Por Danielle Denny
A maioria das empresas de
pequeno porte adota algum tipo de prática sustentável: 70.2% realizam coleta
seletiva, 72.4% controlam o consumo de papel, 80.6% a água, 81.7% a energia.
Essa foi a constatação da pesquisa divulgada em maio/12 pelo SEBRAE – Serviço
de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, que entrevistou 3912 empresários de
micro e pequenos negócios em todo o Brasil.
O engajamento de toda a
sociedade, principalmente das empresas, a despeito do seu tamanho, é
fundamental para implementar os valores da sustentabilidade. Com a
globalização, os agentes políticos nacionais perdem cada vez mais relevância,
cedendo espaço para a iniciativa privada, que, por meio de sua atuação,
inclusive transnacional, acaba substituindo o Estado em muitas de suas antigas
atribuições.
O conceito do Relatório
Brundtland é, desde 1987, ainda esclarecedor: “desenvolvimento sustentável é
aquele que atende às necessidades do presente, sem comprometer a possibilidade
de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades”. Contudo, na
prática, a aplicação dessa diretriz gera enormes controvérsias, dada a
complexidade do tabuleiro político atual.
Como bem conceitua Robert
Puttnam, enfrentamos jogos de dois níveis, cuja racionalidade de uma ação e'
explicada pela atitude conexa que pode gerar em outro contexto. Assim, o que
separava, dicotomicamente , os pequenos dos grandes, os poderosos dos
periféricos, os ricos dos pobres, os vilões dos mocinhos se dissipou. Todos têm
sua parcela de responsabilidade. As organizações, cada vez mais, são chamadas a
sopesar a maximização dos lucros com o papel que têm a cumprir, para fomentar o
desenvolvimento socioambiental.
John Elkington denominou
essa nova realidade de “triple bottom line”, sendo que cada um dos três pilares
da sustentabilidade (econômico, social e ambiental) devem ser geridos com
compromissos públicos no âmbito das organizações. Não se trata de um modismo ou
de um marketing corporativo para gerar imagem positiva de fachada. Envolve uma
filosofia de gestão que deve permear toda a empresa e focar nos resultados
efetivos.
Nao basta apenas cumprir as
normas e diretrizes do Global Compact, da OCDE (Organização para a cooperação e
desenvolvimento econômico), da Lei Sarbanes-Oxley ou ostentar relatórios e certificações
como o Global Reporting Initiative (GRI), ISO 14000, Índice Dow Jones de
Sustentabilidade (IDJS) ou ISE – Índice de Sustentabilidade Empresarial
(BOVESPA). Todos esses modelos devem ser tomados como um convite à reflexão,
uma métrica para possibilitar que os resultados sejam comparados.
Eles facilitam o
relacionamento das empresas com os seus públicos e principalmente com os
negociadores das Bolsas de Valores. Mas os indicadores refletem apenas parte do
cotidiano empresarial nos relatórios, não espelham perfeitamente o dia a dia da
gestão. Além disso, os custos, literalmente milionários para adaptação, impedem
que muitas corporações se submetam. Dessa forma, o foco não pode ser os prêmios
e certificados, mas sim, os resultados efetivos conseguidos com a administração
responsável e ética.
A propriedade tem de ser
lucrativa e cumprir a sua função social, conforme previsto na Constituição
brasileira (Art. 5º, XXIII). As normas e o controle estatal estão cada vez mais
exigentes e rigorosos, principalmente no que tange a aspectos ambientais e
trabalhistas. Assim, cumprir a função social pode ser a opção mais rentável,
uma vez que significa, além de economizar em multas e condenações, deixar de
perder dinheiro, implementando processos mais eficientes e econômicos que
evitem desperdícios, reutilizem e deem destinação adequada aos resíduos.
Além disso, uma empresa
socioambientalmente comprometida experimenta ganhos d e reputação que podem ser
capitalizados em outras áreas. De acordo com Mario Rosa, uma empresa com boa
imagem pode comprar melhor, cobrar mais, contratar os melhores funcionários,
custar menos e ser mais competitiva.
Para disseminar
oportunidades nesse sentido, é indispensável a inovação, e empresas de qualquer
tamanho podem surgir com produtos, ideias e processos novos. Nas estruturas
menores e menos burocratizadas, o ambiente é ainda mais propício para converter
essas inovações em estratégia de mercado ou de competividade. Assim, para as
micro e pequenas empresas essa pode ser uma excelente oportunidade de negócio.
A DryWash é um exemplo.
Para economizar os 300 litros de água que se usam para lavar cada carro em um
lava-rápido convencional, o dono fez experiências químicas usando a batedeira
da sogra e com isso desenvolveu uma formula pioneira em todo o mundo, hoje
patenteada. Além dos royalties dos produtos, a DryWash fatura com a prestação
de serviços de lavagem a seco e com uma ampla rede de franquias.
Com a mudança de valores da
sociedade, os consumidores passaram a valorizar os progressos sociais e
ambientais do setor privado, juntamente com preço e qualidade. Assim, o
comprometimento socioambiental pode agregar valor e favorecer pequenos
empreendimentos, na medida em que consumidores conscientes aceitam pagar um
preço maior por um produto mais ecológico e privilegiam empresas locais.
O desafio de implementar os
valores de desenvolvimento sustentável é comum, tanto para os grandes como para
os pequenos negócios. Lucrarão mais os que conseguirem se antecipar,
aproveitando a janela de oportunidade da Economia Verde, de baixo carbono e
socioambientalmente responsável.
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