Por Danielle Denny
Em certa reunião pedagógica de um
curso de Direito, um dos professores, ao se apresentar, não lembrava o nome
completo de sua disciplina, apenas Internet. Que curiosa força esse pequeno
termo tem! Na grade de horários, o título completo é Relações Privadas e
Internet. Mas realmente, o que marca é a última palavra. E estuda-la no âmbito
jurídico vai muito além das relações privadas, é preciso abordar uma miríade de
tópicos transdisciplinares que se interconectam, de forma pouco sistematizada,
contrariando, de certa maneira, a regra da ciência que é a metodologia
cartesiana.
Direito é uma relação entre duas
ou mais pessoas, que pode ser expressa por uma regra, ou a disposição recíproca
das partes de um todo. Direito em sentido fundamental, é uma técnica (no
conceito platônico) que torna possível a coexistência humana. A característica
mais marcante de uma técnica é a eficiência e a retificabilidade é a condição
fundamental que permite à própria técnica conservar a sua eficiência e
aumentá-la ainda mais.
Técnica eficiente, portanto, é
aquela que pode ser, oportunamente, modificada, que consegue se adaptar às
circunstâncias sem ser substancialmente mudada. O direito, dessa forma, precisa
ter a capacidade de corrigir e de eliminar as próprias imperfeições,
tornando-se mais ágil e, ao mesmo tempo, mais rigoroso. Ele não é constituído
de mera coerência interna do sistema, nem de um juízo de valor, que busca um
ideal pré-ordenado de justiça. É um juízo concreto e diretivo, capaz de influir
no desenvolvimento da conduta humana.
Uma das características
preponderantes da contemporaneidade consiste na aplicação cibernética, o
Direito em sua constante transformação para adequar-se à realidade social, não
pode deixar de assimilar e tirar vantagem dela.
A cibernética pode ser
conceituada como uma transformação de um estado de coisas existentes, com um
objetivo pretendido, segundo um programa suscetível de se modificar, mediante
inter-relação de dados existentes, de acordo com o que foi determinado pelo
organizador do programa. Todos os que quiserem aumentar a eficácia de sua ação,
eliminar erros e evitar riscos, todos os que tiverem ideais a realizar ou
pretenderem transformar situações, terão de levar em conta a cibernética.
Por outro lado, as externalidades
decorrentes da informatização, precisam receber um tratamento adequado. A
mão-de-obra que foi dispensada de seus empregos, em razão da automação, por
exemplo, precisa ser usada em outros setores da economia. O inchaço
populacional das grandes cidades ou de algumas regiões do país, devido ao êxodo
rural e a migrações internas, cria uma enormidade de problemas socioambientais
e econômicos que precisam receber o devido tratamento com processos
inteligentes de organização planejada, para evitar o aparecimento de
perturbações sociais que possam desestabilizar o sistema a tal ponto que gere
até uma eventual substituição.
Do ponto de vista antropológico,
o fato de planejar a direção é o que distingue o homem dos demais seres vivos.
Tudo que coloca limitação a esta capacidade específica do homem, ou que impede
a consciência dos efetivos processos e meios empregáveis, fazendo com que a
tecnologia seja uma caixa preta, ameaçam o direito humano, previsto na nossa
constituição como princípio fundamental, a dignidade humana.
Assim, é desumana a sujeição do
homem ao mundo tecnológico, por ele próprio criado e é preciso que se estabeleça
uma distribuição de trabalho entre o homem e a máquina, em que o ser humano
possa ser aceito como mais do que uma fonte de erros descartável.
A manipulação do homem pelo
homem, o condicionamento do indivíduo pelo grupo social em que vive, as intencionalidades
de todo o conteúdo midiático produzido, a redução do ser humano a um meio para
a consecução de um fim, em detrimento da conservação de sua dignidade como um
fim em si mesmo justificam que seja buscada uma abordagem mais sustentável.
E sistemas sociais constituem,
sempre, processo de comunicação, portanto, o desafio é buscar uma abordagem
ecológica para os atos comunicativos. A obra de Vicente Romano, intitulada
Ecologia de la Comunicación, ressalta essa importância de mudança de paradigmas
para priorizar o ouvir, porque, escutando o outro, exercita-se a tolerância, o
reconhecimento mútuo.
Devido às características
contemporâneas, inclusive de escassez de tempo, fica cada vez mais difícil as
pessoas dedicarem atenção aos outros, principalmente aos marginais da sociedade
da comunicação, aqueles que não se fazem representar pelos formadores de
opinião, nem estão aptos a se apropriarem dos meios para se fazerem ouvir, a
grande parte das minorias, os sem voz, que permanecem excluídos do diálogo social.
Um pequeno, porém importante
avanço no estudo dessa temática é o lançamento do livro do grupo de pesquisa
Comunicação e Cultura do ouvir, justamente porque aborda, em vários artigos,
análises sobre a Ecologia da Comunicação, interceptando, em muitos deles, os
temas Direito, Internet e sustentabilidade.
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