03/03/2013

Educar é uma função pública.


Por Ercílio Antonio Denny

O verdadeiro educador não é o que possui uma espécie, de talismã para o seu uso próprio, mas o que é um promotor de semelhantes. Ele sente prazer com o crescimento dos alunos que lhe estão confiados. Alegra-se quando educando cresce e ultrapassa-os, transmitindo a impressão de um homem livre, criador e altivo. Rejubila por ver que desenvolveu  à sua roda a iniciativa, a lucidez, o espírito de decisão e a franqueza naqueles que eram, há pouco, “menores”  diante da vida.

A educação oferecida deve criar no educando o amor pelo esforço, o sentido de responsabilidade e o gosto pelo trabalho em comum. O que tenta instruir sem inspirar gosto pela aprendizagem é como o ferreiro que bate em ferro frio.   O mesmo poder-se ia dizer de uma pessoa que pretendesse dirigir homens sem lhes incutir o gosto pelo esforço e pela função que irão desempenhar. Não se trata tanto de impor tarefas, mas de provocá-las habitualmente, pois não existe educação senão na medida em que existe adesão e colaboração.

O ser humano é complexo. É um entrelaçamento de tendências que se corrigem e se neutralizam. O papel do educador consiste em apelar para as tendências generosas que existem no fundo de cada homem, neutralizando os instintos da inércia e da segurança.

Ao homem que quer ser digno desse nome, deve ser lembrado que não expulse o herói que  existe dentro de si. Em todo o ser humano há sempre um leque de possibilidades.    Compete ao educador orientar para as tarefas ou indicar as restrições que se impõem, de conformidade com a capacidade de cada um.

Para desenvolver nos homens o gosto pelo esforço, é permitido estimular o amor-próprio. A falta de auto-estima quebra a força de ânimo, mata o espírito de iniciativa, cria seres passivos e inertes.

Ao educador cumpre precaver-se de exigir esforços em desproporção com as possibilidades atuais daqueles que tem de realizá-los. É progressivamente que deve habituar-se os homens a triunfar dos obstáculos cada vez mais difíceis, de modo que não desanimem, mas que, adquirindo confiança em suas próprias possibilidades, tomem o gosto de continuar a progredir.

O que diferencia essencialmente o homem do animal, é que o primeiro é dotado de liberdade e, portanto, de responsabilidade. Despertar o sentido de responsabilidade nos educandos é um dos meios mais eficazes de torná-l os mais homens.

O educador é um ponto de mira.  Os olhos de seus alunos estão constantemente sobre ele, e o seu exemplo tem tanto mais importância quanto mais apreciado é. Os exemplos arrastam ( exempla trahunt ). 

Concretizam um ato ou uma atividade que não passava, até então, de uma visão abstrata do espírito.
Os homens nunca se conduzem com prescrições da razão pura. Eles têm necessidade de ver o seu ideal encarnado em um homem que os leve após si pela sedução do seu exemplo.     Um professor que dá exemplo pode pedir tudo aos seus alunos, porque acaba sempre por merecer e conquistar a sua confiança.

A vida do educador fala sempre mais alto aos alunos do que a sua voz. Se a sua vida está em contradição com as suas palavras, há um ilogismo que escandaliza os fracos e revolta os fortes. O que exige dos outros um trabalho duro deve ele próprio ser um exemplo de trabalho. Não se obtém facilmente a colaboração dos outros a não ser que se exija ainda mais de si mesmo.

Quem se abandona à lei do menor esforço permite tacitamente que seus orientandos procedam de igual modo. Quando o aluno vê o professor trabalhar sem tréguas, desprezar o conforto legítimo, desdenhar cargos e honras; quando sabe que uma única paixão o  anima, ou seja, o bom andamento da classe e o bem-estar de seus alunos, então conquistou por semelhante generosidade e não irão recusar mais nada àquele que nada se poupa. Educar é uma função pública.   Prepara-se para ela desembaraçando-se do egoísmo, das preocupações  interesseiras e da  arrogância que as acompanha.  

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