Comunicação e sustentabilidade: o ambiente comunicativo do SWU
Palestra ministrada por Danielle Denny, em 29/11/2011
Artigo:
FACULDADE CÁSPER LÍBERO
PROGRAMA de pós graduação em COMUNICAÇÃO
Mestrado
2º. semestre de 2010
Comunicação e sustentabilidade: o
ambiente comunicativo do SWU
Mestrado
São Paulo, novembro de 2011
1. •Resumo
As apresentações musicais em eventos coletivos como
os festivais de música são capazes de gerar um ambiente privilegiado para
intervenções de forma a favorecer a educação, despertar e promover a postura
ética e ecológica dos participantes. Pela memória musical, experiências sonoras
podem ser vinculadas a determinadas atitudes e, assim, promover ações e
compromissos ecológicos. O caso concreto sob análise é o SWU 2010 (sigla de
Starts With You ou Começa Com Você) que tinha como objetivo articular a
educomunicação ambiental à imersibilidade sonora nos três dias de festival
realizado em Itú/SP ,
na Fazenda Maeda, nos dias 9, 10 e 11 de novembro de 2010. Em seu site o SWU
pretendia ser um movimento de conscientização em prol da sustentabilidade. Sob
os valores de paz, amor, consciência e atitude, teria o intuito de mobilizar o
maior número possível de pessoas para a causa da sustentabilidade. Sua
finalidade seria mostrar que, por meio de pequenas ações individuais praticadas
no dia a dia, as pessoas podem ajudar a construir um mundo melhor para se
viver. O presente artigo busca identificar se a sustentabilidade foi usada
meramente para promover o consumo durante o SWU, ou se foi uma importante
oportunidade para criarem-se vínculos e usar o ouvir como disposição para
sermos tocados pelas idéias da sustentabilidade. Estuda as iniciativas
comunicacionais do SWU sob a lógica do eco marketing e do eco capitalismo, sob
os conceitos de imagem complexa, de ecologia da comunicação e sob a perspectiva
de estabalecimento de vínculos. A análise teórica do presente artigo é feita
sob a perspectiva dos valores econômicos, da vinculação, da comunicação
orquestral, da iconofagia, da ecologia da comunicação, da verticalidade, da
cultura do ouvir, dos diálogos e dos discursos. Este artigo parte de uma
análise de caso, segue a metodologia fenomenológica e tem como referencial
teórico autores como Shapiro(1999), Castells (2009), Català (2005), Winkin
(1998), Flusser (2007), Pross (1980), Romano (2004), dentre outros.
Palavras-chave: Vínculos. Comunicação Orquestral.
Diálogo. Educomunicação. Cultura do
Ouvir. Ecologia da comunicação.
O universal está no coração do particular
Goethe
Goethe
2.
•Antecedentes
A
presente pesquisa nasceu de uma experiência de aplicação do aprendido nas aulas
de Teoria da Comunicação do mestrado da Cásper Líbero. Depois de estudar a
escola de Palo Alto, a pesquisadora foi a campo, durante os três dias de festival realizado em Itú/SP , na Fazenda Maeda,
nos dias 9, 10 e 11 de novembro de 2010, seguindo a metodologia fenomenológica
de buscar experiências, de ir da teoria ao trabalho de campo, como propõe o
título do livro de Winkin (1998). Alguns dos resultados dessa pesquisa de campo
já constam da descrição do objeto de pesquisa, logo abaixo.
3. •Introdução
a.
TEMA
A
presente pesquisa tem uma temática dividida em três itens principais: vinculação,
educomunicação e ecologia da comunicação.
b.
Descrição do objeto
O
SWU (sigla em
inglês para Começa Com Você) era para ser uma mega campanha
publicitária de comunicação de massa em defesa da sustentabilidade, traduzida
em uma plataforma de informação e entretenimento. Em seu site o SWU pretende
ser um movimento de conscientização em prol da sustentabilidade. Sob os valores
de paz, amor, consciência e atitude, teria o intuito de mobilizar o maior
número possível de pessoas para a causa da sustentabilidade. Sua finalidade
seria mostrar que, por meio de pequenas ações individuais praticadas no dia a
dia, as pessoas podem ajudar a construir um mundo melhor para se viver.
O
idealizador do movimento foi Eduardo Fischer, presidente do Grupo Totalcom,
holding de agências publicitárias com atuação no Brasil, na Argentina e em
Portugal e cujo capital social é 100% brasileiro. Contou com a parceria da
produtora de shows The Groove Concept e da Consultoria Visão Sustentável. Os
principais patrocinadores foram Nestlé, Heineken e OI. A premissa do movimento
seria que pequenas atitudes podem gerar grandes mudanças. A manifestação
empírica desse movimento se deu durante os dias 9, 10 e 11 de outubro de 2010,
na fazenda Maeda, em Itu (SP )
com a realização do Fórum Global de Sustentabilidade e do Music and Arts
Festival, para um público de 164,5 mil pessoas.
A
primeira parte do evento foi o Fórum Global de Sustentabilidade que funcionou
entre 12h e 14h40, com apresentações de palestrantes e debates sobre os temas
Negócios Sustentáveis, Inclusão de Minorias e Jovens e Meio Ambiente. A
participação do público, contudo, ficou muito reduzida. Apenas três mil pessoas
compareceram às 29 palestras de convidados nacionais e internacionais. Algumas
das razões que podem ser apontadas para esse insucesso são, primeiro, o horário
exíguo e desvinculado dos eventos do festival de música e, segundo, problemas
práticos, como o comprometimento de boa parte do público alvo dessas palestras
com as filas dos banhos ou para alimentação.
O
fórum deveria ficar aberto durante todo o evento. Suas palestras deveriam ter
sido gravadas e disponibilizadas para o público que chegasse fora do horário. E
depois na internet para o público em geral. Deveria haver ações inclusivas que
envolvessem as pessoas que já estivessem no evento no horário das palestras.
Mas nem a programação o público recebia. As pessoas do camping estavam presas
às filas do banho ou às do restaurante, não podendo comparecer. E não havia
estímulos para a participação. As ONGs poderiam ter sido acionadas para isso.
Atividades lúdicas e inclusivas poderiam ter sido implementadas para despertar
o interesse do público e consequentemente aumentado a audiência dessas
palestras.
Todo
o material produzido pelos 24 speakers e outros 20 convidados entre
especialistas, pensadores, empresários e representantes de entidades
não-governamentais, foi perdido. Se estivesse disponível de forma mais
abrangente durante o evento e depois na internet, poderia estar repercutindo
até o momento.
A
segunda parte do evento foi o Music and Arts Festival. O festival de música teve
74 atrações musicais, 700 músicos nos palcos e mais de 50 horas de música.
Começava por volta das 15h e terminava depois das 2h, com shows de diversas
bandas distribuídos por 4 palcos. Essa parte foi um sucesso, com exceção de
alguns atrasos, como por exemplo, do show do Pixies e falhas técnicas, como a
falta de som e de imagem durante a apresentação do Rage Against the Machine.
No
dia 9 de outubro, no Palco Água, se apresentaram: 15h45 - Brothers of Brazil,
16h50 - Macaco Bong, 18h40 – Mutantes, 20h55 - The Mars Volta. No Palco Ar:
16h15 - Black Drawing Chalks, 17h35 - Infectious Grooves, 19h50 - Los Hermanos,
22h05 - Rage Against the Machine. Na Tenda Heineken Greenspace: 15h – Glocal,
16h - Killer on the Dance Floor, 17h - The Twelves, 18h – Switch, 19h15 –
MSTRKRFT, 20h45 - The Crystal Method, 23h59 - DJ Marky, 01h15 - Steve Angelo. No Palco Oi Novo Som: 14h40 - Banda
Batalha das Bandas, 15h20 - Letuce + qinhO, 16h10 - Sobrado 112, 17h –
Superguidis, 17h50 - Curumin & The Aipins, 18h45 - Mallu Magalhães, 19h45 -
Cidadão Instigado, 20h50 - The Apples in stereo.
No
dia 10 de outubro, no Palco Água: 14h - Ilo Ferreira, 15h40 - Jota Quest, 17h45
- Sublime with Rome, 19h55 - Joss Stone, 22h55 - Kings of Leon. No Palco Ar:
14h50 - Teatro Mágico, 16h40 - Capital Inicial, 18h45 - Regina Spektor, 21h -
Dave Matthews Band. Na Tenda Heineken Greenspace: 16h30 - Mario Fischetti, 17h45 - Nike
Warren, 19h - Life is a Loop, 20h15 - Sander Kleinenberg, 21h30 - Roger
Sanchez, 22h45 – Sharam, 00h15 - Markus Schulz. No Palco Oi Novo Som: 14h40 -
Banda Batalha das Bandas, 15h20 - Luisa Maita, 16h20 – Volver, 17h20 - Lucas Santtana, 18h30 - Tulipa
Ruiz, 19h40 - Rubinho e a Força Bruta, 20h50 - Bomba Estéreo, 22h10 – Otto.
No
dia 11 de outubro, no Palco Água: 15h05 – Gloria, 16h10 – Rahzel, 17h45 -
Cavalera Conspiracy, 19h55 – Incubus, 22h20 – Pixies, 01h35 – Tiesto. No Palco Ar:
14h30 - Alan Johanes, 15h35 – Crashdiet, 17h - Yo La Tengo, 18h50 - Avenged
Sevenfold, 20h55 - Queens of the Stone Age, 23h25 - Linkin Park. Na Tenda
Heineken Greenspace: 15h30 - Anderson Noise, 16h45 - Anthony Rother, 18h –
Aeroplane, 19h15 - Mix Hell, 20h30 - Gui Boratto, 21h45 - Erol Alkan. No Palco Oi Novo Som: 14h40 - Banda
Batalha das Bandas, 15h30 – Tono, 16h30 - Fino Coletivo, 17h30 – Mombojó, 18h35
– Autoramas, 19h40 - BNegão & Seletores de Frequência, 20h50 - Josh Rouse,
22h10 - CSS (Cansei de Ser Sexy)
O
festival de arte recebeu instalações de Eduardo Srur, Urban Trash Art, Bijari,
Oficina Jamac, Flávia Vivacqua, Cooperaacs. Além disso, promoveu a exposição
“Brasil em Chamas” em homenagem a Frans Krajcberg , sob curadoria de
Sergio Caribe, com 7 esculturas e 8 fotos do artista. Apesar de ser permanente,
ou seja, podia ser experimentado durante o festival de música, as obras eram
poucas e muito dispersas pelo grande espaço do evento (233 mil m2) o que
desestimulava o acesso e o interesse do público. Para quem tinha a expectativa
de encontrar obras impactantes, que causassem estranhamento e envolvessem o
público, como normalmente são as instalações do curador do festival, Eduardo
Srur, a mostra foi frustrante. Esse artista é conhecido por instalar garrafas
pet gigantes e iluminadas nas bordas do rio Tietê e por prender barracas de
camping coloridas nos prédios monocromáticos de São Paulo.
c.
Justificativa
Frente
aos desafios enfrentados atualmente pela Comunicação, num contexto em que a
informação deixou de ser escassa e os meios ainda não desenvolveram uma nova
linguagem, iniciativas como o SWU é um caso a ser estudado. Além disso, para a
linha de pesquisa do Mestrado para a qual o presente projeto foi admitido:
“Processos Midiáticos: Tecnologia e Mercado”, o modelo de negócio do SWU e a
experiência de vinculação ampliada nas mediações terciárias e potencializada
ainda mais pela convergência dos meios formando uma teia de vínculos (Menezes,
2007) é de suma importância e atualidade.
d.
OBJETIVO
Este
trabalho busca, por meio das teorias da comunicação, analisar os processos de
vinculação gerados em
virtude do SWU. Busca estudar, ainda, o papel potencializador
exercido pelos suportes técnicos que permitem a convergência e as
características de educomunicação exploradas pelo SWU. Além disso, busca
estudar o caso prático de comunicação convergente utilizado para identificar
alguns pontos focais que poderão ser utilizados em futuras comunicações.
A
pesquisa, como já observado acima, busca articular conceitos de vínculos (Pross,
1980 e Baitello, 1999), comunicação orquestral (Winkin, 1998) e comunicação
como diálogo (Flusser, 2007). Os vínculos serão entendidos como mais complexos
que o simples contato cibernético para troca de informações, pressupondo que
comunicar seja diferente de informar. Se as máquinas processam informações, os
seres humanos trocam sentimentos, compartilham sensações e emoções, comunicam.
Os
processos de vinculação serão analisados no contexto denominado comunicação
orquestral no qual a antiga linearidade de um emissor para um receptor é
substituída pela participação dos indivíduos na comunicação. Supera-se a
comunicação como era feita via telégrafo, mensagem fixa a ser emitida fechada
para um receptor; os interlocutores estruturam uma rede na qual os conteúdos,
ao menos potencialmente, fluem permanentemente.
Com
relação ao diálogo e ao discurso, ambos serão entendidos como indispensáveis
para aquisição e armazenamento de conteúdo pelas pessoas. Na história, primeiro
predominou o diálogo, depois o discurso; contemporaneamente o diálogo vem
ganhando força também graças à revolução digital, cujas técnicas permitem o
acesso fácil, barato, colaborativo e simultâneo entre as pessoas.
O
SWU será empiricamente estudado em diálogo com esses conceitos que ajudarão a
descobrir os diversos tipos de vínculos estabelecidos entre os interlocutores.
Há discurso, mas também houve e continua havendo diálogo. A cada instante algum
novo conteúdo é acrescentado sobre o SWU nos blogs e redes sociais conectadas.
O festival pode ser então praticamente a menor parte de uma realização
permanente, uma performance coletiva seguindo uma lógica reticular orquestral.
A
dissertação terá, portanto, o objetivo de analisar um aspecto tangível da
comunicação mediática e do desenvolvimento das tecnologias de comunicação por
meio de um objeto empírico e de grande visibilidade.
e.
PROBLEMATIZAÇÃO
Com
a análise, por meio das teorias da comunicação, dos processos de vinculação
gerados durante o SWU possivelmente irão se evidenciar vínculos durante o
festival e posteriores: entre os espectadores e fãns por meio das mídias
sociais conectadas. Será analizado, ainda, o papel potencializador exercido
pelos suportes técnicos que permitem a convergência e as características de
educomunicação exploradas pelo SWU. Possivelmente a pesquisa indicará que a
vinculação humana foi ampliada nas mediações terciárias e potencializada pela
convergência de meios que interagem com o festival, ensinando valores de
sustentabilidade, de forma lúdica, por meio da educomunicação. O esmiuçamento
dessa problemática pode ser importante para as futuras comunicações que
pretendam seguir a mesma lógica orquestral potencializada pelas inovações
técnicas.
Contudo,
sob a análise da economia da comunicação, pode ser que se identifique que a
sustentabilidade foi usada meramente para promover o consumo durante o SWU,
que, contrariando as expectativas, não houve a defesa efetiva dos valores
éticos da sustentabilidade, ou o uso do ambiente musical para promover
informação socioambiental. Pode ser que tenha sido perdida uma importante
oportunidade para usar o ouvir como disposição para sermos tocados pelas idéias
da sustentabilidade. As iniciativas comunicacionais do SWU podem se demonstrar estruturadas
de acordo com a lógica do eco marketing e do eco capitalismo, com suas ações
não verdadeiramente sustentáveis.
Dessa
problematização, portanto, pode restar demonstrado que faltou ação política, que
o SWU foi apenas uma mega campanha publicitária de comunicação de massa que
usou a defesa da sustentabilidade para se promover mas não traduziu os valores
socioambientais em uma plataforma de informação e entretenimento. Em seu site o
SWU pretendia ser um movimento de conscientização em prol da sustentabilidade.
Sob os valores de paz, amor, consciência e atitude, teria o intuito de
mobilizar o maior número possível de pessoas para a causa da sustentabilidade.
Sua finalidade seria mostrar que, por meio de pequenas ações individuais
praticadas no dia a dia, as pessoas podem ajudar a construir um mundo melhor
para se viver.
Contudo,
pode restar demonstrado que a principal mensagem passada pelo SWU foi que a
sustentabilidade pode ser usada para aumentar os preços, diminuir os custos e
ganhar competitividade perante os concorrentes, reafirmando os princípios
básicos da economia da comunicação. Por exemplo, que sob a bandeira da
sustentabilidade muita gente trabalhou de graça, foram conseguidos incentivos
fiscais e parcerias com secretarias do Meio Ambiente, bandas que não viriam se
fosse um concerto comum, simplesmente patrocinado por empresas como Nestlé,
Heineken e OI, vieram só porque o evento se propunha ético e
socioambientalmente comprometido. Ou seja, pode restar demonstrado que o uso
econômico dos valores socioambientais foi fundamental para viabilizar o modelo
de negócio do SWU.
Uma
outra problematização é o fato de o SWU poder ser tomado apenas como uma
reafimação de uma imagem da sociedade do espetáculo à medida que as pessoas,
como em qualquer outro show de música levam prontas em suas cabeças uma imagem
de como o show deve ser aproveitado, uma imagem fechada com uma lacuna que só falta
ser preenchida pela efetiva presença da pessoa naquele local. E esses modelos
prontos, pré-fabricados pela indústria do entretenimento podem inclusive vir de
outros países, como dos festivais ingleses que, como o SWU, oferecem camping,
longa lista de shows de diversas bandas em palcos de estilos diferentes. No
festival inglês Glastonbury, por exemplo, é notório o banho de lama. O fato de
no SWU de 2011 ter havido também banho de lama pode ser entendido como
reafirmação dos modelos já pré-estabelecidos, como desses festivais ingleses.
Por
último, frente à baixa atividade nas mídias sociais conectadas e ao baixo uso de
linguagens alternativas a pesquisa pode vir a concluir de apesar da idéia do
SWU ter sido inovadora as potencialidades não foram exploradas ao extremo e as
vinculações esmaeceram frente à fraca atuação de animação das redes e promoção
de atividades educomunicativas. Se, pelo contrário, for verificado um alto
nível de atividade nas mídias sociais e de imagens complexas, para atividades
ecuducomunicativas e sociambientalmente responsáveis ficará demonstrado que as
potencialidades foram atingidas.
f.
HIPÓTESES
A
fim de servir de explicação para os problemas enunciados, levantam-se as
hipóteses de que uma nova linguagem adequada à abundancia de informações,
hiperconectividade e escassez de tempo precisa ser desenvolvida e de que o SWU pode
ser estudado como exemplo de iniciativas inovadoras de comunicação, pois logrou
envolver os participantes antes e depois dos três dias de evento, se utiliza
das mídias eletrônicas para criar e manter os vínculos e tem finalidade
educativa. Levanta-se a hipótese dos valores da economia da comunicação, a
lógica do eco marketing e do eco capitalismo, terem sido usados sim mas de não
serem o essencial. Da mesma forma que o uso da imagem fechada prefabricada da
sociedade do espetáculo ter sido apenas acessório.
O
SWU deve ter se desdobrado para muito além desses conceitos, a comunicação
orquestral deve ter gerado vínculos afetivos que quando a pessoa fez parte do
eco marketing e do eco capitalismo, ou quando entrou na imagem pré estabelecida
de como desfrutar de um show, se apropriou dos pontos de interesse,
sociabilizou, entrou em contato pessoal com outras pessoas, experimentou
ambientes sensoriais de forma a chamar a atenção para a corporeidade e assim
promover ecologia da comunicação. A análise dos sucessos e fracassos dessa
experiência, portanto, servirá para fundamentar futuras investidas semelhantes,
contribuindo para a formação de uma nova linguagem comunicacional, adaptada à
escassez de tempo e abundância de informações, possibilitadas pela revolução
digital.
g.
QUADRO TEÓRICO DE REFERÊNCIA
Serão
estudados os conceitos de mediação e vinculação (Pross, 1980 e Baitello, 1999),
comunicação orquestral (Winkin, 1998) e comunicação como diálogo (Flusser,
2007). O vínculo como base para a comunicação deve ser entendido como mais
complexo que o contato cibernético para troca de informações. Comunicar é
diferente de informar (Wolton, 2010), somente seres humanos comunicam, trocam
sentimentos, compartilham sensações. Os aparelhos eletrônicos podem ampliar ou,
muitas vezes, reduzir as possibilidades de vinculação humana.
Numa
perspectiva comunicacional orquestral, a mensagem não segue mais a linearidade
como acontecia com o telégrafo; os diversos interlocutores são dispostos em um
processo estruturado em
fluxo permanente. A cada instante algum novo conteúdo é
acrescentado sobre o SWU. Os shows podem ser a menor parte de uma realização
permanente, uma performance coletiva seguindo uma lógica reticular, como se
fosse uma orquestra, não um telégrafo (Winkin, 1998).
Para
adquirir e armazenar conteúdo, as pessoas precisam de diálogos e discursos
(Flusser, 2007). A tendência de predomínio do discurso, difusão de uma
informação pronta, fechada, como por meio de um livro, programa de TV, filme,
CD, ou show tem sido substituída pela crescente troca dialógica, possibilitada
também pela revolução digital. Pela Internet as trocas de informações e os
conteúdos colaborativos ficam muito facilitados. No SWU há discurso nos show em
si e na cobertura televisiva do Multishow, mas também houve e continua havendo
diálogo, como por exemplo, na convivência em barracas, nas danças ritmicas dos
corpos em multidão, nas redes sociais. Essa análise entre discurso e diálogo
parece promissora.
Para
complementar, a pesquisa pretende estudar a audiência que não se vê mais no
papel de simples espectadora de eventos sobre os quais não possui controle. Os
sujeitos envolvidos buscam experiências de participação e de interação
(Jenkins, 2008). Além disso, as novas tecnologias em celulares, câmeras e
gravadores digitais portáteis possibilitam que cada pessoa possa produzir
conteúdo, explorar meios tradicionais e novos meios. É preciso estudar as
possibilidades de vinculação nos ambientes das novas tecnologias e aprender com
o que o SWU propiciou.
Lembrando
os estudos de McLuhan (1988), mais importante que o conteúdo que os meios de
comunicação estão divulgando é o tipo de comunicação que o público recria. O
fato das pessoas subirem no Youtube suas filmagens do show, acessarem
simultaneamente um site, postarem suas percepções em blogs etc pode ser até
mais importante do que o conteúdo divulgado. Uma vez que a cognição humana é
alterada de acordo com os meios de comunicação utilizados, a capacidade de
assimilação e de recriação do conteúdo pelo participante do SWU pode repercutir
os valores éticos e socioambientais em múltipos
meios lúdicos e dinâmicos.
Se
pretende complementar a pesquisa com o estudo sobre o par comunicação e
incomunicação. A constante busca por produtividade levou a delimitações e
conceitos cada vez mais precisos, o que dificulta a demarcação do território da
incomunicação. Contudo ela se faz presente sobretudo em grandes centros urbanos,
onde os contatos são rápidos e superficiais e as imagens são esvaziadas,
formando uma sociedade conectada, mas pouco vinculada, com dificuldade para
compartilhar emoções. Idéias inovadoras e culturas locais são substituídas,
muitas vezes, por padrões de consumo globalizados e padronizados.
A
pesquisa vai incluir uma análise sobre o SWU como experiência de
educomunicação. Na atual sociedade imagética, milhares de imagens são
consumidas e consomem as pessoas constantemente. As imagens são reproduzidas
sem limites, para minar qualquer tipo de reflexão, na esperança de substituir
as outras dimensões humanas deixadas de lado. Neste quadro, qualquer
preocupação sobre o ecossistema, incluindo o ambiente comunicacional, não se
encaixa. A ecologia tem como objetivo a integração entre o humano e o meio
ambiente. E este ambiente não é apenas físico, mas também imaterial, uma vez
que, na sociedade atual, a nossa existência virtual é particularmente
importante.
“A realidade de um objeto é medida pelo eco
que desperta na esfera afetiva. Se algo é de todo indiferente para uma pessoa,
é como se não existisse... Há que se integrar razão e sentimento. Entender é um
modo de sentir e sentir é, no homem, um modo de entender.”
(DENNY, E. A, 2003: 177.)
(DENNY, E. A, 2003: 177.)
Depois
de séculos de supremacia da racionalidade, o corpo e seus sentimentos precisam
ser resgatados. Na verdade, o que normalmente move os atos humanos são emoções,
como amor, simpatia, respeito, e não a racionalidade. Porque, como afirmou
Ercílio Denny no fragmento citado acima, a percepção humana depende das
emoções. Neste contexto, é importante redescobrir o ser humano não apenas como
homo faber, um trabalhador racional, focado em resultados e produtividade, mas
também como homo ludens, com senso de humor, paixões, com foco em lazer e
diversão. E é isso que pretende a Educomunicação, integrando as áreas de
educação com as áreas de comunicação e, portanto, criando ecossistemas
comunicacionais nos ambientes educativos.
O
termo Educomunicação pode ser usado em diferentes contextos.
Pode significar a educação para a comunicação que diz
respeito ao impacto que a mídia tem sobre as crianças e adolescentes. Ele pode
designar educação para os meios que trata de preparar os alunos e professores
para tirar proveito da tecnologia, aprender a usar as ferramentas tecnológicas.
E também pode ser usado em um sentido mais amplo, como uma forma de promover a
ecologia da comunicação. O SWU possivelmente é um exemplo de Educomunicação,
neste sentido mais amplo, é entretenimento, mas ao mesmo tempo promove a
educação. Ele integra música, imagens, internet, redes sociais, blogs, amigos,
família ...
Nosso
tempo tem sido caracterizada como "modernidade líquida", conforme
termo de Zygmunt Bauman, nesta realidade, os padrões são
"liquefeito". Portanto, é absolutamente necessário aprender a quebrar
regularidades. Conhecimento não é mais durável. Ele muda em uma velocidade
difícil de lidar. Se uma pessoa não atualiza regularmente, ele / ela se torna
ultrapassada e, por isso, descartáveis. Assim, hoje em dia a capacidade humana
mais importante é articular a multiplicidade de informação que se está exposto
em uma base diária na maioria das plataformas tecnológicas diferentes. O
indivíduo deve ser capaz de aplicar lógicas que aprendeu em ambientes
diferentes, em
momentos diferentes. A mídia pode ser usada para ligar os
indivíduos e a realidade, integrando o conhecimento à experiência. Em tempo de
modernidade líquida, a educação também tem de ser mais fluida, como a que
possivelmente se dá em ambientes como o do SWU.
Todas
as sociedades humanas em todos os momentos têm valores, mitos, deuses, idéias,
em outras palavras, a noosfera, conforme definido por Edgard Morin (MORIN,
2002, 44). A noosfera é compartilhada por pessoas de diferentes gerações
através de um processo de mímese das práticas do cotidiano sócio-cultural e
também através dos processos formais de educação. Pode servir a humanidade para
alcançar o progresso, ou obstruí-lo.
Idéias
em nossa sociedade podem ter um poder incrível. A idéia de mercado, por
exemplo. Foi uma vez um conceito racional, mas hoje em dia tem sido deificado.
Desemprego é por causa do mercado, bem como crises do subprime, as alterações
climáticas, preços, e assim por diante. Uma infinidade de coisas é por causa do
mercado. Mas são poucas as pessoas que efetivamente entendem o porquê. Para a
maioria, o mercado é algo como um deus, uma entidade criada pela racionalidade
humana que vai além, alcançando a sua própria existência no mundo imaginário.
Nossa
sociedade atual reduz todas as coisas, incluindo o ser humano, a partes. Neste
contexto, a pessoa se torna parte de um grupo e seu próprio corpo físico é
considerado como um elemento separado. Nossa existência física é tomada como em
paralelo à nossa existência imagética, especialmente quando as imagens são
tecnicamente reproduzidas em série. Não só as pessoas consomem essas imagens,
mas também as imagens consomem as pessoas, como Norval Baitello explica através
do conceito de iconofagia (Baitello, 2005:53).
Imagens
pré-concebidas de sucesso, beleza, perfeição, entre outros, fazem as pessoas
forçarem seus corpos para caber nessas imagens, às vezes em detrimento do
corpo. O corpo adoece de trabalhar 7 dias por semana, mais de 10 horas por dia,
mas algumas pessoas parecem não perceber isso e se sujeitam a isso, na busca
pelo sucesso, uma imagem preconcebida. Nesse exemplo, a pessoa consumiu a
imagem de sucesso, mas também a imagem de sucesso consumiu o corpo, fez com que
ele adoecesse.
Por
outro lado a revolução digital possibilita a inflação exacerbada das imagens.
Com a convergência de mídias e a divergência de meios, são criadas
multiplataformas de interação entre emissor e receptor de conteúdo informativo
via mídias sociais conectadas (LIMA, 2009:54). O SWU, adequado a esse contexto,
foi lançado já com diversas comunidades oficiais em várias dessas
multiplataformas de interação como Facebook, Orkut, Flickr, Twitter, com site
oficial aberto a colaboração de alguns escolhidos e propondo flash mobs.
Contudo
a apropriação que foi dada pelas pessoas pode ter ficado muito aquém das
possibilidades, uma vez que o uso desses media poderia ser muito mais
contundente. As filmagens postadas no Youtube, por exemplo, tendem a ser muito
parecidas entre si, seguindo um padrão, ilustrativas, denotativas. Parece que falta
o desenvolvimento de uma linguagem, de acordo com a nova realidade de
abundância de informação, excassez de tempo e hiperconectividade. Uma linguagem
que possibilite a utilização de imagens complexas (CATALÀ, 2005:41).
Em
nossa sociedade imagética, milhares de imagens são consumidas e consomem as
pessoas constantemente. As imagens são reproduzidas sem limites, para minar
qualquer tipo de reflexão, na esperança de substituir as outras dimensões
humanas deixadas de lado. Neste quadro, qualquer preocupação sobre o
ecossistema, incluindo o ambiente comunicacional, são muito escassas. A
ecologia tem como objetivo a integração entre o humano e o meio ambiente. E
este ambiente não é apenas físico, mas também imaterial, uma vez que, na
sociedade atual, a nossa existência virtual é particularmente importante.
Portanto,
a ecologia da comunicação tem a intenção de conciliar as várias dimensões que o
ser humano tem. Nossa existência física é permeada por nossas imagens, não
paralela à ela. Por essa razão, todas as dimensões humanas devem ser
integradas. E a meta da Educomunicação é exatamente isso: fornecer um ambiente
criativo para apoiar a apropriação de práticas comunicativas. O SWU em seus
múltiplos desdobramentos como os endereços nas redes sociais, os blogs, as
músicas, os vídeos, pode ser considerado uma tentativa de possibilitar a
educomunicação dos valores socioambientais.
4. •Plano
de trabalho e cronograma de sua execução
A realização do presente projeto pretende dar-se
por meio de pesquisa que se estenda por 24 meses. Durante esse período as
atividades compreenderão: entrevistas, análise documental e bibliográfica,
reuniões periódicas com orientador, participação em seminários pertinentes ao
tema, redação e revisão.
Atividade
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2º. sem 2010
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1º. sem 2011
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2º. sem 2011
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1º. sem 2012
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Pesquisa de campo e bibliográfica
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Análise do material coletado
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Redação da pesquisa
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Revisão final
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Entrega
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5. Material
e métodos
Foram
entrevistados participantes e foi feito um diário das experiências vivenciadas
durante os três dias de festival, utilizando o método descritivo de pesquisa
exploratória, a fim de conhecer melhor o tema, delimitar o foco e determinar os
aspectos dos objetivos mais relevantes que devem ser ressaltados na futura
conclusão. Algumas estratégias etnográficas experimentadas pela Escola de Palo
Alto para “aprender a ver, aprender a estar-com e aprender a anotar as
observações para posterior comprensão” (Winkin, 1998:132) também foram
utilizadas no desenvolvimento da pesquisa de campo que se deu durante os três
dias de festival. Além disso, a pesquisa se baseará em análise bibliográfica
dos conceitos pertinentes ao tema, com ênfase no estudo sobre vinculação,
educomunicação, ecologia da comunicação, comunicação orquestral e comunicação
como diálogo.
6. •Forma
de análise dos resultados
Os
resultados serão analisados parcialmente, a cada etapa, com acompanhamento do
orientador, na medida em que os assuntos pertinentes ao tema aparecerem na
bibliografia estudada e foram colhidos os relatos dos entrevistados. Cotejar as
vinculações humanas, ampliadas ou não no contexto da convergência de meios
utilizados pelo SWU possibilitará, durante o percurso de pesquisa, manter a
pesquisadora aberta a descobertas que ocorrerão no meio do caminho.
7. •Referências
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