Por Danielle Denny
Carmen Dell’Orefice, a
modelo mais velha do mundo em atividade, completou 80 anos em 2011, nessa foto
da campanha publicitária da Rolex, é associada à frase: classe é para sempre. Sem
dúvida Carmem é, como sempre foi, uma beldade. Mas será que é saudável os
idosos se compararem a ela, submeterem seus corpos a rotinas, dietas e plásticas
para corresponder a esse padrão de beleza? Buscarem essa infinita classe,
mencionada no slogan?
Com o aumento da
expectativa de vida e a disposição de recursos maior na camada mais madura da
sociedade, esse nicho de mercado passa a ser interessante para diversas
empresas que passaram a investir na construção de uma imagem marcária mais
condizente com essa faixa etária de consumidores. Mas ainda assim, muito
distante da realidade.
Edgar Morin chamou
esse processo de “juvenilização” do homem. Antes a pessoa aprendia enquanto
jovem e depois passava a aplicar o que aprendeu. Não se ensinava truque novo a
cachorro velho. Atualmente esse ditado é completamente anacrônico. Haja vista a
quantidade de idosos aprendendo a usar as máquinas computacionais
contemporâneas, por exemplo.
E têm de aprender na
marra. Não há alternativa, mesmo os que se recusam a usar os notórios
computadores e celulares, são obrigados a usar caixas eletrônicos, monitores
cardíacos, leitores de código de barras entre infinitos outros equipamentos que
utilizam processadores.
Assim, os adultos e
idosos contemporâneos tem de manter características próprias dos jovens. Têm de
estar dispostos a aprender, jogar, brincar, competir, preencher seu dia com
atividades novas e desafiadoras. Tudo isso mantendo a vitalidade, alegria e força.
O tempo social e cultural se sobrepõe ao tempo físico do corpo.
Os velhos tem de ser
ágeis e despertos, como os jovens para poderem ocupar o espaço público. Essas
características são necessárias até para as atividades mais corriqueiras como
atravessar uma rua, já que os sinais fecham tão rápido que se o pedestre não
for capaz de correr, arrisca ser atropelado.
Em contrapartida a
essa “juvenilização”, do outro lado da pirâmide etária, os jovens estão sendo
cobradas cada vez mais cedo a demonstrar responsabilidade, tomar decisões,
assumir riscos individuais. “O mesmo espírito do desafio que estimula a permanência
da jovialidade e do vigor, exige das crianças que sejam precocemente adultas
para fazerem frente à variedade, diversidade e onipresença do perigo e para
fazerem frente à complexidade das escolhas e decisões a que são submentidas.
Isto trouxe como consequência uma precoce e forçada senilização da juventude.”
(Baitello Jr., 2005: 27)
Desde muito cedo,
começam a ser expostos a imagens educacionais, informacionais, comportamentais,
publicitárias e comerciais. São vistos como consumidores. Mas nem sempre são
preparados para processar essas imagens. Pois essa medialiteracy demanda tempo,
exige experiência e maturidade
O envelhecimento
comportamental precoce dos jovens pode ser percebido pelos “movimentos de
conservadorismo juvenil, pelas ondas de apatia, acriticismo e desmotivação
encontradas em determinados momentos e movimentos de jovens, na carência de
novas utopias, no culto a velhos clichês, no esmaecimento da inventividade nas
escalas mais amplas que as tribais, nas sociedades e na comunicação de massas,
no apelo que sentem para as manifestações mais triviais e tolas da chamada ‘cultura
de massa’, na facilidade com que sucumbem à idiotia das imagens veiculadas em
proporção e dimensões cada vez menos sutis.” (Baitello Jr., 2005: 28)
Nossa sociedade atual
reduz todas as coisas, incluindo o ser humano, a partes. Neste contexto, a
pessoa se torna parte de um grupo e seu próprio corpo físico é considerado como
um elemento separado. Nossa existência física é tomado como em paralelo à nossa
existência imagética, especialmente quando as imagens são tecnicamente
reproduzidos em série. Não só as pessoas consomem essas imagens, mas também as
imagens consomem as pessoas.
Imagens pré-concebidas
de sucesso, beleza, perfeição, entre outras, fazem as pessoas forçarem seus
corpos para caber nessas imagens, às vezes em detrimento do corpo. O corpo idoso
adoece de tentar viver no ritmo frenético dos jovens. Da mesma forma, causa
angústia ter de decidir aos 17 anos sobre a carreira a ser adotada pelo resto
da vida. Nesses exemplos, as pessoas consomem uma imagem de ser humano ideal,
mas também a mesma imagem de sucesso consome o corpo, fez com que ele adoeça ou
angustie. É o que Baitello Jr denomina de iconofagia.
Sexalescentes,
sexagenários com comportamento de adolescentes, são resultado do mesmo processo
que produz jovens senis, com comportamento de velhos. E deve ser observado com
atenção, para mitigar os danos dessa cultura contemporânea iconofágica, viabilizada
pelo abundante aparato comunicativo.
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O presente artigo foi
inspirado pelo livro: BAITELLO JUNIOR, Norval. A era da iconofagia: ensaios de
comunicação e cultura. São Paulo: Hacker, 2005. Principalmente pelo trecho às
folhas 26 e 28.
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