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05/11/2011

Sexalescentes resultam de jovens senis


 Por Danielle Denny



Carmen Dell’Orefice, a modelo mais velha do mundo em atividade, completou 80 anos em 2011, nessa foto da campanha publicitária da Rolex, é associada à frase: classe é para sempre. Sem dúvida Carmem é, como sempre foi, uma beldade. Mas será que é saudável os idosos se compararem a ela, submeterem seus corpos a rotinas, dietas e plásticas para corresponder a esse padrão de beleza? Buscarem essa infinita classe, mencionada no slogan?

Com o aumento da expectativa de vida e a disposição de recursos maior na camada mais madura da sociedade, esse nicho de mercado passa a ser interessante para diversas empresas que passaram a investir na construção de uma imagem marcária mais condizente com essa faixa etária de consumidores. Mas ainda assim, muito distante da realidade.

Edgar Morin chamou esse processo de “juvenilização” do homem. Antes a pessoa aprendia enquanto jovem e depois passava a aplicar o que aprendeu. Não se ensinava truque novo a cachorro velho. Atualmente esse ditado é completamente anacrônico. Haja vista a quantidade de idosos aprendendo a usar as máquinas computacionais contemporâneas, por exemplo.

E têm de aprender na marra. Não há alternativa, mesmo os que se recusam a usar os notórios computadores e celulares, são obrigados a usar caixas eletrônicos, monitores cardíacos, leitores de código de barras entre infinitos outros equipamentos que utilizam processadores.

Assim, os adultos e idosos contemporâneos tem de manter características próprias dos jovens. Têm de estar dispostos a aprender, jogar, brincar, competir, preencher seu dia com atividades novas e desafiadoras. Tudo isso mantendo a vitalidade, alegria e força. O tempo social e cultural se sobrepõe ao tempo físico do corpo.

Os velhos tem de ser ágeis e despertos, como os jovens para poderem ocupar o espaço público. Essas características são necessárias até para as atividades mais corriqueiras como atravessar uma rua, já que os sinais fecham tão rápido que se o pedestre não for capaz de correr, arrisca ser atropelado.





Em contrapartida a essa “juvenilização”, do outro lado da pirâmide etária, os jovens estão sendo cobradas cada vez mais cedo a demonstrar responsabilidade, tomar decisões, assumir riscos individuais. “O mesmo espírito do desafio que estimula a permanência da jovialidade e do vigor, exige das crianças que sejam precocemente adultas para fazerem frente à variedade, diversidade e onipresença do perigo e para fazerem frente à complexidade das escolhas e decisões a que são submentidas. Isto trouxe como consequência uma precoce e forçada senilização da juventude.” (Baitello Jr., 2005: 27)

Desde muito cedo, começam a ser expostos a imagens educacionais, informacionais, comportamentais, publicitárias e comerciais. São vistos como consumidores. Mas nem sempre são preparados para processar essas imagens. Pois essa medialiteracy demanda tempo, exige experiência e maturidade

O envelhecimento comportamental precoce dos jovens pode ser percebido pelos “movimentos de conservadorismo juvenil, pelas ondas de apatia, acriticismo e desmotivação encontradas em determinados momentos e movimentos de jovens, na carência de novas utopias, no culto a velhos clichês, no esmaecimento da inventividade nas escalas mais amplas que as tribais, nas sociedades e na comunicação de massas, no apelo que sentem para as manifestações mais triviais e tolas da chamada ‘cultura de massa’, na facilidade com que sucumbem à idiotia das imagens veiculadas em proporção e dimensões cada vez menos sutis.” (Baitello Jr., 2005: 28)

Nossa sociedade atual reduz todas as coisas, incluindo o ser humano, a partes. Neste contexto, a pessoa se torna parte de um grupo e seu próprio corpo físico é considerado como um elemento separado. Nossa existência física é tomado como em paralelo à nossa existência imagética, especialmente quando as imagens são tecnicamente reproduzidos em série. Não só as pessoas consomem essas imagens, mas também as imagens consomem as pessoas.

Imagens pré-concebidas de sucesso, beleza, perfeição, entre outras, fazem as pessoas forçarem seus corpos para caber nessas imagens, às vezes em detrimento do corpo. O corpo idoso adoece de tentar viver no ritmo frenético dos jovens. Da mesma forma, causa angústia ter de decidir aos 17 anos sobre a carreira a ser adotada pelo resto da vida. Nesses exemplos, as pessoas consomem uma imagem de ser humano ideal, mas também a mesma imagem de sucesso consome o corpo, fez com que ele adoeça ou angustie. É o que Baitello Jr denomina de iconofagia.

Sexalescentes, sexagenários com comportamento de adolescentes, são resultado do mesmo processo que produz jovens senis, com comportamento de velhos. E deve ser observado com atenção, para mitigar os danos dessa cultura contemporânea iconofágica, viabilizada pelo abundante aparato comunicativo.

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O presente artigo foi inspirado pelo livro: BAITELLO JUNIOR, Norval. A era da iconofagia: ensaios de comunicação e cultura. São Paulo: Hacker, 2005. Principalmente pelo trecho às folhas 26 e 28.

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