05/10/2011

Globo Rural é jornalismo literário


Por Danielle Denny

Anotações feitas no encontro com Nélson Araújo, na Cásper Líbero, em 04/10/11.

“A narrativa na TV: Reportagem e história de vida no Globo Rural com Nélson Araújo”

Mesa com Dimas Kunsch, Eugenio Menezes, Monica Martinez e Nelson Araújo, os três amantes da boa narrativa
Presença dos alunos da faculdade Alcäntara Machado.

O mundo tem tanta brincadeira para ser brincada, tanta história para ser contada. Narrativas nos aproximam do humano, são histórias de vida, sem certezas sem verdades, nada fechado, sem dogmas. O humano na sua complexidade é o menos definivel possível, o mais misterioso, o mais encantador, o mais desafiador.

“Jornalismo e tempo profundo”, artigo no livro da Compós, disponível no site do evento.

Jornalismo literário é retranca usada como sinonimo de jornalismo romântico do século XIX. Conceito atual é de modalidade de prática jornalistica que emprega métodos de captacao e observacao em profundidade das ciencias sociais. Esses dados ressignificados sao redigidos de forma mais complexa e elaborada, como na Literatura. Com o objetivo de resgatar, apurar, compreender e relatar os nexos, para produzir jornalismo mais elaborado.

Há muitas terminologias sinônimas Jornalismo narrativo de Nieman, Literatura da realidade da ABJL, Literatura criativa de não ficcao (creative non-fiction), Periodismo de creacion (Nuevo Periodismo).
O jornalismo literário usa o tempo profundo, decompõe a história em planos escalonados, tempos mais densos. Nao usa o lide como abertura. Busca envolver.

Exemplo é o livro “Basin and Range”, de John McPhee, colaborador da The New Yorker, ganhou Pulitzer Prize, por Annals of the Former World.

Exemplo brasileiro é o jornalista Nelson Araújo, do programa Globo Rural, chamado de artesão pelo editor-chefe do programa desde que foi criado, em 1980. Outro apelido é de tele-trovador. Demonstra profundo faro jornalístico para identificar pauta interessante. Se define como repórter curioso, enxerido. Estabelece um diálogo proundo com suas fontes. Edita o material com muito esmero. Transcreve fala por fala por exemplo. Mescla prosa e poesia, com relato humanizado contendo origens históricas e geográficas do tema. O trabalho de Nelson Araújo mostra que há espaço na tv brasileira para experiencias que possibilitam narrativas aprofundadas usando o tempo profundo.
Reportagem Buriti, exibida por 15 minutos, sensacional.

Em TV não existe primeira pessoa, tudo envolve muitas pessoas: técnico de som, cinegrafistas, motoristas, repórteres. Para cada minuto no ar no mínimo 10h de trabalho. Como o 007 tem licença para matar o jornalista tem licença para perguntar. Nelson tenta se manter ingênuo o máximo possível, independente das ideias pre concebidas. Como disse Carlos Drummond de Andrade, escrever é a arte de cortar palavras, narrar na TV é cortar cenas. Na tv nao escreve com palavras, a narrativa é com imagem. Não é poeta, é às vezes poético. Tem o olho sempre na narrativa, buscando algo que possa ser contado e na forma de contar.

Nao nasce a inspiracao gratuitamente, ela é fruto de trabalho, consequencia do repertório de cada um. O repórter nao coloca em tela só o que está vendo, faz também uma doacao de si. São 40 anos de experiência de preparo para fazer o programa. Com reportagem sobre feira de trabalho mostra que os cavalos aprendem no alívio não na pressão , assim como nós. Busca mostrar o que foi visto, de forma que as pessoas entendam, e de uma maneira bonita. Público do Globo Rural é bem heterogênio, por isso tem de explicar bem na matéria o conceito das coisas como por exemplo mostrar a raiz do Buriti. Tem de fazer introdução aos assuntos, para facilitar o entendimento das pessoas. Tem de comecar como se nao soubesse nada do assunto, depois compatibilizar com o que já estudou sobre o assunto e utilizando uma forma narrativa interessante.  É importantíssimo ter começo meio e fim, a decupagem do editor é fundamental por isso é ele que dá brilho ao trabalho do repórter. Depois de 17 horas de gravação, angústia de escolher as melhores imagens para os 30 minutos do programas. Tem de criar um contexto para seduzir por cima dessas imagens, para obter a atenção do telespectador.

A levada do Globo Rural é a de matar a curiosidade de um fazendeiro ideal médio como se ele fosse  viajar e visse coisas diferentes e voltaria contando para os compadres, novidades como o adubo verde do pé de café (corta o capim e deixa). Globo Rural permite o aprofundamento maior, conhece convive com os entrevistados por mais tempo, por exemplo.

Citação de Picasso que ao chegar compradora em estúdio fez um quadro na hora e cobrou milhões, ao espanto da compradora, respondeu “eu me preparei a vida toda para fazer esse quadro rapidamente para você” a remuneração não é pela uma hora de trabalho simplesmente, mas sim por uma vida de estudo e preparação.

Horário do programa 7h da manhã de domingo facilita o ouvir. Não estão tão anestesiados os sentidos.Narrativas mais calmas. Globo Rural permite introdução de 1 minuto, quando nos demais programas, 1 minuto é o tempo total da reportagem. Mas é um limitador também, tem de ter muito cuidado para não estragar o domingo das pessoas. Saúde no meio rural, por exemplo, é de uma tristeza que estraga qualquer manhã. Tem de ser encontrada uma forma de contar isso.

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