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25/11/2010

Fichamento do livro O mundo codificado de Vilém Flusser

Referências:
FLUSSER, Vilém. O mundo codificado: por uma filosofia do design e da comunicação. São Paulo: Cosac Naif, 2007.


INTRODUÇÃO
RAFAEL CARDOSO

Flusser foi filósofo, no Brasil entre 1940 e 1972.
Reflexão às imagens e aos artefatos, elaboando as bases de uma legítima filosofia do design e da comunicação visual. Imagem e artefato estão no centro nervoso da existência contemporânea.
A base de toda a cultura é a tentativa de enganar a natureza por meio da tecnologia, isto é, da maquinação.
Ao ingressarmos plenamente na era da imagem técnica, retornamos, de certo modo, ao tempo anterior ao discurso linear, histórico.

VILÉM FLUSSER
FORMA E MATERIAL (pág 22)

Antes o objetivo era formalizar o mundo existente; hoje o objetivo é realizar as formas projetadas para criar mundos alternativos. Isso é o que se entende por cultura imaterial, mas deveria na verdade se chamar cultura materializadora. Fazia sentido, antigamente, diferenciar a ciência da arte, o que hoje parece um despropósito. A aparência do material é a forma. E essa é certamente uma afirmação pós-material.

A FÁBRICA (pág 33)

História da humanidade é história da fabricação ... períodos: das mãos, das ferramentas, das máquinas e dos aparelhos eletrônicos. Fabricar significa apoderar-se de algo dado na natureza, convertê-lo em algo manufaturado, dar-lhe uma aplicabilidade e utilizá-lo. Fábricas são lugares onde aquilo que é dado é convertido em algo feito e com isso as informações herdadas tornam-se cada vez menos significativas, ao contrário das informações adquiridas, aprendidas que são cada vez mais relevantes.

As fábricas são lugares em que os homens se tornam cada vez menos naturais e cada vez mais artificiais, precisamente pelo fato de que as coisas convertidas, transformadas, ou seja, o produto fabricado, reagem à investida do homem: um sapateiro não faz unicamente sapatos de couro, mas também. Por meio de sua atividade, faz de si mesmo um sapateiro. dito de outra maneira: as fábricas são lugares onde sempre são produzidas novas formas de homens: o primeiro, o homem-mão, depois, o homem-ferramenta, em seguida o homem-máquina e, finalmente, o homem-aparelhos-eletrônicos. Repetindo: essa é a história da humanidade.

Primeira Rev. Industrial... Um homem rodeado de ferramentas, ... já não encontra no mundo com em sua própria casa, como ocorria por exemplo com o homem pré-histórico que utilizava as mãos. Ele está alienado do mundo, protegido e aprisionado pela cultura.

quando se trata de ferramenta, o homem é a constante e a ferramenta, a variável...No caso da máquina, é ela a constante e o homem, a variável: ... se um homem envelhece ou fica doente o proprietário da máquina o substitui por outro.

A Segunda Rev. Industrial expulsou o homem de sua cultura, assim como a primeira o expulsou da natureza, e por isso podemos considerar as fábricas mecanizadas uma espécie de manicômio.

Terceira Rev. Industrial, aquela que implica a substituição de máquinas por aparelhos eletrônicos. ...as ferramentas imitam a mão e o corpo empiricamente; as máquinas, mecanicamente; e os aparelhos eletronicos, neurofisiologicamentes. ...fábrica do futuro será certamente muito mais compatível que as atuais, e sem dúvida reformulará completamente a relação homem-ferramenta.

... o aparelho só faz aquilo que o homem quiser, mas o homem só pode querer aquilo de que o aparelho é capaz. ... os futuros funcionários, equipados com aparelhos pequenos, minúsculos ou até mesmo invisíveis, estarão sempre prontos a fabricar algo, em qualquer momento e lugar. ... fábrica do futuro deverá assemelhar-se mais a laboratórios científicos, academias de arte, bibliotecas e discotecas do que às fábricas atuais. E o homem-aparelho (Apparatmenschen) do futuro deverá ser pensado mais como um acadêmico do que como um operário, um trabalhador ou um engenheiro. ... a fábrica do futuro deverá ser o lugar em que o Homo faber se converterá em Homo sapiens sapiens, porque reconhecerá que fabricar significa o mesmo que aprender, isto é, adquirir informações, produzi-las e divulgá-las.

A ALAVANCA CONTRA-ATACA (pág. 45)

Até a Revolução Industrial aplicavam-se tanto máquinas inorgânicas como orgânicas, tanto pás como escravos.

As máquinas pré industriais foram produzidas empiricamente enquanto as industriais tecnicamente. Máquina técnica mais cara e mais eficaz. A relação homem máquina se inverteu: homem serve a máquina.

Em breve poderemo profetar tecnologicamente bois, cavalos, escravos e superescravos ... será possível combinar a durabilidade da máquina inorgânica com a inteligência do orgânico.

Essa não é necessariamente uma situação paradisíaca... Imitamos os nossos imitadores... os jovens dançam com robôs, os políticos tomam decisões conforme cenários computadorizados, os cientistas pensam digitalmente e os artistas desenham com máquinas de plotagem.

É preciso pensar como as máquinas nos devolverão seus golpes... Esse é um problema de design: como devem ser as máquinas...para que os contragolpes nos façam bem

A NÃO COISA 1 (pág. 51)

O novo homem não é mais uma pessoa de ações concretas, mas sim um performer (Spieler): Homo ludens, e não Homo faber. Para ele, a vida deixou de ser um drama e passou a ser um espetáculo. Não se trata mais de ações, e sim de sensações. O novo homem não quer ter ou fazer, ele quer vivenciar. Ele deseja experimentar, conhecer e sobretudo, desfrutar.

A NÃO COISA 2 (pág. 59)

As pontas dos dedos são indispensáveis para pressionarmos teclas. O homem, nesse futuro de coisas imateriais, garantirá sua existência graças as pontas dos dedos. ... as pontas dos dedos são órgaos de uma escolha, de uma decisão... programada, como uma escolha de possibilidades prescritas. Por isso é como se a sociedade do futuro, imaterial, se dividisse em duas classes: a dos programadores e a dos programados. ... Não: a sociedade do futuro, imaterial, será uma sociedade sem classes, uma sociedade de programados programadores. Essa é portanto a liberdade de decisão que nos é aberta pela emancipação do trabalho. Totalitarismo programado.

RODAS (pág. 69)

Não existem diferenças essenciais entre homens e coisas: ambos são animados pelo desejo de produzir desordem e ambos são levados, pelo tempo e com o tempo rumo ao perecimento. Tudo no mundo é animado pois tudo se move e deve ter um motivo para se mover. E o tempo ... passa como uma roda por cima de tudo, atropelando e destruindo o que encontra em seu caminho.

A roda do progresso necessita de um motor e esse motor somos nós mesmos, nossa própria vontade.

O MUNDO CODIFICADO (pág. 127)

O significado do mundo e da vida mudou sob o impacto da revolução na comunicação.

Somos envolvidos por cores dotadas de significados, somos programados por cores, que são um aspecto do mundo codificado em que vivemos.

Códigos unidimensionais como o alfabeto tendem a perder importância.

Volta a um estado normal. Antes da invenção da escrita, as imagens eram meios decisivos de comunicação.

A diferença ... as imagens pré-modernas são produtos de artífices (“obras de arte”), obras pós-modernas são produtos da tecnologia.

Homem pré moderno vivia num outro universo imagético que tentava interpretar o “mundo”. Nós vivemos em um mundo imagético que interpreta as teorias referentes ao “mundo”.

(p.130) Os homens tem de se entender mutuamente por meio dos códigos pois perderam o contato direto com o significado dos símbolos. O homem é um animal alienado e ve-se obrigado a criar símbolos e a ordená-los em códigos, caso queira transpor o abismo que há entre ele e o “mundo”. Ele precisa mediar, precisa dar um sentido ao “mundo”.

(p.132) A invenção da escrita deve-se em primeiro lugar não a invenção de novos símbolos mas ao desenrolar das imagens em linhas. Dizemos que com esse acontecimento encerrou-se a pré-história e começou a história no sentido verdadeiro.

Com a invenção da escrita começa a história, não porque a escrita grava os processos, mas porque ela transforma as cenas em processos: ela produz a consciência histórica.

(p. 135) Levou séculos, depois da invenção da escrita para que os escritores aprendessem que escrever significava narrar. Inicialmente eles apenas contavam e descreviam cenas. Também vai demorar bastante até que aprendamos o que significa fotografar, filmar, fazer vídeos ou programação analógica.

(p. 137) Não há paralelos no passado que nos permitam aprender o uso dos códigos tecnológicos, como eles se manifestam, por exemplo, numa explosão de cores. Mas devemos aprendê-lo, senão seremos condenados a prolongar uma existência sem sentido em um mundo que se tornou codificado pela imaginação tecnológica. A decadência e a aqueda do alfabeto significam o fim da história.


O FUTURO DA ESCRITA


(p. 140) a diferença entre pré-história e história não é o fato de termos documentos escritos que nos permitam acompanhar esta, mas o fato de que durante a história há homens letrados que experimentam, entendem e avaliam o mundo como um “acontecimento” (becoming), enquanto na pré-história esse tipo de atitude existencial não era possível. Se a arte de escrever caísse no esquecimento, ou sse tornasse subordinada à criação de imagens (como o chamado “script writing” de um filme), a história, no sentido estrito do termo, não existiria mais. ... A tradução de superfície em linha implica uma mudança radical de significado. O olho decifra uma imagem esquadrinha a superfície e estabelece relações reversíveis entre os elementos da imagem.

(p. 141) o mundo “imaginado” é o mundo do mito, do mágico, o mundo da pré-história.

(p. 143) o propósito das imagens é dar significados ao mundo, mas elas podem se tornar opacas para ele, encobri-lo e até mesmo substituí-lo. Podem constituir um universo imaginário que não mais faz mediação entre o homem e o mundo, mas, ao contrário, aprisiona o homem. A imaginação não mais supera a alienação, mas torna-se alucinação, alienação dupla. Essas imagens não são mais ferramentas, mas o próprio hmem se torna ferramenta de suas próprias ferramenteas, “adora” as imagens que ele mesmo havia produzido. Foi contra essa idolatria de imagens, como uma terapia contra essa dupla alienação, que a escrita foi inventada.

(p. 144) a invenção da imprensa rompeu essa classe clerical, abriu e tornou a consciência histórica acessível à burguesia ascendente; mas foi somente durante a Revolução Industrial e por meio do sistema de escolas públicas primárias que se pode dizer que o alfabetismo e a consciência histórica se tornaram comuns nos países industrializados. Mas quase imediatamente se inventou um novo tipo de imagem, a fotografia, que começou a ameaçar a supremacia da escrita, e agora parece que o pensamento conceitual, racional e histórico está com os dias contados, como se estivéssemos nos aproximando de um novo tipo de era mágico-mítica, de uma cultura da imagem pós-histórica.

(p. 145 e 146) as novas imagens são diferentes das imagens pré-históricas na medida em que são, elas mesmsas, produtos de textos e alimentadas por textos. ... são mais bem denominados de “tecno-imagens”, e a convenção em que estão baseados é mais bem designada de “tecno-imaginação”, ... os mitos pré-históricos significam situações “reais” e os mitos pós-históricos significarão prescrições textuais; a mágica pré-histórica visa propiciar o mundo, enquanto a pós-histórica visa manipular as pessoas.

(p. 146) o futuro da escrita ... será uma espécie de caixa-preta que tem textos como dados inseridos (input) e imagens como resultado (output).

(p. 148) nazismo é ... um dos avanços mais crus em direção a uma futura cultura de imagens, ou que no futuro a cultura da tecno-imagem será o nazismo aperfeiçoado

(p. 149) no passado a escrita explicava as imagens do mundo. No futuro ela terá que explicar ilustrações de textos no futuro. Escrever, no passado, significava transformar imagens opacas em imagens transparentes para o mundo. Significará, no futuro, tornar transparentes as tecno-imagens opacas para os textos que estão escondendo. Em outras palavras: a razão, no passado, significava a análise dos mitos, e no futuro significará des-ideologização. A razão ainda continuará iconoclástica, mas em um novo nível.

(p. 150) dois possíveis futuros para a escrita: ou ela se tornará uma crítica da tecno-imaginação (o que significa: um desmascaramento das idelologias escondidas atrás de um progresso técnico que se torna autônomo em relação às decisões humanas) ou se tornará a produção de pretextos para a tecno-imaginação (um planejamento para aquele progresso técnico.


IMAGENS NOS NOVOS MEIOS


(p. 153) as imagens se tornam cada vez mais transportáveis, e os receptores cada vez mais imóveis, isto é, o espaço político se torna cada vez mais supérfluo.

(p. 157) (para caçador paleolítico imagem) significa uma revelação adquirida graças a um afastamento do mundo. (para um pintor) representa uma contribuição particular para a história pública, que exige ser processada por outros. (para funcionário pós-industrial) significa método para se programar o comportamento dos funcionários da sociedade pós-industrial.

(p. 158) da forma como as imagens são transportadas atualmente, elas devem preencher a função descrita com programas de comportamento: têm que transformar os seus receptores em objetos.

(p. 159) Dito de modo sucinto: os novos meios, da maneira como funcionam hoje, transformam as imagens em verdadeiros modelos de comportamento e fazem dos homens meros objetos. Mas os meios podem funcionar de maneira diferente, a fim de transformar as imagens em portadoras e os homens em designers de significados.


UMA NOVA IMAGINAÇÃO


(p. 163) imaginação é a singular capacidade de distanciamento do mundo dos objetos e de recuo para a subjetividade própria, é a capacidade de se tornar sujeito de um mundo objetivo.

(p.166) As imagens (como toda mediação) tendem a obstruir o caminho em direção àquilo que é mediado por elas. E com isso seu posicionamento ontológico vira de ponta-cabeça: de placas indicativas elas se tornam obstáculos. A consequencia é uma inversao nociva do homem em face das imagens. Agora, em vez de utilizar da circunstancia expressa nas imagens como modelo para uma orientação no mundo dos objtetos, o homem começa a empregar sua experiencia concreta nesse mundo para se orientar nas imagens. Em vez de basear-se nelas para lidar com o mundo dos objetos, ele começa a tomar como base sua experiência com o mundo concreto para poder lidar com as imagens. Essa inversão se chama “idolatria”, e o comportamento resultante dessa idolatria é chamado de mágico. Entende-se então que as imagens devem ser proibidas porque necessariamente alienam o homem, o levam à loucura da idolatria e do comportamento mágico.

(p.167) é impossível se orientar no mundo sem que se faça antes uma imagem dele (a imaginação é imprescindível para nossas ações e a compreensão do mundo).

(p. 172) ... gesto de criação de imagens... concretiza: reúne elementos adimensionais para recolhê-los em uma superfície, ignorando o intervalo entre esses pontos. E nisso esse gesto se diferencia do gesto figurativo que veio sendo tratado até aqui: não é gesto de abstração nem de recuo, mas, ao contrário, ele concretiza, projeta. Na verdade, esses dois gestos levam à criação de imagens (e por isso podem ser chamados de “imaginação”), mas se trata, em ambos os casos, de outro tipo de imagem. As imagens da imaginação até hoje são bidimensionais porque foram astraídas do mundo, digamos quadridimensional; e as imagens da nova imaginação são bidimensionais porque foram projetadas por cálculos adimensionais (nulldimensional). O primeiro tipo de imagens faz a mediação entre o homem e seu mundo; o segundo tipo entre cálculos e sua possível aplicação no entorno. O primeiro significa o mundo; o segundo, cálculos.

(p. 175) somente quando as imagens são feitas a partir de cálculos, e não mais de circunstâncias (mesmo que essas circunstâncias sejam bem “abstratas”), é que a “estética pura” (o prazer no jogo com “formas puras”) pode se desdobrar; somente assim é que o Homo faber pode se desprender do Homo ludens.

(p. 176) primeiramente recuamos do mundo para poder imaginá-lo. E então nos afastamos da imaginação para poder descrevê-lo. Depois nos afastamos da crítica escreita e linear para poder analisá-lo. E finalmente, projetamos imagens sintetizadas a partir da análise, graças a uma nova imaginação.

(p. 177) somos desafiados a trabalhar um novo conceito de liberdade quando não se trata mais de superar as condições, mas sim de trazer ordem ao caos. Devemos aprender a perguntar não mais por “liberdade de quê?”, mas por “liberdade para quê?” ... somos desafiados a substituir nossa moral do trabalho por outra, quando não se trata mais de modificar as realidades dadas mas de realizar as possibilidades dadas.


CONSTRUÇÕES
SOBRE A PALAVRA DESIGN


(p.184) o design que está por trás de toda cultura consiste em, com astúcia, nos transformar de simples mamíferos condicionados pela natureza em artistas livres.

(p. 186) O que a alavanca faz, de fato, é tirar de órbita tudo o que é verdadeiro e autêntico e substituí-lo mecanicamente por artefatos desenhados com perfeição. Desse modo, todos os artefatos adquirem o mesmo valor que as canetas de plástico: convertem-se em gadgets descartáveis. E isso se evidencia, no mais tardar, quando morremos ... estamos começando (e provavelmente com razão) a perder a fé na arte e na técnica como fontes de valores. Porque estamos começando a escrever o design que há por trás delas... tudo depende do design.

(p. 192) Esse é o olhar do designer: ele possui uma espécie de olho-sentinela – como um computador – graças ao qual deduz e maneja eternidades. E com isso ele pode dar ordens a um robô para que transporte essa eternidade intuída e manipulada para a termporalidade (por exemplo, para cavar canais ou construir foguetes). Na Mesopotâmia o chamavam de profeta. Merece mais o nome de Deus. Mas graças a Deus não é consciente disso e considera-se um técnico ou um artista. Que Deus o possa conservar nessa fé.


DESIGN: OBSTÁCULO PARA A REMOÇÃO DE OBSTÁCULOS?


(p. 195) Objetos de uso são, portanto, mediações (media) entre mim e outros homens, e não meros objetos. São não apenas objetivos como também intersubjetivos, não apenas problemáticos, mas dialógicos.

(p. 197) Começamos de fato a separar o conceito de objeto do conceito matéria, e a projetar objetos de uso imateriais, como programas de computador e redes de comunicação. Isso não significa que o surgimento de uma “cultura imaterial” venha a ser menos obstrutiva: pelo contrário, pode ser que ela restrinja ainda mais a liberdade do que a cultura material. Mas o olhar do designer, ao desenvolver esses designs imateriais, dirige-se espontaneamente, digamos, para os outros homens.

(p. 198) Pode ser que essa tomada de consciência da efemeridade de toda criação (inclusive a criação de designs imateriais) contribua para que futuramente se crie de maneira mais responsável, o que resultaria numa cultura em que os objetos de uso significariam cada vez menos obstáculos e cada vez mais veículos de comunicação entre os homens. Uma cultura, em suma, com um pouco mais de liberdade.


UMA ÉTICA DO DESIGN INDUSTRIAL?


(p. 200) O ideal do construtor era pragmático, quer dizer, funcional. Considerações morais ou políticas raramente estavam em jogo.

(p. 202) Se uma pessoa cravasse uma faca em alguém, a responsabilidade era só sua e não, por exemplo, do designer da faca. ... o eventual desinteresse dos designers por essas questões poderá levar à total ausência de responsabilidade

(p. 203) Os processos de Nuremberg e, pouco mais tarde, o julgamento de Eichmann mostram claramente que: a) não existe mais norma alguma que se possa aplicar sobre a produção industrial; b) não há um causador único de um delito; c) a responsabilidade está diluída a tal ponto que nos encontramos efetivamente numa situação de absoluta irresponsabilidade com relação àquelas ações que procedem da produção industrial.


DESIGN COMO TEOLOGIA


(p. 210) a ciência natural e a técnica nela baseada só poderiam ter surgido em solo ocidental. Pressupõem a distância teórica, mas também a convicção judaica de que é necessário mudar o mundo para mudar a si mesmo. No fundo, a ciência é um método de descobrir o Deus judaico-cristão “por trás dos fenômenos”, e a técnica é um método para produzir o reino desse Deus sobre a Terra.

(p. 211) o código alfanumérico está começando agora a ser abandonado em benefício dos códigos digitais dos computadores. Esses novos códigos têm mais em comum com os códigos orientais (com os ideográficos, por exemplo) do que com os lineares, de modo que agora ciência e tecnologia no Extremo Oriente se tornam tão compreensíveis como no Ocidente.

(p. 212) Mas o século XIX tinha razão quando considerava impossível uma fusão de Buda com Cristo ou de Cristo com Buda. O Deus de um é o demônio do outro. Será que está ocoorrendo uma trivialização, uma destruição mútua dos valores?

Sites recomendados:
http://www.flusserstudies.net/
http://www.flusser-archive.org/
http://www.fotoplus.com/flusser/

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