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19/06/2012

Rio + 20: o quê a iniciativa privada espera


Por Danielle Denny

A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável é acima de tudo um evento diplomático. Portanto as articulações políticas entre as delegações dos diversos países já estão ocorrendo há meses. Na verdade, desde 2010 o Itamaraty está preparando a Rio + 20.  E nenhuma ruptura está anunciada, pelo contrário, pretende-se um encontro de verificação dos compromissos assumidos até o momento em reuniões passadas. Não vai ser conclusiva, nem sediará assinatura de tratados decisivos como houve na Rio 92 (os quais foram negociados por anos antes daquela conferência). Para a iniciativa privada, as expectativas seguem a mesma toada.

O empresariado faz parte do grande grupo heterogêneo chamado sociedade civil. E na Rio + 20 se fará representar pelo Business Action for Sustainable Development (BASD), formado por três grandes grupos: International Chamber of Commerce (ICC), World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) e United Nations Global Compact (UNGC). Cada um desses congregam empresas individualmente e em conjunto, como as confederações de indústria, comércio e agricultura dos mais variados países.

Para Aron Belinky, da Vitae Civilis, a Rio + 20 é uma “peça em 2 atos”. Durante os 15 dias no Rio será o momento para a sociedade civil como um todo expressar seus interesses e prioridades. Serão mais de 500 side events no Riocentro, mais de 90 na Arena da Barra, mais de 700 na Cúpula dos Povos. No segundo ato, de implementação de politicas públicas, segundo ele, a sociedade civil precisará encontrar formas de agir e os canais de participação ainda precisam ser mais claros. Precisará haver pressão sobre os representantes políticos para que sejam convertidas em ações as prioridades que forem identificadas durante a conferência.

Para Marcelo Vianna, da ICC, o mais importante é o “day after da RIO + 20”, o que vai ser feito posteriormente, como os setores estarão organizados. Afinal “ninguém é contra as ações sustentáveis. A discussão é sobre como elas devem ser implementadas, assim, o plano de trabalho para os dias seguintes é o mais importante”.

A RIO + 20 tem como temática a economia verde no contexto da erradicação de pobreza e do desenvolvimento sustentável. Esse conceito de economia verde foi cunhado pelo Programa das Nações Unidas sobre Meio Ambiente (PNUMA), que elaborou em novembro de 2011 um relatório extenso de 631 páginas sobre o tema (disponível online em inglês e em português na versão resumida).

Nesse contexto, o BASD identificou 10 condições sistêmicas, que necessitam ser providas para que se chegue à economia verde, conforme bem explicou Olympio Barbanti Jr., jornalista, PhD em Políticas Sociais pela London School of Economics:
I - Inovação Social
1. Sensibilização (awareness) e compreensão – para que todos os setores adotem as prioridades da agenda de economia verde;
2. Educação e treinamento – que devem ser promovidas por agentes públicos, negócios e pela própria academia;
3. Emprego – promover oportunidades de trabalho formal e decente, mas não diferenciar “verde” de outras áreas da economia;
II – Inovação Ambiental
4. Promoção de eficiência energética e promover atividades econômicas com ganhos sociais e sem impactos ambientais;
5. Adotar um enfoque de ciclo de vida em todas as atividades econômicas;
III – Inovação Econômica
6. Fortalecer economia de mercado e inserir as dimensões da economia verde nas práticas de negócios internacionais, e torná-las operacional por meio de seu reconhecimento nos balanços das empresas;
7. Desenvolver indicadores, métricas, medidas de contabilidade e promover melhor geração e divulgação de relatórios;
8. Definir política de apoio e de regulamentação que propiciem decisões de investimento informadas para os investidores públicos e privados;
IV – Temas Transversais
9. Desenvolver processos de tomada de decisão que integrem dimensões de políticas ambiental, sociais e econômicas;
10. Criar estruturas de governança nos níveis local, regional, nacional e global que possam facilitar a colaboração e a formação de parcerias inovadoras que entre empresas, governo e sociedade civil.
Ainda de acordo com Olympio Barbanti Jr., adicionalmente às condições sistêmicas, o BASD apresentou 10 proposições de ações a serem tomadas:
1.       Acesso à Energia
a.       Deve-se investir em todas as fontes de geração; apoiar a iniciativa Energia Sustentável para Todos; expandir mercados e aumentar eficiência energética
2.       Agricultura e Segurança Alimentar
a.       Intensificar a produção sustentável de alimentos; fazer da agricultura um fator conducente da redução de pobreza, por meio da ligação de pequenos produtores com cadeias; produzir mais com menos; investir em pesquisa e desenvolvimento agrícola, na capacitação, e no compartilhamento de conhecimentos.
3.       Ecossistemas e da Biodiversidade
a.       Apoiar a iniciativa The Economics of Ecosystems and Biodiversity (TEEB); prover canais que possibilitem às empresas trabalhar mais estreitamente com os formuladores de políticas na concepção e implementação de políticas de biodiversidade e ecossistemas relacionados.
4.       Nexo entre Água, Alimentos e Energia
a.       Implementar uma abordagem integrada e inter-setorial para o planejamento e gestão da água, da energia e dos alimentos, e promover investigação, inovação, compartilhamento de conhecimento e acesso a tecnologias para se chegar à utilização eficaz e a uma distribuição equitativa desses recursos.
5.       Ciência, Tecnologia e Inovação
a.       Promover um ambiente político e regulatório que incentive investimentos estáveis e que permita pesquisas de longo prazo, incluindo proteções adequadas para os direitos de propriedade intelectual, e garantindo apoio para micro e pequenas empresas. Para tanto, governos devem procurar a cooperação internacional e parcerias público-privadas.
6.       Desenvolvimento Social, Direitos Humanos e o Papel das Empresas
a.       Atuar em consonância com os Princípios Orientadores das Nações Unidas sobre Direitos Humanos e Negócios. Pôr ênfase nos direitos dos mais vulneráveis, especialmente para assegurar a gestão eficaz da terra, água, biodiversidade e de outros recursos naturais, capacitando-os e empoderando-os para participar de oportunidades econômicas, através de investimentos em igualdade de saúde, educação e gênero, sem negligenciar questões de governança (particularmente a corrupção). Criar incentivos para que empresas possam incluir pessoas pobres em suas cadeias de valor (como funcionários, fornecedores, clientes, etc) ou através do desenvolvimento de seu capital humano Criar incentivos às empresas para contribuir para o desenvolvimento social, econômico e institucional das comunidades locais, além de mitigar qualquer efeito adverso impactos que as empresas possam ter.
7.       Recursos e Gestão de Materiais
a.       Investir na estratégia 3R (reduzir, reutilizar, reciclar), incorporando-a aos modelos macro-econômicos e indicadores, de forma a orientar o consumidor, e o comportamento industrial e governamental. Estabelecer, tanto a nível global como no nacional, um sistema de contabilização de recursos materiais para acompanhar a sustentabilidade do uso dos recursos em relação a três medidas: (i) taxa de crescimento do consumo total (materiais primários e reciclados); (ii) a taxa de crescimento do uso de estoques pelo seu conteúdo líquido; e (iii) taxa de reciclagem.
8.       Parcerias Transformacionais
a.       Governos devem apoiar o desenvolvimento de “parcerias de transformação” que têm o potencial de transformar as formas pelas quais percebemos as metas de desenvolvimento uma vez que tais parcerias têm capacidade de tratar de questões sistêmicas; envolver todos as partes interessadas; expandir as competências essenciais de todos os parceiros, e criar capacidade interna de alavancagem.
9.       Urbanização
a.       Possibilitar o envolvimento dos negócios no início do processo de planejamento para a urbanização sustentável, que requer abordar adequadamente as dimensões social, econômica e ecológica de sustentabilidade, priorizando ações ajustadas às circunstâncias locais e regionais.
10.     Água para a Economia Verde e Alívio da Pobreza
a.       Melhorar os dados atuais e a capacidade de monitoramento sobre água e saneamento, que são largamente subestimados. Deficiências neste campo geram perdas para os negócios. O problema é maior na agricultura, que deverá considerar a melhoria dos processos e práticas agrícolas de sequeiro. Será também necessário melhorar significativamente a produção de água.

O setor privado, portanto, espera implementação (do que já foi decidido), integração (do social, econômico e ambiental) e coerência (entre o que se sabe e o que se faz). Dentre as diversas temáticas levantadas durante a Rio + 20, pontos mais relevantes têm de ser priorizados e, consequentemente, outros descartados. O mais importante é o censo de urgência, não temos mais 20 anos pela frente.

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