25/11/2009

Substituição de importações: 40’s e 50’s

Substituição de importações: 40’s e 50’s
(Eco 131) VILLELA, Andre e VIANA, Sérgio Besserman in GIAMBIAGI, Fabio. Economia Brasileira Contemporânea (1945-2000) et al (2005), pp. 21-59, Cap. 1. Pós-Guerra

TAVARES, Maria da Conceição. “Auge e Declínio do Processo de Substituição de Importações no Brasil” in M. C. TAVARES 1979: Da Substituição de Importações ao Capitalismo Financeiro. 8ª Edição. Rio de Janeiro: Zahar.

Substituição de importações: 40’s e 50’s. 1
Anos 39 - 45. 1
O pós-Guerra (1945-1955) 2
Governo Dutra (1946-1950) 2
Política econômica externa. 3
Política econômica interna. 4
Segundo Governo Vargas (1951-1954) 4
PROJETO DE GOVERNO CAMPOS SALES RODRIGUES ALVES. 4
Política econômica externa. 5
Política econômica interna. 6
1954 – novas dificuldades: salários e café. 6
O interregno Café Filho (1954-1955) 6
Conclusões sobre o pós-guerra. 7
Os anos dourados de JK (1956-1960) 7
CAFÉ.. 7
PLANO DE METAS. 7
PLANO DE ESTABILIZAÇÃO MONETÁRIA - PEM... 8
MACROECONOMIA DO HOMEM CORDIAL (expressão de Marcelo Abreu) 8

A industrialização substitutiva de importações teve início espontaneamente, sem ajuda do governo, nos primeiros anos da República no rastro do fenômeno especulativo conhecido como Encilhamento. Atravessando as crises da 1GM e da Grande Depressão, a substituição de importações teve continuidade no Brasil seguindo o curso natural, isto é, progressivamtne internalizando-se a produção de bens de consumo não duráveis (tipicamente têxteis, vestuário, alimentos, bebidas etc). Alcançada a substituição nessa fase fácil surgiam pontos de estrangulamento a montante do processo produtivo, isto é, nos setores produtores de bens intermediários (insumos industriais) e de capital. A restrição cambial que caracterizaria o período do pós 2GM tornou aida mais premente a necessidade de se contar com uma oferta doméstica desses insumos e máquinas. A partir da década de 1940, assiste-se a uma maior intencionalidade no processo de substituição de improtações, que passa a ser dirigido pelo governo, valendo-se dentre outros instrumentos, de seletividade nomercado de câmbio. O governo JK aprofunda mais o processo de substituição de importações, através de seu Plano de Metas. O resultado dos maciços investimentos realizados nos setores de infr-estrutura básica (energia e transportes, sobretudo) e manufatureiro foi um aumento da taxa de investimento (formação bruta de capital fixo/PIB) que subiu de 13% para 15%. Nota-se também expressiva taxa de crecimento médio do valor adicionado do setor industrial do período. Dentre os subsetores, chama atenção o avanço da participação dos bens duráveis e dos de capital, no qual o processo de substituição de importações mais progrediu.

Anos 39 - 45
Recuperação do saldo de transações correntes (aumento das exportações de produtos industrializados para países em guerra e diminuição das importações)
Controle cambial mantido
Acumulo de reservas internacionais
Expansão industrial de 1943 a 1945

Ação governmental:
Centralização das decisões e das funções governamentais (até anos 30 federação de estados)
Planejamento
Mercado de trabalho (fortalecimento do mercado consumidor visão keynesiana avant la lettre propensão marginal a consumir mais alta entre os mais pobres
Ação via estatais = estado produtor = CSN e CVRD = corrigir falhas de mercado
Coordenação da produção agrícola instituto do cajé do açúcar e do álcool IAA
BB (Exim) = departamento de exportações e importações promover as exportações brasileira e auxiliar na importação de máquinas e equipamentos para o processo de industrialização por substituição de importações
Prioridade industrial tendo em vista a piora dos termos de troca = restrições externas
Estado populista quer tirar vantagem de algo que é temporário
O pós-Guerra (1945-1955)
O fim da 2GM trouxe a lenta transição para os princípios liberais acordados em Bretton Woods (1944) no Brasil esse período coincidiu com o fim do Estado Novo e início do Governo Dutra. Apesar desse período de ênfase nas virtudes do liberalismo econômico e político o governo Dutra logo se deparaou com problemas derivados do início da Guerra Fria e do período da economia internacional conhecido como de EXCASSEZ DE DÓLARES. As sucessivas crises de balanço de pagamentos por que pasaria o Brasil nos primeiros anos do pós-Guerra acarretaram o abandono do modelo liberal e deram lugar a um modelo de desenvolvimento industrial com crescente participação do Estado, essencialmente indireta, tendo como principais características a adoção de controles cambiais e de importações e a criação de um aparato regulatório em diversas áreas do domínio econômico.
Governo Dutra (1946-1950)
Contexto
Princípios liberais de Bretton Woods que previam eliminação de barreiras ao livre fluxo de bens e a multilateralização do comércio internacional.
ILUSÃO DE DIVISAS Reservas internacionais em volume recorde STC>0 (Saldo de transações correntes)
Sistema econômico externo favorável
Acreditava-se que a situação favorável fosse permanente porque era fruto do modelo de ISI (industrialização por substituição de importações) e porque o Brasil era uma espécie de credor dos aliados já que tinha participado da guerra.
O governo brasileiro acreditava que uma política liberal de câmbio seria capaz de atrair fluxos significativos de investimentos diretos estrangeiros. Havia ainda a esperança de uma alta expressiva dos preços internacionais do café, em consequencia principalmente da eliminaçao do preço teto por parte do governo americano.

Confiante na evolução favorável do setor externo, o governo Dutra identificou na inflação o problema mais grave.
Inflação em expansão em virtude de:
Expansão industrialização
Crescimento acelerado
Proteção cambial/tarifária

Política econômica externa
A taxa de câmbio foi mantida e a primeira medida foi o relaxamento do controle cambial, com a abolição das restrições a pagamentos existentes desde o início dos anos 30 para:
- combater inflação via maior entrada de importados que força o produtor nacional a baixar os preços
- atender à demanda reprimida por produtos importados durante a guerra, principalmente matérias-primas e bens de capital para o reequipamento da indústria desgastada durante a guerra
- para estimular a entrada de capitais com a liberalização da saída, na expectativa de que funcionasse como fator de atração de recursos.

Vale ressaltar que, nos anos anteriores, como os preços no Brasil aumentaram muito acima da inflação externa e a taxa de câmbio tinha variado pouco o real estava sobrevalorizado

Consequencia perda de reservas internacionais ligada ao aumento das importações. Como o influxo de capitais esperado não ocorre em 1947 volta o controle cambial e de importação, avança o processo de ISI.

Não desvaloriza moeda porque café inelástico a preço e 70% das vendas em moeda forte (para os EUA) eram de café. Os outros produtos mais elásticos a preço eram exportados só para a Europa (moeda não conversível) região com a qual o Brasil já tinha superávit. Além disso a desvalorização favoreceria a inflação.

Contudo a manutenção da taxa cambial gerou perda de competitividade para as exportações brasileiras, principalmente em relação aos mercados europeus que desvalorizaram suas moedas e reorganizaram suas economias levando a que as exportações brasileiras de manufaturados que havia crescido durante o conflito perdessem espaço no mercado internacional. Como consequencia as exportações exceto o café contraíram-se entre 1947 e 1950.
ILUSÃO DE DIVISAS
A falsa avaliação da situação das reservas internacionais não considerou que em 1946 metade das reservas estavam em ouro e eram consideradas estratégicas, deveriam ser portanto preservadas para emegências futuras. A outra metade era composta por ¾ de libras bloqueadas e apenas ¼ de fato líquidas e utilizáveis em negócios com países de moeda conversível. Além disso, as reservas evoluíam de modo desfavorável, o Brasil obtinha substanciais superávitis comerciais com a área de moeda inconversível enquanto acumulava déficits crescentes com os Estados Unidos e outros países em moeda forte.
SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES
Mantinha-se a taxa de câmbio sobrevalorizada e progressivamente impunham-se medidas discriminatórias à importação de bens de consumo não essenciais e daqueles com similar nacional.
Pode-se apontar a existência de 3 efeitos relacionados à combinação de uma taxa de câmbio sobrevalorizada com controle de importações: um EFEITO SUBSÍDIO, associado a preços relativos artificialmente mais baratos para bens de capital, matérias-primas e combustíveis importados; um EFEITO PROTECIONISTA, viabilizado pelas restrições à importação de bens competitivos; e um terceiro efeito, na verdade, resultante da combinação dos dois primeiros, que consiste na alteração da estrutura das rentabilidades relativas, no sentido de ESTIMULAR A PRODUÇÃO PARA O MERCADO DOMÉSTICO em comparação com a produção para exportação.
Assim, avanço do processo de industrialização nos primeiros anos após a 2GM foi, essencialmente, um efeito INDIRETO dos controles cambiais e de importação adotados como resposta aos problemas do balanço de pagamentos. A industrialização nesse momento foi levada adiante pelo setor privado (com exceção da CSN, estatal) como resposta à mudança dos preços relativos. Durante o governo Dutra a única iniciativa de intervenção planejada do Estado para o desenvolvimento econômico terminou sendo o SALTE (coordenação de gastos para saúde alimentação, transporte e energia) que enfrentou dificuldade de financiamento, por isso não teve grandes resultados concretos.
Política econômica interna
Ortodoxa até 1949
Inflação era o principal problema então adota política monetária e fiscal contracionistas.

Contudo o BB que na época tinha bastante autonomia promove política creditícia no sentido contrário, expande o crédito (principalmente para financiamento à indústria) sem lastro em moeda (fundada no multiplicador monetário). O PIB cresce 9,7% em 1948 graças sobretudo ao crescimento industrial.
Heterodoxa a partir de 1949 até 1950
Em 1949 política econômica interna foi revertida deixa de ser ortodoxa contracionista. Deficit no orçamento do setor público (incluindo o de estados e do distrito federal) que continuaria até 1950. A expansão real do crédito do BB e a política monetária “frouxa” levaram a inflacao anual a dois dígitos.

3 motivos para a reversão da política econômica: proximidade das eleições presidenciais provocava um forte apelo para o aumento dos gastos da Uniao e dos estados. Na medida que a combinação de câmbio supervalorizado com controle de importações resultava em vigororos investimentos na indústria de bens de consumo duráveis, aumentava a força e a demanda do setor industrial. O governo acompanhava esse processo, gerando uma ativa política de crédito para a indústria por parte do Banco do Brasil. A desvalorização da libra esterlina e de outras moedas em 1949 indicava que a transição em direção à livre conversibilidade das moedas – base indispensável ao surgimento de um movimento de capitais privados mais intenso no mundo – seria lenta.
Segundo Governo Vargas (1951-1954)
Contexto, no plano doméstico inflação e desequilibrio financeiro do setor público. No setor externo alta dos preços do café e mudança de atitude do governo americano com a améria latina, expectativas de novos fluxos de poupança externa. CMBEU (comissão mista brasil EUA) para elaborar projetos concretos par remover os gargalos e os entraves ao desenvolvimento brasileiro, marcadamente nos setores de energia, portos e transportes. Esses projetos seriam financiados por instituições como o Banco de Exportação e Importação Eximbank e o Banco Mundial.

PROJETO DE GOVERNO CAMPOS SALES RODRIGUES ALVES
Projeto de governo bem definido que se desenvolveria em duas fases: na primeira haveria a estabilização da economia o que consistia fundamentalmente em equilibrar as finanças públicas de modo a permitir a adoção de uma política monetária restritiva e dessa forma reduzir a inflação. A segunda fase seria a dos empreendimentos e realizações. O projeto foi comparado pelo ministro da fazenda Horacio Lafer aos governos Campos Sales (austeridade econômica) e Rodrigues Alves (marcado por vigoroso programa de obras públicas)
CRIAÇÃO DO BNDE(1952) E DA PETROBRAS(1953)
Dentre as realizações de GV destaca-se a criação de duas estatais cuja importância só ficaria mais clara a médio prazo: o Banco Nacional de Desenvolvimento Economico e a Petróleo Brasileiro S.A.
Política econômica externa
A política de comércio exterior dos dois primeiros anos do governo manteve a taxa de câmbio fixa e sobrevalorizada e o regime de concessão de licenças para importar, ainda que bastante afrouxado nos primeiros meses para prevenir um desabastecimento no caso da generalização da Guerra da Coréia e para utilizar as importações feitas a uma taxa de câmbio favorável para combater as persistentes pressões inflacionárias.
Contudo essa orientação liberalizante foi sendo modificada progressivamente, à medida que ficavam evidentes os graves desequilíbrios na balança comercial. Ao contrário do esperado em 1952 a receita das exportções caiu. Em face dessa queda o governo limitou a concessão de licenças de importação, contudo as licenças tinham vida útil de 6 (bens supérfluos) e 12 (bens de produção) assim o nivel de importação efetiva permaneceu bastante elevado. Com isso o equilíbrio de 1951 deu lugar, em 1952 a um déficit na balança comercial, ao esgotamento das reservas internacionais de moedas conversíveis e ao acúmulo de atrasados comerciais. A crise cambial impediu os sonhos de estabilização que sustentavam o projeto Campos Sales – Rodrigues Alves.
INSTRUÇÃO 70 DA SUMOC
Em 1953, a conjuntura econômica estava dominada pelo colapso cambial do país. Com grande volume de atrasados comerciais acumulados e sem ter obtido êxito na redução da inflação, o projeto de sanear a situação economico-financeira para em seguida dar início a uma fase de empreendimentos parecia distante. As dificuldades aumentariam com a eleição de Eisenhower: combate ao comunismo recebe atenção prioritária e é abandonada a ploítica do ponto IV de Truman (Truman em discurso de posse propugnava tornar o conhecimento técnico norte americano disponível para as regiões mais pobres do mundo). Dessa forma, o governo Eisenhower não manteria o financiamento aos projetos elaborados pela Comissão Mista. Banco mundial precionou o Eximbank para adotar condições duras para concessão de novo empréstimo para regularizar a situação dos atrasados comerciais. E a CMBEU foi extinta com interrupção do financiamento até dos projetos já em curso.
Atacar só a política cambial não era suficiente como mostrou o decepcionante resultado da Lei do Livre Mercado que previa taxas múltiplas de câmbio com o objetivo de aumentar as exportações e desestimular as importações não essenciais, ao mesmo tempo que permitia a entrada de capitais à taxa de câmbio de mercado livre para estimular o ingresso de recursos do exterior.
Em virtude disso, a instrução 70 da SUMOC atacou simultaneamente os problemas cambial e fiscal.
1) Reestabeleceu o monopólio cambial do BB
2) Extinguiu o controle quantitativo das importações e instituiu os leilões de câmbio. Passou a existir 3 tipos de cobertura cambial
a) Taxa oficial, sem sobretaxa, válida para certas importações especiais, como trigo e material para imprensa
b) Taxa oficial acrescida de sobretaxas fixas para importações diretas dos governos federal, estaduais e municipais, autarquias e sociedades de economia mista (também petróleo e derivados tinham suas aquisições cobertas dessa forma)
c) Taxa oficial, acrescida de sobretaxas variáveis (segundo lances feitos em leilões de câmbio realizados em bolsas de fundos públicos do país) para todas as demais importações.
3) Quanto às exportações substituiu as taxas mistas por um sistema de bonificações incidentes sobre a taxa oficial (subsídio)

As taxas múltiplas de câmbio determinadas através do sistema de leilões permitiram, simultaneamente: a realização de amplas desvalorizações cambiais que vieram a substituir o controle de importações como instrumento para o equilíbrio da balança comercial e a manutenção de uma política de importações seletiva. Além disso, o recolhimento dos ágios nos leilões passou a constituir uma importantíssima fonte de receita para a União, reduzindo a necessidade de se recorrer ao financiamento inflacionário do déficit fiscal.
Política econômica interna
Enquanto isso, o governo encontrava dificuldades em realizar uma política fiscal austera devido ao aumento de gastos do governo em obras públicas e com abonos concedidos ao funcionalismo civil. Uma das fontes irresistíveis de pressão sobre os gastos públicos eram as obras necessárias à adequação da infra-estrutura do país ao crescimento industrial sustentado desde 1948 e ao surto de investimentos de 1951 e 1952.
Assessoria Econômica do Gabinete Civil da Presidência propoz a criação de diversas empresas estatais que futuramente desempenhariam importante papel na ampliação da oferta de insumos industriais a exemplo do BNDE, Petrobras e Eletrobrás. No caso específico do setor elétrico, instiuiu Fundo Federal de Eletrificação FFE formado por recursos provenientes da arrecadação do imposto único sobre energia eletrica, iniciativa que proporcionou a primeira fonte de recursos fiscais de alcance nacional diretamente vinculada a investimentos no setor (receita vinculada). FFE vai ser fundamental para tocar obras da Paulo Afonso I do Salte de Dutra, na CESF (central elétrica do São Francisco).
PIB cresceu 4,7% (inferior ao de todos os períodos anteriores do pós guerra) mas a indústria cresceu 9,3%. Nao obstante a desaceleração econômica a inflação aumentou em virtude do déficit público com consequente expansão dos meios de pagamento e do impacto das desvalorizações cambiais decorrentes da Instrução 70 da SUMOC que precionaram os custos de produção das empresas.
1954 – novas dificuldades: salários e café
As grandes dificuldades com que se deparou o programa de estabilização econômica de Osvaldo Aranha situavam-se na política para o salário mínimo e nos problemas do café. Como resultado dos altos preços do café no mercado internacional, as exportações brasileiras cairam por causa de boicote de consumidores nos Estados Unidos que enxergavam nos elevados preços dos produtos práticas monopolistas dos países exportadores. Novamente possibilidade de uma crise cambial. Para piorar os propósitos deflacionários do governo, desvalorizações cambiais embutidas na Instrução 70 da SUMOC e o aumento de 100% no salário mínimo.
O interregno Café Filho (1954-1955)
INSTRUÇÃO 113 DA SUMOC = subsídio ao capital estrangeiro
Eugênio Gudin, na pasta da Fazenda, desejava remover os obstáculos à livre entrada de capital estrangeiro e é sob esse prisma que deve ser vista a controvertida Instrução 113 da SUMOC que consolidou a legislação anterior e deu um passo adiante autorizando a Carteira de Comércio Exterior – CACEX do BB a emitir licenças de importação sem cobertura cambial para equipamentos e bens de produção. Tratava-se de mecanismo claramente vantajoso para o investidor externo. Desde que a taxa de câmbio livre (que se aplicava à entrada de capitais) permanecesse inferior à taxa cambial aplicável à categoria III de importação (bens de capital), era mais vantajoso para a firma estrangeira internar bens de capital diretamente pela Instrução 113 da SUMOC do que ingressar com recursos financeiros no Brasil e comprar lcenças de importação no leilão pertinente.
O período correspondente à gestao Gudin testemunhou um dos mais ortodoxos programas de estabilização da história econômica contemporânea, gerando ampla creise de liquidez e substancial elevação do número de falências e concordatas no primeiro semestre de 1955, além de significativa queda na formação bruta de capital fixo. Não fosse a curta duração, ter-se-ia registrado forte queda no nível de atividade industrial. Ao se juntarem o descontentamento da cafeicultura com a taxa de câmbio relativamente valorizada para a exportação de café – que no setor denominava de “confisco cambial” e o início de pressões sobre a política econômica decorrentes da aproximação das eleições, Gudin pede demissão.
Conclusões sobre o pós-guerra
Os dez anos que se seguiram ao fim da Segunda Guerra foram de forte expansão do PIB e de pressões inflacionárias. O aumento da produção doméstica e a queda da participação dos importados sinaliza estágio já avançado do processo de substituição de importações. O principal legado do pós guerra parece ser o reforço da industrialização baseada na substituição de importações e na continuidade de um nacionalismo de cunho pragmático. De certa forma a contrapartida da vitória desse modelo foi a impopularidade do ideário econômico liberal, podendo ter contribuído para prolongar a vida de políticas intervencionistas pouco eficientes. Ambos aspectos da vitória do nacional-estatismo sobre o projeto liberal irão se sobressair no período seguinte: o positivo sob a forma de aceleração das transformações estruturais da economia brasileira e o negativo no relativo descaso da maioria da sociedade com as sequelas macro e microeconomicas do modelo estatista.
Os anos dourados de JK (1956-1960)
O apogeu do desenvolvimentismo. A partir da implementação do Plano de Metas o setor agropecuário prede espaço para o setor industrial e em 1960 tem peso de 17% do PIB contra 32 % da industria (25% da indústria de transformação)

Instrução 113 da SUMOC fundamental para o plano de metas. No caso de investimentos diretos, o capital da empresa estrangeira era internalizado no Brasil (sob a forma de máquinas e equipamentos) convertido pela taxa de câmbio mais elevada do mercado livre, mas suas remessas posteriores para o exterior se realizavam pelo favorável custo de câmbio (grosso modo equivalente à sobrevalorizada taxa média para as exportações). Assim, se por um lado a instrução 113 contribuiu para o aumento da dívida externa líquida brasieleira por outro teve o mérito inquestionável de impedir que a restrição de divisas levasse ao abandono dos planos de investimento do Plano de Metas.
CAFÉ
A perda de importância relativa do setor cincide com o processo de industrializaçãoque ganha força no pós 2GM. Ainda assim, os primeiros 10 anos após o final da guerra foram de escassez do produto no mercado internacional, à medida que aumentava a demanda européia e que fatores climáticos reduziam a oferta mundial. A consequente elevação dos preços do protuto foi favorecida com o fim do preço teto estabelecido pelos EUA durante a guerra e funcionou como forte estímulo à expansão do cultivo do café no Brasil (avançando para o Paraná) e no resto do mundo (Colômbia e Africa). O resultado foi um novo período de superprodução que se estendeu de meados de 1950 a meados de 1960, a despeito de acordos de contenção da oferta firmados entre o Brasil e outros países produtores. No caso brasileiro as compras, por parte do governo, dos excedentes de café exerceram forte pressão sobre os gastos do Tesouro nos anos JK, prejudicando em muito a condução da política macroeconomica do período. Refletindo expansão da oferta mundial preço do café cai. Se o peso do café no total exportado permaneceu em torno de 60% na década de 1950, sua participação no PIB caiu pela metade, refletindo o avanço do processo de industrialização no período. Nesse sentido os anos 50 marcam a inflexão na primazia do café na economia brasileira.
PLANO DE METAS
Contemplava investimentos nas áreas de energia, transporte, indústrias de base, alimentação, e educação. Transporte e energia receberia 71% dos investimentos previstos no Plano a cargo quase exclusivamente do setor público. As inversões do Plano de Metas a cargo do setor privado (tanto nacional como estrangeiro) direcionaram-se, sobretudo aos setores automobilísticos, de construção naval, mecânica pesada e equipamentos elétricos. Metas alcançaram elevado percentual de realização frente ao planejado.

Formas de financiamento
1) Financiamento inflacionário
2) Subsídio (Instrução 113 da SUMOC) importação de máquinas e equipamentos
3) Fundos setoriais de vinculação orçamentária (FEE)
4) Concessões de avais pelo BNDE para atrair investimento externo
5) Crédito direto via BNDE e BB
6) Uso de recursos da conta de ágio e bonificações (Instrução 70 da SUMOC)
PLANO DE ESTABILIZAÇÃO MONETÁRIA - PEM
Estabilização monetária gradual elaborada pelo ministro da fazenda Lucas Lopes e pelo presidente do BNDE Roberto Campos. Na tentativa de obter um empréstimo, o Eximbank condicionou o crédito à obtençaõ pelo Brasil de aval jujto ao FMI, este por sua vez exigiu uma série de medidas para conter inflação e o crescente déficit no balanço de pagamentos. Entre as medidas estavam a contenção do gasto público e do crédito, moderação nos reajustes salariais, reforma do sistema de taxas de câmbio múltiplas ainda em vigor e fim do plano de compras de café pelo governo.
JK deu inicio a aplicação do PEM em 1959, entre as medidas anunciadas estava a diminuição dos subsídios à importação de trigo e gasolina, com impactos imediatos no custo de vida. Contudo o acirramento do debate e da oposição política ao PEM ao longo do primeiro semestre levou JK a romper negociações com o FMI em junho de 1959. Abandonando o PEM. Entre crescer ou estabilizar JK optou por crescer.
MACROECONOMIA DO HOMEM CORDIAL (expressão de Marcelo Abreu)
Essa macroeconomia subentende um mundo de possibilidades ilimitadas ao alcance do governo. Seus ingredientes principais são: crença na ausência de restrições (orçamentárias, sobretudo) no mundo real; ênfase na “vontade política” como guia infalível para a condução de ações de governo (ignorando aspectos mais básicos das negociações dentro de sistemas políticos complexos) e, mais grave, um solene desprezo pela inflação, mecanismo introdutor de sérias distorções nos cálculos dos agentes econômicos, usurpador do poder de compra das camadas mais pobres da sociedade e concentrador de renda. JK deixaria para seus sucessores a parte ruim dos 50 anos em 5: a inflação alta, o déficit público elevado e a deterioração das contas externas, na certeza de encontrar, 5 anos mais tarde, um país saneado, mas estagnado, pronto para reconduzi-lo a mais cinco anos de desenvolvimentismo presidencial. Trata-se de estratégia de triste recorrência na história administrativa do país (em todas as esferas do governo), que apenas lentamente vem sendo superada.

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