10/07/2009

O FEITIÇO DE ÁQUILA

O feitiço de Áquila [1][2]
Por Danielle Denny

O resultado da cúpula do G-8 que se reuniu em Áquila, na Itália, é paradigmático da importância crescente dos países emergentes na balança de poder global. O tabuleiro político que separava dicotomicamente os poderosos dos periféricos já se dissipou como o feitiço que impedia Navarre de encontrar a mulher águia do filme. Cada vez mais é imprescindível a participação dos emergentes, como Brasil, China, Índia, África do Sul e México para se alcançar acordos sobre as mais relevantes questões globais.

Os EUA não são mais locomotiva, diz Obama[3]. A recuperação global da atual armadilha de liquidez vai depender muito mais do consumo nos países emergentes estimulado por significativo multiplicador keynesiano, do que da retomada do consumo americano, cuja economia beira o nível do pleno emprego, arriscando, assim, enfrentar o monstro da deflação cumulada com juros zero, o que pode vir a gerar os mesmos efeitos recessivos da subida dos juros. (Se os preços caem e os juros permanecem zerados, isso é percebido pela economia como se os juros subissem, há menos estímulo à produção e as exportações se tornam menos competitivas, dado o aumento da demanda por dólares).

Outra prova do efeito paradigmático da reunião em Áquila foi o fracasso de um compromisso para conter a mudança climática. O máximo que se conseguiu foi que o G8 reafirmasse os compromissos já assumidos em outros fóruns e o anuncio da meta de evitar o aumento de mais de 2 graus Celsius na temperatura global. O G8 , cujas economias correspondem a mais de 75% das emissões de carbono de todo o mundo poderia ter criado uma base muito mais sólida para o êxito de Copenhagen, quando se dará a renovação do Protocolo de Quioto.

O G8 poderia ter seguido as recomendações do relatório Breaking the Climate Deadlock que sugeria a adoção de sete políticas comprovadas para que houvesse reduções significativas até 2020, adoção de padrões de energia renovável; medidas de eficiência industrial; normas para edificações; padrões para eficiência veicular; padrões para conteúdo de carbono em combustíveis; padrões para aparelhos de uso doméstico e políticas para redução de emissões resultantes de desflorestamento e degradação florestal (REDD).

Precisamos avançar nas negociações sobre o clima. No momento em que nos encontramos as medidas a serem tomadas são difíceis, custosas, mas ainda possíveis. Enquanto há tempo, precisamos avançar na busca por um pacto que seja ambicioso, eficaz e justo. Contudo, sem a participação efetiva dos emergentes os temas globais não podem ser resolvidos.
[1] Metáfora entre a cúpula do G8 e o filme originalmente criada por Maurício Santoro

[2] Quem assistiu à Sessão da Tarde na virada dos anos 80 para os 90 deve se lembrar desse título.Trata-se de filme baseado em um antigo conto medieval. Conta a história de Phillipe Gaston, o Rato, um prisioneiro condenado à forca que consegue fugir das masmorras de Áquila, é salvo por Etienne Navarre e passa a fazer parte da jornada desse amargurado capitão que sofre diariamente com um amor platônico. Sua amada, Isabeau, era a grande paixão do bispo de Áquila que, inconformado com o romance entre ela e Navarre, lança uma maldição contra o casal. De dia Isabeau assume a forma de falcão e de noite é Navarre que se transforma em lobo. Assim os dois nunca conseguem se encontrar como humanos.

[3] Conforme artigo de Assis Moreira, no Valor Econômico de 10/7/9, pág. A12

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