EXPERIÊNCIA DE VINCULAÇÃO NA ERA DAS REDES
Estudo de caso: o filme As melhores coisas do mundo
Danielle Denny[1]
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Resumo
Inspirado pela série de livros Mano – Cidadão Aprendiz de Gilberto Dimenstein e de Heloisa Pietro,
o filme As Melhores Coisas do Mundo,
de Laís Bodanzky, apresenta a discussão sobre os valores na adolescência, não
só como filme, mas também como projeto lúdico-educacional no qual convergem
diversas formas de comunicação. Frente aos desafios enfrentados pela
Comunicação, quando a informação deixou de ser escassa e os meios ainda não
desenvolveram uma nova linguagem, iniciativas como a estratégia de As Melhores Coisas do Mundo no cinema,
na internet, nas redes sociais e nas salas de aula é um caso a ser estudado. Entre
os documentos a serem baixados por quem visita o site do filme está uma
cartilha sobre prática lúdica dos valores para ser usada em sala de aula com
adolescentes. Na contemporaneidade, com os processos de conhecimento
crescentemente fragmentado e dominado pelo individualismo, em detrimento das
experiências sociais, os adolescentes podem ser levados a confundir liberdade
individual com indiferença social. E a escola tradicional não é mais a única
fonte de conhecimento para os estudantes. Por isso precisa se abrir para a
mídia, ensinando como esses conteúdos mediáticos podem ser aproveitados como
fonte de conhecimento. O filme e a cartilha são exemplos de como essa parceria
entre a escola e o entretenimento pode se dar, favorecendo o aprendizado e
desenvolvendo práticas educomunicativas de ensino. Este trabalho busca, por
meio das teorias da comunicação, analisar os processos de vinculação gerados
durante a elaboração do filme e depois de sua estréia. Busca estudar, ainda, o
papel potencializador exercido pelos suportes técnicos que permitem a
convergência e as características de educomunicação alvitradas por As Melhores Coisas do Mundo. Assim, esta
pesquisa se baseará em análise bibliográfica dos conceitos pertinentes ao tema,
com ênfase no estudo sobre vínculos, comunicação orquestral e comunicação como
diálogo. E haverá também pesquisa bibliográfica sobre o suporte tecnológico que
permite a ampliação da mediação, por meio da convergência (Jenkin, 2008) e sobre
educomunicação (Soares, 2001). Para compreensão do objeto de pesquisa serão
utilizados, entre outros, os conceitos de vínculos (Pross, 1980 e Baitello,
1999), comunicação orquestral (Winkin, 1998) e comunicação como diálogo
(Flusser, 2007).
Palavras-chave: Vínculos.
Comunicação Orquestral. Diálogo. Rede. Convergência. Educomunicação. Cultura
do Ouvir.
“… the
negative gesture against schooling is "voluntary illiteracy." ... I
sympathize with children who refuse books along with the garbage in the books.”
Hakim Bey (BEY, 1984: 3)
Hakim Bey (BEY, 1984: 3)
Hakim
Bey exagera em seu terrorismo poético: recusar os livros é demais, mas há a
necessidade de se reconhecer que alguns livros podem não dizer nada relevante e
ainda assim serem obrigatórios na escola. A revolução digital com a
convergência de mídias e a multiplicidade de ferramentas permite a interação em
diversas plataformas. Diversidade é o que caracteriza o nosso tempo, portanto,
esse deve ser o foco da educação, mantendo o processo de aprendizagem o mais
aberto possível. Dessa forma, a escola precisa aproveitar melhor o que está
sendo produzido na mídia. Um exemplo dessa interação possível e desejável é o
filme As melhores coisas do mundo,
dirigido por Laís Bodanzky e baseado na série de livros Mano - Cidadão
Aprendiz, escrito por Gilberto Dimenstein e Heloisa Pietro, cujo tema é a
discussão sobre ética na adolescência.
O
enredo do filme mostra um grupo de jovens brasileiros de classe média que compartilham
a mesma rotina na escola, mas ao mesmo tempo enfrentando uma miríade de
desafios específicos. É possível ser feliz depois de crescer? É a juventude uma
das melhores coisas do mundo? A adolescencia é quando muita coisa é
experimentada pela primeira vez, mas ao mesmo tempo, é quando começam as
responsabilidades. Portanto, discussões sobre ética são de extrema importância.
Para lidar com isso, simultaneamente com o filme, um projeto lúdico educativo
foi lançado, no qual convergiram várias formas de comunicação, criando cenários
que envolvessem som e imagem e permitissem uma melhor absorção do conteúdo
ético.
O
projeto educativo foi criado para fomentar um amplo debate sobre os valores,
tomando como ponto de partida a temática do filme. A idéia era ligar entretenimento
e educação, cinema e aprendizagem. Devido a isso o projeto educativo não é
restrito a estudantes e professores, também visa aos pais, amigos, adolescentes
e qualquer um que quiser aprofundar as análises levantadas pelo filme. Juntamente
com a estréia do filme, o site oficial passou a fornecer endereços em redes
sociais, blogs dos personagens, músicas, jogos e documentos para download
(ANEXO 1). Entre os documentos a serem baixados está um projeto educativo que
inclui um guia de atividades que aplicam os valores do filme, cenas curtas que
podem ser assistidas online grátis e pedaços do script (ANEXO 2). Todas essas
plataformas se complementam para fomentar discussões sobre 9 valores, que são:
1.
O valor da coletividade - ética e cidadania. Duas cenas do filme são sobre
cidadania. Uma delas é a eleição dos representantes da escola, quando os
protagonistas defendem o diálogo, contra a intolerância e o conformismo que
transforma a escola em uma "bolha sem ar". A segunda é a petição
assinada pela maioria dos estudantes para pleitear a readmissão de um professor
acusado de beijar uma aluna. A idéia é estimular a assunção de responsabilidades
e riscos, portanto, melhorando as relações de respeito e agindo contra assédio,
preconceito e perseguição.
2.
O valor da diferença - a diversidade e pluralidade. O protagonista intimida um
colega sobre sua homofilia possível. Ao longo do filme a situação se inverte
ele passa a ser o intimidado sobre a homossexualidade de seu pai. O guia
estimula uma ampla discussão sobre a diferença, o senso comum, o preconceito, a
intolerância e a homofobia. Também sugere uma pesquisa sobre a Declaração Universal
dos Direitos Humanos.
3.
O valor da paz - bullying, cyberbullying e violência na escola. A intimidação
sobre a homossexualidade de seu pai extrapola a internet e culmina com o
assédio físico. Para aqueles alvo de bullying, as conseqüências podem ser
depressão, ansiedade, suicídio, baixa auto-estima, estresse, absenteísmo, entre
outras. Aos agressores o comportamento violento pode expô-los a riscos e propiciá-los
a atitudes delinqüentes que podem favorecer seu desenvolvimento como adultos
violentos.
4.
O valor da aprendizagem - O papel da escola. Um professor no filme diz que os
estudantes devem questionar tudo, incluindo livros e professores. Sua classe é
a mais cheia, ele é muito admirado não só como professor mas também como um
conselheiro, sendo inclusive procurado pelos alunos para conselhos
extracurricular. Ele é um mestre autêntico que consegue ligar os alunos, não
importa qual seja o assunto. O projeto educativo, neste aspecto, sugere uma
comparação da figura do mestre que aparece em filmes diferentes como: Entre os Muros da Escola (Direção: Laurent Cantet, França, 2007);
Karatê Kid (Direção: John G. Avildsen, Columbia Pictures, 1984); Guerra nas
Estrelas – O Império Contraataca (Direção: George Lucas, EUA, 1977); Mr.
Forrestier (Direção: Gus Van Sant, EUA, 2000)
5.
O valor da família - pais e filhos. As conquistas de liberdade como o direito
ao divórcio implicaram na criação de novos tipos de família e, portanto,
redesenhou o papel das pessoas dentro da estrutura familiar. Ao mesmo tempo, continuam
os conflitos clássicos sobre o conflito de gerações e a falta de comunicação.
Neste contexto, as escolhas íntimas são realmente respeitadas? Ou há muita hipocrisia?
Os desafios a serem superados em uma família são muitas, mas elas ilustram a
importância da compreensão mútua e do apoio.
6.
O valor do afeto – sexualidade. O filme mostra diversas situações sobre a
descoberta da sexualidade, o primeiro amor, a rejeição, a popularidade. Na
maioria deles há o conflito entre a banalização dos sentimentos e da
responsabilidade emocional. O projeto educativo sugere entre outras coisas, a
comparação entre as relações amorosas do filme e a exposição Cuide de Voce, da
artista francesa Sophie Calle, cujo namorado, o escritor Grégoire Bouillier,
rompeu a relação amorosa por carta o que estimulou a artista a iniciar um
projeto artístico no qual 107 mulheres, de nacionalidades diversas e profissões
variadas, leram a carta e deram a
resposta ao ex-namorado da artista.
7.
O valor da vida – filosofia. A complexidade da vida leva o irmão do
protagonista à depressão. De uma tentativa de suicídio foi salvo pelo namorado
do pai. Assim é levantada a questão de qual é o valor da vida? O que faz a vida
valer a pena ser vivida? A luta diária é suficiente para satisfazer o coração
humano? O que leva uma pessoa à depressão? Qual é a importância das associações
que tentam prevenir o suicídio?
8.
O valor da subjetividade - arte e expressão. As música, blogs e atuação dos
personagens aparecem como exemplos de subjetividade. Em uma cena, o professor
de guitarra sugere ao aluno fechar os olhos e pensar em uma situação agradável
para impulsionar mais sentimento na música. O projeto educativo sugere uma
festa a ser organizada pelos alunos a fim de mostrar os talentos ocultos dos colegas
de classe convidados.
9.
O valor do amanhã - conscientização do consumidor e educação financeira. Todo
mundo tem sonhos, especialmente os jovens. Às vezes os sonhos dependem do
dinheiro. A educação financeira é, portanto, essencial para cumpri-los. E é
importante para diferenciar o sonho autêntica do consumismo simples. O projeto
educativo sugere uma pesquisa sobre cada despesa para identificar o que é
supérfluo e, portanto, pode ser poupado.
Através
desses nove valores, o projeto educativo instiga um amplo debate sobre ética,
de uma forma divertida, que liga a cultura e a educação, o cinema e a aprendizagem.
Portanto, eles são uma experiência que visa integrar uma variedade de
qualidades humanas que se complementam e, possivelmente, tornam o processo de
aprendizagem mais eficiente e agradável. O projeto educativo não almeja a
abarcar todas as questões éticas, nem se propõe a ser uma forma intrinsecamente
eficaz de ensinar valores éticos. Contudo é uma das possibilidades. Uma
tentativa que merece ser estudada.
“A realidade de um objeto é medida pelo eco que
desperta na esfera afetiva. Se algo é de todo indiferente para uma pessoa, é
como se não existisse... Há que se integrar razão e sentimento. Entender é um
modo de sentir e sentir é, no homem, um modo de entender.” (DENNY, E. A, 2003:
177.)
Depois
de séculos de supremacia da racionalidade, o corpo e seus sentimentos precisam
ser resgatados. Na verdade, o que normalmente move os atos humanos são emoções,
como amor, simpatia, respeito, e não a racionalidade. Porque, como afirmou
Ercílio Denny no fragmento citado acima, a percepção humana depende das
emoções. Portanto, o processo de aprendizagem destacando apenas a objetividade
dos alunos e professores não é suficiente para lidar com a miríade de
diferentes capacidades e talentos que o ser humano tem.
Neste
contexto, é importante redescobrir o ser humano não apenas como homo faber, um trabalhador racional,
focado em resultados e produtividade, mas também como homo ludens, com senso de humor, paixões, com foco em lazer e
diversão. Hoje em dia, a educação deve libertar as gerações futuras da obsessão
por resultados, ao mesmo tempo, impedindo-a deslizar para a preguiça. O
equilíbrio deve ser procurado. E é isso que pretende a Educomunicação,
integrando as áreas de educação com as áreas de comunicação e, portanto, criando
ecossistemas comunicacionais nos ambientes educativos.
O
termo Educomunicação pode ser usado em diferentes contextos. Pode significar a
educação para a comunicação que diz respeito ao impacto que a mídia tem sobre
as crianças e adolescentes. Ele pode designar educação para os meios que trata
de preparar os alunos e professores para tirar proveito da tecnologia, aprender
a usar as ferramentas tecnológicas. E também pode ser usado em um sentido mais
amplo, como uma forma de promover a ecologia da comunicação.
Educomunicação
→ educação
para a comunicação que diz respeito ao impacto que a mídia tem sobre as
crianças e adolescentes
→ educação
para os meios que trata de preparar os alunos e professores para tirar proveito
da tecnologia, aprender a usar as ferramentas tecnológicas
→ forma
de promover a ecologia da comunicação, conciliar diversas dimensões do ser
humano (racional, afetiva, lúdica...) fornecendo um ambiente criativo para
apoiar a apropriação de práticas comunicativas
O
filme As melhores coisas do mundo é
um bom exemplo de Educomunicação, neste sentido mais amplo, é entretenimento,
mas ao mesmo tempo promove a educação. Ele integra música, imagens, internet,
redes sociais, blogs, jogos, escola, professores, amigos, família ...
Escola
e a família não são mais as únicas a educar, em um conceito amplo de promover o
desenvolvimento humano. Alguns complementam, outros contestam essa tarefa. Mas
a escola tem uma situação privilegiada, ainda é a única capaz de mediar a
relação entre as outras instituições de socialização para incutir a reflexão
sobre a qualidade das relações.
Nosso
tempo tem sido caracterizada como "modernidade líquida", conforme
termo de Zygmunt Bauman, nesta realidade, os padrões são
"liquefeito". Portanto, é absolutamente necessário aprender a quebrar
regularidades. Conhecimento não é mais durável. Ele muda em uma velocidade
difícil de lidar. Se uma pessoa não atualiza regularmente, ele / ela se torna
ultrapassada e, por isso, descartáveis.
Assim,
hoje em dia a capacidade humana mais importante é articular a multiplicidade de
informação que se está exposto em uma base diária na maioria das plataformas
tecnológicas diferentes. O indivíduo deve ser capaz de aplicar lógicas que aprendeu
em ambientes diferentes, em momentos diferentes. A mídia pode ser usada para
ligar os indivíduos e a realidade, integrando o conhecimento à experiência. Mas
não substitui a escola no seu projecto verdadeiramente educativo. Escola não
apenas informa, mas também forma os indivíduos de uma maneira sistemática e
ampla, inclusive ensinando-os a crítica, a como decodificar informações fazendo
uso dos valores éticos.
Contudo
a escola não pode fechar-se para a realidade exterior. O papel do professor é
mediar o conhecimento. O aluno deve descobrir por conta própria como integrar
todo o conhecimento aprendido em diferentes lugares e em tempos diferentes. O
professor é o facilitador deste processo, que dá sentido a algumas informações,
construindo processos sistemáticos de compreensão da realidade.
A
escola é muitas vezes encontrada trancada em sua própria fala, portanto,
dificultando a circulação do conhecimento. Todas as outras formas de circulação
de conhecimento são tomadas como uma ameaça à autoridade. Como conseqüência, em
poucas oportunidades a mídia é mencionado na escola, predominam as atitudes
negação ou crítica do uso da mídia. Isso é muito prejudicial.
Em tempo
de modernidade líquida, a educação também tem de ser mais fluida.
O
livro e a linguagem escrita continuam a ser a chave para a alfabetização, mas
um processo complementar é necessário. Indivíduos precisam ser alfabetizados
também em outros tipos de discursos como os de computadores, jogos, TV, filmes
ou outros formatos audiovisuais. E há coisas produzidas pelos meios de
comunicação que podem até mesmo reforçar o discurso da escola e ser usado como
um facilitador para o processo de aprendizagem. O filme, aqui objeto de estudo,
pode ser considerado como um desse tipo.
Tomando
o exemplo do filme As melhores coisas do
mundo, a comunicação é melhor entendida como um ecossistema. A teoria de Martín
Barbero de mediação explica que a questão não é mais como defender os
estudantes da media e de seus efeitos negativos, mas como tirar proveito do que
é produzido pelos meios de comunicação para melhorar a educação. Pedagogia
precisa entender de mídia, precisa usar a mídia para produzir uma ecologia da
comunicação adequada. Esta aproximação entre comunicação e educação deve ser
feito de uma forma crítica, mas construtiva.
Todas
as sociedades humanas em todos os momentos têm valores, mitos, deuses, idéias,
em outras palavras, a noosfera, conforme definido por Edgard Morin (MORIN,
2002, 44). A noosfera é compartilhada por pessoas de diferentes gerações
através de um processo de mímese das práticas do cotidiano sócio-cultural e
também através dos processos formais de educação. Pode servir a humanidade para
alcançar o progresso, ou obstruí-lo.
Idéias
em nossa sociedade podem ter um poder incrível. A idéia de mercado, por
exemplo. Foi uma vez um conceito racional, mas hoje em dia tem sido deificado.
Desemprego é por causa do mercado, bem como crises do subprime, as alterações
climáticas, preços, e assim por diante. Uma infinidade de coisas é por causa do
mercado. Mas são poucas as pessoas que efetivamente entendem o porquê. Para a
maioria, o mercado é algo como um deus, uma entidade criada pela racionalidade
humana que vai além, alcançando a sua própria existência no mundo imaginário.
Nossa
sociedade atual reduz todas as coisas, incluindo o ser humano, a partes. Neste
contexto, a pessoa se torna parte de um grupo e seu próprio corpo físico é
considerado como um elemento separado. Nossa existência física é tomado como em
paralelo à nossa existência imagética, especialmente quando as imagens são
tecnicamente reproduzidos em série. Não só as pessoas consomem essas imagens,
mas também as imagens consomem as pessoas, como Norval Baitello explica através
do conceito de iconfagia (Baitello, 2005:53).
Imagens
pré-concebidas de sucesso, beleza, perfeição, entre outros, fazem as pessoas
forçarem seus corpos para caber nessas imagens, às vezes em detrimento do
corpo. O corpo adoece de trabalhar 7 dias por semana, mais de 10 horas por dia,
mas algumas pessoas parecem não perceber isso, e se sujeitam a isso, na busca
pelo sucesso, uma imagem preconcebida. Nesse exemplo, a pessoa consumiu a
imagem de sucesso, mas também a imagem de sucesso consumiu o corpo, fez com que
ele adoecesse.
Por
outro lado a revolução digital possibilita a inflação exacerbada das imagens. Com
a convergência de mídias e a divergência de meios, são criadas multiplataformas
de interação entre emissor e receptor de conteúdo informativo via mídias
sociais conectadas (LIMA, 2009:54). O filme As melhores coisas do mundo,
adequado a esse contexto, foi lançado já com diversas comunidades oficiais em
várias dessas multiplataformas de interação como Facebook, Orkut, Flickr,
Twitter. Além disso, os blogs mantidos pelos personagens no filme existem na
rede.
Contudo
a apropriação que foi dada pelas pessoas ficou muito aquém das possibilidades, o
uso desses media poderia ser muito mais contundente. As imagens postadas no Flickr
por exemplo, eram na sua maioria padrão, ilustrativas, denotativas. Falta ainda
o desenvolvimento de uma linguagem, de acordo com a nova realidade de
abundância de informação, excassez de tempo e hiperconectividade. Uma linguagem
que possibilite a utilização de imagens complexas (CATALÀ, 2005:41).
Pois
em nossa sociedade imagética, milhares de imagens são consumidas e consomem as
pessoas constantemente. As imagens são reproduzidas sem limites, para minar
qualquer tipo de reflexão, na esperança de substituir as outras dimensões
humanas deixadas de lado. Neste quadro, qualquer preocupação sobre o
ecossistema, incluindo o ambiente comunicacional, não se encaixa. A ecologia
tem como objectivo a integração entre o humano e o meio ambiente. E este
ambiente não é apenas físico, mas também imaterial, uma vez que, na sociedade
atual, a nossa existência virtual é particularmente importante.
Portanto,
a ecologia da comunicação tem a intenção de conciliar as várias dimensões que o
ser humano tem. Nossa existência física é permeada por nossas imagens, não
paralela à ela. Por essa razão, todas as dimensões humanas devem ser integradas.
E a meta da Educomunicação é exatamente isso: fornecer um ambiente criativo
para apoiar a apropriação de práticas comunicativas.
O
site oficial (ANEXO 1), que fornece os endereços das redes sociais, os blogs de
personagens, as músicas, os jogos e os documentos para download, pode ser
considerado uma tentativa de possibilitar a educomunicação. Todas essas
plataformas podem ser usados para experimentar
a tecnologia e exercer a percepção crítica, para estimular as pessoas a se
sentirem mais preparadas para decidir sobre a qualidade da mídia, entre outras
coisas que elas experimentam vivendo em sociedade.
O
projeto educativo é uma iniciativa que merece ser estudada, mas não se basta
nem esgota o tema. A busca por uma nova linguagem continua. Será privilégio e
responsabilidade da geração atual definir qual vai ser o novo modelo de negócio
a ser aplicado à nova realidade de abundância de informação, excassez de tempo
e hiperconectividade.
O
presente artigo foi apresentado em 11 de novembro de 2011, no 7o.
Interprogramas de Mestrado em Comunicação da Faculdade Cásper Líbero,
http://www.casperlibero.edu.br,
interprogramas@casperlibero.edu.br.
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ANEXO 1: Site oficial do filme As melhores coisas do mundo com endereços em redes sociais, blogs dos personagens,
músicas, jogos e documentos para download:
ANEXO 2: projeto educativo que inclui um guia de atividades que
aplicam os valores do filme, cenas curtas que podem ser assistidas online
grátis e pedaços do script:
[1]
Mestranda em Comunicação na Contemporaneidade da Faculdade Cásper Líbero
- 2° Semestre de 2010. Linha de Pesquisa Processos Midiáticos: Tecnologia e
Mercado, Grupo de Pesquisa Comunicação e Cultura do Ouvir.http://lattes.cnpq.br/8898848038418809
danielle.denny@gmail.com
O artigo acima será publicado nos anais do evento, no site: http://www.casperlibero.edu.br/home/
Material de apoio projetado durante a exposição:
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