Referências:
BAITELLO JR, Norval. Corpo e imagem: comunicação, ambientes, vínculos. In: RODRIGUES, David (org.) Os valores e as atividades corporais. São Paulo: Summus, 2008. P. 95 - 112
A famosa citação de Harry Pross: “Toda
comunicação começa no corpo e nele termina” abre a discussão sobre a
necessidade de se incluir o corpo no processo comunicativo. São discutidas algumas
implicações que vêm a tona quando se menciona “corpo”: a hipnogenia, a
ambiência, os vínculos e a projetividade.
De acordo com o princípio da hipnogenia, as
pessoas não têm responsabilidade pelo processo comunicacional que é controlado
absolutamente pelos meios, elas se encontram em quase hipnose. Contudo, nessa
categoria se enquadram apenas os indivíduos que se submetem a essa alienação,
renunciando ao seu prórpio corpo, ou negligenciando uma relação equilibrada com
ele.
“... concepção de hipnogenia (Elisabeth
von Samsonow) como componente indispensável dos sujeitos e objetos da
comunicação – crença que passa a ser questionada. Tomava-se por aceita e
tranquila a concepção de que os veículos comunicativos, os chamados meios ...
tendem a substituir (ou ao menos ocultar) seus produtores, conduzindo o
telespectador à ilusão de que são autônomos e imperativos (por seu lastro
material ou por sua autoridade baseada na presença contínua de seus sinais).
... A hipnogenia transfere ao meio toda a responsabilidade, mas também toda a
capacidade de decisão, deixando seus agentes no espaço-tempo de uma quase
hipnose, abrindo mão de sua intencionalidade, de sua história e de seus
sonhos...”(BAITELLO, 2008, pág 97)
“... localizando no corpo o momento
germinal da comunicação, evita-se totemizar os meios, a mídia e afasta-se a
crença na autonomia desta, bem como em sua onipotente decisão. Expande-se a
percepção do fato social e inclui-se uma instância complexa, dotada de
imperativos próprios, de densidade histórica e cultural. Com isso, não se pode
simplesmente transformar ou enxergar o participante de um processo de
comunicação como um ‘sujeito hipnógeno’, despido de capacidade de
autodeterminação. Ele será transformado em tal figura infantilizada e de
reduzido grau de vigília e prontidão quando renunciar- por vontade prórioa ou
dos insistentes aparelhos sociais e culturais _ ao seu próprio corpo ou tiver
uma relação pouco vital com ele. ... Por força de um estreitamento do uso dos
sentidos (e da sensorialidade), ou seja, do próprio corpo em suas múltiplas
potencialidades, criam-se “funcionários” (no sentido da expressão criada por
Vilém Flusser) de um aparelho social onipotente, incapazes de existência plena e
previamente projetados para suas funções.”(BAITELLO, 2008, pág 98)
Além disso o corpo cataliza ambientes
comunicacionais, pelo simples fato de estar presente. A essa qualidade dá-se o
nome de ambiência.
“O corpo não se reduz a um único vetor ou
a uma única direção de vinculação... não é... mero meio de comunicação ou
mídia. Muito antes, ele é um catalisador de ambientes, e talvez seja sempre o
catalisador inicial de um ambiente comunicacional. Podemos nomear essa
implicação de “princípio da ambiência”. Sua simples presença gera a disposição
de interação, desencadeia processos de vinculação com o meio, com os outros
seres do entorno e com seus iguais.... Somos vocacionados para a interação com
outros que preencham nossas faltas e necessidades, porque somos corpo, com
limites e alcances espaciais claros, com uma duração apenas presumível, mas
indubitavelmente finita.” (BAITELLO, 2008, pág 99)
Comunicação deve ser entendida como estabelecimento
de vínculos entre corpos. É descabida a ideia de que comunicar é apenas trocar
informações.
“ Comunicar-se é criar ambientes de
vínculos. Nos ambientes de vínculos já não somos indivíduos, somos um nó
apoiado por outros nós e entrecruzamentos ... deslocamento do foco da
comunicação: não se pode mais compreendê-la como simples conexão ou troca de
informações, mas necessariamente é preciso ver nela uma atividade vinculadora
entre duas instâncias vivas. ... os vínculos procedem de atmosferas afetivas,
quer dizer, procedem de espaços de falta (ou espaços negativos), eles germ
densidades afetivas oriundas dos espaços de carência ou saciedade, dos espaços
de negação ou de negação da negatividade.” (BAITELLO, 2008, pág 100).
E comunicar é estabelecer ambientes ou
atmosferas comunicacionais, conectanto a história de toda a humanidade por meio
do princípio da projetividade.
“...não é um canal, ou uma via, ou um
fluxo a melhor forma de retratar um processo comunicativo, já que este parte de
um corpo. Muito mais adequado seria sua consideração, ... como ambiente, ou uma
atmosfera gerada por todas as partes que a integram, suas materialidade e
imaterialidade, seus percurso e sua histórias, seus sonhos, suas ambições e
aspirações, suas perspectivas pregressas e ‘progressas’, suas projeções para
frente e para trás, ambas entrelaçadas e inseparáveis, as naturezas
retrospectiva e prospectiva mescladas uma à outra, como se o tempo se tivesse
tornado duplo, inverso e reversível. A essa implicação podemos atribuir o nome
de ‘princípio da projetividade’. Sim, porque um corpo é o registro das
histórias de si mesmo e de todos os outros corpos, oferecendo a um ambiente
comunicacional a profundidade e a densidade das camadas mais profundas do seu
tempo e dos outros tempos. E sim, porque um corpo também é o registro dos
sonhos, desejos e anseios que delineiam a perspectiva e a projeção futura de si
mesmo e de todos os outros corpos. Projetividade é o lastro de história e o
potencial de anseios que todo corpo carrega em seu âmago. ... Um corpo sempre
conta histórias e projeta sonhos. Mais que isso, ele se constrói nas histórias
e nos sonhos” (BAITELLO, 2008, pág 102 e 103)
Na contemporaneidade, contudo, se percebe
um processo de abstração do corpo e de cerceamento do corpo para fazê-lo entrar
na forma dada previamente por uma imagem. Em um processo crescente de adequação
a objetivos e sonhos pré-fabricados. Como se os seres humanos fossem apenas
ferramentas.
“ operação complexa que denominei ‘iconofagia’,
na qual se processam as duas devorações heterodoxas: corpos que se alimentam de
imagens e imagens que se alimentam de corpos. Tais devorações ocorrem em
inúmeras situações e com frequencia cada vez mais assustadora, com a escalada
exponencial da hegemonia do sentido da visão em detrimento dos outros sentidos
que operam a comunicação de proximidade. Tocar, saborear e cheirar são sentidos
banidos da comunicação.” (BAITELLO, 2008, pág 104)
“As amputações de projetividade ...Entre
as violências perpetradas pela civilização, essa se apresenta como uma das mais
graves. Pode-se simplificá-la coo uma sonegação do direito de sonhar, de crer
(até mesmo de ter fé), de ambicionar uma vida própria, diferenciada dos padrões
previstos e programados pelas estratégias da civilização centrada no escoamento
da produção serial de mercadorias. ... Apagar os matizes da memmória e das
vivências sempre individualizadas significa homogeneizar o presente, pois impõe
um atestado de procedência única. Significa, também, impor um único destino, um
roteiro de vida previsto, um futuro de sonhos uniformizados e pré-fabricados.”
(BAITELLO, 2008, pág 105)
Evento internacional, realizado na ECA, em 16/09/11
MESA REDONDA
A memória pela música.
Neurociência. Amnésia e música.
Edson Amâncio
Pessoa pode esquecer tudo e continuar lembrando como tocar. Há
uma memória inconsciente. Paciente HM sem memória episódica, porque fez cirugia
para epilepsia. Experiencia de fazer estrela só olhando por espelho para a mão,
paciente mesmo não lembrando que tinha desenhado a estrela no dia anterior, com
o passar do tempo passa a desenhar melhor. Há pacientes com herpes no cérebro
que continuam tocando (se o virus preserva o lado direito, pex). Há também
doenças nervosas decorrentes da música (dependendo da melodia do tom). Ouvir música
sem querer vira um virus musical (música que não sai da cabeça, causa agonia).
Alucinações musicais principalmente em pessoas que estão se tornando surdas. E há
pessoas dementes que têm ouvido musical , demências como Alzheimer e demencia
fronto temporal (começa com perda de autocrítica, mas se parece com Alzheimer).
Memória
Pedro Paulo Kohler Bondesan dos Santos
Memoria episódica, semântica, de curto termo (ecóica),
motora (como para tocar instrumento), memória de trabalho (auxilia o
pensamento). Memória de curto prazo expectativas dinâmicas. Memória episódica
expectativas verídicas. Memória episódica + repetição de estímulos semelhantes
memória semantica. Memória semântica, ou esquemática, permite as
generalizações.
Filosofia cognitiva da música
Maurício Dottori (foi aluno no Cañizal).
Audição é o sentido do medo para Nietzsche. Enquanto os
outros sentidos dormem a audição continua para avisar do perigo. Nao é a
qualidade do som que importa em termos emocionais (prato caindo em uma festa
não assusta mas o mesmo prato numa casa vazia assusta). Relação som e emoção é
muito primária, lutar ou fugir. Fazemos música porque a civilização nos criou
uma zona de conforto. Os pratos não ficam por aí caindo sozinhos. Os animais
não fazem música porque ainda vivem com medo. Para Spinoza, nossos agrupamentos na memória
da música são de origem pré racionais, é uma aplicação como se fosse um jogo,
baseada em noções chunks de memória bem primitivas, que não fazem relação
direta com o mundo. Jogo de simetrias, categorizações e agrupamentos. Linguagem
da mãe é percebido pelo bebê como emoção. Ainda não assimila a linguagem. Não
faz relação com o mundo. Ao contrário de Barthes, para Dottori, a linguagem
liga-se com o mundo. Imaginar uma música lendo partitura é diferente de
efetivamente ouvir música (só emoção, memória afetiva). O primeiro é o caminho
novo de percepção da música o segundo é o caminho antigo, instintivo, que nos previne
do perigo. Santo Agostinho fala que a estrutura da intensao que se tem quando
se le a música é diferente da vivencia do som da canção parte como todo. Cantar
atirei o pau no gato não tem problema porque quando a criança percebe a palavra
o mundo já está calmo, pela música, pelo ritmo.
Paisagem sonora
Pedro Paulo Salles
Lingua do Pê é memória da paisagem sonora da infância. Paisagem
sonora não é só a que se houve mas também de tudo que já foi ouvida. História das
mentalidades: aspectos psicológicos, afetivos, mentais, místicos. História
cultural: aspectos culturais, sociais, rituais.
Memória acústica
Eduardo Peñuela Cañizal
Imagem cinematográfica se evapora com muita facilidade. Filme
cidadão Kane: rosebud simultâneo com o close, se percebe a pronúncia da palavra.
Intermedialidade, varios meios se relacionam entre si. Musica tem carência de
referência. Passagem musical não se refere a uma flor, a uma pessoa ou a uma
casa por exemplo. Musica sistema formalizador do ruído. No audiovisual música
cria uma referencialidade, musica combina ou não com a cena. Na intermedialidade
a falta de referencia da música é preenchida pela autoreferencia que ela cria. Música
é gestora de referencialidades. Vídeo de canção de Falla: Nanita nana, de
Manoel de Falla. Mesma música em vídeo de Guernica em 3D, criação de Lena
Gieseke.
As
apresentações musicais em eventos coletivos como os festivais de música podem
gerar um ambiente privilegiado para intervenções de forma a despertar e
promover a postura ecológica dos participantes. Pela memória musical,
experiências sonoras podem ser vinculadas a determinadas atitudes e assim
promover ações e compromissos ecológicos. Um exemplo é o SWU (sigla de Starts With You ou Começa Com Você) que tinha como objetivo articular a educomunicação
ambiental à imersibilidade sonora nos três dias de festival realizado em
Itú/SP, na Fazenda Maedanos dias 9, 10
e 11 de novembro de 2010. O presente artigo, contudo, identifica que a sustentabilidade
foi usada meramente para promover o consumo durante o SWU. Conclui que,
contrariando as expectativas, não houve a defesa efetiva da sustentabilidade ou
a informação pelo ambientemusical. E
analisa o evento sob a perspectiva da vinculação, da comunicação orquestral, da
(in)comunicação, da verticalidade, da cultura do ouvir, dos diálogos e dos
discursos. O artigo parte de uma análise de caso, segue a metodologia
etnográfica e tem como referencial teórico autores como Winkin (1998), Flusser
(2007), Pross (1980), Baitello (2005), Menezes (2010) dentre outros.
Palavras-chave:
Música, Sustentabilidade, Educação, Comunicação e Incomunicação.
Abstract:
Musical
performances at public events as music festivals can lead to a privileged
environment to interventions willing to develop or promote ecological attitudes
into the participants. By musical memory, sound experiences can be linked to
certain attitudes and therefore promote action and ecological compromises. An
example is the festival SWU (Starts With You) which aimed to
articulate environment education to the sound experience during the three days
the festival went on in Itú/SP, in the Fazenda Maeda, on the November 9th,
10th and 11 from 2010. This article, though, identifies that the sustainability
was used merely to promote consumerism during the SWU. It concludes that, Concludes,
against expectations, that there was no effective defense of sustainability or
information through the musical environment. It analyses the event under the
perspective of linkage, orchestral communication, (in)communication,
verticality, culture of listening, dialogues and discourses. This article
analyses a case, follows the ethnographic methodology and has its theoretical
references on authors such as Winkin (1998), Flusser (2007), Pross (1980),
Baitello (2005), Menezes (2010).
Key words : Music,
Sustainability, Education, Communication and Incommunication
1.SWU
O SWU (sigla em inglês para
Começa Com Você) era para ser uma mega campanha publicitária de comunicação de
massa em defesa da sustentabilidade, traduzida em uma plataforma de informação
e entretenimento. Em seu site o SWU pretende ser um movimento de
conscientização em prol da sustentabilidade. Sob os valores de paz, amor,
consciência e atitude, teria o intuito de mobilizar o maior número possível de
pessoas para a causa da sustentabilidade. Sua finalidade seria mostrar que, por
meio de pequenas ações individuais praticadas no dia a dia, as pessoas podem
ajudar a construir um mundo melhor para se viver.
O idealizador do movimento foi
Eduardo Fischer, presidente do Grupo Totalcom, holding de agências
publicitárias com atuação no Brasil, na Argentina e em Portugal e cujo capital
social é 100% brasileiro. Contou com a parceria da produtora de shows The Groove
Concept e da Consultoria Visão Sustentável. Os principais patrocinadores foram
Nestlé, Heineken e OI.
A premissa do movimento seria que
pequenas atitudes podem gerar grandes mudanças.
A manifestação empírica desse
movimento se deu durante os dias 9, 10 e 11 de outubro de 2010, na fazenda
Maeda, em Itu (SP) com a realização do Fórum Global de Sustentabilidade e do
Music and Arts Festival, para um público de 164,5 mil pessoas.
1.1.Primeira parte
do evento: Fórum Global de Sustentabilidade
O Fórum funcionou entre 12h e
14h40, com apresentações de palestrantes e debates sobre os temas Negócios
Sustentáveis, Inclusão de Minorias e Jovens e Meio Ambiente. A participação do
público, contudo, ficou muito reduzida. Apenas 3 mil pessoas compareceram às 29
palestras de convidados nacionais e internacionais. Algumas das razões que
podem ser apontadas para esse insucesso são, primeiro, o horário exíguo e
desvinculado dos eventos do festival de música e, segundo, problemas práticos,
como o comprometimento de boa parte do público alvo dessas palestras com as
filas dos banhos ou para alimentação.
O fórum deveria ficar aberto
durante todo o evento. Suas palestras deveriam ter sido gravadas e
disponibilizadas para o público que chegasse fora do horário. E depois na
internet para o público em geral.
Deveria haver ações inclusivas
que envolvessem as pessoas que já estivessem no evento no horário das palestra.
Mas nem a programação o público recebia. As pessoas do camping estavam presas
às filas do banho ou às do restaurante, não podendo comparecer. E não havia
estímulos para a participação. As ONGs poderiam ter sido acionadas para isso.
Atividades lúdicas e inclusivas poderiam ter sido implementadas para despertar
o interesse do público e consequentemente aumentado a audiência dessas
palestras.
Todo o material produzido pelos
24 speakers e outros 20 convidados entre especialistas, pensadores, empresários
e representantes de entidades não-governamentais, foi perdido. Se estivesse
disponível de forma mais abrangente durante o evento e depois na internet, poderia
estar repercutindo até o momento.
1.1.Segunda
parte do evento: Music and Arts Festival
O festival de música teve 74
atrações musicais, 700 músicos nos palcos e mais de 50 horas de música. Começava
por volta das 15h e terminava depois das 2h, com shows de diversas bandas
distribuídos por 4 palcos. Essa parte foi um sucesso, com exceção de alguns
atrasos, como por exemplo do show do Pixies e falhas técnicas, como a falta de
som e de imagem durante a apresentação do Rage Against the Machine.
No dia 9 de outubro, no Palco
Água, se apresentaram: 15h45 - Brothers of Brazil, 16h50 - Macaco Bong, 18h40 –
Mutantes, 20h55 - The Mars Volta. No
Palco Ar: 16h15 - Black Drawing Chalks, 17h35 - Infectious Grooves, 19h50 - Los
Hermanos, 22h05 - Rage Against the Machine. Na Tenda Heineken Greenspace: 15h –
Glocal, 16h - Killer on the Dance Floor, 17h - The Twelves, 18h – Switch, 19h15
– MSTRKRFT, 20h45 - The Crystal Method, 23h59 - DJ Marky, 01h15 - Steve Angelo.
No Palco Oi Novo Som:
14h40 - Banda Batalha das Bandas, 15h20 - Letuce + qinhO, 16h10 - Sobrado 112, 17h
– Superguidis, 17h50 - Curumin & The Aipins, 18h45 - Mallu Magalhães, 19h45
- Cidadão Instigado, 20h50 - The Apples in stereo.
No dia 10 de outubro, no Palco
Água: 14h - Ilo Ferreira, 15h40 - Jota Quest, 17h45 - Sublime with Rome, 19h55
- Joss Stone, 22h55 - Kings of Leon. No Palco Ar: 14h50 - Teatro Mágico, 16h40
- Capital Inicial, 18h45 - Regina Spektor, 21h - Dave Matthews Band. Na Tenda
Heineken Greenspace: 16h30 - Mario Fischetti, 17h45 - Nike Warren, 19h - Life
is a Loop, 20h15 - Sander Kleinenberg, 21h30 - Roger Sanchez, 22h45 – Sharam, 00h15
- Markus Schulz. No Palco Oi Novo Som: 14h40 - Banda Batalha das Bandas, 15h20
- Luisa Maita, 16h20 – Volver, 17h20 - Lucas Santtana, 18h30 - Tulipa Ruiz, 19h40
- Rubinho e a Força Bruta, 20h50 - Bomba Estéreo, 22h10 – Otto.
No dia 11 de outubro, no Palco
Água: 15h05 – Gloria, 16h10 – Rahzel, 17h45 - Cavalera Conspiracy, 19h55 –
Incubus, 22h20 – Pixies, 01h35 – Tiesto. No Palco Ar: 14h30 - Alan Johanes, 15h35 – Crashdiet, 17h
- Yo La Tengo, 18h50 - Avenged Sevenfold, 20h55 - Queens of the Stone Age, 23h25
- Linkin Park. Na Tenda Heineken Greenspace: 15h30 - Anderson Noise, 16h45 -
Anthony Rother, 18h – Aeroplane, 19h15 - Mix Hell, 20h30 - Gui Boratto, 21h45 -
Erol Alkan. No Palco
Oi Novo Som: 14h40 - Banda Batalha das Bandas, 15h30 – Tono, 16h30 - Fino
Coletivo, 17h30 – Mombojó, 18h35 – Autoramas, 19h40 - BNegão & Seletores de
Frequência, 20h50 - Josh Rouse, 22h10 - CSS (Cansei de Ser Sexy)
O festival de arte recebeu
instalações de Eduardo Srur, Urban Trash Art, Bijari, Oficina Jamac, Flávia
Vivacqua, Cooperaacs. Além disso, promoveu a exposição “Brasil em Chamas” em
homenagem a Frans Krajcberg, sob curadoria de Sergio Caribe, com 7 esculturas e
8 fotos do artista. Apesar de ser permanente, ou seja, podia ser experimentado
durante o festival de música, as obras eram poucas e muito dispersas pelo
grande espaço do evento (233 mil m2) o que desestimulava o acesso e
o interesse do público.
Para quem tinha a expectativa de
encontrar obras impactantes, que causassem estranhamento e envolvessem o
público, como normalmente são as instalações do curador do festival, Eduardo
Srur, a mostra foi frustrante. Esse artista é conhecido por instalar garrafas
pet gigantes e iluminadas nas bordas do rio Tietê e por prender barracas de
camping coloridas nos prédios monocromáticos de São Paulo.
2.ECO publicidade.
A tendência na publicidade
mundial tem sido buscar equilíbrio e modernidade, segundo Ethel Shiraishi
Pereira. Sob essa perspectiva a eco publicidade faz comunicação com
responsabilidade ambiental. As campanhas eco publicitárias vão muito além da
simples utilização de materiais reciclados, incentivam o uso de mídias menos
agressivas, mais atraentes e econômicas, mitigam a quantidade de dejetos
produzidos pela campanha, utilizam materiais e processos de baixo impacto
ambiental.
Os exemplos mais comuns são os
usos de mídias digitais, de tintas à base de água ou de base vegetal, nas quais
o petróleo é substituído pelo óleo de soja, e de papéis reciclados e de
reflorestamento, sem adição de cloro. A proposta de sustentabilidade começa a
ser incorporada no dia a dia das empresas realizadoras de eventos. Está
aumentando o uso de materiais reciclados e reutilizáveis; a coleta e destinação
correta dos resíduos gerados por um evento; a respectiva neutralização das
emissões de gás carbônico, por exemplo com a posterior compensação por meio do
plantio de árvores; aumentando a acessibilidade ao local em que se realiza o
evento; a racionalização do uso da água e de energia elétrica; utilização de
alimentos orgânicos; utilização de “brindes verdes” ou produzidos por
comunidades carentes; incentivo ao comércio justo; promoção de ações sociais,
culturais e de campanhas educativas, de incentivo à preservação ambiental.
Dessa forma, a eco publicidade
busca associar o marketing do produto e a imagem da empresa às boas práticas
ambientais. Para tanto, precisa utilizar parceiros e fornecedores que também
sejam comprometidos com a produção de baixo impacto ambiental, de preferência
certificados o que, via de regra, aumenta o preço de produção.
Segundo bem ressaltaEthel Shiraishi Pereira:
os eventos considerados sustentáveis estão contribuindo para a
legitimação dos discursos organizacionais que, cada vez mais, se apropriam do
termo “sustentabilidade” para, diante daimpossibilidade de ocultar o quanto suas ações estão prejudicando o meio
ambiente, demonstrar aos seus públicos de interesse que estão preocupadas com
as questões ambientais (...) Como mecanismo de legitimação de seus discursos
organizacionais, as empresas fazem uso intenso do conceito de desenvolvimento
sustentável e passam a promover ações muitas vezes calcadas em estratégias de
marketing e de relações públicas apenas visando à promoção de sua imagem junto
à sociedade, cada vez mais exigente de seus direitos como consumidores e
cidadãos. (PEREIRA,
2010: 91-107)
O SWU pode bem ser enquadrado
nesse exemplo de Ethel Shiraishi Pereira. Apesar de propor a reciclagem do lixo
produzido, o evento não utilizou produtos com materiais recicláveis ou
reutilizáveis, que tivessem sido produzidos sem agredir o meio ambiente.
A atuação das ONGS foi muito
limitada. As “ações ambientalistas” na comunidade vizinha limitaram-se ao uso
de cooperativas para reciclagem de lixo. Um grande número de pessoas de Itú
poderia ter sido mobilizada para prestar serviços ou fornecer produtos para o
evento. Poderia haver uma tenda de frutas e legumes produzidos na região, por
exemplo.
Os preços altos, as demoras e as
filas para os produtos e serviços disponíveis no SWU eram justificados apenas
de forma abstrata como ecológicos. Não havia uma explicaçãodetalhada sobre o porquê da diferença. Pelo
contrário, a diferenciação de preço e tempo pelo plus da ecologia foi percebida
pelo público como engodo, para justificar lucros maiores.
Além disso, a camisa da
sustentabilidade não foi vestida por todos os trabalhadores do evento. Lixo e
bitucas eram jogados no chão pela equipe uniformizada do evento. Houve mal
tratamento dos prestadores de serviço de limpeza que foram deixados esperando,
sem almoço, sentados no chão do lado de fora do evento. E portadores de
necessidades especiais foram protelados em detrimento das equipes de cobertura
jornalística, por exemplo
O eco capitalismo é uma
modalidade ainda mais insustentável que o capitalismo tradicional. Pois na
ótica do menor preço com maior benefício, pelo menos a água e a comida,
condições para sobrevivência tendem a ser garantidas pelo sistema. Sob o eco
capitalismo, contudo, a exploração vai mais além, sob a desculpa de se promover
a sustentabilidade praticam-se preços abusivos, limitando o acesso das pessoas até
aos bens de sobrevivência.
Os preços da comida e da água no
SWU eram exorbitantes. Não se promovia a agricultura local, nem o uso
consciente de recursos, pelo contrário. A luz ficava acesa 24horas no camping
mas nos toilletes não havia luz. A água do chuveiro era potável e trazida por
carros pipa a diesel, sem ser reutilizada. No banho, uma vez aberta a torneira,
não havia meio de fechá-la para ensaboar-se, por exemplo, o fluxo de água
corria ininterruptamente por 7 minutos. Não havia pias, as pessoas tinham de
usar água mineral (R$4 cada 250ml) para escovar os dentes e lavar as mãos, por
exemplo.
Além disso, sob a bandeira da
sustentabilidade muita gente trabalhou de graça e foram conseguidos incentivos
fiscais e parcerias com secretarias do Meio Ambiente. Bandas que não viriam se
fosse um concerto comum ou patrocinado por uma empresa de cervejas, por exemplo,
vieram só por ter essa vinculação ética.
3.Descumprimento
do Plano de Ações de Sustentabilidade de 13 de setembro de 2010
Em contraste com o compromisso de
respeito aos direitos humanos e trabalhistas, foi possível presenciar protesto
de funcionários terceirizados da empresa T e J que foram deixados horas
esperando sem comer e em pé. “Ninguém aqui e bicho! Tem gente desmaiando de
fome!” Essas eram algumas das frases gritadas pelos terceirizados.
Não havia cadeiras ou bancos onde
gestantes e idosos pudessem sentar e os portadores de necessidades especiais
tinham de disputar lugar com as equipes de televisão que usavam o espaço
reservado aos PNEs para conseguir uma visão melhor do palco. Os PNEs eram,
inclusive, algumas vezes, impedidos de entrar na plataforma com vista
privilegiada dos palcos em tese reservada para eles em virtude da movimentação
no acesso e das equipes televisivas. Esses fatos violam a cláusula de
não-discriminação.
A autora não recebeu assistência
nem notou a presença de voluntários, que segundo o Plano de Ações de
Sustentabilidade, estariam disponíveis para qualquer ajuda, ou disponíveis para
passar informações e dicas de sustentabilidade.
A presença das ONGs no festival,
foi muito restrita. Não puderam levar número suficiente de voluntários para
implementar ações proativas e ficaram confinadas a um espaço exclusivo,
longínquo, que não despertava o interesse do público em geral.
Da mesma forma o Fórum Global de
Sustentabilidade, ficou limitado a horário específico e distante do grande
público. Ficou perdido o material produzido pelos especialistas, pensadores,
empresários, representantes de entidades não-governamentais e de outras
iniciativas para discutir com o público alguns dos principais temas da sustentabilidade.
Não houve disponibilização desse material nem durante o evento nem depois
online.
Violou-se ainda o compromisso de
inclusão social, uma vez que todos os alimentos e bebidas eram provenientes de
grandes redes. Não houve contratação de mão-de-obra local e pequenos
fornecedores a não ser para lidar com o lixo.
Também foi desrespeitada a
cláusula Saúde e Segurança pois o público não teve um canal direto para
reportar qualquer abuso, conforme estava previsto. Durante os três dias a
autora tentou, sem sucesso entrar em contato com alguém da produção que se
responsabilizasse pelas falhas. Todos os contatados disseram não saber com quem
entrar em contato. A
única saída seria, segundo todos, mandar um email. Ocorre que aos emails a
produção também não respondia (nem antes do evento, nem durante, nem depois).
Somente no dia 20 e outubro, depois de diversas tentativas, a autora conseguiu
estabelecer contato com a equipe do SWU por email, no endereço: info@swu.com.br, do qual retirou a maior
parte dos números trazidos por este trabalho.
Com relação ao estímulo ao uso de
transporte público, houve o contrário, um desestímulo ao transporte público e o
uso insustentável dos meios de transporte. O ônibus de São Paulo passava pela
frente da fazenda Maeda, mas ia até Itu, para depois outro ônibus ser tomado
para a Fazenda, o que origina gasto extra de combustível por pelo menos 40
minutos. Além disso, o ônibus não estava informado sobre onde deveria deixar os
diferentes públicos, assim, os campistas foram deixados em outro lugar, quando
deveriam ter sido deixados no setor de triagem, perdendo o show e se
arrependendo por não terem vindo de carro.
Com relação ao descarte de
resíduos a falha foi a mais evidente. Ao invés de serem implantadas ações para
a redução da quantidade de resíduos sólidos, sempre que possível, conforme
previa o Plano de Ações de Sustentabilidade, cada pessoa que consumia cerveja
por exemplo usava não só a latinha como um copo descartável.
4.Considerações
finais
A comunicação pode ser entendida
como a constituição de vínculos, de interação, de interiorização no espaço do
outro, sendo a vida social a somatória desses vínculos dinâmicos, submetidos às
condições de tempo e espaço. Na atualidade, principalmente nos espaços
virtuais, estamos submetidos a uma quantidade enorme de informações que
consomem nosso tempo mas não necessariamente estabelecem ou despertam vínculos.
A maioria dessas informações não
conseguem entrar no espaço (físico e simbólico) do outro porque não admitem o
diálogo. Comunicar a mensagem é sempre estar na passagem, no meio, entre o si
mesmo e o outro, na zona de perigo, na área da sedução, no crepúsculo de si
mesmo e na zona obscura do outro (BAITELLO in Menezes 2005). Portanto não se
estabelece comunicação com a mera informação.O SWU seria uma ótima oportunidade de se estabelecer esses diálogos para
promover uma eficaz comunicação sobre sustentabilidade.
Os eventos tipo o SWU têm um
potencial enorme para estimular o diálogo de maneira simétrica e abrangente,
colaborando, assim, para a melhor comunicação de uma mensagem. É possível
atingir os objetivos de negócios dos patrocinadores e organizadores, ao mesmo
tempo atendendo aos preceitos éticos da sustentabilidade. Para tanto os eventos
devem ser utilizados como canais de mão
dupla, para harmonizar os interesses das organizações e do público, por meio do
estabelecimento de canais de diálogo que promovam o encontro público de
interessados em uma determinada temática, favorecendo a compreensão mútua e a
busca por soluções de problemas comuns. Por meio de discursos e diálogos
convergentes em direção a práticas sustentáveis será viável uma transformação
em larga escala dos valores e comportamentos humanos.
Contudo, quanto mais avança a
capacidade dos seres humanos de se comunicarem, mais aumentam as dificuldades,
os entraves, as distorções. Assim, a comunicação concorre com a incomunicação
em todas as oportunidades de se manifestarem. Especificamente com relação à
comunicação ecológica, segundo José S. García e Maria S. Santiso, ela está
sujeita a um duplo condicionamento: econômico e social. O primeiro faz com que
a empresa busque o equilíbrio entre as necessidades de lucro, a satisfação do
cliente e o menor impacto possível no meio ambiente. Pela perspectiva social,
busca estimular e facilitar a aceitação de ideias, atitudes ou comportamentos
sociais benéficos à sociedade em geral ou que buscam reprimir atitudes
prejudiciais. Se enquadram nessa perspectiva as ações educativas e informacionais
bem como a atuação da empresa no seu entorno natural promovendo a defesa do
meio ambiente.
Podem fazer parte dessa
perspectiva social ações de descomunicação ou de desmarketing para desestimular
a compra de produtos que se usam uma única vez (GARCÍA e SANTISO 2010), como as
campanhas para diminuição do uso de copos descartáveis, estimulando o uso de
produtos duradouros ou reutilizáveis. No SWU essa descomunicação não estava
evidente, mas sim a incomunicação.
Ao chegar ao evento, o público
não recebia a programação, mas um termo de responsabilidade (que inclusive era
impresso em papel grosso e com tinta forte, nada econômica). A pessoa sem a
programação fica desinteressada e sujeita ao comportamento de matilha. Não
participa das atividades do Fórum por exemplo, ou porque não está sabendo quais
serão os temas a serem discutidos ou porque ninguém está indo para lá.
O comportamento sustentável
deveria ser promovido por ações mais diretas e participativas. A comunicação
falhou não só na versão impressa (divulgação da programação) como na
oportunidade de estabelecer vínculos e promover a disseminação do conhecimento
por meio de interações lúdicas e participativas.
Além disso, as proibições eram
tantas que só causavam irritação no público. Não eram permitidas cadeiras ou
comidas perecíveis no camping. Quem já acampou alguma vez sabe o quanto um
lugar para sentar ou uma fruta fazem falta. O excesso de regras só dificulta o
cumprimento, desautoriza as autoridades do evento e irrita o público. Esse mal
estar, cumulado com os preços altos de tudo e com as falhas técnicas
contribuíram para manifestações espontâneas de descontentamento, como a
insistência em jogar lixo no chão ou o grito: “SWU, vai tomar no ...”, audível
a cada silêncio da banda, ou falha nos telões.
A comunicação do SWU se deu por
diálogo e discurso. Ambos se complementam, o primeiro pressupõe a troca a
interatividade e o segundo caracteriza-se pela linearidade própria de
comunicações oficiais. Contudo o evento poderia ter contato mais com a
contribuição do público, engajando-o em atividades mais interativas. As
características do SWU ainda seguiram a lógica de broadcast, muio pouco foi
feito no sentido de inovar a linguagem adaptando ao tempo de
hiperconectividade, abundância de informações e escassez de tempo.
Além disso, o ser humano coordena
suas representações e experiências, desde as mais primárias, seguindo a lógica
do inferior ou superior. Quem ou o quê está acima é melhor. Para Harry Pross, a
cultura supõe comunicações ritualizadas e institucionalizadas, possibilitada
pelos meios, seguindo a hierarquia vertical de valores.
Na contemporaneidade há uma
obsessão ainda maior pelo verticalismo. Com o aumento da virtualidade perdem-se
os vínculos com os sujeitos corpóreos e tridimensionais que estão próximos. As
pessoas se tornam mais individualistas e são cobradas por seus resultados,
qualidades, diferenciais e muito raramente se consideram e são consideradas
como iguais.
No SWU isso se demonstrava no
cotidiano dos campistas. Normalmente quem acampa, compartilha, ajuda, conversa,
se coloca no âmbito do horizontal, em que todos são iguais. Esses valores
remontam à revolução cultural da década de 1970, aos valores hippies. O camping
do SWU não seguiu essa lógica. O público não era formado por pessoas que
normalmente acampam o que era evidenciado pela quase maioria de barracas novas.
E a maioria das pessoas eram jovens. Assim, a lógica da verticalidade foi a
mais preponderante. Casais e grupos interagiam entre si, sem agregar os
vizinhos de barraca. Havia um desinteresse pelo próximo. E inclusive situações
de completa alienação: um grupo não saber que o grupo ao lado é do mesmo
estado.
Dentro do contexto de um mundo
marcado quer pela inflação de imagens e sons, como pela dificuldade em se ver e
ouvir em profundidade (Menezes 2007), a comunicação do SWU deveria ser
interativa e orquestral. Perdeu-se uma importante oportunidade para usar o ouvir
como disposição para sermos tocados pelas idéias da sustentabilidade.
As iniciativas comunicacionaisdo SWU foram estruturadas de acordo com a
lógica do eco marketing e do eco capitalismo suas ações não foram
verdadeiramente sustentáveis. Ao SWU, portanto, faltou ação política, foi
apenas um mega evento de entretenimento (por sinal muito bom, com excelentes
bandas em um lugar agradável).
FLUSSER, Vilém. O mundo codificado: por uma filosofia do design
e da comunicação. São Paulo: Cosac Naif, 2007.
GARCÍA, José Sixto; SANTISO, María Salgueiro. Comunicação
ambiental para o século XXI. Comunicação & Educação, São Paulo, ano 15,
n.2, CCA/ECA/USP/Paulinas, p. 69-76, 2010
JÖHR, Hans. O verde é negócio. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1994.
KUNSCH, Margarida Maria Krohling; OLIVEIRA, Ivone de Lourdes
(Org.). A comunicação na gestão da sustentabilidade das organizações. São
Caetano do Sul: Difusão, 2009.
MEDITSCH, Eduardo (Org.). Teorias do rádio: textos e contextos.
Florianópolis, SC: Insular, 2005(v.1)
MENEZES, José Eugenio de O (organizador). Os meios da
incomunicação. São Paulo: Annablume, 2005
PEREIRA, Ethel Shiraishi. Isso não tem importancia: eventos e
sustentabilidade na sociedade do espetáculo. Communicare : Revista de Pesquisa,
São Paulo , v. 10, n. 1, p. 91-107, jan. 2010.
[1]Mestranda em Comunicação pela Cásper Líbero, Linha de Pesquisa Processos
Midiáticos: Tecnologia e Mercado, Grupo de Pesquisa Comunicação e Cultura do
Ouvir. E-mail danielle.denny@gmail.com.
Evento internacional, realizado na ECA, em 16/09/11
SESSÃO TEMÁTICA
Saberes e gêneros
tradicionais.
Bagad orquestra tradicional bretã
Thaíse Valentim Madeira
Gauleses,Romanos, Francos, Celtas, Vikings estabeleceram-se
alternadamente na Bretanha. A identidade é uma força tranquila não garante nada
no futuro mas permite tudo. Festival intercéltico de Lorient tem 40 anos, casa
orquestras clássicas e músicos tradicionais bretãos se pretende caixa de
ressonância de uma cultura céltica cosmopolita.
Tuyabaé Cuaá a sabedoria dos antigos pagés – musica de
Walter Freitas
Marlise Borges
Walter Freitas, compositor do Pará. Obra é um caleidoscópio
traduz misturas amazônicas. É um manifesto poético com linguagem musical,
corporal, verbal, escrita.
Da roda ao disco
Deivison Moacir Cezar de Campos
Professor de jornalismo. Deivison_campos@hotmail.com.
UNISINOS. Nao pode usar o termo escravo tem de usar escravisado. Rezas contam histórias
que guardam a memória coletiva. Roda: pertencer à festa presencialmente. Disco:
tomar contato com a cultura de forma mediatizada.
Candomblé
Jorge Luiz R. Vasconcelos
Religiões de transe e de orixás vêm sendo perseguidas. Ogã
alabê é o músico, responsável pela memória dos cânticos, é o tocador dos bumbos
e tambores.
Evento internacional, realizado na ECA, em 15/09/11
MESA REDONDA
A música como memória.
Canções no ABC: Osvaldo Varoli e Romeu Tonelo
Herom Vargas
Osvaldo Varoli e Romeu Tonelo são compositores locais de
bolero e samba de origem operária. Se consolidaram tocando nas 4 rádios locais.
Musica brasileira, internet e memória
Ricardo Tacioli Editor do site Cultura Brasil e criador site
Gafieiras.
Radio Cultura Brasil AM dedicada a música brasileira. Mas problema
de sinal na antena e as limitações da AM fizeram a programação migrar para a
web. Conteudo que tinha só som passou a ter texto e imagem. Valorizando o
acervo iconográfico gigantesco da Fundação Pde. Anchieta. Hoje tem 4.500
visitas dia. Conteudo transmidia, nasce na radio, passa pela web e depois migra
para a TV. http://www.culturabrasil.com.br/.
Diferencial nas playlists é que não são por artistas mas sim temáticas como uma
sobre o Mussum (que fez parte dos Originais do Samba) http://www.culturabrasil.com.br/playlists/mussum-o-rei-do-recorequis.
Outro site interessante é o http://www.pioneiras.com.br/
sobre as primeiras mulheres que vencendo preconceitos fizeram da música sua
vida.
Samba paulista
Olga Rodrigues de Moraes von Simson. Livro Carnaval em
branco e negros.
Reconstrução intertextual. Samba vem de Angola, chamava
Semba, homenageava a deusa da fertilidade. Carlos Gomes de Campinas, filho de
negra, composição erudita com traços de musica negra, chamada Cayumba. Samba
Rural nas regioes da cana de SP: como em Piracicaba, Americana, Rio Claro,
Campinas, Pirapora do Bom Jesus (onde havia competição entre sambistas). Onde a
modernidade do café se instalou não havia esse samba. Barao Geraldo de Azevedo
era um que permitia a dança de samba no terrero de suas fazendas (hj casa é da
Unicamp). Samba de Terrero e Samba de Batuque. Na capital São Paulo, viram os
cordoes na Barra Funda, Bixiga e Glicério. Depois legislação importada do Rio,
faz cordoes virarem escolas de samba
para serem aceitos nos desfiles. Principal sambista paulista é Geraldo Filme.
Pato N’Agua só com apito organizava um desfile de escola de samba. Sambistas
Italos-paulistas, como Adoniram Barbosa, mais recentemente, ganham a rádio.
Germano Matias, Dionísio Barbosa (criador da camisa verde e branco). A partir
dos anos 70, 80 e 90 juventude passa a se interessar novamente pelo samba. Grupo
do Cupinzeiro, de Campinas, é exemplo de grupo contemporâneo que faz samba de
raiz. www.centrodememória.unicamp.resgate
(revista resgate 16 é sobre samba)
Economia é um sistema complexo,
probabilistico como a internet e o corpo humano. Tem muito mais implicações que
conseguimos prever, um input pode dar
um retorno completamente imprevisível. Economia da informação, então, é ainda
mais complexa pois não é fechado o conceito de informação apesar do termo ser
amplamente usado. Informação difere de conhecimento, que também não se sabe ao
certo o que é, depende de processos de cognição humana que ainda não é dominado
pela ciência. Conhecimento está ligado a cognição, não necessariamente é
verdade. Por um tempo, antes de Galileu Galilei, por exemplo o conhecimento da
humanidade era que o sol girava em torno da terra. Uma pessoa sabe como andar
de bicicleta mas ignora o processo neuromuscular e físico que é necessário para tanto. Já informação é
algo mais tangível. Contudo apesar da natureza da informação parecer coisa simples,
ela não é. Profissional da comunicação na verdade é um profissional que
trabalha com informação. Mas ao contrário do que era de se esperar, não se
estuda o que é informação da maneira profunda como deveria. O papel do
comunicador é atribuir valor à informação.
O estudo sobre a natureza da informação
permite concluir que o termo é um conceito labiríntico que, via de regra, vem
sendo mal utilizado. O mais disseminado é o proposto pela Teoria Matemática da
Comunicação. Contudo essa fundamentação teórica foi criada para otimizar
problemas de transmissão de sinais apenas. Portanto não pode ser suficiente
para abarcar as complexidades da Era da Informação
Claude Shannon e Warren Weaver, em 1948,
aplicaram a teoria booleana que captura a essência das operações lógicas em sim
ou não, 0 ou 1, ou seja o sistema binário que deu origem à revolução digital,
fundamentando toda linguagem computacional.
Shannon trabalhou com a segunda lei da termodinâmica, a lei da entropia.
Precisava estudar onde o sinal ficava fraco, mas não acabava, para ser possível
amplificá-lo e assim distribuir melhor o sinal. Para essa teoria, quatro itens
integram o processo comunicacional: emissor de sinal, receptor de sinal,
mensagem e ruído. Porém sinais são apenas um tipo de informação.
Inclusive, essa lógica matemática, própria de
engenheiro, quando aplicada à comunicação social pode gerar problemas. Diferentemente
das máquinas computacionais, nosso órgão elétrico (cérebro) não usa só essa
lógica para entender os fenômenos. A complexidade aumenta ainda mais se for
incluída a capacidade da mente. Esses estudos vêm sendo desenvolvidos pelas
ciências cognitivas.
Na atual sociedade do conhecimento, houve
radicais mudanças sobre a importância da informação. A evolução humana, desde o
fim da pré-história, passou a depender da capacidade de registrar eventos, ou
seja, de fazer história, para assim acumular e transmitir informação. Porém,
atualmente o progresso e bem estar humano passou a depender muito mais do
controle eficiente sobre o ciclo de informações (criação, transmissão,
processamento, indexação, uso, tomada de decisões).
Vivemos a quarta revolução. A primeira foi
impulsionada pelo pensamento de Nicolaus Copernicus (1473-1543) que deslocou a Terra do centro do
universo. A segunda por Charles Darwin (1809-1882) que colocou o homem como uma
das várias espécies descendentes de um mesmo ancestral. E a terceira por
Sigmund Freud (1856-1939) que desvendou o inconsciente que impede a razão de
ser inteiramente transparente. Com a quarta revolução, mais uma vez algo muito
relevante mudou na forma como o ser humano se entende no mundo. Passamos a nos
perceber como seres informacionais interconectados. Quando estamos
desconectados da infoesfera nos sentimos como um peixe fora d’água.
Nesse contexto a Comunicação não é
importante por ser ciência, mas sim por ser interface. A preocupação da
Comunicação não deve ser ter corpo sólido como a física, mas se reconhecer como
interdisciplinar e, portanto, importante para todas as outras ciências como
interface. O desafio dos meios de comunicação é identificar como ser relevante numa
economia conectada em rede. E
para tanto precisa aprofundar o estudo sobre a vida na infoesfera, sobre o
paradoxo que é ao mesmo tempo a sociedade atual valorizar a privacidade e
divulgar informações confidenciais por meio de serviços como o Facebook..
A diferença entre online e offline vai
desaparecer, assim como hoje o tênis da Nike já conecta com o Ipod, cada vez
mais os equipamentos vão trocar informações entre si tornando nossa vida cada
vez mais sincronizada e interconectada. A conseqüência provável é surgirem
novas formas de discriminação entre aqueles que têm acesso a essas informações
interconectadas e os excluídos.
Para melhor conhecer o sistema
informacional e também posteriormente discutir a questão ética, é preciso
aprofundar o estudo sobre a estrutura da informação e para melhor entender o
conceito labiríntico de informação Luciano Floridi propõe um mapa (FLORIDI,
Luciano. Information – A Very Short Introduction. 2010)
Data structured: environmental or semantic (content).
Semantic institucional or factual
Factual untrue or true (information), que gera knowledge
Untrue unintentional (misinformation) or intentional
(disinformation)
Na internet apenas 5 % das informações são estruturadas,
ou seja podem ser utilizados para fundamentar outras informações estruturadas
Informação instrucionais de andar de bicicleta,
por exemplo, é a pergunta como. Dados factuais pergunta o que, por que quais os
fenômenos envolvidos no ato de andar de bicicleta. Dentro da informação factual
cabe a distinção entre verdadeira e falsa. Na verdadeira está o conhecimento.
Na falsa cabe a informação intencionalmente falsas (desinformation), e a sem
querer, não intencional, (misinformation). O jornalismo usa não só a informação
como também a desinformation e a misinformation. Em um processo dinâmico em
paralelo, ou seja, um dado quando é emitido pode ser logo unido a uma
informação, desinformation ou misinformation .
Além disso, a informação se divide em
primária, secundária, meta, operacional e derivativa. Informação primaria por
exemplo é C-l-a-u-d-i-a. Informação secundaria é Claudia que é estudante,
jornalista, mulher. Informação meta Claudia é também homo sapiens, mamífero.
Operacional Google tem informações primarias secundarias e categorizadas de
forma meta para ser operacional num sistema. Informação derivativa âmbito das
intencionalidades. Google não sabe as suas intencionalidades mas quer saber, para
derivar suas buscas para o âmbito da publicidade.
Esse mapa é apenas um esforço de facilitar
a racionalização, mas importante ressaltar que é simplificador e portanto
insuficiente para dar conta de todos os aspectos da realidade. Inclusive o sistema
analógico é o sistema mais rico de informação. Único aspecto que a revolução
digital atinge é a informação, o resto da vida humana se dá no mundo analógico
(não se come nem se comerá bits, mas o digital pode melhorar a distribuição de
alimentos, por exemplo). O diferencial do digital é dar agilidade. A riqueza do
analógico não permite que ele seja ágil. No analógico um ponto tem infinitas
informações pode-se chegar ao nível quântico, a informação é contínua.
O sistema binário tenta emular o analógico
promovendo a simplificação, perde-se a riqueza da informação. Trata-se de um
sistema discreto, ponto a ponto. Binário é uma forma que o digital pegou na
lógica. Poderia usar lógica fuzzy mas tem de ser na lógica binária pois as
maquinas não entendem se não for binário. Não pode usar lógica para-consistente
que admite contradição pois as máquinas não aceitam contradição, o cérebro,
pelo contrário, não só aceita como é pura contradição.
Sendo assim, melhor não usar o termo
conhecimento, por sua imprecisão. Melhor usar informação estruturada. Que significa
que um dado tem um princípio de verdade,
conexão com a realidade, e funciona no sistema real. O que é importante para
estruturar uma informação é o que é relevante. Então relevância tem função
primordial na informação estruturada. Sobre o que a pessoa presta atenção?. Não
podemos cair na vala comum do discurso “que é relevante para uma pessoa não é
relevante para outra pessoa”. É primordial aprofundar os estudos sobre a
relevância. E a relevância no mundo real é diferente da relevância na rede
(pois na rede há os filtros dos algorítimos).
A comunicacao produz ostensivos estímulos
dirigidos para o público alvo. Um estimulo é um fenômeno projetado para obter
efeitos cognitivos (retorno). O estímulo é uma informação, deve ser mais
relevante que qualquer outro fenômeno externo ou representação interna (caso
contrário a pessoa não presta atenção). Tem de haver uma teoria sobre
relevância. O problema não e tanto para avaliar os efeitos contextuais e
esforço de processamtno a partir do exterior, mas para descrever como a mente
avalia os seus próprios resultados e os esforços interiores e decide como
resultadao a prosseguir os seus esforços ou realocá-los em diferentes direções.
(SPERBER; Wilson, 1986:130)
Relevância
é uma questão de grau não sabemos
como os graus de relevância são determinados. Relevância pode ser definida como
a relação entre a suposição (certeza) e o contexto. Jornalismo cria
plataformas, o contexto, para chamar a relevância. Sala de aula é um
encapsulamento da relevância.
Evento internacional, realizado na ECA, em 15/09/11
Sessão Temática
Música e memória
midiática: linguagens audiovisuais
O mickeymousing está morto?
Guilherme Campiani Maximiano
Mickeymousing é uma
técnica de composição para a imagem, cujo auge foi nos desenhos animados,
principalmente nas déc. de 30, 40 e 50. Musica composta para a imagem em
movimento. Fantasia por exemplo não é mickeymousing. Presto da Pixar e Peixonauta
são exemplos de mickeymousing, o primeiro mais ainda porque não tem diálogos,
por isso é mais propício o uso da música.
Música na publicidade
Duana Castro Soares
Pregão (canto dos vendedores ambulantes) é o primeiro
exemplo de jingle. Eles entraram na música por exemplo no ”menino vendedor de
laranja”, cantado pela Elis Regina “compra laranja dotor”. Como bandas estão
saindo das gravadoras a publicidade está financiando algumas bandas. Strokes
fez uma música especialmente para a All Star. Mallu Magalhaes fez parceria com
a Vivo (Motorola), quem comprava o celular já vinha com o disco). Banda Hurra
Torpedo foi financiada pela Ford Fusium
em sua turnê e por isso eram filmados usando o carro a todo tempo em videos
curtos da internet. Banda Uncles criada especialmente para lançar o carro novo
da Nissan.
Vinhetas da Rede Globo
Jaqueline Esther Schiavoni
Vinheta é uma arte gráfica, cria narrativas audiovisuais. Duas
formas principais: o jinge e o spot publicitário que é a locução. Camões: “
amar é querer estar preso por vontade”. Os jingles vão bem nesse sentido. Globo
e vc tudo a ver. A Globo mexe, mexe com vc. A gente se vê por aqui. A gente se
liga em vc.
Western e
Spaguetti Western (bang bangs)
Rafael Duarte Oliveira Venancio
Estilo de filmes que tem mais exemplares. Construção de
mitos de herois americanos, indios malvados e donzelas em perigo. Subversao da
memória do Western, cria os anti heróis no bang bang. Exemplo O homem sem nome:
Clint Eastwood. Era um filme de geeks. Hoje filmes como Kick Ass, repetem as
músicas dessa memória, toca música de Por um punhado de dólares a mais, quando
a menininha invade o prédio do bandido. Propaganda dos caminhoes ford também
usa música e ângulos de filmagem usados no Spaguetti Western, para criar uma
analogia entre os caminhoneiros e o desbravadores do west americano.
A música popular brasileira como personagem
Márcia Ramos de Oliveira
Filmes se propõem como documentários mas até que ponto são
ficcão?
Termo documentário musical é uma categoria ainda indefinida. Festival In-Edit e
Portal Curtas da Petrobrás têm ótimos exemplos mas que não entram no roteiro de
circulação comercial.
Evento internacional, realizado na ECA, em 14/09/11
SESSÃO TEMÁTICA
Músicos e músicas memoráveis
Eliana Maria de Almeida Monteiro da Silva e Amilcar Zani
Netto
Sobre a importância da série Compositores Latino-Americanos
da pianista Beatriz Balzi. Interessante a interpenetracao dos temas e técnicas
entre os diferentes compositores dos diversos países latinoamericanos. Faleceu em
2001 de câncer, depois do 7º. Volume. A série estava prevista de ter 10
volumes. Preencheu um pouco a lacuna de conhecimento que existe entre os países
da região. Interessados em obter a coleção entrar em contato com Lia (irmã da Beatriz Balzi) no email beabal@terra.com.br, pois por questões de direitos autorais a distribuição está dificultada.
Joêzer de Souza Mendonça
Musica maranhense impactando os não maranhenses. Artur
Azevedo importante no teatro de revista e Catulo da Paixão conhecido por suas
modinhas e por celebrizar o uso do violão, até como parte da identidade
nacional brasileira (andar com violão no final do sec XIX era sinônimo de
vadiagem, previsto como crime). Ambos eram mediadores culturais, nao repetiam o
preconceito da elite cultural e transitavam bem com as expressoes populares. Especie
nascente da industria cultural. Teatro de revistas era musicalmente formado por
trechos, tipo de hibridismo culltural, eruditas junto com populares. Arthur
Azevedo tinha fama de tocador de música suja no teatro ligeiro, de revisteiro.
Elite reagia à valorizacao da cultura popular (lembrar que o contexto histórico
era o de expulsao dos incivilizados do centro das cidades, época da revolta da
vacina, pex). Com Catulo da Paixao o violão vai aos saloes mais nobres da elite
tocando modinhas que viraram hits (“moralizei o violão”). (Ele é um dos
personagens de O triste fim de Policarpo Quaresma).
Liliana Harb Bollos
Pianista professora de harmonia em Tatui. Estuda Johnny Alf,
que morreu em 2010, e é um dos pais da Bossa Nova. Música Rapaz de bem tem
modulação muito moderna para época (depois usado tambem em desafinado de Tom
Jobim). Pessoal da Bossa Nova ouviu muito cool jazz e bip bop.
Sabrina Dinola
Socióloga da UFRJ. Analisa documentário do Wilson Simonal “Ninguém
sabe o duro que eu dei”. Influencia de modernista na música da déc. de 1960. Efeito
coral, coesao unidade da música popular brasileira. Coral do Wandré é engajado
contra a ditadura militar, coral do Simonal é diferente era alegre e feliz. Enquanto
Chico Buarque chamava o ladrao, Simonal chamava a política. Consequência é quase 40 anos de repúdio. Cinema vira caixa
de ressonancia do cenário musical contemporaneo marcado pela fluidez e pela
diversidade, resignificando Simonal como músico brilante.
Por Danielle Denny
Anotações feitas no MUSIMID2011, evento internacional, realizado na ECA, em 14/09/11.
NICOLAU SEVCENKO, professor de história da cultura da ECA
O vórtice cultural do pós
guerra
A reconfiguração dos
paradigmas artísticos
Anos 50, 60 e 70 produziram um significado em cultura,
reorganizaram a cultura de tal forma que até hoje é paradigmática. Imediato pós
guerra foi fundamental, portanto. Advento da microeletrônica deixa o debate
muito mais paralizado hoje em dia.
Concerto do John Cage 4minutos e 33 segundos (mimica de
orquestra), provocação artística. Desafio ainda nao foi plenamente assimilado. John
Cage estudou na Alemanha, representava a expectativa dos anos 20. Estudou com representantes
da vanguarda alemã. Queria repensar a experiencia musical em torno de unidades
performativas que eram as orquestras, com partituras e códigos da escala temperada.
John Cage propoz que pessoas se sentissem como produtoras de sons, pulsações,
vida é sonora. E imersas em um ambiente sonoro. Pensar som para além da memória
musical que pode ser paralizante. Musica é forma de focar e desfocar. Cria sentido
discricionariamente, como todo código é arbitrário e autoritário. Pressupoe nos
desengajar das nossas próprias pulsações e das pulsações do ambiente. John Cage
propoe reconectar, pensar para além das limitacoes do código cultural da
memória seletiva.
Pianista canadense Glenn Gould. Utiliza os recursos da
tecnologia eletronica para salientar detalhes de sua performances. Dosa tradicao
do barroco com o improviso e com a eletronica. Poe a eletronica do pós guerra
para destacar o prodigio da cultura bachiana. Tinha como intuito se isolar do
meio para produzir o refinamento técnico extremo. Passou a ser engenheiro
acustico, nao tocava mais pianos mas coordenava uma diversidade enorme de
equipamentos eletronicos em estudido. Nunca conseguiu se isolar completamente
para produzir a perfeição. Mas é o antípoda do John Cage.
GUERRA É CORRIDA TECNOCIENTÍFICA. Intensifica as
transformações tecnológicas. Pode sedizer que a microeletronica é consequencia
da 2 guerra mundial. Paises do Eixo eram mais avancados do que os paises
Aliados que precisaram de mega investimento para superar sequestrando técnicos
inimigos inclusive. Tecnologia produzida para a guerra, quando aplicada à linha
de produção produziu um boom economico de crescimento e de abundância. Com enorme
valorizacao do trabalho, com consequente distribuição de renda. Novos contingentes
populares vao entrar na cena políica dando origem aos governos populistas, aos
sindicatos e partidos. Ganhos salariais e benefícios sociais criando estado de
bem estar social. Que virou o ápice do projeto democrático do pós guerra, o que
todos queriam.
Momento:
Guerra da Coréia, Guerra do Vietna, mas descolonização por
exemplo da Argélia, inclusao das minorias (mulheres e indios pex), Revoluçao
cubana utopia democratica no começo, Primavera de Praga democracia
participativa e estado de bem estar social, no brasil entre ditadura varguista
e militar grande esforço democrático.
Cristalização da microeletronica. Nova revolução (telefonica
foi depois da 1 guerra) a da microeletronica que é a base de toda tecnologia computacional.
Mudando os paradigmas eventualmente até cultural.
Antes da guerra, linha de produção fordista aplicada à
produção industrial para acelerar o sistema produtivo. Quanto mais se produz
mais mao de obra por isso valoriza mao de obra, redistribui renda. No pós
guerra automação. Nova metodologia permite robotização do trabalho. Sistemas automáticos
substituem a mao de obra, principalmente não qualificada. Só precisa de MDO
qualificada.
Pearl Harbor foi destruido com toda a frota naval americana
no pacífico sul. Garantindo hegemonia japonesa sobre o pacífico sul. E um ser
humano nao derruba um zero japones que é muito manobravel para ser derrubado
por um artilheiro antiaéreo. Norbert Winner matemático prodígio doutorado em
Harvard aos 18 anos estudou na Inglaterra e na Alemanha, voltou aos EUA e foi
ser jornalista na área trabalhista. Ele cria sistema articulado que conecta radares
e sensores eletrônicos à base antiaérea com base em cálculos matemáticos do
movimento do aviao e também dos efeitos balísticos das atividades atmosféricas.
Canhao interpretando essas informações matemáticas nao precisa mais de humano
para derrubar um aviao. Inverteu a lógica da guerra. Nunca mais um aviao
japones escapou desse sistema eletronico, por isso foi desenvolvido o kamikase
(ainda que atingido tentar derrubar o aviao nos inimigos, porque a partir
daquele momento inevitavelmente o aviao seria atingido).
Escola de desenho industrial de Ulm (bauhaus experiencia esquerdizante
pós 1 guerra) cria o expressionismo geométrico. Uso da topologia (conceito
matemático). Fita de Möbius, fora da geometria euclidiana tridimensional, acaba
o conceito de fora ou dentro. Fundamental para que computadores possam
processar a quantidade de dados que faz hoje.
Ciencia do pós guerra é capaz de gerir o caos. Aerofotogrametria
por exemplo (fotos sequenciais de milésimos de segundos, cronometra o acaso.
Pesquisa de misseis do Werner Von Braun (duarante gov Kennedy, bem estar social
do pos guerra). Conquista do espaco para controlar a terra. Tem programa de TV
the rocket man. Controle em tempo real do planeta graças ao sistema de
satélites estacionários integrados.
O manifesto concretista de Augusto de Campos, Decio
Pignatari e Haroldo de Campos menciona isto. Arte para além da arte. Nao é só
conjunto de memória. Campo de experimentacao de articulação simbolica e
cognitiva.
Musica eletronica começa com o instrumento de Terement, nao
prendam esse instrumento a memoria auditiva do passado ele é da memoria
auditiva do futuro (sons ficaram conhecidos como o som do disco voador). Depois
o uso foi disseminado quando foi criado o sintetizador.
Arte passou a poder ser criada instantaneamente pela
interação do performance com a música. Dancarina que interfere na música que
interfere na coreografia da dancarina e assim por diante. Acaba a ideia de
performance limitada a um código pré-estabelecido.
Casas portáteis, Geodos, com imagens projetadas no teto, e
com som acustico. Black Montain Park.
Lixo produzido em escala global decorrente do consumo
exacerbado.
Cidades arrasadas pelo bombardeio de varredura e bombas
incinerárias, construção posterior de prédios conjunto de cubículos. Quadratura
da experiencia humana, international style, articulados em funcao de
estacionamentos e vias expressas.Brasilia é um exemplo de international style,
assim como o nosso JK (o homem moderno, o presidente bossa nova). Realidade urbanistica
do pos guerra (antes eram todas as cidades no estilo frances hausmaniano). Cidade
vira depósito de minorias, migrantes, menos talentosos, lugar do fracasso. Suburbios
passam a ser o lugar do sucesso. Razao para isso foi que houve estímulo para
ocupar espaco rarefeito (after total war can come total living). Ferrovias quando
bombardeadas demoram a ser recompostas. Autobahns não, destruidas a noite de
manha já estao prontas para uso. Novo modelo portanto é suburbios, vias
expressas rodoviárias e ar (avioes, satélites).
Rockfeller governador de NY, cria o museu de arte moderna de NY, no
centro de sua reforma urbanistica, é presidente de petroleira e de financeira
(chase manhatan). Muda a capital cutural da Europa para NY, pq tem os recursos
para comprar as obras na Europa arruinada. Museus de arte moderna e obras
modernas estão no centro de toda reforma urbanistica da época, tanto de NY como
no Rio com Lacerda (MAM no centro do aterro do Flamengo), em sp com o Masp e
Mam (nas duas vias expressas que ligam a cidade ao aeroporto) e em Brasilia com
JK.