(HB 192 ) MAIO, M. In: FERREIRA, Jorge & DELGADO, Lucilia A. N. O Brasil Republicano. Volume 2, Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 2003, pp. 39-105
AÇÃO INTEGRALISTA BRASILEIRA: um movimento fascista no Brasil (1932-1938), Marcos Chor Maio e Roney Cytrynowicz
AIB, fundada em 1932, pelo MANIFESTO DE OUTUBRO, existiu legalmente até 1938 e tinha como lema “Deus, Pátria e Família”. Principais líderes: Plinio Salgado, Miguel Reale e Gustavo Barroso. Foi a primeira organização política nacional. Os partidos oligarquicos da República Velha possuiam só expressão regional e não tinham maior inserção popular ou junto às classes médias urbanas. Organizadas as BANDEIRAS INTEGRALISTAS, para NE e S, com objetivo de difundir as idéias do movimento. Em 1936, torna-se um partido político. Após golpe do Estado Novo, a AIB tornou-se uma sociedade cultural. A persistência da atuação partidária independente da AIB teve influência decisiva na resolução de Vargas de proibir sociedades com o mesmo nome dos partidos políticos existentes antes de 1937. Em 1938 Plinio Salgado registra a sociedade com Associação Brasileira de Cultura. O primeiro PUTSCH INTEGRALISTA fracassou com a tentativa de tomar uma rádio no Rio de Janeiro. Meses depois outro ensaio golpista contra o palácio da Guanabara. Plinio Salgado preso e depois exilado para portugal.
Consenso a respeito de 2 aspectos 1) a presença de concepções distintas no interior do integralismo acerca da proposta de uma revolução integral; 2) a singularidade da AIB enquanto movimento que representou as especificidades da sociedade brasileira das décadas de 1920 e 1930. Seja um projeto de fascismo à brasileira ou uma alternativa conservadora ao capitalismo dependente, ou ainda uma resposta geracional de segmentos de classe média não contemplados pelas mudanças ocorridas após a Revolução de 1930, o movimento integralista ainda é um cenário aberto no campo da pesquisa.
O PCB, A ANL E AS INSURREIÇÕES DE NOVEMBRO DE 1935, Marly de Almeida G. Vianna
O tenentismo, iniciado com a rebelião do Forte de Copacabana em 1922, fortaleceu-se em 1924 com o levante paulista comandado por Isidoro Dias Lopes e com os levantes do Rio Grande do Sul, liderados por Luís Carlos Prestes. A junção do movimento paulista com o gaúcho desembocou na epopéia da famosa COLUNA PRESTES, que percorreu mais de 25mil quilometros do território nacional, desafiando o governo, sem sofrer uma única derrota. No início de 1927, eleito Washington Luís, a Coluna Prestes encerrou as atividade e o quadriênio presidencial de 1926-30 transcorreu com aparente tanqüilidade, embora os tenentes continuassem a conspirar.
Em nossa sociedade, com a tradição do autoritarismo e da exclusão, gerados e alimentados em quatro séculos de escravidão, mesmo os setores mais democráticos viam a participação popular a partir de uma perspectiva elitista: achavam que seria preciso tutelar as massas pobres e ignorantes para ajudá-las a evoluir. A democracia de que falavam e pela qual pegavam em armas era uma democracia que entendiam como o desmantelamento do proceso eleitoral corrupto então vigente. O PCB pregava um governo de força, a ditadura democrática do proletariado, até que a luta de classes fosse superada, com a implantação do regime socialista. Com a Revolução de 1930, ampliou-se o espaço de participação política e nenhum grupo descartava o recurso às armas: a tradição republicana brasileira não era de mudanças eleitorais, mas de movimentos militares. É dessa luta pela hegemonia política que tem como episódio importante os levantes de 1935
PCB
Fundado em 1922, anarco-sindicalistas entusiasmados com a Revolução Socialista Russa, logo se filiam à INTERNACIONAL COMUNISTA = TERCEIRA INTERNACIONAL = KOMINTER, fundada por Lenin em 1919 pelo internacionalismo e contra as posições dos membros da segunda Internacional que apoiaram as burguesias nacionais de seus respectivos países ao referendarem a participação deles na Primeira Guerra Mundial. Depois que Lênin morreu o domínio de Stalin passou a revolução mundial a um segundo plano o objetivo primordial foi a defesa do Estado socialista, a IC não poderia ameaçar os interesses democráticos da URSS.
Fundado no mesmo ano da eclosão do movimento tenentista, o PCB nao participou das duas primeiras revoltas militares, de 1922 e 1924, mesmo simpatizando com elas. Quando ocorreu a revolução de 1930, o PCB declarou que aquela era uma luta entre o imperialismo inglês e o norte-americano e que os comunistas nada tinham a ver com ela. Luís Carlos Prestes estava em Moscou e fazia de lá todas as tentativas para ser aceito no PCB, mas a nova direção do PCB nao queria qualquer tipo de aliança com Prestes. PCB NAO QUERIA CAVALEIRO DA ESPERANÇA, acusavam-no de caudilho pequeno-buguês. A tese do partido na época era a do agrarismo versus industrialismo na luta pela dominação do país: o capital ingles agrario representado por Artur Bernardes e o norte-americano industrialista representado pela pequena burguesia e pelos tenentes. Processo de proletarização do PCB: todos os comunistas deveriam ser operários ou filhos de operários. A política de proletarização desmantelou o PCB a ponto de em 1933 a IC intervir para reorganizar o partido. Nessa reorganização foi colocada na liderança do partido aqueles que participariam dos acontecimentos de 1934-35. Essa reorganização nao via com bons olhos a aliança com outras esquerdas. A partir de 1934, embora a direção do PCB continuasse a repetir a palavra de ordem da IC por um governo de sovietes, seus militantes, na prática desobedeciam as tais diretivas pois, em conjunto com outras forças democráticas, participavam das lutas de rua contra os integralistas. Pex. BATALHA DA PRAÇA DA SÉ.
ANL
Enquanto a delegação do comitê central do PCB estava em Moscou, começava a se tornar realidade no Brasil a articulação de uma frente única antifascista-antiintegralista. 1934 Comitê Jurídico Popular de Investigação que viria a transformar-se na ANL em 1935. O PCB apoia sem aderir a ela. Luís Carlos Prestes aclamado como presidente de honra da ANL. O porta-voz da proposta foi o estudante e comunista Carlos Lacerda (o futuro udenista).
Muitas calúnias foram escritas sobre novembro de 1935. As rebelioes foram depreciativamente chamadas de intentona comunista o que dava aos levantes conotações terríveis, uma vez que o comunismo era considerado o próprio anticristo. No entanto, apesar da participação de comunistas, a insurreição não teve sequer um caráter socialista. A plataforma do movimento era a dos tenentes, de luta contra a exploração do Brasil pelo capitalismo internacional, e pela reforma agrária e pela democracia – por pão, terra e liberdade – plataforma, aliás, bastante atual. Se hoje percebemos com clareza os erros cometidos pelos rebeldes, naquela época as lutas tenentistas, os levantes militares – autorizados pela própria Revoolução de 1930 – levavam a crer que tais revoltas eram um meio eficaz e justo para alcançar as mudanças no poder.
Mesmo que possamos criticar o elitismo dos tenentes tanto a Aliança Nacional Libertadora, em que se agrupavam, como o PCB reconheciam que uma cidadania restrita às classes dominantes impede o próprio ideal de cidadania, e que esta nao pode existir num país se for negada à maioria de seus habitantes. Que no Brasil, nao se tratava, nao se trata, de resgatar a cidadania, mas de conquistá-la.
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