30/10/2011

TI É FUNDAMENTAL PARA SUSTENTABILIDADE



Por Danielle Denny

A Pricewaterhousecoopers há anos aplica o teletrabalho. Os auditores e consultores não precisam mais ir ao escritório. Atendem seus clientes diretamente, via celulares e computadores. A economia de recursos ambientais decorrente dessa política é imensa: menos combustível, menos energia elétrica, menos água... Mas isso só é possível porque existe uma infraestrutura de TI muito bem desenvolvida a disposição dos funcionários, integrando-os e processando a infinidade de dados produzida por cada um deles em diversos locais.

Parece simples, mas esse volume massivo demanda uma estrutura física robusta, com vários servidores, cabos, gabinetes, muito bem estocados e refrigerados. Assim, esses data centers corporativos são verdadeiras dragas de recursos ambientais. O mais relevante, contudo, é a perda de energia eletrica, antes de chegar ao data center, em cada uma das fases desde a criação até o uso. A dissipação de energia e a ineficiência do sistema pode levar à conta de 1Watt para operar necessitando de outro 1 Watt para resfriar.

Claro que o setor de TI é um dos menos poluntes, corresponde, segundo Gartner, a 2% das emissoes globais de CO2, além dissso, é o setor que mais consegue contribuir para a redução das emissões dos outros setores. Mas esse desperdício representa custo. As empresas que não investirem em tecnologias verdes vão perder competitividade.

Visto por esse prisma, os ideais verdes se tornam bem pragmáticos. Como aponta Newton Figueiredo, presidente do Grupo Sustentax, “sustentabilidade é garantir rentabilidade com ética e responsabilidade socioambiental” mas “maquiagem verde é o que mais tem”. No afã de conquistar clientes socioambientalmente responsáveis, as empresas enveredam por caminhos que não trazem resultado.

Relatórios de sustentabilidade com formulários complicadíssimos, caríssimos, podem não agregar nenhum valor para o produto, para os clientes ou para os funcionários. Nesse contexto só enfeitam as prateleiras, não agregam valor às empresas. Têm de ser feitos apenas quando for necessário ou importante reportar, por isso tem de ser feito voltado para o público alvo, para o acionista, funcionário, ou cliente, em linguagem específica.

A quantificação de GEE (gás de efeito estufa) também não é remédio para tudo. Só para as empresas que têm emissão significativa ou têm operação no exterior. Afinal a emissão brasileira é muito baixa se comparada com a americana (13,8ton/pessoa nos EUA e 5,4ton pessoa no Brasil) assim, as políticas aplicadas pelos executivos americanos não podem ser aplicadas irrefletidamente no contexto brasileiro.

Esforços para se adequar ao ISE (indice de sustentabilidade da BOVESPA) que indica qual empresa é mais sustentável, também pode ser inócuo pois o medidor não é levado em consideração pelos investidores, uma vez que é tido como fora do mercado, feito por acadêmicos.

Muita da maquiagem verde se dá nas embalagens e rótulos. De nada adianta uma campanha de marketing ecológica, se o produto é tóxico, se a empresa não incentiva a redução, reutilização e reciclagem. Mudar apenas o envólucro pode gerar só prejuízo, principalmente depois do CONAR (Conselho Nacional de Autoregulamentação Publicitária) regulamentar o uso do termo sustentabilidade.  

Assim, não adianta executivos e formadores de opinião pensarem em ações isoladas, dissimuladoras. Tem de investir em tecnologia e em governança, para criar uma estrutura que propicie a sustentabilidade. Só assim será possível aproveitar a janela de oportunidade e se lançar a frente dos concorrentes, para implementar um modelo de negócio rentável e socioambientalmente responsável.

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Danielle Denny, foi convidada pelos organizadores do evento para participar do Fórum Green Tech, que aconteceu na terça-feira, 25/10/2011, Hotel Paulista Plaza, São Paulo, SP. Mais informações no site: http://www.convergeeventos.com.br/seminarios/600/index.htm 

DE PRESENTE, QUE TAL LIXO?

Por Danielle Denny
Joaquim Francisco no carrinho feito pelo pai.
A maioria das pessoas responderia negativamente à pergunta do título. Mas, com a proximidade do natal, seria muito bom se, além de economizar dinheiro, fosse possível poupar recursos naturais. Alexandre Cavalo, artista plástico gaúcho, radicado na capital de São Paulo, comprova que isso é possível. Os brinquedos do filho, Joaquim Francisco, são produzidos, a grande maioria, no ateliê do pai, com material que seria descartado, ou seja, com lixo. E são de causar admiração e inveja, como se percebe da foto, o carrinho tem até as iniciais do filho gravadas no capô.


Atitudes como essas estão na vanguarda, principalmente se tomarmos por base o atual arcabouço jurídico brasileiro. Ano passado foi aprovada a lei que institui a Política Nacional de Resíduos e está sob discussão o Plano para implementar essa política, inclusive nos dias 10 e 11 de outubro de 2011, na FIESP, em São Paulo, foi realizada uma das audiências públicas relativas a esse processo.


Nessa oportunidade, chamou a atenção a frase de Eduardo San Martin, Diretor de Meio Ambiente do CIESP e Diretor Titular Adjunto do Departamento de Meio Ambiente da FIESP: “temos de parar de jogar dinheiro fora, os resíduos são fonte de riqueza que estão sendo desperdiçados”. Soluções tecnológica, recursos e concientização coletiva são os três aspectos que têm de ser coordenados para implementar com sucesso a Política Nacional de Resíduos Sólidos.


Além disso, o assunto tem de ser amplamente abordado pela sociedade. Porque, com relação aos resíduos sólidos, todos precisam estar do mesmo lado. A sustentabilidade não pode ser apenas um valor restrito aos consumidores conscientes, aos ambientalistas e a alguns teóricos.
Os produtores também precisam perceber a oportunidade de lucrar com a economia verde e se comprometer a cumprir a lei, mesmo implicando custos. É um bom sinal o fato de Paulo Skaf, o presidente da FIESP, e, portanto, o maior representante das indústrias brasileiras, ter a Política Nacional de Resíduos Sólidos como bandeira política.


São Paulo tem um diferencial a mais nessa área, pois sua legislação estadual é vigente desde 2006 e está totalmente harmonizada com a Política Nacional de Resíduos Sólidos de 2010. Agora o estado pode demonstrar liderança e exigir que o prazo previsto na lei seja mantido em agosto de 2014. O desafio principal é implementar coleta seletiva em níveis massivos, nos diversos municípios paulistas.


Haverá e deverá haver criação de indústria da reciclagem em mais lugares, para poder acabar com a importação de resíduos. Com uma ampla rede de coleta seletiva e de reciclagem o lixo passa a ser apenas o rejeito “que não serve para nada” e deve receber a destinação adequada em aterros sanitários. Está prevista a eliminação total dos lixões até 2014. Importante vai ser mantê-los eliminados ao longo do tempo, pois o custo de manutenção muitas vezes faz com que aterros sanitários sejam negligenciados a ponto de regredirem à condição de lixão.


Iniciativas pragmáticas são necessárias. Algumas das reuniões setoriais na audiência pública, pelo contrário, ao invés de simplificar e deixar o Plano Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS mais aplicável, repetiu os termos da lei (a Política Nacional de Resíduos Sólidos), muitas vezes ampliando ainda mais os dispositivos legais, deixando-os ainda mais teóricos. O grupo de resíduos urbanos por exemplo, mesmo dividido em 3 subgrupos não conseguiu alcançar o final da análise e incluiu longos textos aos já propostos. Então, apesar de haver 380 pessoas sugerindo mudanças, os resultados da audiência, na capital paulista, foram decepcionantes.


O importante para o sucesso da Política Nacional de Resíduos Sólidos será alterar a consciência sobre o lixo, seu valor deve ser reconhecido, não dá para simplesmente ser afastado dos conglomerados urbanos, como vem sido feito há anos. Iniciativas como a de Alexandre Cavalo devem ser reconhecidas e replicadas. O Brasil tem muito a ganhar se valorizar o seu lixo.


Danielle Denny, representou o escritório Pinheiro Pedro Advogados na audiência pública, realizada nos dia 10 e 11 de outubro de 2011, na FIESP, São Paulo, SP.


Pai e filho na Av. Paulista da capital de SP



11/10/2011

Repetidos os termos da lei e muitas vezes ampliados


Por Danielle Denny

Relatório da última parte da audiência pública, realizada 11.10.11, na FIESP, São Paulo, SP.

Algumas das reuniões setoriais, ao invés de simplificar e deixar o Plano Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS mais aplicável, repetiu os termos da lei (a Política Nacional de Resíduos Sólidos), muitas vezes ampliando ainda mais os dispositivos legais, deixando-os ainda mais teóricos. O grupo de resíduos urbanos por exemplo, mesmo dividido em 3 subgrupos não conseguiu alcançar o final da análise e incluiu longos textos aos já propostos. Então, apesar de haver 380 pessoas sugerindo mudanças, os resultados foram decepcionantes.

Para o grupo de mineração pouquíssimas são as alterações necessárias, a principal é que o Plano Nacional de Mineração deve ser proposto para 2030.

O grupo agrossilvopastoril sugeriu incluir tanto os ogânicos como os inorgânicos na política de gestão dos resíduos agrossilvopastoris, priorizando regiões rurais mais populosas. Com implementação gradativa, agentes de extensão rural e logística reversa para todos os resíduos agrossilvopastoris.

O grupo saúde, portos e aeroportos sugeriu capacitação de forma continuada. Nova estratégia: inclusao de medidas pedagógicas referentes ao PNRS em instituições de ensino da área de saúde e meio ambiente; divulgar informações com relação às metas, com controle de indicadores anuais; inserção de informações sobre o cumprimento das metas de resíduos sólidos no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde - CNES a partir de 2015. Implantar, não apenas estabelecer, a coleta seletiva e a logística reversa de 50% dos materiais em 2015 e de 100% em 2019.

O grupo de resíduos industriais sugeriu eliminação completa dos resíduos sólidos industriais. Implementar sistema de informação integrada entre os 3 ambitos do governo e, até 2014, com revisão e monitoramento anual.  Estratégia de adequação específica para as micro e pequenas empresa, com medidas indutoras e linhas de financiamento. Sugerido o gerenciamento de resíduos sólidos nas indústrias, tanto dos perigosos como dos não perigosos, até 2014. O grupo sugeriu a mudança da meta para 100% até 2014 (era de 50% até 2014).

O grupo da construção civil sugeriu regularização ou eliminação das areas irregulares de disposição final, bota fora. Apontou a importância do investimento em fiscalização. Sugeriu ampliarem-se linhas de financiamento para setor público, setor privado e terceiro setor, a fim de garantir recursos para os projetos e para sua implementação. Ressaltou, ainda a necessidade de articulação junto aos órgaos licenciadores, para otimizar processo de licenciamento e a criação do Sistema SINIR, grande banco de dados sobre resíduos. Defendeu a meta de dar destinação adequada a 100% dos resíduos até 2015.

Por último, o mais polêmico, o grupo de resíduos urbanos sugeriu a criação de um grupo técnico com participação do movimento dos catadores para auxiliar o Ministério do Meio Ambiente – MMA na implementação da Política de Resíduos Sólidos. Além disso, ressaltou que a inclusão da população de baixa renda deve ser adequada às estratégias locais e às especificidades de cada região, fazendo com que a responsabilidade seja compartilhada pelos três níveis de governo. Os catadores devem ser pagos como coletores e triadores, para promover o aumento da eficiencia dos processos de coleta e triagem existentes. Deve haver educação ambiental dentro das empresas e incentivos fiscais inclusive para estimular a segregação pelo consumidor. O transporte de materiais e de resíduos deve ser minimizado. A indústria da reciclagem deve ser incentivada, com inclusão social, desenvolvendo e valorizando os catadores. Deve haver aumento da vida útil dos produtos e programas publicitários, em horário nobre, para divulgação de conceitos sustentáveis. A participação de cooperativas, associações e redes de cooperativas de catadores em todos os níveis possíveis deve ser estimulada.
Foi sugerida também: a garantia de preço mínimo em 60% do preço normalmente praticado no mercado; o fomento do uso de compostos orgânicos na agricultura; incentivos a minhocários caseiros para geração de renda (venda de humus) a ser organizado pelas ONGs; desenvolvimento e nacionalização de tecnologias para tratamento de rejeitos, visando alcançar o objetivo de aterro zero; remediação das áreas degradadas; a exigência de que o setor varejista implemente práticas de sustentabilidade no atendimento ao cliente.
Também foi apontado como fundamental a consolidação da Agenda Ambiental na Administração Pública - A3P, com a sensibilização dos servidores, para a importância da prática de compras públicas sustentáveis, tanto na administração direta como na indireta; para o uso da construção civil sustentável em todas as esferas da administração pública direta e indireta; para o incentivo ao uso e à engenharia de produtos de vida útil prolongada; para a revisao tecnologicas do desenho das plantas industriais, no sentido de equacionar a produção de resíduos com diminuição de resíduos, preferencialmente usando software livre.
Outras, das muitas sugestões, foram: a obrigatoriedade de rótulos educativos sobre a perenidade do produto; a vedação da produção e da importação de produtos que não possam ser recicláveis; o pagamento pelo serviço ambiental prestado pelos catadores e realocação de outros recursos públicos para subsidiar a atividade dos catadores; implementação de base de dados para quantificar, informar a origem e o destino e identificar o agente que a transformou o resíduo.






10/10/2011

Com relação aos resíduos sólidos, todos estão do mesmo lado

Por Danielle Denny

Relatório da primeira parte da audiência pública, realizada 10.10.11, na FIESP, São Paulo, SP.

Eduardo San Martin - Diretor de Meio Ambiente do CIESP e Diretor Titular Adjunto do Departamento de Meio Ambiente da FIESP, abriu o evento representando a FIESP/CIESP. Ressaltou a importância de se parar de jogar dinheiro fora, os resíduos são fonte de riqueza que está sendo desperdiçado. Inclusive, Paulo Skaf tem a Política Nacional de Resíduos Sólidos como bandeira política. Soluções tecnológica, recursos e concientização coletiva são os três aspectos que têm de ser coordenados para implementar com sucesso a PNRS.

Rubens Rizek, Secretário Adjunto do Meio Ambiente, representou Bruno Covas. Se mostrou entusiasmado com as audiências passadas, só no Paraná, houve mais de 180 apontamentos. Achou importante registrar que é um grande avanço o Skaf, como representante das indústrias, se compromenter a cumprir a lei, mesmo implicando custos. Então, “estamos todos no mesmo lado da trincheira”. Inclusive São Paulo tem um diferencial a mais, sua legislação estadual é vigente desde 2006 e está totalmente harmonizada com a Política Nacional de Resíduos Sólidos de 2010. Agora tem de demonstrar liderança nas sugestões para o Plano Nacional de Resíduos Sólidos que está sob consulta pública e exigir que o prazo seja mantido em agosto de 2014.

Roberto Rocha, da Coordenação Nacional de Catadores de Material Reciclável, mncrsp@gmail.com, apontou a necessidade de inclusão de fato dos catadores. Há programas de inclusão prontos, elaborados pelos próprios catadores, manifestando-se pelo fim da queima de lixo e da exclusão social.
                                 
Nabil Bonduki, do Ministério do Meio Ambiente - MMA, representou a ministra Izabella Mônica Vieira Teixeira. Constatou que o importante é dar voz, construir política pública de forma representativa, o presente ciclo de audiências é um bom exemplo disso. Haverá audiência extra no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, além do que determina a lei (uma audiência pública em cada região do país). Além da participação da população, o governo se faz representar de forma ampla, inclusive no Comite Interministerial coordenado pelo MMA mas que inclui outros 12 ministérios. O Plano Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS está no centro das agendas ministeriais. Haverá e deverá haver criação de indústria da reciclagem em mais lugares, para poder acabar com a importação de resíduos. Lixo tem de ser apenas o rejeito “que não serve para nada”. Além disso há de haver diálogo com a agenda de construção da cidadania. Consumidor final precisa estar comprometido com a separação, com a escolha dos produtos de marcas responsáveis, cobrando o poder público pela implementação do PNRS. Desafio do Estado de SP é implementar coleta seletiva em níveis massivos, nos diversos municípios. Intensão é aprovar todos os planos de governo do estado, por meio de processo de consorciamento (municípios consorciados, estados gestores). E as ONGs deverão ter papel fundamental na educação ambiental. Recicla Brasil propõe também a qualificação dos catadores, com projeto de lei de pagamento por serviços ambientais, importante para financiar os catadores. Das audiências públicas devem sair as metas indicativas do que é preciso fazer nos próximos anos. Obs. editais de logística reversa de embalagens e medicamentos provavelmente sairão até o final do ano!

Silvano Silvério da Costa, do MMA, falou sobre as diretrizes, estratégias e metas. No Plano as metas são de 20 anos, com verificação de 4 em 4 anos. PNRS harmonico com o Plano Nacional de Saneamento Básico – PLANSAB ou PNSB, com metas também harmonizadas. Está prevista a eliminação total dos lixões até 2014, não há meta com outro prazo. Importante vai ser mantê-los eliminados ao longo do tempo, pois o custo de manutenção muitas vezes faz com que aterros sanitários sejam negligenciados a ponto de regredirem à condição de lixão. O plano tem metas para todos os resíduos, justamente para ter controle sobre eles. Tem metas para logística reversa para cada macro divisão de resíduos, não tem uma norma geral ou regra específica sobre logística reversa. Mas a redução de lixo seco nos aterros, indiretamente contempla a logística reversa. SINIR (sistema informações de residuos) e instrumentos econômicos são fundamentais para o sucesso da implementação do PNRS.

Albino Alvarez, do IPEA, albino.alvarez@ipea.gov.br, sumarizou o diagnóstico dos resíduos no Brasil, que o IPEA elaborou em 5 meses. O importante para o sucesso do PNRS será alterar a consciência sobre o lixo, não dá para simplesmente nos afastarmos dos resíduos sólidos, como vem sido feito há anos. Em resumo, a situação no Brasil é muito ruim, avançamos muito pouco, inclusive comparativamente a outros países de similar nível de desenvolvimento. Tem de ser reconhecida a complexidade do tema e a diversidade. Setores tem dificuldades diferentes, com resíduos urbanos seria relativamente rápido serem alcançadas as metas, já na mineração, agricultura e portos, demoraria mais.
A coleta urbana é praticamente universalidade no Brasil, no rural há apenas 50% dos resíduos sendo coletados, mas a população brasileira é aproximadamente 80% urbana. Coleta seletiva cresce muito, 120%, mas em cima de uma base muito pequena. E ainda é muito pouco articulada à reciclagem. Hoje reciclagem se mantém devido ao trabalho de autônomos (catadores), de resíduos industriais e da importação.
Aterros sanitários, aterros controlados e lixão são a grande maioria. Menos de 1% dos residuos vão para compostagem, por exemplo. E só 30% dos municípios brasileiros contam com aterro sanitário. Mas, em termos de quantidade, a distribuição é mais equilibrada (aterros sanitários estão em grandes e médias cidades, cujo volume de resíduos é maior). Muitos aterros sanitários de municípios pequenos têm sido convertidos em lixões devido aos preços de manutenção.
A inserção dos catadores passa pela sua formalização. Além disso, sem política de destinação de resíduos só a educação não adianta. Cobrar pelo lixo que é produzido com taxas específicas proporcionais ao volume reciclado e o ICMS ecológico também são duas das propostas.
Muitas vezes a legislação já existe, mas não vem sendo cumprida. Como por exemplo a Resolução do Conama 313 de 2002, que estabelece inventários de resíduos industriais, mas que não saiu do papel. Modelo de sucesso da logistica reversa das embalagens de agrotóoxicos deve ser usado de exemplo para outras áreas.


05/10/2011

Globo Rural é jornalismo literário


Por Danielle Denny

Anotações feitas no encontro com Nélson Araújo, na Cásper Líbero, em 04/10/11.

“A narrativa na TV: Reportagem e história de vida no Globo Rural com Nélson Araújo”

Mesa com Dimas Kunsch, Eugenio Menezes, Monica Martinez e Nelson Araújo, os três amantes da boa narrativa
Presença dos alunos da faculdade Alcäntara Machado.

O mundo tem tanta brincadeira para ser brincada, tanta história para ser contada. Narrativas nos aproximam do humano, são histórias de vida, sem certezas sem verdades, nada fechado, sem dogmas. O humano na sua complexidade é o menos definivel possível, o mais misterioso, o mais encantador, o mais desafiador.

“Jornalismo e tempo profundo”, artigo no livro da Compós, disponível no site do evento.

Jornalismo literário é retranca usada como sinonimo de jornalismo romântico do século XIX. Conceito atual é de modalidade de prática jornalistica que emprega métodos de captacao e observacao em profundidade das ciencias sociais. Esses dados ressignificados sao redigidos de forma mais complexa e elaborada, como na Literatura. Com o objetivo de resgatar, apurar, compreender e relatar os nexos, para produzir jornalismo mais elaborado.

Há muitas terminologias sinônimas Jornalismo narrativo de Nieman, Literatura da realidade da ABJL, Literatura criativa de não ficcao (creative non-fiction), Periodismo de creacion (Nuevo Periodismo).
O jornalismo literário usa o tempo profundo, decompõe a história em planos escalonados, tempos mais densos. Nao usa o lide como abertura. Busca envolver.

Exemplo é o livro “Basin and Range”, de John McPhee, colaborador da The New Yorker, ganhou Pulitzer Prize, por Annals of the Former World.

Exemplo brasileiro é o jornalista Nelson Araújo, do programa Globo Rural, chamado de artesão pelo editor-chefe do programa desde que foi criado, em 1980. Outro apelido é de tele-trovador. Demonstra profundo faro jornalístico para identificar pauta interessante. Se define como repórter curioso, enxerido. Estabelece um diálogo proundo com suas fontes. Edita o material com muito esmero. Transcreve fala por fala por exemplo. Mescla prosa e poesia, com relato humanizado contendo origens históricas e geográficas do tema. O trabalho de Nelson Araújo mostra que há espaço na tv brasileira para experiencias que possibilitam narrativas aprofundadas usando o tempo profundo.
Reportagem Buriti, exibida por 15 minutos, sensacional.

Em TV não existe primeira pessoa, tudo envolve muitas pessoas: técnico de som, cinegrafistas, motoristas, repórteres. Para cada minuto no ar no mínimo 10h de trabalho. Como o 007 tem licença para matar o jornalista tem licença para perguntar. Nelson tenta se manter ingênuo o máximo possível, independente das ideias pre concebidas. Como disse Carlos Drummond de Andrade, escrever é a arte de cortar palavras, narrar na TV é cortar cenas. Na tv nao escreve com palavras, a narrativa é com imagem. Não é poeta, é às vezes poético. Tem o olho sempre na narrativa, buscando algo que possa ser contado e na forma de contar.

Nao nasce a inspiracao gratuitamente, ela é fruto de trabalho, consequencia do repertório de cada um. O repórter nao coloca em tela só o que está vendo, faz também uma doacao de si. São 40 anos de experiência de preparo para fazer o programa. Com reportagem sobre feira de trabalho mostra que os cavalos aprendem no alívio não na pressão , assim como nós. Busca mostrar o que foi visto, de forma que as pessoas entendam, e de uma maneira bonita. Público do Globo Rural é bem heterogênio, por isso tem de explicar bem na matéria o conceito das coisas como por exemplo mostrar a raiz do Buriti. Tem de fazer introdução aos assuntos, para facilitar o entendimento das pessoas. Tem de comecar como se nao soubesse nada do assunto, depois compatibilizar com o que já estudou sobre o assunto e utilizando uma forma narrativa interessante.  É importantíssimo ter começo meio e fim, a decupagem do editor é fundamental por isso é ele que dá brilho ao trabalho do repórter. Depois de 17 horas de gravação, angústia de escolher as melhores imagens para os 30 minutos do programas. Tem de criar um contexto para seduzir por cima dessas imagens, para obter a atenção do telespectador.

A levada do Globo Rural é a de matar a curiosidade de um fazendeiro ideal médio como se ele fosse  viajar e visse coisas diferentes e voltaria contando para os compadres, novidades como o adubo verde do pé de café (corta o capim e deixa). Globo Rural permite o aprofundamento maior, conhece convive com os entrevistados por mais tempo, por exemplo.

Citação de Picasso que ao chegar compradora em estúdio fez um quadro na hora e cobrou milhões, ao espanto da compradora, respondeu “eu me preparei a vida toda para fazer esse quadro rapidamente para você” a remuneração não é pela uma hora de trabalho simplesmente, mas sim por uma vida de estudo e preparação.

Horário do programa 7h da manhã de domingo facilita o ouvir. Não estão tão anestesiados os sentidos.Narrativas mais calmas. Globo Rural permite introdução de 1 minuto, quando nos demais programas, 1 minuto é o tempo total da reportagem. Mas é um limitador também, tem de ter muito cuidado para não estragar o domingo das pessoas. Saúde no meio rural, por exemplo, é de uma tristeza que estraga qualquer manhã. Tem de ser encontrada uma forma de contar isso.