordenasse as ações individuais de uma
forma tão inteligente que o resultado final fosse o maior bem possível para
todos, independente da boa ou má vontade do indivíduo. “O que importa, acima de
tudo, não é a boa vontade, mas que o bem aconteça” (K.O.Apel).
A chave da ética dos novos tempos democráticos não é o
respeito à lei, mas a sagacidade do entendimento; não é a boa vontade, mas os
bons resultados. Daí que a antiga moral do indivíduo deva ser superada por uma
ética das instituições.
Isto resultaria particularmente compreensível no âmbito da
economia moderna, que se caracteriza pela divisão do trabalho, trocas anônimas,
crescente interdependência e elevada complexidade. Para o resultado de um
processo com estas características são irrelevantes tanto os motivos da ação
individual como as suas consequências. Resultado total é o produto de
incontáveis ações. Sem contar com o resultado de que a ação da pessoa não só
depende dela mas também do que as demais fazem. É necessário substituir a
lógica da ação individual pela lógica da ação coletiva ou, ao menos,
complementar com ela.
A racionalidade da economia moderna se caracteriza por
mecanismos que, à primeira vista, estão disputados com as exigências de u’a
moral kantiana. Se os agentes econômicos só são movidos pelo lucro e pelo
proveito, e se a pedra angular da economia moderna é a competência, parece que
não há lugar para a moral.
Uma concepção da atividade empresarial moderna, tomada em
sua integridade, contém aspectos morais que os agentes econômicos devem
atender, se querem levar adiante a tarefa que lhes é própria. Para que isto
seja um fato, há que se contar com uma opinião pública crítica e com
empresários dispostos a confrontar-se criticamente com sua própria atividade
empresarial.
A moral não pode ser nunca algo acrescentado de fora ao ser
do homem ou a uma atividade concreta, mas seu próprio desenvolvimento quando
está em seu próprio campo de ação. A ética nunca pode constituir em algo
suplementar, vindo de um tribunal alheio, mas no pleno exercício da própria
atividade em uma sociedade que se compreende historicamente.
Entender a moral em outro sentido está levando a autores
como Habermas a procurar liberar o direito e a política da ética como se os
juízos éticos constituíssem uma ingerência externa para estes âmbitos. Suposto
isto, se compreende que Habermas distinga entre a ética, que consistiria na
realização correta de uma política legítima, ligada com as formas de vida de
uma comunidade concreta, e a moral, que consistiria no cumprimento de deveres
universalizáveis. Uma e outra estariam subordinadas ao gênero supremo do
discurso racional, que seria moralmente neutro.
Se ao tratar de moral não se começar a casa pelo telhado,
falando de normas (Apel, Habermas), princípios de justiça (Rawls) ou regras
(Buchanan), mas de “vita activa” (H. Arendt), das atividades pelas quais os
seres humanos desenvolvem suas vidas, deve-se reconhecer que a moral de tais
atividades consiste em sua plena realização.
A MORAL NA ATIVIDADE EMPRESARIAL HODIERNA
Na sociedade hodierna, o pleno desenvolvimento de uma
atividade requer atender ao menos quatro pontos de referência: em primeiro
lugar, as metas sociais pelas quais cobra o seu sentido; em segundo lugar, os
mecanismos adequados para alcançá-las; em terceiro lugar, aparece o marco
jurídico-político correspondente à sociedade em questão; e, em quarto e último
lugar, surgem as exigências da consciência moral crítica.
Numa sociedade pós-industrial estas exigências são as mesmas
do nível pós-convencional. Isto significa que as instituições devem reconhecer
que todos os atingidos por decisões e normas são interlocutores válidos, ou
seja, que as normas que regular as atividades devem ser aceitas por todos eles
através de um diálogo racional.
O primeiro ponto de referência é que qualquer atividade
social cobra sentido porque busca uma determinada meta e assim se converte no
que alguns denominam de “prática”. Justamente uma “prática” é uma atividade
cooperativa que busca determinados bens internos, diferentes dos de outras
práticas. Para alcançá-los, é preciso que os que participam desta prática
desenvolvam certas virtudes que compõem o “ethos” próprio desta atividade. As
diferentes práticas se caracterizam pelos bens que só através delas se
conseguem, pelos valores que se descobrem na perseguição destas metas e pelas
virtudes exigidas para a sua prática.
Sem instituições seria impossível desenvolver estas
práticas. Por isto importa estabelecer, junto à ética individual, uma ética das
instituições dando apoio às práticas. Por causa disso é também necessário
estabelecer uma ética das atividades ou das práticas que sustente a ética das
instituições.
A partir desta perspectiva, a atividade empresarial se
caracteriza por buscar um determinado bem interno, ou seja, a satisfação das
necessidades humanas, constituindo o segundo ponto de referência, através de
mecanismos específicos como o mercado, a competência é a busca do proveito.
Isto exige o desenvolvimento de valores peculiares como a busca da qualidade e
a otimização dos recursos, especialmente os humanos.
O terceiro ponto de referência é o respeito à legislação
vigente, que marca as regras do jogo da empresa e das demais instituições.
Entretanto isto não basta, já que a legalidade não esgota a moralidade. Não só
porque a legalidade pode deixar lacunas, mas porque o âmbito do dever nunca
está totalmente positivado e nem é conveniente que o esteja.
A legislação deve ater-se àquilo que todos poderiam querer.
Isto significa que o consenso é necessário para legitimar o marco econômico.
Entretanto, consenso não significa “pacto de interesses setoriais”, mas acordo
em torno ao “interesse universalizável”, em torno do que todos poderiam querer.
No quarto e último ponto de referência, o consenso é
exigível porque fala-se da atividade empresarial em sociedades cuja consciência
atingiu o nível moral pós-convencional. Na linha kantiana do termo moral, que
constitui o ponto de referência de u'a moral crítica, qualquer atividade ou
instituição que pretenda ser legítima deve responder às exigências de justiça
que sua sociedade coloca e que correspondem ao nível de consciência moral no
qual se encontra. Segundo isto, “só seriam válidas normas de ação com as que
poderiam estar de acordo todos os possíveis atingidos como participantes de um
discurso prático” (Habermas).
A partir do ponto de vista de uma consciência moral crítica,
que alcançou o nível pós-convencional, são válidas as normas de ação com as que
poderiam estar de acordo todos os atingidos por elas, porque satisfazem, em
terminologia kantiana, interesses universalizáveis.
A OPINIÃO PÚBLICA COMO LUGAR DA MORAL
A consciência moral crítica é uma exigência que nunca pode
institucionalizar-se totalmente, mas tem um lugar privilegiado de expressão em
uma sociedade moderna, ou seja, o de uma opinião pública crítica, tal como a
entendeu certa tradição kantiana.
Ao menos desde o século XVIII, o conceito de publicidade
está ligado ao mundo político. O poder político é público. Suas metas e seus
efeitos são públicos. Em razão disso, precisa de uma legitimação pública.
Kant utiliza o conceito de publicidade em um duplo sentido:
como princípio do ordenamento jurídico e como método do iluminismo.
Como princípio de ordenamento jurídico, a publicidade é
condição indispensável da justiça das leis. Por isto, a fórmula transcendental
do direito público diz: “são injustas aquelas ações que se referem ao direito
de outros homens e cujas máximas não suportam ser publicadas”.
Na obra de Kant se entrecruzam duas formas de entender a
publicidade: a representativa, pela qual o soberano representa o povo, e a
republicana, na qual o soberano continua governando a "res publica",
mas tem de promulgar as suas leis de acordo com o que “todos poderiam querer”.
Em virtude deste entrecruzamento, sempre é o soberano o que assume o papel de
representar o povo, o qual está juridicamente ligado ao soberano, enquanto que
este fica obrigado com o povo apenas moralmente.
O segundo conceito de publicidade kantiana é o entendimento
da publicidade como método do iluminismo, ou seja, é o “uso público da própria
razão por parte dos cidadãos que tem maturidade”. São os cidadãos “ilustrados”
os que devem criticar publicamente os poderes públicos. A liberdade de imprensa
é o principal direito do povo.
A sociedade, em seu conjunto, está estruturada em dois
âmbitos: o público, correspondente ao poder político, e o privado. Entretanto,
neste último cabe distinguir entre a esfera correspondente à família e à troca
mercantil, e a publicidade política dos “lustrados”, que medeia entre o Estado
e a sociedade através da opinião pública.
A partir desta perspectiva, a “res publica” o é porque tem
como objetivo o bem público, mas também porque preconiza como procedimento para
alcançá-lo a criação de um espaço público no qual os cidadãos podem deliberar
acerca do que lhes importa. A existência deste espaço público é “conditio sine
qua non” para a opinião pública e a crítica ao poder político e, em última
instância, para a moralidade do político.
O liberalismo político de John Rawls aceita a dupla linha
apontada por Kant no conceito de publicidade, se bem que “domesticando” a razão
pública. Na realidade, a estrutura da sociedade mudou desde o século XVIII. Em
primeiro lugar a forma política de governo é a democracia e, portanto, os
cidadãos exercem publicamente a própria razão, não para criticar o soberano,
mas para constituir juntos uma ordem legítima e justa. Em segundo lugar, a
economia e a empresa já não fazem parte da esfera privada, mas passaram para a
esfera pública por suas repercussões nesta e precisam, deste modo, de
legitimação. Daí as mudanças, também, nos dois conceitos de publicidade.
No que se refere ao princípio do ordenamento jurídico,
considera Rawls que a estabilidade da ordem política exige a promulgação de
alguns princípios de justiça que possam ser aceitos por todos os membros da
comunidade política. Daí que idealiza uma condição tal que qualquer cidadão
poderia estar de acordo com tais princípios. Uma vez decididos os princípios
públicos de justiça, como aplicá-los?
USO PÚBLICO DA PRÓPRIA RAZÃO E OPINIÃO PÚBLICA
Para John Rawls, utiliza publicamente sua razão o cidadão
moderno que trata de apresentar aquelas razões que os demais cidadãos podem
aceitar, seja qual for a sua teoria compreensiva do bem. Quem assim procede
cumpre o dever moral de cidadania, que consiste em reforçar o consenso já
existente em uma sociedade democrática em torno de um mínimo de justiça.
A conveniência em uma sociedade pluralista é possível porque
todos compartilham esse mínimo. É um dever moral cível reforçá-lo para
fortalecer a coesão da comunidade política.
A razão pública o é em um tríplice sentido: a) porque, como
razão dos cidadãos iguais, é razão do público; b) porque seu objetivo é o bem
público; c) porque o seu conteúdo é público.
O conteúdo da razão pública é a concepção política de
justiça e a podem aceitar todos os cidadãos. Caso contrário, não ofereceria uma
base pública de justificação. Rawls insiste em que esta idéia de razão pública
é essencialmente política. Também é certo que o seu exercício constitui o dever
moral da cidadania. Serão cidadãos maduros, imbuídos deste dever de cidadania,
os que se dispõem a fazer uso público da própria razão, que aqui busca o consenso
com os demais cidadãos em tudo aquilo que seja possível estar de acordo.
Este concordismo liberal, do qual ele compartilha, tem uma
posição positiva pois destaca que, em sociedades pluralistas e multiculturais,
a construção da vida em comum exige união de esforços. Mas tem também o
inconveniente de ser conformista de adaptar-se facilmente ao que já existe.
Este conformismo afeta muito especialmente o âmbito
econômico, já que Rawls reconhece que, no que se refere à distribuição justa
dos bens materiais, a base mais ampla que pode ser alcançada é a de um “mínimo
social”, que cubra as necessidades básicas de todos os cidadãos. Ao contrário,
o princípio da diferença, segundo o qual a distribuição desigual da riqueza só
é justa se favorece o menos favorecido, não parece que possa alcançar um amplo
acordo em sua sociedade e por isto fica excluído das “essências
constitucionais”.
No liberalismo político, o uso público da própria razão
perdeu a capacidade crítica de que gozava na proposta kantiana. Esta capacidade
crítica é recuperada por Habermas. Este se situa na linha de Kant. Para ele,
sem publicidade política crítica é impossível uma democracia autêntica. Ela
representa o elemento mediador entre a sociedade civil e o poder político.
Entretanto, as mudanças estruturais sofridas em uma como no outro obrigam a
modificá-la consideravelmente.
O poder político não se legitima mediante um hipotético
contrato social, mas comunicativamente, que foi como se manifestou a soberania
do povo. Portanto, o poder administrativo deve legitimar-se através da
comunicação e não recorrendo a pressupostos tradicionais ou autoritários, mas a
argumentos capazes de convencer os interessados por seus projetos. Daí a
necessidade de escutar a cidadania, que se expressa através de uma opinião pública
não institucionalizada.
A opinião pública é composta por aqueles cidadãos que
possuem algumas antenas especiais para perceber os efeitos dos sistemas, já que
são afetados por eles. É certo que é o poder institucionalizado o que toma as
decisões. Entretanto, o poder público deve perceber e tematizar os problemas da
sociedade comunicando-se com os que são potencialmente atingidos.
ÉTICA EMPRESARIAL E OPINIÃO PÚBLICA
Para Habermas é preciso criar o espaço institucional para o
espaço público. Mas a publicidade é, em princípio, um fenômeno social
elementar, uma estrutura de comunicação enraizada no mundo da vida através de
sua base sócio-cívica. Este espaço social é também um espaço público, no qual é
possível encontrar-se com liberdade.
Habermas continua deste modo a tradição kantiana de uma
publicidade preocupada pela “res publica”, que funciona como “consciência
moral” do poder político, porque lhe recorda que deve tomar as decisões
atendendo “àquilo a que todos poderiam querer, ou seja, a interesses
universalizáveis”. E, como na tradição kantiana, a publicidade pertence à
sociedade civil. Entretanto, em Habermas, produziram-se ao menos três mudanças
substanciais com relação ao pensamento de Kant.
A primeira mudança foi no conceito de sociedade civil. Em
Kant se tratava de “sociedade burguesa”, que Hegel caracterizou com o “sistema
de necessidades”, ou seja, um sistema de mercado de trabalho e de troca de
mercadorias. Ao contrário, para Habermas, a sociedade civil não inclui o poder
econômico e a compõe aquelas associações voluntárias, não estatais e não
econômicas, que constituem as estruturas comunicativas do mundo da vida. Estas
associações percebem os problemas dos âmbitos privados do mundo vital, buscam
interpretações públicas para seus interesses e experiências sociais e
influenciam na formação institucionalizada da opinião pública.
A segunda mudança foi que os sujeitos dessa opinião pública
não são como em Kant, os “ilustrados”, mas aqueles sujeitos, atingidos pelos
sistemas, que defendem interesses universalizáveis e colaboram, portanto, na
tarefa de formar uma vontade comum discursiva e por meio do diálogo.
A terceira mudança é que Habermas vai além de Kant, ao
pretender que as exigências geradas pela opinião pública se institucionalizem,
ao menos em parte, convertendo-se em um autêntico poder comunicativo através do
poder político.
Também Habermas não vê a necessidade de legitimar a
atividade econômica a partir da opinião pública. Isto não deixa de ser uma
grande lacuna. Hoje em dia se requer que qualquer atividade com metas e
repercussão social possua legitimação. Portanto, também a atividade econômica.
A moral de uma atividade social consiste em buscar
desenvolvê-la de modo que alcance seu objetivo e eficácia vital. No que se
refere à atividade empresarial é necessário investigar que bens internos busca,
que valores aspira realizar e que virtudes exige. Sabe-se que em uma sociedade
moderna pós-industrial com democracia, alcançou-se um nível de consciência
pós-convencional, segundo o qual toda pessoa é um interlocutor válido.
As regras do jogo da economia devem submeter-se ao marco
constitucional que é objeto de um consenso. Nele se encontra já incorporado uma
instância moral.
As exigências dos interlocutores válidos recordam que é
preciso revisar constantemente a ordem econômica para que se oriente por
interesses universalizáveis. Estas exigências se canalizam através de uma
opinião pública crítica que, a partir de interesses universalizáveis, obriga a
reintepretar a constituição.
Para que a opinião pública seja um verdadeiro lugar do moral
é preciso potencializar o dever de cidadania, já que as exigências de cidadãos
egoístas carecem de qualidade moral. Tal cidadania deveria convidar não só ao
concordismo, mas sobretudo à crítica, porque a concórdia poderia conseguir-se à
custa de sacrificar os interesses universalizáveis em benefício dos interesses
particulares. A publicidade política deve ser ampliada para uma publicidade
econômica.
No passado, no clima de estabilidade de um mundo solidamente
estruturado, a ética podia, com uma certa facilidade, dar diretivas simples e
claras com a convicção sincera de resolver qualquer problema. Hoje, em um mundo
em contínua transformação, caracterizado por um progresso sem precedentes mas,
também, pela emergência de problemas graves, a discussão tornou-se mais
complexa. A revolução tecnológica tornou possível um aumento do bem-estar,
antes impensável mas, também, criou riquezas imensas, de um lado, e miséria
imensa do outro, constituindo uma ameaça constante à paz.
O aparecimento de um sociedade multicultural,
multirreligiosa e multiética abriu novos horizontes mas, também, criou
transtornos, incompreensões, fundamentalismos, ódios raciais. Nesta nova
realidade, é preciso compreender que a ética deve levar em conta que ela é
desvirtuada ou refutada, ignorada ou conhecida só no aspecto externo. Deve-se
perscrutar, pois, qual é o sentido da crise que se atravessa, quais os
problemas devem ser solucionados antes, como interpretar a realidade que
aparece.
Em uma sociedade em contínua mudança não é estranho a
criação de oposições, divisões, modos diferentes de viver as coisas. Além deste
fato inevitável, o que mais preocupa é a difusão de uma concepção
subjetivística do juízo ético. É muito difundida a opinião segundo a qual é o
próprio sujeito que estabelece o que é justo e aquilo que não o é. Normas e
valores tidos antes como absolutos se tornaram objeto de escolha por parte dos
indivíduos. Esta situação, mais que fruto de contestação de normas particulares
ou de tomadas de posições por princípio, parece ser a expressão de um
transtorno que toca a pessoa no mais profundo do seu ser.
Atinge, pois, um grande número de pessoas que parecem
incapazes de enfrentar o risco de empenhar-se em escolhas definitivas de vida,
a espontaneidade dos que parecem deixar-se orientar por escolhas de vida
definitivas, dos que deixam ser guiados apenas pelos sentimentos, incapazes de
reconhecer e aceitar os limites do real. Em tudo isto influenciou a transformação
das condições de vida, ou seja, a dificuldade de reconhecer pontos de
referência importantes na pluralidade atual de propostas de sentido, o
multiplicar-se de expectativas em uma situação em que o bem-estar chega muito
rapidamente.
Quem se acostumou desde criança a ver realizado cada desejo
seu estará pouco preparado para enfrentar os conflitos inevitáveis da
existência, a compreender o valor da renúncia, das chamadas “virtudes
negativas” necessárias para saber reconhecer que a longo prazo pode dar sentido
à vida. Aparece aí uma fragilidade que pode ter graves consequências. Isto é
confirmado pelas notícias nas quais se vê que por motivos fúteis, como o fato
de ir mal em um exame ou uma desilusão afetiva, podem ser suficientes para
gerar gestos desesperados e violentos.
Decisivo tanto para o bem como para o mal foi o crescimento
exponencial das telecomunicações e da informática nos últimos tempos,
permitindo o acesso a u’a massa sempre maior de conhecimentos, mas não
fornecendo os instrumentos para geri-la e avaliá-la criticamente. Com efeito,
para fazer frente à concorrência, os meios de comunicação e, em particular, à
televisão deixam-se levar pela audiência, nivelando por baixo seus programas,
em detrimento da informação e do estudo dos problemas do mundo contemporâneo. A
mídia cria necessidades artificiais para pessoas que não têm como
satisfazê-las.
ÉTICA E NOVAS ORIENTAÇÕES
A prevalência progressiva da imagem sobre a palavra e a
reflexão acentua a tendência a preferir o sonho à realidade, uma alteridade
virtual e manipulável a uma relação empenhável com pessoas verdadeiras. A
incapacidade de empenhar-se em um projeto de vida leva à banidade, à
obscenidade ao desencanto.
Neste mundo que muda velozmente, o que parece ser mais
necessário não são tanto os juízos éticos, quanto um esforço para procurar
compreender os motivos daquilo que está sucedendo, do transtorno criado por
problemas novos para os quais não se está preparado, pela inquietação provinda
daqueles que perderam pontos de referência e esquemas interpretativos
reconhecidos, há um tempo atrás, como certos e bons. Nesta situação é
necessária a presença de homens capazes de compreender o mundo de hoje com as
suas alegrias e as suas angústias, e de transmitir uma esperança que desafie
todas as provocações da vida.
Na desorientação de um mundo na procura de novos equilíbrios
estão inseridos os mais diversos messianismos, ideologias que trouxeram a
guerra e a ruína e hoje estão acabando, mesmo se a reação a elas parece ser o
messianismo, a longo prazo também danoso, de uma economia sem controles, que
governa as enormes potencialidades da técnica e da ciência, buscando apenas o
lucro, sob a ótica de um pragmatismo crescente.
Não obstante o aumento do bem-estar, o futuro começa a
causar medo: o crescimento da separação entre o primeiro e o terceiro mundo;
armas sempre mais potentes ao serviço de interesses antagônicos; a dificuldade
de compreensão entre povos e culturas; a incapacidade de controlar a economia,
que impede um acordo sobre os desequilíbrios ecológicos e impede o sacrifício
da humanidade de amanhã em razão dos interesses imediatos do homem atual. O
homem de hoje parece estar sempre ameaçado por aquilo que produz. O otimismo
racionalista, que via na História o avanço vitorioso da razão, parece que levou
à tentação do desespero.
É um pensamento que não foi entendido como contemplação e
procura da verdade, mas como razão instrumental ao serviço de fins
utilitarísticos de fruição e de poder. Cresce o culto do progresso e do
sucesso, mas raramente se pergunta qual deve ou possa ser o ponto de chegada, o
fim. Aceita-se que progresso e sucesso sempre são benéficos ao homem, e nunca
maléficos.
É uma opinião amplamente aceita. Nesta linha a Escola de
Frankfurt mostrou como a lógica do cientismo positivista privilegia o útil em
detrimento da visão de fim, o capital ou os interesses da ideologia com relação
à pessoa. Esta visão está na base das tragédias do século XX. O que se coloca
em questão não é a ciência enquanto tal, mas a ilusão de que a ciência possa
dar a solução para todos os problemas.
De fato, as grandes potencialidades da técnica foram usadas
sem a referência a uma idéia adequada do homem, da sua dignidade e das suas
exigências, terminam por fugir ao controle para se tornar instrumento de
dominação, que submete a pessoa a forças impessoais. Horkheimer afirmou que a
máquina tomou o lugar do condutor e corre sem guia pelo espaço. Quanto mais o
indivíduo se preocupa em obter um poder sobre as coisas, tanto mais as coisas o
dominam: o ter é se substitui ao ser, as coisas mensuráveis e controláveis à
pessoa e ao seu mistério.
ÉTICA: MEIOS E FINS
Estabelecida a lógica do ter sobre a do ser, não existe a
possibilidade de u’a moralidade em sentido exato, reconhecimento e atenção ao
fim, ao bem, e se torna normal pensar que tudo aquilo que é útil e tecnicamente
possível seja, automaticamente, bom e lícito.
Sob esta base, no campo médico, onde os desenvolvimentos são
bastante velozes, é inevitável que, na utilização das tecnologias mais avançadas
, os interesses imediatos de cada paciente e sobretudo dos grandes grupos
financeiros, prevaleçam sobre valores de fundo, como o respeito pela vida de
todos. O risco da prevalência dos meios sobre os fins se refere não só à
bioética, mas a todos os campos da moral. Particularmente é inquietante sua
incidência sobre o equilíbrio profundo da pessoa, que se arrisca de perder,
progressivamente, o sentido de um absoluto capaz de dar unidade a uma vida.
A idéia de que com o dinheiro, com o bem-estar e a satisfação
de desejos imediatos, se possam resolver todos os problemas do homem, a sua
procura interminável de felicidade, como as suas angústias e suas incoerências,
cria expectativas irrealizáveis, que tiram a responsabilidade da pessoa e que a
levam, mais tempo ou menos tempo, à desilusão.
Quando a solução dos problemas da pessoa é limitada apenas
por instrumentos técnicos, antes ou depois se vai ao encontro de uma grande
frustração. É o que acontece, por exemplo, com o problema da tóxico-dependência
distribuindo metadona, esquecendo os problemas da pessoa tóxico-dependente e de
todos aqueles que se arriscam de se tornar.
A tensão para o absoluto, que torna inquieto o coração do
homem, só pode encontrar resposta em uma esperança que vá além de qualquer realidade
particular. Se se quer sufocá-la, a inquietação do desejo encontrará saídas
alternativas das mais variadas, em coisas que escravizam o homem, na fuga da
realidade com drogas ou com a violência ou, mais frequentemente, em drogas
conciliáveis com a vida burguesa como o dinheiro, o poder, as modas do
momento.
Diminuindo a referência a um fim transcendente, o sentido
ético perde a sua consistência, arriscando a reduzir-se a um moralismo
inconsequente, que atrapalha a tomada de consciência do próprio comprometimento
nas contradições da sociedade. Evita-se tocar nas raízes do mal, procurando
bodes expiatórios para a situação. Sob esta ótica, diante de fatos alarmantes
como a difusão das drogas, da AIDS, de novas formas de delinquência, a
preocupação dominante tende a se tornar aquela de defender o próprio espaço,
suposto seguro de todos estes riscos.
A periculosidade desta situação é mostrada bastante. U.
Galimberti, por exemplo, volta muitas vezes para o tema da técnica, que não
reconhece como limite nem a natureza, nem Deus, nem o homem, mas apenas a
situação dos resultados conseguidos. Ela não promove um sentido, não redime,
não revela a verdade. O mesmo autor observa como na “aldeia global”, onde
qualquer diferença é escondida, a pessoa concreta, reduzida a unidade
intercambiável no anonimato da cidade, onde o que vale é o dinheiro e o
sucesso, desorientada frente a uma pluralidade de propostas, que não tem
instrumentos para avaliar, arrisca-se em não ser capaz de realizar uma escolha
autônoma de valores ou, reagindo, de cair no fundamentalismo de uma defesa da
própria identidade cultural ou religiosa sentida como ameaçada. A consequência
é que a capacidade de agir supera aquela de pensar. Sua cultura é manipulada
porque nega-se a liberdade de pensamento.
ÉTICA E SENTIDO
É urgente colocar-se a questão se a ética está em condições
de contestar ou ao menos de orientar com eficácia a lógica do pensamento
instrumental, de uma produção bastante em si, de propor pontos de aproximação
sobre o modo de regular a convivência em um mundo multicultural.
A posição de quem, como Galimberti, que considera ineficaz a
exigência da autoridade das normas frente ao poder da economia e dos
instrumentos da formação do consenso, e vê a necessidade de analisar os
problemas que de tempos em tempos se apresentam, em um contexto de tolerância e
respeito da legalidade. É preciso recordar que a exigência pura de um ideal é
frágil e que, para criar condições de um crescimento efetivo, deve ser
acompanhado de uma adequada análise dos dados. Ao contrário, se se quiser
contrapor à lógica utilitarística a consideração do bem efetivo do homem, e
conservar em certa medida a liberdade frente à pressão dos condicionamentos,
são batalhas perdidas desde o início, pois o círculo vicioso do útil se torna
um círculo sem saída.
Para conseguir esta liberdade não basta a simples lembrança
de uma norma, na direção do formalismo do “dever pelo dever” de Kant, mas é
necessária uma instância axiológica incondicionada, um fim que pode ser querido
absolutamente porque se revelou o único capaz de responder às exigências
humanas de fundo, de convencer a mente e mover o coração, de infundir uma
esperança capaz de resistir aos desmentidos da vida.
É esta esperança que torna possível uma conversão que não é
angústia por sentido de culpa inconsciente, mas descoberta capaz de dar à
existência no seu conjunto um sentido e uma direção unitária, além da lógica do
ter e dos interesses imediatos. Esta escolha de um sentido e de um valor
último, é além do mais a condição que permite estabelecer com todos aquela
relação de diálogo que se revela indispensável em um mundo multicultural.
Em um mundo caracterizado por uma grave desorientação no
plano dos fins, a primeira função da ética é transmitir uma força capaz de
transformar a pessoa, abrindo-a ao mistério do outro. Quando no centro da ética
não se coloca o outro mas a defesa narcisística da imagem de si, se constróem
atitudes profundamente não idênticas.
A auto-suficiência de quem não quer reconhecer a verdade dos
próprios limites e incoerências, não entregando-se à esperança, é a essência
última do erro. É a busca de segurança em si mesmo, nos próprios ídolos, nas
racionalizações com as quais se quer dar a todo custo uma boa justificação. O
discurso vale tanto para o libertino, que fundamenta a sua segurança na recusa
de qualquer lei, e vale também para o formalista, que conta vantagem de uma
observância rigorosa, prescindindo da verdade da relação com o outro, que é o
verdadeiro sentido e escopo da lei.
A lei, indicação formal daquilo que é bom, não move a
vontade, não muda o coração, não torna o homem capaz de fazer o bem, e nem
mesmo de escolher e assumir livremente os valores e as normas. É, porém,
indispensável enquanto coloca o homem frente à sua verdade e aos seus limites.
Somente com uma nova perspectiva é que se torna possível u’a mudança, que não
nasce de uma imposição, mas é fruto da conversão do coração, da descoberta
daquilo que responde efetivamente às exigências mais profundas do homem. Só
saindo de si mesmo e lançando-se à gratuidade do amor é possível encontrar o
caminho da realização de si.
Em um mundo que se encontra em uma difícil passagem
cultural, rico de instrumentos mas privado da prospectiva de um fim, capaz de
recompor em uma unidade a sua fragmentação de propostas e de contrapropostas de
regionalismos e fundamentalismos. No atual impasse de um utilitarismo fechado
no ter é necessária uma reação profética, um anúncio de esperança de um sentido
que não é possuído mas oferecido ao homem e lhe permita instituir uma
hierarquia de valores entre as diversas realidades do seu mundo.
A pesquisa é a alma da ciência. As tentativas, as hipóteses,
as experimentações e as verificações são os instrumentos usuais com os quais o
médico desenvolve a sua prática profissional.
A complexidade e a riqueza do organismo humano, a
complexidade e a riqueza de cada expressão do fenômeno vida são tais que não
consentem um conhecimento exaustivo, completo, dado uma vez para sempre e
mediante o qual está em condição de entender todo o comportamento normal ou
patológico do corpo humano. As conexões que resultam sempre mais numerosas e
implicantes, as ligações que o mundo corpóreo humano tem com o universo
inteiro, no intercâmbio substancial entre o microcosmo e o macrocosmo, tudo
isto, unido à vontade de saber, de compreender e de modificar, que é típica do
homem, coloca a necessidade de pesquisa em primeiro lugar e a mostra como meio
essencial de conhecimento.
O que é novo, na época contemporânea não é tanto esta
consciência de procurar sempre respostas novas a perguntas emergentes, quanto o
de verificar se os objetivos da pesquisa foram colocados. De um procurar que
tinha por objeto o dado de fato, muitas vezes tratado na sua condição
patológica que deve ser colocada sob terapia, hoje se vai passando a determinar
como objeto de pesquisa aquilo que de mais íntimo o homem tem, isto é, a sua
determinação humana, a modalidade específica do seu ser no mundo, em uma
palavra, a sua natureza.
O progresso das ciências biológicas e o crescimento de
disponibilidades de instrumentos de análise colocam hoje o homem não só em
condição de observar, mas também de examinar a própria vida. Cai, de alguma
forma, o muro que escondia o mistério. A vida se torna livro aberto cujas
páginas são sempre mais claramente compreensíveis.
O positivismo, como atitude filosófica e cultural,
contribuiu muito para fazer a medicina sair de uma condição de adolescente,
empírica mas pouco científica. O resultado foi o de tirar o cuidado da saúde e
intervenções ditadas mais por pré-compreensões ideológicas, algumas vezes até
mágicas, do que de conhecimentos científicos apropriados. Crescendo a medicina
como ciência, o centro de atenção mudou, levando em consideração o único dado
positivo e real à disposição: o corpo.
O desenvolvimento das ciências médicas consentiu uma
pesquisa sempre mais detalhada do corpo e de seus componentes, deixando passar
uma repartição setorial deste, a fim de observar cada canto e explorar cada
meandro do seu mistério. Surgiu u’a medicina altamente especializada que
colocou em crise não só velhos critérios de estudo, mas também das próprias
estruturas sanitárias.
A concentração sobre o corpo, sobre a sua conduta e seu
funcionamento que o tipificam, fez com que muitos cientistas reduzissem o homem
a mero mecanismo biológico. Surgiram assim uma pesquisa e uma prática médica
que acreditavam que o corpóreo e a sua mecânica fossem o objeto adequado da
própria obra. O mecanicismo em biologia e em medicina foi a grande bandeira sob a égide do qual se desenvolveram as
empresas mais significativas e importantes do século XX, tanto no campo da
diagnose, como naquele da terapêutica.
Mas a insídia escondida sob os rompantes entusiasmados do
progresso se revelou em pouco tempo. Não faltou gente na época que protestou e
alertou frente à tendência reducionista mecanicista, em vista de um novo
caminho tido por necessário.
Uma ou outra pessoa reagiu contra os abusos perpetrados por
médicos, que nos campos de concentração nazistas submeteram seres humanos a
experiências desumanas e realizaram programas de eutanásia ofensivas à
dignidade humana. A opção de tais médicos nada mais é do que o resultado da
formação que receberam: ver no homem apenas um objeto a administrar, nada mais
do que u’a máquina para fazer funcionar ou fazer parar.
ÉTICA E PESQUISA MÉDICA
O reducionismo mecanicístico pode produzir uma separação da
pessoa humana, repropondo por um outro caminho a concepção dualística do homem
composto de alma e corpo, típica da filosofia helenística. A alma privilegiava
o elemento espiritual, ocultando o valor do corpo. Este exalta a corporeidade
em seu aspecto biológico, ocultando as dimensões do espírito.
O efeito é o mesmo, se bem que as variáveis sejam
diferentes. O homem perde a sua totalidade, despedaça a sua unidade e arruina a
sua peculiaridade. Pode-se dizer que o homem como pessoa é excluído do campo da
pesquisa e da cura. Ele é deixado fora da porta do laboratório e do hospital.
Apenas entram o seu corpo, os seus órgãos as suas funções biológicas.
Uma vitória sobre a escravidão do mecanicismo só pode ser
obtida mediante uma transformação da pesquisa. A necessidade de uma nova
tipologia da pesquisa leva à hipótese de u’a medicina antropológica.
“Introduzir o sujeito na biologia”, “medicina voltada ao doente”, “humanizar a
medicina”, são estas as pistas paralelas e convergentes de um caminho que
conduz à compreensão do homem, em sua unidade e totalidade, como centro,
sujeito e critério de cada pesquisa.
Uma pesquisa para o homem. Esta é a grandeza de um discurso
ético. Não se pode negar que sempre a pesquisa e a prática em medicina tenham
sido sustentadas por uma preocupação ética fundamental e intrínseca. O homem, a
sua natureza, a sua vida e a sua saúde eram entendidos como bens a salvaguardar
e proteger. A ética médica era a ciência que ditava os comportamentos concretos
para a salvaguarda e a defesa da vida. O “ethos” da profissão médica era, antes
de tudo, um “ethos” de controle, de vigilância sobre as fronteiras que não
deviam ser ultrapassadas, ou até de freios que deveriam ser acionados.
Muita importância, em tal quadro de valores, era atribuída à
consideração dos meios empregados, da sua taxa de risco, calculada isoladamente
do que em relação ao conjunto. O juízo ético sobre uma prática de pesquisa ou
de terapia era formulado com os critérios com que se chama hoje de “ética
deontológica”. A bondade da ação era tirada da própria ação, vista na sua
objetividade materializada.
Os limites de tal impostação se tornam ainda mais vistosos
se e quando esta produz juízos éticos que colocam na sombra, ou algumas vezes
negam o mundo complexo, suas intenções, dos seus móbeis e das finalidades que
este se propõe.
A reviravolta antropológica, que a partir do existencialismo
colocou o homem e o seu viver concreto no centro de toda a consideração,
contribui para criar novas fronteiras e para criar novos espaços para a
intervenção e valorização ética, também no campo biomédico.
Introduzir o sujeito na biologia implica uma dupla realidade.
Significa tratar o ser sobre o qual e pelo qual se faz pesquisa e terapia como
sujeito tipicamente humano, reconhecendo-lhe dignidade e respeito. Mas pode
significar, também, em uma linguagem mais ampla, colocar-se na pesquisa
biológica com intenções, atitudes e qualidades substanciais de pessoa humana.
Ser sujeito da pesquisa, ser protagonista como pessoa, termina por atribuir a
necessidade intrínseca de dar uma validade ética à própria obra. E esta
dimensão ética não é definível se não em relação ao sujeito, às suas intenções
e aos seus fins.
Tomás de Aquino (S. Th. I – II, 20, 2c) afirma que a bondade
ética é fruto de quatro elementos: o sujeito que age, a ação produzida, o fim a
atingir e as circunstâncias que interferem. A contemporaneidade de cada um dos
elementos, autônomos mas convergentes, permite a recuperação do sujeito que age
com a responsabilidade e a densidade do seu ser pessoa e, ao mesmo tempo, pela
finalidade que dá valor e qualidade a uma ação. A instância ética é algo a mais
que um simples controle. Colocando em questão a honestidade do sujeito e as
finalidades positivas que ele se propõe, a dimensão ética constitui um convite
e estímulo ao desenvolvimento pleno e
harmônico da pessoa, à comunhão entre homens e mulheres, à responsabilidades
diante do cosmo, ao inserimento consciente na História.
ÉTICA DA RESPONSABILIDADE E PESQUISA BIOMÉDICA
A bondade ética é processo. É caminho para a perfeição, para
a harmonia. É relação. É tensão na participação e no crescimento da comunhão,
na qual a pessoas se tornam elas mesmas e, em conjunto, todas formam a família
humana.
A ética da pesquisa biomédica é, antes de mais nada, ética
da responsabilidade com relação à humanidade do homem e da família humana.
Ética da responsabilidade com relação à História e ao seu futuro. Ética da
responsabilidade com relação ao cosmo e ao seu equilíbrio. Para compreender em
profundidade a ética da pesquisa é preciso ter presente uma atenção à pesquisa
da ética.
O que se quer dizer é que nas preocupações do biólogo e do
médico, como de qualquer cientista, deve existir em primeiro plano a pesquisa
constante da dimensão ética, que consiste na responsabilidade. Tudo isto pode
ser condensado na imagem de uma ética que, em vez de trincheira delimitadora, é
vista como reservatório de significados.
A ética da pesquisa biomédica deve trilhar este caminho que
constitui hoje a única forma de legitimar a sua existência e o seu avançar. Uma
pesquisa para o homem deve concorrer para a construção do bem humano, para
aquela parte que constitui o seu campo específico. Mas o bem humano se constrói
não através de objetivos pragmáticos e ocasionais, mas através de um
investimento amplo e articulado das diversas potencialidades disponíveis.
Ética da responsabilidade na pesquisa poderá acompanhar o
cientista em cada fase de seu procedimento: o ajudará a esclarecer melhor os
pontos de partida de onde sai e os pontos de chegada para onde vai. Poderá
ainda fornecer o sentido de orientação de cada caminho de experimentação, que
deve ser pensado, cumprido e orientado na prospectiva do dom de si e das
próprias capacidades para o bem da pessoa e da comunidade humana, afim de que a
pessoa e a comunidade cresçam na consciência da própria dignidade de seres
inteligentes, livres e solidários.
Algumas vezes a ética da responsabilidade na pesquisa poderá
também sugerir a parada no caminho que, em vez de levar a u’a melhoria
qualitativa da pessoa e da comunidade, busca a vontade de poder de sucesso e de
prestígio. Estes limites, entretanto, antes de ser denunciados pelo poder
político e regulamentados pelo legislativo, deveriam ser analisados
interiormente pela própria pessoa e pela equipe que se aplica à pesquisa. Os
seus motivos não podem ser ditados pelo fechamento ao novo ou pelo medo do
desconhecido, mas deveriam ser inspirados pelo respeito da dignidade da pessoa
humana que é um ser dinâmico.
A responsabilidade da pesquisa desenvolve uma exigência
altamente educativa, por meio da qual os pesquisadores se sentem chamados a uma
consciência e constante indagação prudencial daquilo que pode verdadeiramente
concorrer ao bem do homem, ao crescimento do seu sentido humano, mais do que ao
aumento de seus bens.
O problema da qualidade de vida é um dos temas mais tratados
na cultura hodierna. A solicitação do cuidado da saúde atribuiu a cada homem e
a cada categoria profissional uma grande responsabilidade com relação à vida,
que hoje não é mais objeto da ciência médica, mas de cada uma das ciências, de
cada um dos pensamentos e de cada uma das ações.
O agrônomo, o dentista, o engenheiro, o advogado, o técnico,
o médico, o político, todos os homens são provocados, cada um a seu modo, a
levar a sério o bem fundamental que é a vida e fazê-la crescer sob os diversos
aspectos. O homem e a sua vida são objeto de atenção de cada ciência particular
e de cada disciplina em sua especificidade. Mas por nenhuma delas pode ser
compreendida de maneira exaustiva e total. Entretanto, o homem não pode sofrer
uma separação que o diminui e ofende.
Poderá ajudar, com distinções oportunas, quando se deva
falar de progresso científico e quando de progresso tecnológico. As
consequências das duas preocupações são diversificadas: o tecnológico é
essencialmente voltado ao ter, enquanto o científico ao ser.
ÉTICA, PESQUISA E BEM DA HUMANIDADE
A pesquisa no campo da biologia humana tem por objeto a vida
do homem, mas no sentido de respeito da totalidade. Existem grandes
possibilidades de intervenção no código genético humano, para modificações
tanto terapêuticas como modificativas. A pergunta inquietante que hoje se
levanta é sobre a legitimidade de tais intervenções delicadas, podendo só
receber uma resposta adequada de pessoas que não reduzam o homem a mera
quantidade.
Não ama o bem humano e da humanidade do homem quem quer
manipular a herança genética para desenvolver nele os elementos que incentivam
a capacidade de produção, a capacidade agressiva, a vontade de domínio e de
propriedade. O homem não se define por aquilo que tem, pelos bens que possui,
pelas coisas que pode produzir, pela força que pode exercitar. O homem se
define por aquilo que é, pelo bem que está em grau de desejar, de dividir e de
promover. Pelos valores de solidariedade e de doação que pode realizar.
Quem pesquisa ou, como se diz, quem trabalha no campo da
engenharia genética, tem o dever fundamental de mostrar a que idéia de homem
ele se refere e inspira. Se ele tiver uma imagem antropológica privada de sua
totalidade, reduzida apenas ao homem do fazer e do ter, mais do que do ser,
então há que se ter preocupação com o rumo que a pesquisa trilhará.
Fazer crescer o homem em liberdade e dignidade será possível
também, no futuro, através de engenharia genética. Este futuro da humanidade é
bem vindo pois fará com que ela dê um salto qualitativo muito grande.
A vida, objeto da pesquisa médica, é vida do homem em sua
plenitude. Uma vida segundo a qualidade tipicamente humana que se define não
tanto pelo funcionamento correto da máquina biocorpórea, quanto pela capacidade
de aceitar-se como pessoa e pela vontade de melhorar a própria existência e a
do outro. Aqui o homem se reconhece como cruzamento vital de dimensões
múltiplas, as quais, apenas quando presentes ao mesmo tempo, garantem verdade e
dignidade à sua vida. Servir a vida quer dizer servir o homem no seu
desenvolvimento integral, no crescimento de sua qualidade humana, feita de
alegria de existir, gratidão pela vida recebida como dom, responsabilidade pelo
ambiente, solidariedade com os homens, abertura ao cosmo, ao ser.
A este tipo de totalidade, que pode ser chamada de
intrínseca à pessoa, verifica-se um outro tipo de totalidade que faz referência
à família humana. O destino do homem sobre a terra só pode ser compreendido
integralmente na sua dimensão planetária. O homem é um todo que misteriosamente
se torna parte de uma totalidade que o circunda e o transcende, e que é a
humanidade inteira. O bem de cada um e o bem da humanidade não são duas
realidades que se excluem ou que se contradigam. Na verdade se trata de um
único bem que apenas por motivos patológicos pode dividir-se e colocar em
conflito as partes.
A pesquisa no campo da vida humana é sempre a pesquisa do
bem para toda a humanidade. Os profundos desequilíbrios econômicos, sociais e
culturais transmitem a imagem de um mundo dilacerado, onde estabelecem rachaduras,
criando a linha de separação entre o Norte e o Sul, entre a opulência e a
ameaça para a sobrevivência, entre o desperdício e a privação.
Uma pesquisa ao serviço da vida não pode criar um álibi e
estabelecer barreiras protetoras frente aos grandes problemas que surgem das
diferenças sócio-econômicas. Promover a vida não é só promover toda a vida, mas
também promover cada vida. A seu modo, também a pesquisa biomédica deve
concorrer para a superação da divisão do mundo entre o Norte e o Sul, que
ofende o homem e mata a humanidade, quem sabe mais do que as guerras, que
também destroem.
ÉTICA, PESQUISA E SABEDORIA
Uma ética da responsabilidade deve saber encontrar
equilíbrio na repartição dos recursos destinados à pesquisa e à melhoria das
mais diversas situações de vida da família humana.
Não se pode permanecer surdo aos gritos de protesto e aos
pedidos de ajuda dos povos explorados e abandonados em condições indignas do
homem e, depois aplicar energia e capitais em projetos que tem pouca relevância
social e menor prioridade. Também aqui não se deve esperar ou exigir a ação ou
a vigilância dos organismos internacionais existentes. É preciso, antes de mais
nada, a consciência de ser um humano em escala planetária.
Se são numerosos os males dos quais parece sofrer a
humanidade contemporânea, entretanto numerosos podem e devem ser os remédios
propostos. Todos voltam para a sua raiz que é o homem, o seu coração, a sua
disponibilidade para o bem, o seu empenho para uma verdadeira e plena
humanização.
O homem é a medicina para o homem. Compreender a validade
terapêutica e humanizante que está em cada ser humano só pode romper com o
imobilismo que tenta invadir a pessoa, quando aparecem os grandes problemas
humanos. Não pode não suscitar em mulheres e homens de boa vontade as energias
mais escondidas mas mais atraentes, para dar um futuro diferente à humanidade,
tanto para libertá-la das divisões e da catástrofe total, quanto pelo abuso do
equilíbrio no ecossistema.
Procurar a vida, promovê-la, ajudá-la a reproduzir-se, são
todas expressões da grande função da ciência, e que a humanidade tem entre as
mãos. Mas é exigível uma grande sabedoria. A exclusão da sabedoria na economia,
na ciência e na tecnologia foi uma coisa que o homem até podia permitir-se,
quando os seus sucessos em tais campos eram muito relativos. Entretanto hoje,
que ele obteve bons resultados, o problema do sentido e da ética ocupa a
posição central.
Uma reflexão que se inspire na ciência e na sabedoria da
comunidade científica mundial deve iluminar a humanidade sobre as consequências
da pesquisa científica e, especialmente, aquela que se refere ao homem, afim de
que, de uma parte sobre posições anticulturais que retardam o progresso da
humanidade e, de outra parte, não se ofenda aquilo que o homem tem de mais
precioso, ou seja, a dignidade da sua pessoa, destinado a um progresso na
unidade de seu ser físico, intelectual e psíquico.
O pesquisador que ama a humanidade do homem não esconde os
riscos e enganos aos quais estão expostos a pesquisa e progresso. A primeira
inquietação é se o progresso torna a vida mais humana, mais digna do homem.
Nenhum limite, nenhum tabu deve existir para a pesquisa
quando esta é direcionada pelo respeito das condições humanas de existência,
diante dos quais o biólogo, o médico e o cientista devem colocar-se à escuta
das inspirações do bem que brotam da consciência e que se originam do diálogo
interdisciplinar com qualquer um que diga uma palavra a mais para entender o
mistério do homem.
Estes são os desafios e as responsabilidades com os quais se
deve medir a pesquisa hoje. Cabe compreender que a pesquisa estimula a
compreensão do mundo, estimulando-a e abrindo-a a horizontes cósmicos e humanos
globais.
Os cientistas tem a responsabilidade de realizar a síntese
harmoniosa entre a ciência e a visão prudencial do mundo, garantindo uma
finalidade humana para a pesquisa.
O despertar crescente de interesse pelo problema ético afeta
sempre mais numerosos campos da vida humana, da política à economia, da
genética à ecologia, das pesquisas sobre a inteligência artificial aos
problemas jurídicos da informática. A ética tradicional é de toda inadequada
para resolver alguns dos problemas complexos que são colocados pelo
desenvolvimento da tecnologia e dos progressos no campo médico, biológico,
cibernético, informático...
A sociedade contemporânea se encontra frente a uma questão
que jamais como agora foi colocada com tal urgência e dramaticidade. Trata-se
da escolha entre o desenvolvimento incondicionado da pesquisa científica e de
implementar todas as possibilidades que esta comporta, ou a limitação das
aplicações no campo tecnológico, genético, informático, por motivos de defesa
ambiental, de utilização correta dos recursos naturais, de respeito pelas
tradições culturais de diversos povos, de atenção à dignidade do homem e de
cautela frente a eventuais formas de manipulação do indivíduo e da espécie.
Naturalmente que se coloca o problema de ver quem tem
autoridade e a competência para estabelecer os códigos de comportamento correto,
com relação aos encaminhamentos e às metodologias da pesquisa científica e das
aplicações relativas, como também para garantir os controles necessários.
O crescimento do conhecimento sempre foi visto como um
valor, que deve ser promovido e favorecido de qualquer maneira. O crescimento
do conhecimento científico, de uma forma geral, não pode fugir desta regra. A
ciência não é uma forma de conhecimento objetivo e neutro. Esta afirmação é
fruto da crítica da ideologia cientificista e positivista que caracterizou o
desenvolvimento da sociedade na época moderna, e quer recordar que existe uma
estreita relação entre os métodos com os quais são conduzidas as pesquisas
científicas e os escopos ou utilizações que seguem delas.
Não se coloca em discussão o conteúdo particular de cada lei
científica, mas o contexto no qual tal conteúdo é interpretado e no qual são
legitimadas as aplicações particulares. A ciência não é, pois, em formalismo
abstrato, rigoroso em seus métodos justamente porque desligado de qualquer
consideração de caráter humano. Ela sempre se coloca mais como parte de um
saber realizado em razão da exigência humana geral e universal. Coloca-se então
a pergunta sobre a qualidade e a natureza das relações entre ciência e ética.
Relações que a crise ambiental e os riscos da manipulação genética chamaram em
causa.
A ecologia é hoje um assunto da moda, mas pouco se fez para
a defesa do ambiente e para a pesquisa de um modelo de desenvolvimento
econômico e industrial respeitoso da natureza e dos seus equilíbrios. Este
atraso é devido não só à responsabilidade dos governantes e dos técnicos, mas
também de cada pessoa, enquanto com o seu estilo de vida consumístico,
contribui para sustentar um sistema econômico que desperdiça os recursos, em
vez de administrá-los e recitá-los de modo natural.
Na pesquisa o que é essencial é a harmonia com a natureza,
entendida como realidade entregue à guarda do homem, pela qual ele tem
responsabilidade perante as futuras gerações. O desenvolvimento, a vontade de
planificação que o governa, o uso dos recursos e a maneira de utilizá-los não
podem ser separados do respeito pelas exigências éticas. Uma destas impõe
limites ao uso da natureza. O domínio dado ao homem não é um poder absoluto,
nem se pode falar em liberdade de “usar e abusar “ ou de dispor das coisas como
melhor lhe agradar.
CIÊNCIA E ÉTICA: DESENVOLVIMENTO CONTEMPORÂNEO
O instrumento que deveria consentir a compreensão da
realidade natural com o fim de utilizá-la de modo equilibrado e ordenado é a
ciência. na realidade, o desenvolvimento da ciência e da técnica criou uma
série de problemas (questão ambiental, desequilíbrios norte-sul, crise das
culturas tradicionais, esgotamento e sabedoria nem sempre coincidem.
Os desenvolvimentos da pesquisa científica nestes últimos
decênios mostraram progressivamente como a imagem positivista e mecanicista
fosse de todo inadequada, colocando também em evidência que a natureza não é um
sistema estacionário regido por poucas leis simples e facilmente conhecidas.
Em particular, a natureza não é um sistema reversível em
confronto com os sistemas simples que se estudam em mecânica. Qualquer
intervenção humana sobre a natureza deverá, portanto, levar em conta esta
complexidade e irreversibilidade, enquanto não é possível remediar os danos
provocados por qualquer intervenção humana sobre o ambiente, com a intervenção
de um sinal oposto. Existem limites além dos quais o sistema sofre modificações
irreversíveis, no sentido em que o nível de envenenamento e o grau de exploração
dos recursos de um ambiente natural apresentam valores de início além dos quais
não é possível chegar sem comprometer de modo definitivo a possibilidade de
sobrevivência do próprio ambiente.
Não se pretende aprovar um certo catastrofismo ecológico que
está em moda em determinados ambientes, e que se arrisca a criar apenas
confusão, sem chegar a esclarecer indicações sobre o estado real do problema e
os oportunos remédios. A insistência sobre o medo da catástrofe e sobre o dever
de sobrevivência não servem para esclarecer o resultado real no plano
cognoscitivo e sobre o ético do problema. A ética não se fundamenta sobre o
negativo, sobre o medo, mas sobre o positivo, sobre os fins determinados a
realizar, e estes fins estão inscritos na natureza do homem.
A ciência contemporânea colocou em evidência que o mundo não
é constituído de um conjunto de coisas, mas de um conjunto de fenômenos
interagentes. Isso aparece, pois, como um processo em que a matéria e a energia
se transformam continuamente, no qual a vida pulsa em todas as suas
manifestações e no qual o homem, com a sua inteligência criadora, realiza novos
horizontes ou possibilidades para a sua existência. Todos os sistemas
conhecidos, dos sistemas físicos àqueles sócio-econômicos, seriam constituídos
de partículas que se associam e se combinam, em razão de acontecimentos que
fazem surgir novas propriedades da combinação de elementos, que sozinhos não
dispunham de tais propriedades.
Compreende-se assim a importância assumida pela teoria geral
dos sistemas como ciência que tende a dar um enquadramento e uma caracterização
rigorosa a conceitos como o de finalidade, funcionalidade, estrutura
hierarquizada, totalidade ordenada, organismo, desenvolvimento, que são
fundamentais para compreender o comportamento de muitos processos em campos
como o das ciências biológicas, das ciências humanas, das ciências sociais.
Tais conceitos não são uma sobrevivência “metafísica” e aparecem irredutíveis
aos conceitos tradicionais das ciências químico-físicas, ou seja, aos conceitos
de quantidade, causalidade e ação recíproca.
A termodinâmica clássica, condicionada por tecnologias
ligadas aos problemas energéticos colocados pela revolução industrial e pelo
desenvolvimento das primeiras máquinas a vapor, é orientada a encontrar um
enquadramento dos fenômenos físicos dentro de esquemas teóricos lineares. Por
isso essa se limitava ao estudo de sistemas próximos ao equilíbrio
termodinâmico, isto é, sistema fechado, ideais, para os quais o estado final é
o de mínima turbulência, ou seja, de máxima homogeneidade, que corresponde à
perda de qualquer conteúdo de informação.
CIÊNCIA E ÉTICA: UNIVERSO, NATUREZA E HISTÓRIA
Sistemas longe do equilíbrio termodinâmico têm um
comportamento não linear, que pode dar lugar ao aparecimento de reações
químicas que se comportam de maneira rítmica e coerente, como também à formação
de processos de auto-organização que dão lugar a estruturas altamente não
homogêneas, caracterizadas por um aumento de informação. Acontecem reações que
levam o sistema de um estado menos ordenado a um mais ordenado.
Pode-se falar de uma nova coerência, de um mecanismo de
comunicação entre as moléculas. É interessante que tal tipo de comunicação
parece ser a regra do mundo da biologia. Talvez é a base verdadeira e própria
da definição do sistema biológico como um todo. Começa-se a ver como, partindo
da química, pode-se construir estruturas complexas, formas complexas, algumas
das quais podem ter sido percorridas pela vida. O que parece certo é que estes
fenômenos que acontecem longe do equilíbrio ilustram uma propriedade
surpreendente e essencial da matéria: pode-se dizer que as estruturas se
adaptam às condições externas, como um tipo de mecanismo de adaptação
pré-biológico.
Em condições de afastamento do equilíbrio termodinâmico, a
matéria parece ser muito sensível às condições do mundo externo, pode reagir
com grandes variações a pequenas causas, pode dar lugar a bifurcações. Na
proximidade dos pontos de bifurcação é impossível prever com certeza qual ramal
o sistema escolherá cada vez e para qual estado final se dirigirá.
Compreende-se pois o liame com a teoria da informação. As ciências naturais e
as sociais apresentam “inícios”, ou efeitos de “gatilho”, que desencadeiam
processos não compatíveis com a exiguidade das causas. Estes efeitos de início
ligados a problemáticas da instabilidade e de bifurcações, explicam como a
informação, que pode ser considerada como uma pequena quantidade de energia,
está em grau de produzir grandes efeitos se utilizada de modo oportuno.
Parece correto afirmar que a matéria, desde a origem do
universo, está se transformando, se tornou a base de cada complexidade
crescente, e neste processo começou aprender a incorporar e a transmitir
informação. A velha dicotomia ente espírito e matéria não se supera se não se
reconhecer à matéria um estatuto muito particular, aquele de ser veículo de
qualquer coisa “imaterial”, a informação. A matéria decai e se renova, mas o
que permanece é a informação que nos simples agregados de moléculas tem a sua primeira
natureza: é memória do forma.
Enquanto cada estrutura física, quer se trate de galáxias,
de estrelas, de homens, se transforma e se separa, permanece e aumenta
constantemente a informação que as bases materiais transportaram. O que é
chamado de matéria e quem sabe apenas a origem de uma informação em contínuo
crescimento. Isto implica um grande aumento de significado na História do
universo.
As leis da mecânica clássica tem um caráter determinístico e
são invariáveis com relação ao tempo. Tudo isto favoreceu a idéia de um
perfeita controlabilidade do sistema físico e de uma ilimitada possibilidade de
manipulação e de transformação da realidade natural. Esta ilusão diminuiu
quando a ciência descobriu a complexidade da realidade da natureza e as numerosas
relações que existem entre os diversos níveis sobre o qual se estrutura a
própria realidade.
A idéia de que muitos processos físicos sejam irreversíveis,
que a muitos destes esteja associado um aumento de informação local, que cada
evento pode desencadear efeitos de gatilho, parece indicar que o homem está
imerso em uma História evolutiva que tem uma escala cósmica. Tal História não é
fruto do “acaso” e da necessidade, mas tem caracteres de unicidade e de
irrepetibilidade, é continuamente aberta à novidade e à emergência de
estruturas mais complexas, às quais correspondem potencialidades mais amplas.
CIÊNCIA E ÉTICA: PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO
O caráter de historicidade e de irrepetibilidade do universo
constitui a base para uma reflexão de caráter ético, que no âmbito da ciência
clássica parecia de todo impossível. As ações humanas tem um caráter ético
porque não obedecem a simples esquemas de causalidade linear, mas podem influir
de modo diferente sobre o curso dos acontecimentos, determinando ao menos em
parte a estrutura da sociedade e as condições de vida das gerações futuras.
As ações humanas não se inscrevem simplesmente no quadro do
mundo, mas criam o mundo e podem influir de modo decisivo no curso da História.
A realidade, seja aquela natural seja aquela histórico-social, não é uma
estrutura para atingir livremente para a satisfação egoística das necessidades
humanas, mas um sistema de inter-relações em cujo interior os homens estão
inseridos e que devem contribuir para defender e desenvolver de modo correto.
Uma das característica do psiquismo humano consistiria na
perda de certos comportamentos inatos, fixados no DNA, que seria compensada
pelo aumento da comunicação e das relações sociais, com um maior
desenvolvimento do adquirido, a partir ainda da primeira infância. O homem no
início da sua História sofreu como cada outro animal a lei da evolução
biológica, mas a partir de quando deixou de lado os automatismos esclerosados e
se beneficiou das primeiras tradições, participou ativamente de sua evolução.
Ele é o único ser vivo que foi, com certeza, parcialmente
artesão de si mesmo. Daí resulta evidente a importância da cultura, que
constituiria o prolongamento direto da evolução biológica e cósmica, e estaria
ligada ao desenvolvimento da comunicação e da cooperação no interior das
comunidades humanas.
O desenvolvimento cultural humano seria determinado pela
cooperação além da competição. A cultura é a mente de grupo do “homo sapiens” e
depende da cooperação. Parece que existe uma estreita ligação entre a ética e
as condições de desenvolvimento da sociedade, entre a definição de valores ou
de finalidade a ser buscada no âmbito dos grupos sociais e as capacidades dos
próprios grupos de desenvolver relações corretas, tanto no próprio interior
como nos confrontos do mundo externo.
Deve-se recordar a tal propósito que a epistemologia
contemporânea reconheceu o papel fundamental desenvolvido pelo sistema de
valores, ou visão de mundo, adotado por uma comunidade, cuja função parece ser
aquela de permitir a um determinado grupo de dar sentido à atividade do seu mundo externo, dedicando uma atenção
seletiva ao próprio ambiente, e reduzindo pois, em termos de exigência do
grupo, a quantidade de informação a elaborar. O próprio conhecimento científico
aparece como um possível modo de interpretar a realidade, e é no âmbito das
ciências humanas que o momento hermenêutico se torna dominante com relação
àquele explicativo.
A preocupação pela ética, a necessidade de uma sua
fundamentação coerente e de um liame constante entre reflexão ética e
observação empírica giram em torno de um problema fundamental, ou seja, aquele
do dever de sobrevivência para a espécie humana. Tal dever não deve ser
entendido de modo egoístico como resposta ao medo da catástrofe.
A questão da sobrevivência se torna objeto de decisão e de
reflexão especificamente éticas, na medida em que a sobrevivência está ligada à
defesa do caminho realizado pela humanidade na tentativa de buscar determinados
fins e estes fins devem ser aqueles inscritos na natureza humana. Pode-se
estabelecer como hipótese que o objetivo ao qual deve tender a comunidade
humana seja aquele de formas sempre mais aperfeiçoadas de cooperação e de
integração social.
CIÊNCIA E ÉTICA: SISTEMA DE VALORES
As diversas civilizações são capazes de desenvolver uma
identidade histórica, na medida em que são capazes de exprimir um nível de
auto-realização ética, mais pertinente ao daquele das civilizações que a
precederam.
Em outras palavras, pode-se dizer que existe
interdependência entre as condições econômico-sociais e os valores que
caracterizam as modalidades de organização de uma determinada sociedade. O
problema da cooperação está ligado à definição dos fins e valores a realizar no
âmbito da sociedade humana. Isto reconduz ao problema da relação que deve
existir entre ética e política.
O sistema de valores não é um simples reflexo da prática,
mas um fator que guia o processo de leitura e de interpretação dos dados e das
informações que um determinado grupo social recebe de seu mundo exterior.
Pode-se dizer que a teoria está ligada à prática de um modo circular. Em cada
construção formal que se propunha a descrever e dar razão à experiência estão
sempre presentes explícitas a dados empíricos não deduzíveis da teoria. De
outra parte, é impossível reconduzir tudo o que é objeto do pensamento à sua
base estritamente empírica, ao puro dado. Em razão disso pode-se afirmar que
toda observação pressupõe uma teoria.
A extinção do socialismo real não deve levar a crer que no
interior do mundo ocidental não estão presentes problemas e contradições também
graves. O mundo capitalista olha a economia com o principal ponto de
referência, considerando religião, valores e metafísica como falsos problemas,
restolho de uma forma de cultura atrasada e arcaica. Em lugar de buscar o
máximo desenvolvimento das forças produtivas, o capitalismo procura o máximo
desenvolvimento do lucro e da competitividade, conseguindo na aparência grandes
sucessos, mas criando uma série de problemas no plano humano e social de extrema
gravidade.
Deseja-se referir ao agravamento das tensões internacionais,
à separação sempre mais ampla entre países ricos e industrialmente avançados e
países pobres e subdesenvolvidos, à exploração incontrolável dos recursos
naturais e à degradação sempre maior do ambiente, ao sempre maior sentido de
mal-estar e de insegurança que atinge as sociedades econômica e tecnologiamente
avançadas. Este sentido de mal-estar e de insegurança é colocado em evidência
por fenômenos de desadaptação social, da difusão da delinquência comum e
organizada, pela ampliação do fenômeno do uso e do comércio de entorpecentes.
No mundo ocidental tudo serviu à economia. a sociedade é
organizada segundo fins que não são aqueles inscritos na natureza do homem,
pelo qual o indivíduo e a comunidade não tem os seus desejos de crescimento e
liberdade prejudicados.
Os ritmos de vida sempre mais frenéticos e absurdos, a
uniformização das necessidades e a criação de outras em função da produção e
não da pessoa humana ou da sociedade, a imposição de modelo de vida
“ocidental”, em prejuízo da originalidade das diversas culturas e da capacidade
de cada povo de resolver de modo próprio e original os problemas da vida, a
massificação da sociedade, realizada através da persuasão escondida da propaganda
e a substituição da consciência com o conformismo, usando o terrorismo
ideológico para o dissidente. Tudo isto está do lado oposto do conceito de
cooperação livre e criativa.
Muitos cientistas percebem hoje a responsabilidade por terem
fornecido ao poder político meios de destruição e de terror e de terem
contribuído a um uso de conhecimentos científicos nem sempre conformes com as
exigências de salvaguarda da natureza, de desenvolvimento equilibrado da
civilização tecnológica, de respeito pelas diversas tradições culturais e de
uma distribuição equitativa das vantagens derivadas do desenvolvimento
científico.
CIÊNCIA E ÉTICA: HISTÓRIA
A ciência reconhece hoje a complexidade dos sistemas
naturais e a especificidade de cada um deles. A intervenção do homem sobre o
ambiente natural estar consciente e respeitosa desta complexidade e
especificidade, tendo em conta as vastas inter-relações entre os sistemas
naturais que tornam possível a vida sobre a terra nas suas diversas
manifestações.
A ecologia não é u’a moda, mas uma ciência rigorosa do
ambiente e dos seus mecanismos de regulação. Baseando-se neles é que podem ser
estabelecidas as linhas diretivas de qualquer intervenção humana sobre o
ambiente. Aqui se abre um assunto complexo. A intervenção do homem não se
limita hoje a u’a modificação do ambiente, mas pode ser impelida a u’a
manipulação das espécies vegetais e animais, podendo tentar u’a manipulação do
próprio homem.
A ciência não pretende impor-se como uma nova forma de
moral, entretanto, de um exame atento do estado da pesquisa, emergem alguns
elementos que podem ajudar na definição das linhas diretivas que deverão
inspirar a ação do homem no seio da natureza. Existem limites ao
desenvolvimento e, portanto, valores como crescimento econômico, bem-estar,
contínua disponibilidade de bens, não podem ser mais assumidos como guia ou
como norma das escolhas econômicas ou políticas.
De outra parte é necessário recordar que a industrialização
foi um fator determinante de progresso não só sob o aspecto econômico mas,
também, sob o prisma social e político. De outra parte, ela produziu fenômenos
negativos como a poluição, a urbanização forçada, o fim da civilização rural e
dos seus valores, mas também permitiu a eliminação da miséria e do atraso de
muitas regiões da era pré-industrial.
A expansão industrial é um exemplo que ilustra bem como o
caráter positivo ou negativo de qualquer ação humana depende e das situações em
que esta se insere. O que em determinadas condições históricas pode –ser útil e
positivo, em outras circunstâncias pode constituir uma tendência negativa, que
deve ser limitada e controlada. O desenvolvimento econômico consequente do
processo de industrialização tinha um caráter positivo enquanto permitia
combater, de modo eficaz, o atraso e a pobreza.
Hoje, em muitos países, o crescimento econômico e industrial
não serve para combater fenômenos negativos, mas ele se tornou um fator
pernicioso enquanto dá origem à poluição, esgotamento das riquezas,
consumismo... Um processo se torna negativo quando impede o crescimento e o
desenvolvimento.
A função dos valores é o de fazer emergir algo novo da
História, de despertar os interesses, as capacidades ou potencialidades
criativas a nível pessoal e comunitário. O valor é o caminho para o fim, para um
fim que se incarna na História, mas que não se reduz a uma simples adequação,
mas que não se reduz a determinadas condições históricas, e tende a um
superamento, a uma sua reinterpretação, segundo uma ótica mais ampla e mais
profunda. Os valores tem uma relação com a História, mas tal relação deve ser
lida em sentido transcendente e não imanente.
É preciso que haja plena liberdade de pesquisa, mas esta
deve ser vista sob a ótica da responsabilidade, da seriedade, do rigor. O
conhecimento é um valor, um instrumento de crescimento e libertação do homem,
mas não pode ser separado de outros valores igualmente importantes, como o
respeito pela pessoa e por sua dignidade e a defesa do ambiente natural, na
convicção de que se tem responsabilidades precisas com relação às gerações
futuras.
É preciso deixar de olhar a ci6encia como um formalismo
matemático abstrato que procede autonomamente na base de um mecanismo lógico.
Ela tem um caráter histórico, limitado e falível. Como tal, ela deve ser
encarada como uma aventura do pensamento humano que procura conhecer e
compreender a realidade natural.
A bioética está
sempre relacionada com um modelo ou com um fundamento de antropologia. Ela
baseia os seus princípios e suas afirmações normativas sobre uma determinada
concepção de homem. Não é possível uma bioética sem uma fundamentação
antropológica.
Propõe-se aqui o personalismo como modelo antropológico de
referência, que é baseado sobre a dignidade da pessoa humana. Não se quer
discutir aqui as características desta antropologia.
Esta dignidade singular se baseia sobre o ser humano,
constituído de inteligência e vontade, consciência e liberdade. Assim, seu
corpo não é reduzível a mero “bios”, ou matéria biológica, mas nas suas
manifestações é revelador de instâncias valorativas e, portanto, de exigências
de respeito.
A vida humana na sua integridade exprime a pessoa e
participa de sua dignidade, não podendo ser usada como meio para algo. Deste
núcleo ontológico e axiológico da vida humana, como pessoa, nascem os
princípios fundamentais da bioética.
Princípio da unidade e totalidade, pelo qual não se pode
reduzi-lo a mero objeto. Como tal, a vida humana é princípio e fonte de
moralidade, portador de exigências éticas.
Princípio da indisponibilidade, pelo qual não se pode
reificar e tratar a vida humana como um bem instrumental, com valor de uso. Não
se pode servir da vida de uma pessoa para fins estranhos a ela. A vida humana
tem valor de fim, não de meio.
Princípio da terapêutica, pelo qual é obrigatório cuidar da
própria vida e da dos outros na presença da doença, mas também na prevenção
desta em vista da proteção da saúde e para a promoção da qualidade de vida.
Princípio da proporcionalidade, através do qual deve-se
procurar uma cura quando há proporcionalidade entre seu emprego e os resultados
esperados, tendo em vista as condições do paciente. Deve-se renunciar quando os
meios são desproporcionais.
Princípio de solidariedade e subsidiariedade, pelo qual,
cada vida humana, inalienável em sua autonomia, é um bem para todos e, como
tal, une e responsabiliza todas na promoção, na tutela e na cura, em razão das
necessidades de cada um. A responsabilidade não é só individualista mas,
também, social e política.
O modelo liberal também acolhe o conceito e o bem da pessoa,
mas o concebe e acredita em sentido subjetivístico, ou seja, a pessoa é uma
consciência e uma liberdade auto-referencial ou autocêntrica, de tal forma que
se torna o árbitro da moralidade. A bioética se ressente, difusamente, desta
subjetivação da moral de várias formas.
A subjetivação emotiva coloca a bioética sob o princípio do
desejo. A própria vida e daqueles que são considerados propriedade própria é
condicionada pelo sentir subjetivo do indivíduo.
A subjetivação utilitarista coloca a bioética sob o
princípio do lucro. A vida é só condicionada por parâmetros econômicos.
A subjetivação sociologista coloca a bioética sob o
princípio da opinião dominante. A vida humana depende do valor que a cultura ou
a ideologia dominante estão dispostos a reconhecer-lhe.
A subjetivação nihilista coloca a bioética sob o princípio
do arbítrio. Tudo depende do modo de pensar e da liberdade de escolha do
sujeito.
A bioética apela para um conhecimento não meramente fatual e
empírico, manipulador e calculador, emocional e sensacionalista, mas a um
conhecimento sábio e contemplativo, capaz de perceber o que existe de
incomensurável e indispensável em cada vida humana.
BIOÉTICA E CIÊNCIA
A bioética nasce do progressivo desenvolvimento das ciências
biomédicas e das suas aplicações tecnológicas, dando origem a uma problemática
que envolve a relação entre os dois saberes. O problema não se põe como questão
teórica mas de fato, das inéditas e preocupantes possibilidades de intervenção
sobre a vida humana.
Acontecem tensões contínuas entre a possibilidade técnica de
novas práticas biomédicas e a sua admissibilidade ética. Tais tensões não podem
encontrar solução nem em uma ciência monopolizadora da racionalidade humana nem
em uma ética desconhecedora da legítima autonomia da ciência. Esta monopoliza a
racionalidade quando presume decidir sobre a bondade humana de suas descobertas
e da sua aplicação tecnológica. A ética, por sua vez, desconhece a autonomia da
ciência quando prescinde das suas relações cognoscitivas na própria função
normativa. E é assim que a racionalidade científica e aquela ética se opõem e
se contradizem.
A solução das tensões não passa por estas oposições, mas
pelo encontro das autonomias legítimas. A bioética não pode ignorar os
progressos das ciências e de suas contribuições para a verdade na ordem do
conhecimento da vida humana e das descobertas biomédicas. Uma bioética
enraizada apenas nos próprios princípios, fechada em uma concepção abstrata da
vida humana e da lei natural, é incapaz de discernir, compreender, motivar e
persuadir.
A racionalidade ética está aberta à racionalidade científica
e vice-versa. A racionalidade científica não absorve a racionalidade ética,
relativizando a ordem dos valores e dos fins humanos, mas se relaciona com
estes. O verdadeiro não coincide com o dado científico. Enquanto dado humano,
tem uma sua profundidade que a racionalidade técnico-científica não pode
exaurir. Ele deve ser expresso em âmbito de valor, para compreender a validade
humana, e assim é introduzida a instância ética na ciência e na técnica.
Entretanto, isto não acontece automaticamente, em razão das
diversas aberturas epistemológicas da ciência e da ética, da biomedicina e da
bioética, mas como o relacionamento efetivo da racionalidade científica dos
dados e dos meios com aquele da ética dos valores e dos fins. São necessárias a
consciência e a responsabilidade éticas do biólogo e do médico, distinguindo o
dado do valor, a praticabilidade técnica da liceidade ética.
Hoje está rompida a relação da ciência com a sabedoria, da
técnica com a ciência. A ciência, enquanto é aliada da sabedoria, é orientada
continuamente por esta na direção de uma verdade única, integral e indivisível
do homem, de tal forma a não prescindir, na sua diferenciação epistemológica,
de instâncias de outro gênero. A mudança de relação da ciência com a técnica
pois, na atualidade, é o investimento técnico que comanda a pesquisa
científica, tende a romper aquela aliança, a tirar da ciência toda influência
da sabedoria. A ciência sofre o predomínio tecnocrático, cujo poder não é o da
ética, mas da ideologia dominante e do mercado.
Deste modo é que aparece uma racionalidade biotecnológica
voltada sobre si mesma, baseada sobre todos os fatos, sobre resultados e
produtos, ou seja, sobre verdades pragmáticas que prescindem de significados,
presume bastar-se a si mesma e de decidir sozinha aquilo que é humanamente
admissível, voltando-se apenas às necessidades e desejos dos sujeitos,
encontrando nestes a própria legitimação.
Uma racionalidade biológica é uma aproximação fundamental e
imprescindível da verdade do homem, mas setorial e parcial. Esta faz apelo a
uma racionalidade meta-biológica de significação antropológica e, portanto,
valorativa. Em biomedicina é preciso afirmar que nem tudo o que é tecnicamente
factível pode ser eticamente admissível.
A liberdade de consciência encontra a sua justificação
enquanto condição necessária para a pesquisa da verdade e para a adesão a esta
quando foi conhecida adequadamente.
A consciência moral tem três elementos característicos. A
primeira é que a consciência é a capacidade de discernir aquela lei inscrita no
coração de cada homem que o impele a agir com consequência, ou seja, com
empenho e responsabilidade pessoal. Tal lei é co-natural ao homem, é o sinal de
seu ser pessoal. É anterior a qualquer legislação positiva do Estado e de
qualquer outra sociedade.
A segunda característica é que a consciência moral não é um
oráculo infalível, não é qualquer coisa de absoluto, colocada acima da verdade
ou do erro, mas esta é a procura da verdade objetiva e tem na própria verdade
absoluta o seu critério último de autenticidade e de moralidade.
A terceira característica é que a busca da verdade objetiva
deve ser livre no seu duplo significado: livre de aderir a verdade e livre de
qualquer forma de coerção externa.
Agostinho exprimiu claramente o mais profundo dinamismo da
consciência humana para a verdade absoluta, sob o signo da liberdade do amor em
dois textos. O primeiro das “Confissões” diz “ama e faz o que queres (Dilige,
et quod vis fac); se calas, cala por amor; se tu falas, fala por amor; se
corriges, corrige por amor; se perdeoas, perdoa por amor; esteja em ti a raiz
do amor, pois desta raiz não pode proceder se não o bem. O segundo do
Comentário do Evangelho de João afirma: “mas onde existe o amor, existe paz”
(ubi autem charitas ibi pax).
A consciência ética do homem no emitir o próprio juízo sobre
a moralidade do ato a ser realizado pode ser reta ou errônea, certa ou incerta,
verdadeira ou falsa. Por isso para cada homem se impõe o dever de formar e de
educar a própria consciência, a fim de que ela se torne sempre mais uma
consciência reta.
É óbvio que este trabalho de formação e de purificação da
própria consciência não pode ser feito sozinho. Dada a natureza social do homem
e dado que a consciência humana nasce, cresce e se desenvolve em um
ininterrupto entrelaçamento de relações com
os outros em um confronto vivo entre pessoas, é necessário que outros
sujeitos concorram para ajudar a formação da consciência justa do homem.
Os grandes sujeitos sociais que entram diretamente na
formação da consciência individual são a família, a escola, as instituições
educativas, as comunidades diversas e os meios de comunicação social. O papel
destes últimos é extremamente importante, e até essencial, para promover a
pesquisa da verdade, pois muitas vezes a média é a única fonte de informação
para um número sempre maior de pessoas.
Na História dos homens, um fruto da consciência errônea, que
chega à cegueira, é a intolerância por motivos políticos e sociais, culturais e
religiosos. A intolerância constitui uma séria ameaça para a paz, pois leva à
recusa da liberdade de consciência dos outros. Na vida pública a intolerância
não deixa espaço à pluralidade das escolhas políticas ou sociais, impondo assim
sobre todos uma visão uniforme da organização civil e cultural. Todos os
totalitarismos, antigos e modernos, adotam esta visão de mundo apoiada na
repressão, na marginalização e na perseguição violenta, física ou moral, de
particulares e de grupos, como forma de governar.
Apenas uma virtude ou hábito mental pode ser contraposto a
este dogmatismo: a tolerância. Sob o ponto de vista teórico e prático significa
o respeito e o reconhecimento para com aqueles que pensam diferentemente. É a
condição da liberdade de consciência, ordenada, por sua natureza, à busca da
verdade. E a procura da verdade não conduz à intolerância, mas ao respeito e à
reconciliação.
Antigamente, os pobres eram tidos, como desadaptados para
qualquer cultura, relegados a um, “status” social de inferioridade incapazes de
assumir uma própria norma ética. Eram julgados exclusivamente por critérios
éticos aceitos por pessoas instruídas e “civilizadas”.
Nos tempos hodiernos, o termo ”cultura” adquiriu um
significado amplamente antropológico. A cultura pode existir e desenvolver-se
também entre pobres incultos. Uma vivência popular, mesmo praticada entre
mendigos, pode oferecer um sentido espiritual até agradavelmente original.
O costume popular adquiriu uma missão propriamente
antropológica. Já que a vida humana é vivificada por valores existencialmente
inefáveis e nenhuma classe de pessoas sabe exprimir com plenitude, as próprias
culturas populares são convidados a fazê-los emergir socialmente de modo
consciente. Legitimamente a vida social é hoje concebida unida no
entrelaçamento de culturas tanto doutas quanto populares.
A classe dos excluídos, tendo uma cultura própria, um modo
próprio de raciocinar, de sentir afetivamente, de exprimir-se, de apresentar-se
dentro de formas institucionais, de atuar socialmente, muitas vezes revela uma
legítima visão autônoma dos valores, um costume próprio, uma experiência
espiritual singular, um “ethos” próprio, praticado intensamente.
A ética, estruturada em racionalidade sistemática, gosta de
apresentar-se como a única e a autêntica. Por princípio aceitou que nenhum
“ethos” popular dos excluídos pudesse de qualquer modo substitui-lo ou mesmo
colocar-se a seu lado. Jamais admitiu que pudesse existir valores autênticos
fora de sua formulação normativa. Pediu para ser reconhecida como a única
valoração legítima do honesto. Ela punia quem ousava, afastar-se de sua
normatividade e, portanto, não podia gozar de segurança.
De tal modo, o “ethos” popular dos excluídos, se discordante
da ética oficial, era reduzida a ser, no máximo, uma opinião pessoal, que não
recebia o apoio institucional. Não deve ser sacralizada nenhuma ética
existente, nem a oficial e nem a popular. Existe na meta, de qualquer forma
transcedente, à qual todas as éticas existentes são chamadas a colaborar. Estas
devem ajudar-se mutualmente a exprimir da forma menos inadequada a indicação
normativa fundamental da manifestação do ser.
Na descoberta do novo mundo foi imposta a ética européia em
desrespeito aos costumes dos povos indígenas. Nenhuma ética formulada é vivida
é autorizada a não aceitar e acolher a experiência ética vivida em outro lugar.
É necessário acolher as indicações éticas vividas por qualquer população,
sobretudo daquelas comunidades que participaram do sofrimento.
Segundo a Escolástica a “reta razão” tem a finalidade de
determinar a normatividade ética. Semelhante enunciado não parece
existencialmente proponível. De fato, nenhuma razão pessoal é de todo “reta”.
Não aparece jamais claramente habilitada a tratar de uma norma plenamente
objetiva.
Qualquer faculdade humana, no seu exercício, reflete a
configuração de toda a personalidade subjacente. A razão está intimamente
condicionada pela tendência afetiva difusa no próprio ser pessoal. A fim de que
possa formular retamente uma verdade ética, pressupõe que o inteiro ser pessoal
subjacente seja verdade. Para poder enunciar valorações pessoais, requer
existir até o mais profundo inconsciente. Uma pessoa, quando se propõe dar um
juízo ético objetivo, inconscientemente o faz permeado de um implícito
subjetivismo, que é ineliminável.
O princípio clássico ético declara que a consciência é um
absoluto, ao qual todos os homens tem de ater. Isto não nega que esta mesma
seja condicionada pelo próprio estado pessoal passional.
Depois da segunda guerra mundial, a responsabilidade passou
a ser um conceito ético fundamental, pois a moralidade dificilmente pode seguir
limitando–se ao cumprimento de alguns deveres legais. Frente a ética até agora vigente, a
consciência do problema é ampliada em três aspectos.
Em primeiro lugar, no que se refere à competência ou campo,
já não atende apenas a obrigação de um para com o outro, mas também a trama
solidária, em especial das pessoas jurídicas e da representação dos mais
diversos interesses em favor do desenvolvimento em escala mundial. Em segundo lugar, no que se refere ao
alcance, há que se incorporar, além da conservação do ser humano corrigindo a
limitação autropocêntrica até então em uso, na direção não humana no sentido de
uma macroética planetária. Em terceiro
lugar, com relação ao horizonte, não só deve–se conservar o respectivo estado
atual, mas há que se examinar os efeitos das próprias atuações com vista à sua
conciliação com as condições de um futuro genuinamente humano.
Seguindo o jogo da pergunta e resposta, este conceito
desenvolve–se assim : a) Uma pergunta é
experimentada na consciência como vinculante, como um dever. b) Em virtude
desta vinculação pessoal, o ser humano se sente induzido a agir de acordo com
a idéia da obrigação e a responder assim
existencialmente pela pergunta. c) Este
processo culmina e se fecha, quando alguém toma consciência do procurado e do
ocorrido, ou seja, quando alguém se responsabiliza.
É preciso distinguir entre “responsabilidade” no sentido da
competência vinculante, que deve ser assumida frente a um determinado setor da
atividade ou da vida, assim como no sentido de ter que responder à autoridade
competente. E de outra parte a “responsabilidade” que aponta sobretudo para a
obrigação pessoal que dela deriva de dar conta da própria ação ou omissão e, se
o caso requerer, reconhecer a própria culpa e levar a cabo uma reparação. Age com consciência responsável quem vive na
atitude de prestar conta e razão de sua conduta.
a) O sujeito responsável, a pessoa capaz de uma atuação
moral (actus humanus ) se encontra numa dupla relação: b) ele enfrenta uma
instância legitimada para o questionamento:
c) ante a qual deve justificar-se pelo objeto, tanto no que se refere às
ações, suas consequências e seus efeitos secundários, como às pessoas ou às
coisas. d) Estes três fatores
acabam fundindo-se pela obrigatoriedade, que deriva da competência de cada
situação assinalada.
Na concepção atual, só se pode falar de responsabilidade na
medida em que um sujeito que age goza de conhecimento e liberdade, ou seja, na
medida em que conseguiu na maturidade social, que engloba os componentes
intelectuais, voluntários e emotivos. A “questionabilidade” do homem, assim
como a sua obrigação de responsabilizar–se, podem ser vistos como um dado
fundamental do homem. O homem experimenta-se constantemente como devedor, que
está frente a exigências, pois enquanto, ser social só pode realizar-se na
comunidade solidária.
Para a ética, há três tipos de instâncias para as quais deve
o homem deve prestar contas. Em primeiro
lugar, ele é responsável perante sim mesmo; em segundo lugar, diante daquelas
pessoas que em seu próprio nome ou em nome de uma comunidade podem questionar;
e finalmente diante de Deus, se acreditar nele, o único que poderia pedir as
contas sem limitação.
A obrigatoriedade, que mantém todos unidos, pode ser
definida como uma vinculação na liberdade.
O estar pessoalmente obrigado pode derivar da própria natureza da coisa,
da ordem de uma autoridade competente ou pode ser o resultado de uma promessa
voluntária e livre. Qualquer que seja a
forma, este estar obrigado deve estar ligado com a liberdade, como pressuposto
necessário para a imputabilidade.
Desde que nunca se podem valorar todas as consequências de
uma ação, também o cálculo dos riscos e de sua possível compensação é próprio
de uma pessoa consciente e responsável.
É preciso opor - se à propensão crescente de escapar da responsabilidade
ou de voltar a colocar–se sob a tutela da obediência.
CORRUPÇÃO
Atualmente, os meios de comunicação denunciam por toda a
parte casos de corrupção. Só nos anos noventa caíram governos na Itália,
Paquistão, Indonésia, Zaire, Brasil... Os cidadãos começam a não mais tolerar a
corrupção dos políticos. As tentativas de controlá –la se tornaram concretas
quando a indignação da gente comum recebeu apoio por parte de uma aliança de
fornecedores de ajuda econômica, de legisladores e de homens de negócios, que
antes haviam se omitido de tomar posição. Um outro motivo importante foi pelo
fato que as crises que atingiram as economias de vários países, devidas de
qualquer maneira a uma forma de capitalismo corrupto, que tirava os recursos
das empresas com sólidas bases econômicas, transferindo-os para aquelas que
pagavam propinas aos governantes.
Pela primeira vez se assiste a uma campanha voltada a
enfrentar a corrupção como um problema a
nível mundial frente ao qual se pode quem sabe fazer qualquer coisa. Até há
poucos anos atrás os motivos para combater a corrupção apareciam fracos aos
fornecedores de ajudas econômicas e para aqueles que eram encarregados de
formular as regras a nível mundial.
Em alguns países a corrupção podia ser vista como uma
benção. Desbloqueava as mercadorias presas na alfândega ou fixava preços para
serviços que o governo oferecia gratuitamente. Muitos economistas distinguiam
entre uma corrupção boa e u’a má. Hoje eles distinguem entre vários tipos de
corrupção, se bem que pensem muito antes de afirmar que exista uma corrupção
boa. Assim, o Banco Mundial afirma que, independentemente do grau de
previsibilidade da corrupção de um país, a sua taxa de crescimento seria mais
alta se a corrupção fosse menor.
A corrupção não é um problema que compreende apenas
sociedade que não seja sã. Ela não conduz necessariamente à ruína social,
política ou econômica. Trata-se antes de um problema inserido em uma combinação
de problemas de desenvolvimento. Problema que está solidamente radicado nas
sociedades e que é muitas vezes um sintoma de dificuldades mais profundas. Nos
casos mais sérios, quando a corrupção política e burocrática está bem
consolidada, esta representa o equilíbrio ou um ponto de estabilidade. Em tais
circunstâncias, há a presença de um sistema acuradamente organizado e estável
em seu interior. Isto cria uma competição política insuficiente, um crescimento
econômico lento e irregular, e uma sociedade civil débil, e em tudo isto
encontra por sua vez sustentação.
Entretanto, os países podem passar de altos níveis de corrupção
para níveis mais baixos. (isto obtem-se garantindo as liberdades civis e os
direitos econômicos fundamentais, e levando a competição política e econômica,
alimentando uma sociedade civil forte, e adotando medidas legais e
institucionais voltadas a combater a corrupção. Se bem que o processo seja
difícil, tais passagens não requerem sistemas democráticos plenamente
desenvolvidos ou mercados econômicos avançados.
Praticamente não existe forma de corrupção que não seja
exercida em quase todos os países do mundo. Por que não se intervém para frear
a corrupção? Porque falta uma vontade adequada ou não existe capacidade
suficiente a nível local, em particular no que se refere às estratégias
apropriadas ou os incentivos para prevenir a corrupção. Em alguns casos a
capacidade local é forçosamente limitada por causa dos custos, da falta de
competência técnica e de esforços insuficientes aplicados para usar estratégias
aptas para combater a corrupção. A cooperação internacional pode ajudar cada
país a desenvolver a vontade e as capacidades necessárias.
CONCEITOS DE CORRUPÇÃO
A corrupção é, muitas vezes, comparada a uma doença grave.
Difundindo-se inexoravelmente de funcionário a funcionário, ela mira as
instituições até provocar a ruína do sistema político que elas representam. A
corrupção deve ser erradicada para conseguir o ressaneamento do sistema. Melhor
ainda, a corrupção deve ser prevista antes do início.
O problema é que u’a mentalidade que conceba a corrupção
neste termos não atinge a sua essência. A corrupção nem sempre enfraquece as
bases dos regimes e das instituições. A ironia quer que alguns países nos quais
uma mudança política, devam fazer frente a novas formas de corrupção originadas
do processo de reforma política e econômica.
É um fenômeno que preocupa não só por si mesmo, mas também
porque é, muitas vezes, o sintoma de dificuldade mais profunda. Este modo de
ver é sustentado pela análise empírica. A corrupção é associada à lentidão do
crescimento econômico, à redução dos investimentos, à inconsistência dos
direitos imobiliários e contratuais, à ineficiência das instituições, à
limitada interação social e a um débil Estado de direito, à exigua competição
econômica, à exigua competição econômica, às profundas divisões ou conflitos
étnicos, à baixa participação popular na vida política e à escassa tutela das
liberdades civis, ao baixo nível
educacional e a sistemas políticos e econômicos fechados.
Portanto, se de um lado será sempre importante combater a
corrupção de outro é, também, essencial compreender o mais amplo contexto no
qual ela se manifesta e com o qual interage. Para as agências de ajuda isto
significa não só combater os abusos no âmbito dos programas, mas também
utilizar estes últimos para combater a corrupção como problema do desenvolvimento.
Grande parte da corrupção nos países em via de desenvolvimento implica uma participação significativa por
parte dos países desenvolvidos.
A idéia de aumentar ordenado dos funcionários públicos para
reduzir a corrupção é uma falácia. Os funcionários mais bem pagos são os mais
corruptos. O ser humano tem uma ambição insociável. E é assim que alguns
afirmam que a corrupção que mais
prejudica o crescimento econômico não é tanto a pequena, quanto a maciça
subtração de fundos estatais operada por políticos e por seus colaboradores de
alto nível.
Deve-se evitar esteriótipos inúteis e contextualizar a
discussão. Assim, alguns acreditam que todas as formas e todos os casos de
corrupção sejam igualmente danosos. Existe também a crença que, já que a
corrupção existe em todos os países, nada se pode fazer no lugar em que se
vive, a seu respeito. O resultado e o grau de incidência da corrupção se
manifestam de modo diferente nas várias regiões. Estabelecer o grau e o tipo
constitui uma questão crucial.
O termo corrupção tem muitos significados. È necessário
analisá-lo e fazer as subdivisões. Na acepção mais amplamente aceita, a
corrupção corresponde ao uso impróprio de um serviço público para fins não
oficiais. A catalogação dos atos corruptos inclui o suborno, a concussão, o uso
venal da própria influência, o nepotismo, a fraude, a apropriação indébita ou
peculato e a prática do chamado “speed
money” (soma de dinheiro dado a funcionário governamental para apressar a
prática de ação que pertence à sua competência administrativa). Se bem que se
diga que é uma característica da
administração pública, a corrupção existe igualmente, ou mais ainda, no setor
privado. Na corrupção , além do corrupto, existe o corruptor.
CORRUPÇÃO CONSOLIDADA
Os diversos tipos de corrupção não são todos igualmente
danosos. A corrupção que insidia as regras do jogo no sistema bancário e
creditício, e os direitos referentes ao setor imobiliário provoca prejuízos
devastadores para o desenvolvimento econômico e político. A corrupção que tem
como efeito o envenenamento ambiental ou a concessão por parte dos operadores
de hospitais são mais danosas que as propinas, que se deve pagar para obter um
mais rápido acesso aos serviços públicos.
Também a extensão da corrupção tem a sua importância. Quando
esta se torna a norma, os seus efeitos são paralisantes. Estabelecer e manter
regras do jogo aceitáveis no plano internacional se torna neste caso
impossível. Este é o motivo principal pelo qual as regionais menos
desenvolvidas do mundo, permanecem como estão.
De um ponto de vista econômico, a corrupção segue a fórmula
C = M + D – R, ou seja, a corrupção é igual ao monopólio mais a discreção, no
sentido de “segrego”, menos a responsabilidade. A corrupção é um crime que se
comete com cálculo, não por paixão. A luta contra a corrupção inicia-se
projetando sistemas melhores.
Os monopólios devem ser reduzidos e atentamente regulados. É
necessário mostrar a falta de transparência dos canais oficiais. A
transparência deve ser intensificada. A probabilidade de descobrir e de punir
os transgressores deve ser aumentada, e as penas para os crimes de corrupção,
tanto de corruptos como de corruptores, devem ser aumentadas. Se não é possível
“produzir” funcionários e cidadãos incorruptíveis, pode-se, entretanto,
encorajar a competição, modificar os incentivos, reduzir a impunidade.
A corrupção existe em todos os países, mas nos sistemas mais
desenvolvidos os reformadores gozam de muitas vantagens. Em primeiro lugar, a
corrupção constitui comumente a exceção, não a regra. Em segundo lugar, os
esforços para combater a corrupção obtêm o apoio político e popular. Nestes
casos o vocabulário de base da reforma é geralmente aceito. Isto ajuda a
determinar aquilo que é público e o que é privado, ajudando assim a tipificar
as ações consideradas abusivas. Em terceiro lugar, o governo buscando a
reforma, pode fazer uso dos recursos do capital político. Estes últimos incluem
a legitimidade, a credibilidade das políticas fundamentais, o Estado de
direito, linhas consolidadas de responsabilidade públicas e leis conforme as
normas sociais. Se as reformas não forem feitas, o governo poderá ser mudado
sem destruir o ordenamento político.
Em muitos países subdesenvolvidos, a corrupção está
arraigada. Está implantada em um quadro social que deixa os sinais visíveis das
suas consequências e que, ao mesmo tempo, contribui para sustentá-la. A
corrupção consolidada pode ser política, burocrática ou ambas as coisas. Não é
necessariamente mais visível ou mais freqüente. A corrupção enraizada é
persistente pois gera uma espécie de equilíbrio ou um ponto de estabilidade.
Em tal cenário, muitos cidadãos e investidores vêem a
corrupção como algo inevitável e consideram fútil qualquer tentativa de
reforma. Submeter-se às condições dos funcionários corruptos é muitas vezes o
caminho obrigatório. A corrupção enraizada desvia os recursos do
desenvolvimento, e enfraquece a vitalidade política e social da qual a
sociedade tem necessidade para prestar ajuda eficaz. Além disso, ela se mostra
resistente a muitas reformas institucionais e administrativas...
CORRUPÇÃO CONSOLIDADA E QUADRO SOCIAL
A corrupção consolidada é bem organizada e solidamente
inserida em um contexto político – econômico que revela os seus efeitos e, ao
mesmo tempo, contribui para a sua sustentação. A corrupção política pode
apresentar aspectos diferentes daquela burocrática, mas ambas são viciadas
enquanto influentes, organizadas e monopolísticas. Alterando o ambiente
político e econômico, é possível caminhar na direção de um equilíbrio baseado
sobre níveis mais baixos de corrupção e ritmos de crescimento mais altos, que
se desenvolva de uma esfera política e administrativa responsável e que, ao
mesmo tempo, contribua para sustentá-la.
Quando é envolvente a corrupção é assim comum que existem
poucas alternativas práticas de escapar da influência de funcionários
corruptos. Quando é organizada, a corrupção implica uma coordenação interna,
uma divisão de conhecimentos e uma troca vertical de benefícios. Ela facilita
e, na sua estrutura, reflete uma economia interna que estabelece uma coligação
entre os operadores e os seus superiores. Quando é monopolista, a corrupção não
é contrastada por nenhuma oposição política ou por alguma concorrência
econômica de algum relevo, e isto torna mais difícil a extirpação, consentindo
aos operadores corruptos de obter o máximo de benefícios durante longo período
de tempo.
Estas três características da corrupção não são
necessariamente ligadas entre elas, mas quando existe uma combinação dos três
aspectos, a corrupção resulta particularmente deletéria. Além disto, este tipo
de corrupção cria um equilíbrio difícil de modificar, especialmente se se
recorrer apenas a remédio de tipo administrativo e pessoal.
Reduzir a corrupção é função também do setor privado. As
empresas podem ter de competir em ao menos quatro tipos de ambientes corruptos.
Em primeiro lugar, uma sociedade pode ter um sistema social não ético. Um
segundo caso é constituído pelo governo e pelo líder do país corruptos,
enquanto o sistema social em si não o é. Em um terceiro caso, o sistema pode no
ser corrupto, mas podem existir elementos influentes implicados em práticos
ilegais e não éticas que ameaçam frequentemente os indivíduos particularmente e
a eticidade das operações comerciais e econômicas. Enfim, pode acontecer que o
governo não seja corrupto, mas que não esteja em condição de fazer aplicar as
próprias leis.
As dimensões de uma empresa e a sua importância para a
comunidade ou para a região são fatores que podem consentir de operar de modo
ético e economicamente vantajoso. As pequenas empresas não têm tanta liberdade
de ação quanto as grandes. Muitas vezes é impossível competir de forma ética e,
ao mesmo tempo, sobreviver economicamente em um ambiente corrupto. Em algumas
sociedades, o inquérito é um meio eficaz de descobrir a corrupção. Entretanto,
em alguns países, os governos controlam os meios de comunicação. A publicidade
dos procedimentos contribui para a transparência nos confrontos da opinião
pública.
Quando a corrupção é inveterada, a atividade política é
dominada por uma organização ou por um grupo monopolista que mantém o próprio
poder em parte mediante a corrupção, tirando proveitos ambulantes. O objetivo
primário da corrupção consiste em comprometer o maior número de pessoas com
pequenos favores. A habilidade de tais organizações está em sua influência
profunda no seio da sociedade.
CORRUPÇÃO POLÍTICA E BUROCRÁTICA
Os que sofrem as danosas consequências da corrupção
consolidada reagirão, provavelmente, adaptando-se a ela do que reagindo. As
vítimas da corrupção podem tomar três tipos de ação compensativa: ações de
desconto com o fim de reduzir a dependência dos funcionários corruptos; ações
diretas para aumentar o custo e o risco que os funcionários corruptos encontrariam
em enfrentar depois de sua conduta; e ações ilícitas de modo a combater a
corrupção com a corrupção. A ação direta é arriscada. As respostas do tipo de
descontar e ilícitas são mais atraentes, mas não obterão grandes resultados na
redução do grau de corrupção ou de criar oposição a ela.
Com relação aos burocratas corruptos, a situação é algo
diferente. Antes de mais nada, a maior parte deles não deve fazer frente a uma
concorrência frente a outros governos ou entidades que exerçam as mesmas funções.
Em segundo lugar, várias entidades podem ter que ver com um mesmo setor da
economia, mas desenvolvendo funções especializadas. Nenhuma destas entidades
pode acabar com uma outra semelhante ou procurar afastá-la da praça no setor
dominado pela corrupção. Todavia elas podem dar vida a ligações e criar redes
de corrupção permanentes e lucrativas, que se alimentam da dependência política
e econômica e, ao mesmo tempo, contribuem para sustentá-la.
A corrupção burocrática organizada verticalmente representa
um notável salto de qualidade com relação ao seu grau de enraizamento. Nestes
casos, uma parte do que é recebido pelos operadores é dividida com os
superiores. Aqui a ênfase se coloca ente a “corrupção sem furto”, quando uma
quota de contribuição entra em caixa, e a “corrupção com furto”, quando a quota
contributiva não chega em caixa. Na realidade, onde os salários dos burocratas
não estão na altura do custo de vida, a corrupção organizada com furto pode
constituir uma questão de sobrevivência. Mas excluindo-se uma estreita
integração entre a corrupção política e a burocrática, dificilmente o furto
acontece de maneira total. Por exemplo, por motivos políticos, os fiscais podem
multar e a polícia pode prender...
A corrupção estruturada, organizada e coordenada é sólida e
difícil de desenraizar. Como acontece no
caso de corrupção política de tipo monopolística, aumentam as oportunidades de
grandes resultados para alto nível, e os maus tratos burocráticos coordenados
com uma aplicação seletiva das leis podem ser utilizadas para não exercer
pressão sobre aqueles que não querem pagar. De tal modo os burocratas corruptos
estendem a sua influência sobre a sociedade, criando um clima desfavorável às
atividades econômicas e aos investimentos, na qual a falta de oportunidades
alternativas pode constituir um motivo ulterior da consolidação de seu poder.
A grande corrupção no seio de qualquer sociedade jamais será
igual a zero. Afim de que o grau de corrupção seja aceitável, requer-se vontade
política para tal. Esta reforça os aspectos políticos da capacidade de um país
de utilizar os recursos do desenvolvimento. A corrupção não é apenas um
problema de desenvolvimento, mas também uma questão central na política de
desenvolvimento. Os países que tem a corrupção consolidada precisam tomar
consciência da mesma, principalmente do modo como se forma e da sustentação que
recebe do ambiente social e econômico.
ESTRATÉGIAS CONTRA A CORRUPÇÃO
Existe um elenco de eventuais estratégias contra a
corrupção. Em primeiro lugar, dever-se-iam punir os autores dos crimes mais
relevantes. Em segundo lugar, dever-se-ia envolver a gente comum no diagnóstico
dos sistemas corruptos. Consultando tais pessoas, podem-se obter informações
úteis sobre os lugares nos quais se verifica a corrupção.
Em terceiro lugar, dever-se-ia concentrar o esforço na
prevenção, pondo remédio nos sistemas corruptos. Todavia, se os custos e as
perdas de eficiência determinadas pela luta contra a corrupção pesam mais sobre
o prato da balança do que os benefícios de uma corrupção pequena, tais esforços
são contraproducentes.
Em quarto lugar, deveria haver incentivos para fazer uma
reforma. Em muitos países, o salário do setor público é de tal forma baixo que
não consente uma família viver razoavelmente. Além disso, no setor público há
uma falta de um sistema de avaliação da eficiência, de tal forma que a
remuneração dos funcionários não está ligada à sua efetiva produtividade.
Portanto, é necessário sublinhar a oportunidade de um sistema de avaliação das
prestações e uma revisão dos critérios de remuneração.
Apesar das muitas dificuldades que se encontram para
combater a corrupção existem motivos de esperança. Variações no nível de
corrupção podem ser encontradas em muitas partes do mundo político. Elas
refletem longos processos de disputa política e econômica, que colocaram fim a
períodos anteriores de extensa corrupção. Para obter um resultado semelhante é
indispensável empreender as reformas legais e institucionais, tratando-se
sempre de uma transição factível.
Com o passar do tempo, o ânimo do desenvolvimento encoraja
um equilíbrio a baixo nível da corrupção e consente a reforma, dizendo não à
corrupção, colocando as próprias raízes no mais amplo contexto político e
econômico do sistema. Uma imprensa independente, grupos de oposição política e
uma sociedade civil ativa tem maiores possibilidades de desenvolver-se se podem
exprimir-se publicamente e são livres de intimidações. Sob o aspecto econômico
dever-se-iam garantir direitos imobiliários e contratuais aceitáveis.
A corrupção política pode prosperar na ausência da corrupção
burocrática e vice-versa. Quanto mais grave se torna ou um ou outro tipo de
corrupção, tanto menor é a possibilidade de existir uma via independente. Um
sistema concatenado de corrupção política e burocrática tem um poder enorme. O
problema crucial não consiste tanto em induzir os governos a fazer qualquer
coisa com relação à corrupção quanto em ajudá-los a decidir que coisa é
oportuno fazer e como.
Muitas vezes o problema não é oriundo da vontade política
mas de não saber como agir. Existe um dilema: os líderes políticos podem ter
consciência dos custos de uma corrupção sistemática e deplorá-la; mas, de outro
lado, eles reconhecem também os benefícios que lhe derivam pessoalmente e ao
seu partido pelo sistema vigorante de corrupção. A via de saída poderia ser
tríplice. Em primeiro lugar, as lideranças deveriam ver que é possível trazer
melhoramentos ao sistema sem dever cometer um suicídio político. Em segundo
lugar, no elaborar as estratégias, as lideranças deveriam reconhecer que nem
tudo pode ser feito de imediato: é necessário fazer uma análise dos custos e
benefícios. Em terceiro lugar, as lideranças devem evitar o isolamento
político.
ÉTICA PROFISSIONAL: DISPONIBILIDADE
INTRODUÇÃO
Profissão é aquela atividade laboriosa, que empenha toda a pessoa humana numa orientação
de vida bem determinada, a serviço da sociedade.
A separação entre o capital e o trabalho tornou este estranho à responsabilidade da
empresa, equiparando-o a mera mercadoria. A mobilidade do emprego, o desemprego
e a migração de mão-de-obra, provocados
pelas vicissitudes econômicas, tornaram, reiteradas vezes, aleatória qualquer fixação
profissional. O próprio desenvolvimento da atividade tecnológica esvaziou o
antigo conteúdo da noção de profissão.
I
Valores da profissão
Uma verdade
fundamental está na base de toda ética profissional: a
união que existe entre a profissão
e as condições de existência do
indivíduo.
O indivíduo, enquanto pessoa, caracteriza-se por sua
capacidade de se conhecer e querer a si, para se determinar livremente, com
responsabilidade.
A personalidade não é dada uma vez por todas, mas é
convidada a crescer e a desenvolver-se na realização da idéia de homem. Ela realiza a noção de ser em crescimento,
com o desenvolvimento da consciência e do poder, participando da História.
Esta realização, o homem concretiza através de seus atos
livres. Aperfeiçoa-se através de uma atividade, que pode tomar várias formas,
desde a ação imanente, que é a reflexão, até a ação mais transitiva, que é a
construção do mundo.
A relação entre o ser
e o agir manifesta-se, no ser humano,
pela realização da pessoa, dentro de suas condições de existência. E, se a
profissão é considerada uma das formas essenciais de um tal agir, é importante
saber como entendê-la, segundo o tipo de ação imposto pela vida moderna.
O homem deve limitar a sua escolha, ou aceitar a sua
limitação, pois a progressividade de sua realização exige continuidade, unidade
e especialização na ação. Caso contrário, será o esboroamento, a dispersão e o
fracasso da personalização. A liberdade humana
não tem sentido se não se desenvolve numa direção determinada. Ela não é
um absoluto, pois deve operar num campo de trabalho que se lhe propõe, com suas
próprias leis e exigências.
O homem é um ser no mundo, posto numa situação, que deve
assumir. Ele está mergulhado no meio cósmico, que o envolve, e que ele tem
necessidade de explorar e dominar, para garantir a sua existência. Esta
exigência de transformação do mundo, realiza-a
o homem pelo trabalho, que supõe
a adaptação à sua tarefa, conferindo ao trabalhador uma facilidade e uma
competência na sua especialização.
Vê-se, assim, aparecer a profissão, como atividade
laboriosa. O drama da nossa época reside na dificuldade de conciliar as
especializações do trabalho técnico, com
as exigências fundamentais e genéricas da idéia de profissão. Tudo depende,
então, da maneira como o trabalho é exercido e do sentido, que lhe é proposto.
Independentemente do juízo ético, que deva pronunciar-se
sobre a remuneração do trabalho, limitada à satisfação das necessidades vitais
básicas, típica da concepção capitalista
do assalariado, o trabalho tem, em primeiro lugar, a função de
ganha-pão, de dar ao homem com o que ganhar a vida. Limitado a esta função, ele
permanece sempre um grilhão, uma ocupação necessária, sem ligação com o resto
da existência. Em semelhante caso, não se pode falar de ofício ou profissão.
Múltiplas tarefas, na sociedade, são incapazes de dar
qualquer coisa a mais que o ganha-pão, a
tal ponto são banais, monótonas e vulgares, consideradas na sua materialidade.
É a este nível, que a análise marxista do trabalho pode ser
de utilidade. Todo trabalho tem valor, enquanto atividade vital, consciente e
voluntária. pela sua necessidade de especialização, ele é uma obra social, uma
tarefa que torna o trabalhador solidário com todos os outros, e lhe faz
descobrir o seu "ser genérico". O labor mais banal, desde que seja
útil e aceito pela sociedade, pelo fato de cooperar para uma atividade global e
lhe trazer o seu contributo, por mínimo que seja, pode abrir para valores
personalizantes e próprios da vida social. A estrutura da sociedade deve
permitir esta abertura, residindo aqui o problema da relação entre o indivíduo
e a sociedade, que deve ser repensado em função das mudanças do mundo atual.
Também a análise freudiana da relação entre a necessidade e
o desejo pode ser útil. Se, enquanto atividade própria do homem, o trabalho
parte de uma necessidade a satisfazer,
ele transcede esta ordem puramente biológica. Ou antes, faz nascer no seio da
necessidade saciada, o desejo de outra coisa, uma insatisfação que pode impelir
o indivíduo na via do progresso e da descoberta, ou, simplesmente, a procurar
uma realização por fora do seu labor, mas que este torna possível, desde que
não esgote as forças do trabalhador.
II
É o problema do tempo livre, concebido não como tempo morto
e vazio, ou, mesmo, como atividade após o trabalho, e sem qualquer laço com
ele, mas como atividade gratuita, isto é, não motivada pela necessidade de
ganhar a vida, que deve permitir, com a alegria e disponibilidade, que pode
proporcionar, que cada um tome consciência do valor humano e social do
trabalho, para além de sua materialidade.
Só uma concepção humanista da sociedade pode unificar
valores pessoais e valores sociais no trabalho profissional. Trata-se da
relação entre indivíduo e sociedade , que deve ser relembrada como pressuposto
de toda a solução concreta, sempre a reinventar.
A sociedade nem é a simples soma dos indivíduos que a
compõem, nem uma entidade autônoma, possuidora dum fim superior ao das pessoas.
A sociedade é dada já com o indivíduo, contido nela em potência. Porque este,
como pessoa, é feito, essencialmente, para se abrir a outrem, para comunicar e
dialogar com o outro, para se enriquecer pelas vias do conhecimento e do querer
bem. O fato fundamental da existência humana não é, nem o indivíduo como tal,
nem a sociedade como tal, mas sim os homens existindo com os outros homens.
Ora, esta comunicação entre os homens, inicia-se ao nível
elementar de todo o trabalho, criador duma solidariedade entre as pessoas, que
não podem prover a sua subsistência, a não ser agrupadas, dando cada uma o seu
contributo.
O trabalho é uma das ligações entre a vida pessoal e a vida
social. Pelo próprio fato do seu labor, e do mínimo de competência e
especialização que supõe, o trabalhador nunca está isolado. Insere-se num
conjunto.
Ora, o homem, para se realizar, em primeiro lugar, sente a
necessidade de segurança, de se saber reconhecido pelos outros num mínimo de
dignidade, que é normalmente assegurado por todo trabalho bem realizado. Se o
desenvolvimento da pessoa passa pela comunicação com o outro, a integração
social mínima, trazida por todo o trabalho, deve contribuir para isso.
Entretanto, ela não pode ser suficiente se outros níveis da pessoa não são
influenciados ou, mesmo se o são, constituem uma ruptura com a vida, enquanto o
trabalho é puro ganha-pão.
Por parte da sociedade, todo o trabalho contribui para a sua
formação. Ela não pode existir senão pelo contributo de todos, nela exercendo
cada um uma função, ainda que o ignore e o esqueça.
O erro do capitalismo liberal é o de se recusar a fazer
participar os trabalhadores, tanto do produto comum, como das responsabilidades
da empresa. Para se conseguir tal participação e tal reconhecimento dos
direitos do trabalho, é evidente que este deve ser concebido na sua total
dignidade humana, isto é, no quadro de uma verdadeira noção de profissão. O
perigo da desumanização torna urgente uma verdadeira reabilitação do ideal
profissional.
As mudanças na sociedade
Enquanto, ainda há bem pouco tempo, era a propriedade
privada, que parecia ser o ponto de partida da ordem econômica e social, nos
dias atuais, é o trabalho, principalmente o tecnológico, que está em vias de
desempenhar este papel. A profissão é o trabalho enquanto humanizado e
realização da pessoa. O fato narrado constitui, portanto, um convite para
restituir à profissão a sua verdadeira função na sociedade, e encontrar novas
estruturas, que atribuam ao trabalho a dignidade humana.
Assiste-se, nos tempos atuais, à importância crescente das
relações humanas na empresa. Enquanto, outrora, esta se definia,
exclusivamente, como unidade de produção de novos bens, meio de aumentar o
capital, hoje em dia, parece ter passado para primeiro plano a organização das
relações humanas no seu seio, entre os seus diversos membros. Ainda que o lucro
continue a ser o móbil essencial do capitalismo, a evolução de certos setores
da civilização industrial parece ir num sentido menos materialista.
Ao libertar o homem das tarefas demasiado aviltantes ou
esgotantes, a tecnologia orienta, cada vez mais, o trabalho do operário para
uma operação de controle de sistemas automatizados. Ela provoca o aparecimento
de uma civilização do tempo livre, como forma de atividade personalizante, que
pode animar a atividade laboriosa. O tempo livre permite um certo recuo em
relação ao tempo de trabalho, podendo ajudar a integração da existência,
evitando os efeitos traumáticos duma tarefa fragmentária e monótona.
As transformações atuais podem ser favoráveis a uma retomada
da idéia de profissão e a u'a melhor compreensão de sua função social. Já não é
tanto o trabalho, como obra acabada e objetiva (perfectio operis), mas como
competência técnica que ela supõe no operário (perfectio operantis), que dele
faz um artífice consciente do progresso social.
Enquanto a humanidade viveu de um modo praticamente
estático, a profissão consagrava um "estado de vida" quase imutável,
numa ordem social hierarquizada, na qual desempenhava u'a missão social
predeterminada.
Hoje, a exigência de crescimento obriga, permanentemente, a
colocar em questão a estrutura e as formas de trabalho. Isto implica em
mudanças constantes, em abandono de fontes de produção pouco competitivas,
transferência de mão-de-obra, procura de novos mercados. A tecnologia, com sua
rapidez característica, faz cair, de modo rápido, muitas competências
estabelecidas.
III
A planetarização da humanidade, como que u'a massificação
coletiva, através de redes, cada vez mais abrangentes, de relações
inter-humanas, confere ao mundo uma nova fisionomia, cada vez mais unitária,
impelindo-o para sua unidade e para a formação duma consciência e duma cultura
comuns. Ela aproxima os homens uns dos outros, tornando-os solidários, com uma
ambigüidade grave, pois aumenta os riscos de choques e de afrontamentos.
O processo de socialização é a tendência para reforçar os
laços sociais, fazendo predominar o social sobre o individual. A relação entre
o indivíduo e a sociedade, arrisca-se a ser falseada em detrimento do primeiro.
Muitas atribuições e tarefas, que outrora era de ordem privada, realizáveis
pelos indivíduos, são pouco a pouco assumidas pela coletividade. Donde a
necessidade, para a sociedade, de planejar e prever, o que diminui a margem da
livre escolha, em particular da profissão.
Pode parecer difícil conciliar o desenvolvimento da
autoridade social e suas intervenções, de um lado, com a liberdade de exercício
das profissões, de outro, mas que dizem respeito cada vez mais, a toda a
sociedade. A dificuldade reside em salvar a função social e de serviço, de uma
parte, e sua função personalizantes e sua independência, de outra.
Problemas atuais e conclusão
Doravante, toda profissão deve ser considerada numa
perspectiva de serviço. Isto não significa que não sejam legítimas outras
finalidades pessoais. Mas todas devem estar subordinadas a um fim social, isto
é, uma função a cumprir no meio social. pelo fato da profissão ser a prática de
um trabalho especializado, mesmo que se se procurasse nele a realização da
pessoa, a solidariedade, inerente a tal trabalho, conferia à profissão um
caráter social.
Hoje, o aspecto social deve ser posto bem em primeiro plano,
também em nome da função personalizante da profissão. É manifesto o caráter
social do trabalho moderno. Com efeito, da competência de um trabalho
consciencioso, pode depender a vida de numerosos seres humanos. A complexidade
de imensas tarefas técnicas, faz com que um trabalhador anônimo, e isolado no
seu posto, possa assumir enorme responsabilidade para com a sociedade. os
exemplos são claros nos transportes e na distribuição de energia e de
carburantes... A menor greve geral revela a dependência da sociedade em relação
ao mundo do trabalho.
Se o trabalho perdeu algo de sua densidade humana ou de seu
encanto romântico, se ele é cada vez menos capaz de encher uma existência
humana, a pessoa do trabalhador pode e deve encontrar a sua realização na
tomada de consciência da função e missão social que desempenha. Não é na
materialidade do gesto, que reside a dignidade a ser encontrada, mas na ligação
entre o gesto e a vida social para a qual contribui. Daí a importância do tempo
livre para essa tomada de consciência.
Tomar consciência de seu papel, dentro da perspectiva de
serviço social, supõe um esforço de educação. A monotonia do trabalho, ou o
parcelamento deste, perdem parte de seu aspecto desumanizante, se na empresa se
instauram relações humanas, se há informação do valor, sentido e finalidade das
diversas tarefas realizadas na organização.
Contrariando a moda neo-liberal, quer-se afirmar que, apesar
de tudo, a atividade econômica não pode, "a priori" e em absoluto,
ser inteiramente deixada à iniciativa privada. A economia revelou a sua
incapacidade em dominar, ela própria, o seu crescimento. Há necessidade de um
planejamento, que numa perspectiva personalista, não deve ter como conseqüência
retirar às pessoas os seus direitos e iniciativas legítimos. Todo plano supõe
uma escolha política, opção para o futuro e uma educação dos responsáveis pela
economia.
O planejamento é obrigado a privilegiar certos setores da
atividade econômica, para os quais disponha de mais recursos naturais ou de
facilidade de mão-de-obra. Assim é que é obrigado a prever uma diminuição ou,
ao contrário, um aumento de efetivos desta ou daquela profissão, limitando,
desta forma, a liberdade da pessoa na escolha das profissões, ou, então,
permitindo e facilitando sua imigração para outro setor mais favorecido.
Outrora, a profissão significava uma existência votada a uma
tarefa especializada, geralmente para toda a vida. A sociedade moderna, em
mudança e desenvolvimento, não pode garantir "a priori" que as formas
profissionais do passado continuem a ser as do futuro.
Já não pode aceitar-se que haja, para cada homem uma tal e
qual vocação. Deve-se alargar, consideravelmente, a idéia de vocação. A única
verdadeira vocação do homem é a de realizar planejadamente a sua personalidade,
ao serviço de seus semelhantes. Se esta ou aquela profissão é o meio particular
de realizar esta vocação fundamental, só numa perspectiva de disponibilidade
permanente, em relação a outras tarefas possíveis, será isto possível. A idéia
de profissão pode, ainda, solucionar o eterno problema entre o indivíduo e a
sociedade.
Excertos bibliográficos:
“Só há duas concepções de ética, [situadas] em pólos
opostos: uma delas, cristã e humana, declara que o individuo é sagrado [...] A
outra parte do princípio básico de que um fim coletivo justifica todos os meios
[necessários para atingi-lo].” Arthur Koestler apud Lobby, o que é. Como se
faz, 2007, p. 2006.
“O modelo simétrico de duas mãos proporciona uma teoria
normativa de como se deveria praticar as relações públicas para que estas sejam
éticas e eficazes” James e Larissa Grunig, 1992.
“Vivemos não apenas num novo ambiente social: passamos a
viver, de uma década pra cá, num novo ambiente moral, com novas regras de
comportamento, com novas exigências, onde transgressões que antes podiam passar
desapercebidas podem agora ser expostas em tempo real, em escala global” (ROSA,
2007, p. 62.)
“No campo do limite da tolerância intra-organizacional, o
trabalhador que transgride a ética ou a organização que atua fora dos seus
limites ou bem são cúmplices, ou bem são intoleráveis um para o outro. Não há
terceira opção.” (THIRY-CHERQUES, 2008, p. 234)
“Mesmo a mais corriqueira das alegações, a de que devemos
tolerar as pequenas faltas, as faltas sem consequência, não encontra respaldo
em nenhuma das correntes do pensamento ético”. (THIRY-CHERQUES, 2008, p. 234)
“As atividades de Relações Públicas estão a serviço da
classe que detém a prioridade privada dos meios de produção. “Sob a aparência
de conclamação ao debate com o objetivo de encontrar um interesse comum,
estabelece-se uma “compreensão mútua” entre desiguais.” (PERUZZO, 1986, P. 79)
“A tolerância com a moral não é um bem nem um dever. É a
complacência com quem não cumpre o dever. (...) Tolerar moralmente significa
uma autorização para violar princípios”. “Mesmo a mais corriqueira das
alegações, a de que devemos tolerar as pequenas faltas, as faltas sem
consequência, não encontra respaldo em nenhuma das correntes do pensamento
ético”. “No campo do limite da tolerância intra-organizacional, o trabalhador
que transgride a ética ou a organização que atua fora dos seus limites ou bem
são cúmplices, ou bem são intoleráveis um para o outro. Não há terceira opção.”
(THIRY-CHERQUES, Hermano Roberto, 2008, p. 234)
“Os profissionais de Relações Públicas precisam tornar-se
“educadores no ajudar as pessoas a entenderem todos os ângulos e conseqüências
antes de tomarem uma decisão, facilitadores para que neste mundo de crescente
complexidade, tornar as coisas mais simples e compreensíveis; tradutores no uso
da palavra mais adequada e clara para que a informação não se distorça”. (Vera
Giangrande, terceiro congresso de jornalismo empresarial)
BIBLIOGRAFIA
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COSTELLA, Antônio F. Legislação da Comunicação Social. Campos
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Entrevista com Renato Janine Ribeiro. Ética ou o fim do
mundo. Por Paulo Celestino da Costa. In: Revista Organicom, ano 5, número 8, 1º
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SROUR, Robert Henry. Poder, Cultura e Ética nas
Organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 1998. P. 269 – 323.
SROUR, Robert Henry. Por que empresas eticamente orientadas?
In: Revista Organicom, ano 5, número 8, 1º semestre de 2008.
THIRY-CHERQUES, Hermano R. Ética para Executivos. Rio de
Janeiro: Editora FGV, 2008. p. 177 – 197. Capítulo Até que ponto somos
socialmente responsáveis.
VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2001. p. 13- 34.
ZAJDSZNAJDER, Luciano. Ética, Estratégia e Comunicação. Rio
de Janeiro: Editora FGV, 1999. p. 23 – 72.
Bibliografia Complementar:
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