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15/09/2011

A Natureza da informação.



Economia é um sistema complexo, probabilistico como a internet e o corpo humano. Tem muito mais implicações que conseguimos prever, um input pode dar um retorno completamente imprevisível. Economia da informação, então, é ainda mais complexa pois não é fechado o conceito de informação apesar do termo ser amplamente usado. Informação difere de conhecimento, que também não se sabe ao certo o que é, depende de processos de cognição humana que ainda não é dominado pela ciência. Conhecimento está ligado a cognição, não necessariamente é verdade. Por um tempo, antes de Galileu Galilei, por exemplo o conhecimento da humanidade era que o sol girava em torno da terra. Uma pessoa sabe como andar de bicicleta mas ignora o processo neuromuscular e físico  que é necessário para tanto. Já informação é algo mais tangível. Contudo apesar da natureza da informação parecer coisa simples, ela não é. Profissional da comunicação na verdade é um profissional que trabalha com informação. Mas ao contrário do que era de se esperar, não se estuda o que é informação da maneira profunda como deveria. O papel do comunicador é atribuir valor à informação.

O estudo sobre a natureza da informação permite concluir que o termo é um conceito labiríntico que, via de regra, vem sendo mal utilizado. O mais disseminado é o proposto pela Teoria Matemática da Comunicação. Contudo essa fundamentação teórica foi criada para otimizar problemas de transmissão de sinais apenas. Portanto não pode ser suficiente para abarcar as complexidades da Era da Informação

Claude Shannon e Warren Weaver, em 1948, aplicaram a teoria booleana que captura a essência das operações lógicas em sim ou não, 0 ou 1, ou seja o sistema binário que deu origem à revolução digital, fundamentando toda linguagem computacional.  Shannon trabalhou com a segunda lei da termodinâmica, a lei da entropia. Precisava estudar onde o sinal ficava fraco, mas não acabava, para ser possível amplificá-lo e assim distribuir melhor o sinal. Para essa teoria, quatro itens integram o processo comunicacional: emissor de sinal, receptor de sinal, mensagem e ruído. Porém sinais são apenas um tipo de informação.

Inclusive, essa lógica matemática, própria de engenheiro, quando aplicada à comunicação social pode gerar problemas. Diferentemente das máquinas computacionais, nosso órgão elétrico (cérebro) não usa só essa lógica para entender os fenômenos. A complexidade aumenta ainda mais se for incluída a capacidade da mente. Esses estudos vêm sendo desenvolvidos pelas ciências cognitivas.

Na atual sociedade do conhecimento, houve radicais mudanças sobre a importância da informação. A evolução humana, desde o fim da pré-história, passou a depender da capacidade de registrar eventos, ou seja, de fazer história, para assim acumular e transmitir informação. Porém, atualmente o progresso e bem estar humano passou a depender muito mais do controle eficiente sobre o ciclo de informações (criação, transmissão, processamento, indexação, uso, tomada de decisões).

Vivemos a quarta revolução. A primeira foi impulsionada pelo pensamento de Nicolaus Copernicus  (1473-1543) que deslocou a Terra do centro do universo. A segunda por Charles Darwin (1809-1882) que colocou o homem como uma das várias espécies descendentes de um mesmo ancestral. E a terceira por Sigmund Freud (1856-1939) que desvendou o inconsciente que impede a razão de ser inteiramente transparente. Com a quarta revolução, mais uma vez algo muito relevante mudou na forma como o ser humano se entende no mundo. Passamos a nos perceber como seres informacionais interconectados. Quando estamos desconectados da infoesfera nos sentimos como um peixe fora d’água.

Nesse contexto a Comunicação não é importante por ser ciência, mas sim por ser interface. A preocupação da Comunicação não deve ser ter corpo sólido como a física, mas se reconhecer como interdisciplinar e, portanto, importante para todas as outras ciências como interface. O desafio dos meios de comunicação é identificar como ser relevante numa economia conectada em rede. E para tanto precisa aprofundar o estudo sobre a vida na infoesfera, sobre o paradoxo que é ao mesmo tempo a sociedade atual valorizar a privacidade e divulgar informações confidenciais por meio de serviços como o Facebook..

A diferença entre online e offline vai desaparecer, assim como hoje o tênis da Nike já conecta com o Ipod, cada vez mais os equipamentos vão trocar informações entre si tornando nossa vida cada vez mais sincronizada e interconectada. A conseqüência provável é surgirem novas formas de discriminação entre aqueles que têm acesso a essas informações interconectadas e os excluídos.

Para melhor conhecer o sistema informacional e também posteriormente discutir a questão ética, é preciso aprofundar o estudo sobre a estrutura da informação e para melhor entender o conceito labiríntico de informação Luciano Floridi propõe um mapa (FLORIDI, Luciano. Information – A Very Short Introduction. 2010)
Data structured: environmental or semantic (content).
Semantic institucional or factual
Factual untrue or true (information), que gera knowledge
Untrue unintentional (misinformation) or intentional (disinformation)
Na internet apenas 5 % das informações são estruturadas, ou seja podem ser utilizados para fundamentar outras informações estruturadas
Informação instrucionais de andar de bicicleta, por exemplo, é a pergunta como. Dados factuais pergunta o que, por que quais os fenômenos envolvidos no ato de andar de bicicleta. Dentro da informação factual cabe a distinção entre verdadeira e falsa. Na verdadeira está o conhecimento. Na falsa cabe a informação intencionalmente falsas (desinformation), e a sem querer, não intencional, (misinformation). O jornalismo usa não só a informação como também a desinformation e a misinformation. Em um processo dinâmico em paralelo, ou seja, um dado quando é emitido pode ser logo unido a uma informação, desinformation ou misinformation .

Além disso, a informação se divide em primária, secundária, meta, operacional e derivativa. Informação primaria por exemplo é C-l-a-u-d-i-a. Informação secundaria é Claudia que é estudante, jornalista, mulher. Informação meta Claudia é também homo sapiens, mamífero. Operacional Google tem informações primarias secundarias e categorizadas de forma meta para ser operacional num sistema. Informação derivativa âmbito das intencionalidades. Google não sabe as suas intencionalidades mas quer saber, para derivar suas buscas para o âmbito da publicidade.

Esse mapa é apenas um esforço de facilitar a racionalização, mas importante ressaltar que é simplificador e portanto insuficiente para dar conta de todos os aspectos da realidade. Inclusive o sistema analógico é o sistema mais rico de informação. Único aspecto que a revolução digital atinge é a informação, o resto da vida humana se dá no mundo analógico (não se come nem se comerá bits, mas o digital pode melhorar a distribuição de alimentos, por exemplo). O diferencial do digital é dar agilidade. A riqueza do analógico não permite que ele seja ágil. No analógico um ponto tem infinitas informações pode-se chegar ao nível quântico, a informação é contínua.

O sistema binário tenta emular o analógico promovendo a simplificação, perde-se a riqueza da informação. Trata-se de um sistema discreto, ponto a ponto. Binário é uma forma que o digital pegou na lógica. Poderia usar lógica fuzzy mas tem de ser na lógica binária pois as maquinas não entendem se não for binário. Não pode usar lógica para-consistente que admite contradição pois as máquinas não aceitam contradição, o cérebro, pelo contrário, não só aceita como é pura contradição.

Sendo assim, melhor não usar o termo conhecimento, por sua imprecisão. Melhor usar informação estruturada. Que significa que um dado tem  um princípio de verdade, conexão com a realidade, e funciona no sistema real. O que é importante para estruturar uma informação é o que é relevante. Então relevância tem função primordial na informação estruturada. Sobre o que a pessoa presta atenção?. Não podemos cair na vala comum do discurso “que é relevante para uma pessoa não é relevante para outra pessoa”. É primordial aprofundar os estudos sobre a relevância. E a relevância no mundo real é diferente da relevância na rede (pois na rede há os filtros dos algorítimos).

A comunicacao produz ostensivos estímulos dirigidos para o público alvo. Um estimulo é um fenômeno projetado para obter efeitos cognitivos (retorno). O estímulo é uma informação, deve ser mais relevante que qualquer outro fenômeno externo ou representação interna (caso contrário a pessoa não presta atenção). Tem de haver uma teoria sobre relevância. O problema não e tanto para avaliar os efeitos contextuais e esforço de processamtno a partir do exterior, mas para descrever como a mente avalia os seus próprios resultados e os esforços interiores e decide como resultadao a prosseguir os seus esforços ou realocá-los em diferentes direções. (SPERBER; Wilson, 1986:130)

Relevância  é uma questão  de grau não sabemos como os graus de relevância são determinados. Relevância pode ser definida como a relação entre a suposição (certeza) e o contexto. Jornalismo cria plataformas, o contexto, para chamar a relevância. Sala de aula é um encapsulamento da relevância.


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